III
Se houve uma coisa em que, aparentemente, o Universo azulebranco, que como se sabe é apenas uma e a mais bonita cor, esteve de acordo este ano, foi sobre a roubalheira generalizada de que foi beneficiário o 5LB. Ah, e também sobre a bela jogatana no Dragão contra os alemães. Ah, igualmente sobre o facto de o Herrera ser particularmente feio, mas não tão feio como o Maxi Emplastro. Ah, e ainda sobre a necessidade de a direção/estrutura/alguém dever dar uns murros na mesa e denunciar o que se ia passando. Caramba, afinal temos montes de causas que nos unem hein?
Devo dizer, porque a porra do Balanço é meu, que não partilho da preocupação com o silêncio. Ainda menos acho que isso seja revelador de que o FCP está frágil, que já não é o mesmo, perdemos o espírito guerreiro. E isso depois afeta o rendimento, porque toda a gente (jogadores, claro, do futebol, claro.) deixa de se ralar se perde ou se ganha. Enfim, passamos a cornos mansos.
Pelo meu lado, proponho uma perspetiva diferente. E por partes, para não me baralhar e acabar a fazer piadas parvas sobre nomes de treinadores, ou assim...
"Deixaram o treinador abandonado à sua sorte, a levar porrada de todo o lado e a ser o único a defender o clube."
Desde logo, acho que Lopetegui pode bem com os "todo o lado" da vida. Isto se não lhe der mesmo algum gozo remetê-los à sua pequenez. Defender o clube deve ler-se "falar do colinho aos lampiões". Meaning, o escândalo que foi mais de metade deste campeonato. Parece-me que isso é mesmo uma das competências daquele lugar, ainda mais nas circunstâncias atuais. Aliás, creio que a escolha de Lopetegui passou também, ainda que, obviamente, de forma subsidiária, por aqui. Explico:
a) Apesar da divisão acerca da sua capacidade técnica (há sempre uns tolos, fazer o quê?), é cada vez mais unânime que Julen "é dos nossos". Não se cala, mesmo que seja o único a abrir a boca. É uma bela maneira de ultrapassar o estigma do "novato, sem experiência, com um camião de espanhóis ás costas, ele próprio um hermano". Há muito, se alguma vez aconteceu, não tínhamos um treinador tão envolvido no projeto, de alto a baixo, com tantas valências atribuídas e tanto poder de decisão. Torná-lo na voz do clube, dos adeptos, não me parece nada má ideia. Ainda mais quando ele o pode fazer bem. E faz!
b) É Mourinho que desanca os árbitros. Como Fergunson fazia antes dele. Como, provavelmente, Guardiola fará, à sua maneira, pela Baviera (meter Lopetegui neste saco não é inocente, é nesta conta que tenho o tipo). E como fazem Wenger, Blanc, Emeri ou Luis Enrinque, num patamar abaixo (get it?). Ou seja, são os treinadores/managers que devem tratar de todos os aspetos do jogo, arbitragens incluídas. Nenhum problema nisto, a meu ver. Em nenhuma altura me pareceu que fosse um problema para o bom do Julen.
c) Somos, no entanto, diferentes. Porque a nossa cultura e a nossa ligação, mais sulista e mediterrânica, aos clubes se faz de maneira mais intensa e apaixonada? Não me parece, há malta que gasta tempo a escrever coisas como esta em todo o lado. A paixão é Universal e não devemos sentir de maneira muito diferente de um turco. Cada cultura encontra é a sua forma de extravasar. Acresce a isto que em cada sitio encontramos um estádio de desenvolvimento sociocultural, e também de gestão desportiva, diferenciado. Acho que as nossas muitas vitórias e a nossa exposição ao Mundo nos fez "evoluir". As aspas pretendem defender aqueles que acharem que isto não é evolução. Estão no seu pleno direito. O meu ponto é que estamos um nível acima. Isto não quer dizer que somos demasiado bons para a peixarada. Nada disso, credo! Ai deles! Quer apenas dizer que não podemos esperar que os mesmos motivos provoquem reações encarniçadas das mesmas pessoas. Isto é, do mesmo patamar de competência da estrutura.
