domingo, 31 de maio de 2015
A Taça da Liga é E-S-P-E-T-A-C-U-L-A-R!
Caros Vocês,
Eu andava enganado. Olá se andava. Tirando duas finais que o FCP jogou, e perdeu!, nunca tinha prestado atenção a esta coisa da Taça da Liga. Quer dizer, acho a sua piada aos jogos que o Porto faz, pela oportunidade de ver jogar a nossa equipa B+. Nem é bem a B, nem chega a ser a A. Assim a modos que uma gaja que nem é tão boa que se lhe queira saltar para cima, nem mete tanto nojo desse ponto de vista que nos apeteça ir tomar copos com ela e abrir-lhe a nossa alma.
Mas isso era tudo. Via o Quintero ser dos melhores em campo do nosso lado, o Ricardo fazer o lugar do Reyes na lateral direita e estava despachada a Taça da Liga. Até que na sexta feira, dia 29 de maio do ano da Graça do Senhor de 2015, a minha opinião passou a ser a que está expressa no título acima.
Não é que tenha visto o jogo entre o 5LB e o 5 Funchal e Benfica, não. Dado disputar-se à mesma hora, sensivelmente, o clássico entre o Royal Buthan Army FC e o Druk Pol FC, para a Liga do Butão, escolhi o jogo mais importante e perdi o dos dois Benficas. Para minha felicidade, no entanto, pude seguir via rádio o Pós-Match. Se alguma de vossas excelências pôde experienciar o mesmo, queiram fazer-me o favor de confirmar, ou desmentir, os considerandos que seguem. Mas façam-no MESMO, a bem da minha sanidade.
Primeiro facto interessante: O meu rádio dessintonizou-se misteriosamente e saltou da Antena 2 - sim, eu oiço música barroca enquanto vejo equipas do Butão a jogar à bola, porquê? - para a TSF. Acho que alguém tinha marcado um golo contra dez, por isso presumi que fosse o Benfica de Lisboa. Era.
O Costa Monteiro diz qualquer coisa como "bem, eu antes já tinha dito que estava acabado e enganei-me, por isso não vou é dizer nada!". WOW! Foi preciso esperar até à final da Taça da Liga para ouvir o tipo gaguejar qualquer coisinha de jeito! Caladinho é quando tu acertas mais Monteiro, pensava ele com os seus botões. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Mas tu queres ver que há um je ne sais quoi nesta coisa da Taça da Liga, Silva?
Resisti uns minutos mais, mas acabei por voltar à referida emissora, já o jogo tinha acabado. Vem o João Diogo, jogador Madeirense, como as espetadas em pau de loureiro, para abrir as flash interviews. Diz o João: Ah e tal, ficámos com dez e foi mais difícil. Mas cada jogador do Marítimo (5FB) dobrou-se...
Espeeeeeeeeeeeeeera, afinal isto da bonomia, da descontração e relaxe desta competição, torna as coisas interessantes. A malta fica com as palavras a saltarem-lhes para a honestidade. Mas olha João Diogo, não foi só neste jogo. Vocês andaram a dobrar-se nos jogos contra o 5LB todo o ano, rapaz. Já nem deve doer, nem nada...
Entretanto, interrompem do relvado, que a Taça da Liga dá para tudo, e abrem o microfone para o árbitro da partida, Carlos Xistra. E diz o jovem, ainda ofegante: paaaa, não foi por mim que o 5LB ganhou e o Coiso perdeu...
Eu gosto de ver um profissional assumir os seus erros. Acho que é meio caminho andado para não os voltar a cometer. Mas que diacho Carlos, foi uma má noite, deixa lá isso. Já provaste em tantas outras a tua qualidade. Não é por desta vez o 5LB não ter ganho por tua causa que te tornas o pior árbitro à face da terra. Vá lá, vá lá - palmadinha, palmadinha - verás que ainda vais proporcionar muitas vitória aos milhafres. É levantar a cabeça e continuar a trabalhar.
Logo de chofre, entra o treinador insular, Ivo Vieira, e declara: Sim senhores, viemos cá para participar da festa e foi isso mesmo que fizemos. E dignificámos o nome deste e daquele e blabla cliché cliché.
Ok, um pedacinho cinzento o Ivo e não trouxe nada de novo. Afinal, serem cabeçudos do Benfica não é propriamente novidade. Em menos de um fósforo já é a segunda vez. Olha, o Diogo disse maijomenos o mesmo e teve bastante mais piada.
Os vermelhos não devem ter dito nada de jeito, uma vez que não me recordo de terem aparecido nos intervalos destas personagens. Em compensação, os comentadores, relatadores, técnicos de som, tratadores de relvados e tutti quanti, rejubilavam com o décimo troféu mais que brilhantemente ganho pelo Jergo Juses.
Não sei se sabem, mas o meu avô Alvarim era marceneiro. Para além de me ter deixado um gosto muito particular por lápis de forma sextavada, que nunca mais vi, é possivel que me tenha inculcado este gosto pela aritmética simples. E então pus-me a fazer contas: Dez títulos em seis anos,não chega a dois por ano. Tendo em conta que nos últimos dois enfardou seis, deixa mesmo um para cada uma das épocas anteriores. Sendo que cinco - C-I-N-C-O! - dos dez, são Taças da Liga... Se calhar é só por ser bastante faccioso, que sou. Mas desconfio que não se tinha aguentado seis anos na Invicta, o mais fantabulástico dos treinadores do Universo conhecido e algumas partes do desconhecido também.