"Isto de levar e dar a outra face não é ser Porto. Isto não é o meu Porto!"
Tendo como cenário o antes exposto, tomando-o por bom (humour me), é verdade. Não é! É outro, sendo rigorosamente o mesmo. O paradoxo explica-se porque o postulado a bold é falso. O FCP será sempre o nosso Porto. Nada a fazer. E pur si muove.
O FCP estribou o seu crescimento agregando a força de uma região. Estava claro que se pretendia trazer sob o nosso manto sagrado as aspirações, convicções e anseios de um povo. O Povo Mais Forte, quase sempre relegado para segundo plano e que começava, com o advento da liberdade (e não é léria, seria impossível em ditadura o FCP chegar onde está), a querer fazer ouvir a sua voz. Jorge Nuno Pinto da Costa deu-lhes a bandeira. E isto é o nosso Porto: Guerreiro, revoltado, pronto para a luta. Estes valores estiveram tantas vezes palpáveis em campos de futebol, em onze camisolas (e calções, pois então!) azuis e brancas. Este o verdadeiro legado que devemos sempre defender: A tal da Mística. Que, para além de uma tosta na Tasca, é a corporização, em futebol, dos valores que tornaram o FCP grande. Quem é o mais apto a fazê-lo? Na minha opinião, eu! E tu! E ele! Nós!
As direções dirigem, mas o Porto Somos Nós. Mesmo que o Presidente da Direção seja o NGP. O que podemos exigir é que ele seja um deste NÓS. Creio que ninguém dúvida que é. Pois não?... No fundo, é dar significado ao que cantamos a plenos pulmões (os que não estão na fila das pipocas, ihihih). NÓS SOMOS A TUA VOZ! Eu! Tu! Ele!
"Este Porto parece submisso, deixa-se comer por Lisboa e não refila"
Ao fim de 41 anos, isto já vai sendo um país. Sui generis, claro, como todos os outros, mas um País. E não um campeonato de futebol. Já não pode ser nos clubes que devemos encontrar a linha da frente das batalhas regionais. Não é pela sua voz, ainda que possa ser pela dos seus dirigentes/adeptos numa perspetiva individual, que as conquistas políticas devem ser feitas. Estamos aqui para ganhar jogos e campeonatos. E o nosso líder teve, quase sempre, o cuidado de se abstrair da politiquice. Se bem ou mal, cada um terá a sua opinião. Que isso não lhe granjeou grandes simpatias, também é verdade.
Sejamos francos, aquela frase ali em cima até tem razão de ser, sim! Mas o significado que lhe queremos dar, na verdade, é: O FCP parece submisso, deixa-se comer pelo 5LB. E isto já não tem nenhum sentido. Não encontro um único sinal dessa submissão. O FCP lidera o futebol, e o desporto de uma maneira geral, em Portugal. Lado a lado com o 5LB, pois claro. Nem poderia ser de outra forma. Encararmos isto como uma afronta é bastante estúpido. É esquecer o caminho que fizemos de clube regional a colosso de dimensão Mundial. Universal (olá Jorge :)). Não foram eles que mingaram, fomos nós que crescemos!
"O clube não diz nada, o presidente também não, só os adeptos parecem ver a roubalheira!"
Isto até é maijomenos verdade. O que demorei a entender é porque é que esta dicotomia parece existir. Primeiro, fazia-me confusão esta necessidade da massa adepta. Mas para que precisam que lhes digam que têm razão? Pensava eu. Se vemos tão bem, o que acrescenta vir de lá o Pintinho ou o raio que o parta dizer que viu também? Ok, porque escrever isto num blog visitado pela minha Tia Ermenegilda nos intervalos da novela não tem grande ressonância. Ao passo que uma conferência de imprensa, ou duzentas e cinquenta, do Presidente, caraças pa... uns comunicados, qualquer coisa. Tragam o Bruninho! É que menos que a quantidade de discursos, entrevistas e comunicados que o Calimero Mor tem (tinha?) capacidade para debitar numa semana, seriam insuficientes para cobrir tudo o que temos para dizer acerca do andor deste ano. O Presidente não pode, na minha opinião, expor-se dessa forma.
Por outro lado, pensava onde raio queria a malta que o homem falasse? Na Bolha? No Rascord? No Jogo ainda disse umas coisas. No CM (vómitos)? Na SIC, comentado pelo Anão? Em entrevista ao Carlinhos na TV de todos nós? Na TVI, perdido no decote de uma apresentadora qualquer, a virar scotch marado com o dótor? Não conseguia entender... Depois fui lendo Porto Canal, redes sociais... E percebi. O que se pedia era que o clube encontrasse uma forma de os obrigar a darem eco, sem lhes falar diretamente. Aí nasceu a minha dúvida final: Para quê? Só me fazia sentido na esperança de que algo mudasse, o que seria pouco provável, digo eu; ou para que os outros, incluindo os lampiões, percebessem que ganhar assim não valia nada. Isto é, que alguém deixasse de gostar de ser Campeão. Bi-campeão, T-R-I-N-T-A anos depois. Também não podia ser este o motivo de tanta indignação, podia?
Portanto, concluí que entre uns, adeptos, e outros, direção do FCP, existe um mal entendido, eventualmente. Os adeptos sofrem, oh se sofremos!, e guerreiam e berram, oh se berramos! Já aqui se disse que essa é a sua função. Mas isso mói, oh se mói, e para além de vitórias, precisam, de vez em quando, de ter a certeza que não estão sós. Que as investidas contra os que, para eles (nós!), são moinhos de vento, pela impossibilidade de os arranhar verdadeiramente, são secundadas por quem terá, porventura (ou por ventura, talvez...), verdadeira capacidade para incomodar os senhores de quem não gostamos.
Resume-se a uma diferença simples entre DECIDIDA e DECISIVA. O que me parece que se tem esperado é que alguém, de preferência o Presidente, tenha uma intervenção DECIDIDA. Que aponte os bois pelos nomes e os faça perceber, aos bois, que daqui de onde estamos vemos tudo. Mesmo que isso não parasse o andor. Precisávamos de um momento em que a estratégia desse lugar à tática. Uma conversa em família (pois...) que fosse, que nos desse ânimo para mais do mesmo. Moralizar as tropas, ainda que isso não representasse nenhum avanço no campo de batalha.
Pelos vistos, do outro lado pensou-se, especulo, que só faria sentido colocar as fichas numa intervenção DECISIVA. Que fizesse efetivamente a diferença. E a oportunidade, o momento, não surgiu.
Por acaso, se isto fizer algum sentido, discordo. Para mim surgiu. No exato momento em que um Fontanelas se deu à liberdade de abrir a bocarra, a direção da FCP SAD devia não apenas ter-lhe caído em cima como uma tribo de hunos privados de alivio sexual há cinco anos, como ter aproveitado o embalo para tratar de tudo o resto. O que ficou por dizer, até agora. E era fácil, bastava dar uma voltinha pela Bluegosfera. Está lá tudo o que nos está atravessado...
Creio que devemos estar preparados para este novo estilo e para uma nova era. Ela está claramente a ser trabalhada. Mas isso é outro tomo (olá Miguel :))...
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Eu sei que devia ter dividido isto numas 50 Partes de Post do Silva. Desculpem, parabéns e obrigado aos que chegaram até aqui. Sim Tia, é consigo. Depois mando-lhe os tupperwares já lavadinhos. Estava tudo muito bom, obrigado. Beijinhos meus e das meninas.