Ainda a fazer a prova dos nove destas minhas adições, ouço a inconfundível voz do pastor desse grande rebanho - que é assim uma espécie de manada, mas com ovelhas. - vermelho. E o que diz o Juses? Pois que o Marítimo desta vez entrou mais agressivo, ao contrário do último jogo. Provavelmente usaram os jogos anteriores para aprender e desta vez deram mais luta, os maganos. O futuro ao meu Pai pertence e oh adeus oh vai-te embora. Foi.
Poooooooooooooooois claro. Então mas não é evidente que os jogos do campeonato, contra o 5LB, servem precisamente para que as equipas possam preparar a final da Taça da Liga? À partida já se sabe que lá encontrarão o hoje bicampeão nacional. Só não aproveita quem não quer! Depois é só participar na festa e dignificar o nome e levantar a cabeça e deixar boa imagem e irem todos para o transatlântico de putas que os pariu! É que não têm outro nome, chiça.
Não me posso enervar depois de jogos da Liga do Butão. Por isso desliguei o rádio e arrisquei a TV. Pumbas, nem de propósito, dou de trombas com o Carlos Guardanapo, emérito Presidente do 5FB. Para quem perdeu a Europa e mais a Taça da Liga, estava bastante sorridente. Eu também fico com aquela cara quando o FCP ganha. E se fosse Presidente do Atlético Aradense e perdesse trinta e dois a zero contra a equipa C do FCP, ficava na mesma. Ia mudar apressadamente de canal - nota mental: assinar canais pornográficos em breve, para ter alternativas reais a esta pouca vergonha. - quando oiço o homem...(SURPRESA!)... queixar-se do árbitro!
Pronto, deu-me um mal de riso tal que a família teve que me mangueirar, como se faz aos cães quando ficam presos, a ver se não me finava de riso. Até soltei umas pinguinhas e tudo. Sim, eu sei que devia ir ao médico, por causa da idade e assim. Mas tenho receio que o doutor me tome por um jogador do Marítimo, me dobre e me enfie o dedo no rabo. Credo!
quarta-feira, 27 de maio de 2015
A ronda das mesas e o pano voador
- Copo de três e sande de torresmos. Era tinto, não era?
- Sim, tinto, claro.
- Que ar abatido homem. Deixe lá isso, para o ano há mais. - Não evito um sorrisinho parvo, como tantos que tenho recebido nos últimos tempos.
- Não seja cruel, Silva. Sei lá se temos outra hipótese desta. E você parece todo contente. Tem alguma coisa contra o presunto?
- Contra o presunto, nada. Aliás, se for à terrinha, traga um. Prometo que o preparo de dez maneiras diferentes, entre ovos, ervilhas e um bacalhau de truz, de modos que até a tristeza lhe passa. Mas sim, confesso que não fiquei nada chateado.
- Não percebo, prefere ter de ir à Madeira mais uma vez? Era bem feito que perdesse!
- No momento em que o seu treinador disse que o Chaves era o 5LB da Segunda Liga, passei a torcer pelos outros todos. Madeirenses incluídos!
- Oh... - E avia o tinto de um golo só, em vez dos três. Hat-trick portanto.
- Mas olhe que pensando bem, o homem tinha razão. São mesmo o 5LB wannabe. Pumbas, arrasados aos 90 + 2! - Embrulha outro sorriso parvo!
- Foi aos 90 + 3. Traga-me outro, seu anti-transmontano primário.
- 90 + 2, 90 + 3, Kelvin, Ivanovic, Tondela, é tudo derrotas do 5LB.
...
- Abatanado, ovos com cogumelos e malagueta, sumo de laranja e panquecas. Estamos com fome, coisinha linda.
- Deixe-se de lérias, seu maroto. Já sabe que daqui não leva nada. - Distende os lábios berrantemente vermelhos, vincando as rugas das bochechas. - Estou a aproveitar, já não sei quanto tempo mais vou poder pagar o seu pequeno almoço especial. Acha mesmo que ainda podem cortar-me a pensão? Esse Coelho e mais o amigo dele, o indiano da Câmara, ou lá o que seja, são uns grandes malvados. Se o meu rico marido fosse vivo havia de lhes dizer das boas...
- Não sei, minha querida. É ano de eleições, vai ver que não cortam nada tão cedo. Se calhar nem precisam de cortar depois, não pense nisso. - Minto-lhe piedosamente.
- Deus o oiça.- Benze-se e beija o dedo.
- Mas olhe, se cortarem, ofereço-lhe o pequeno almoço especial da casa uma vez por semana. Resolvido?
- Combinado! Eu pago-lhe com umas coisinhas que fui sabendo por aí, acerca de um passarinho novo que ronda a casa da sua amiguinha dos olhos claros. - Pisca-me o olho e eu sossego.
...
- Quer que ponha a sua bica em cima de um dos molhos de papel? Ou deixo no chão? E a meia torrada? Enfio-lha pelas goelas abaixo ou vai arranjar um espacinho na mesa?
- Irra, que você é chato! - Amarrota umas quantas folhas e abre uma nesga de superfície de madeira sob a resma de papel. - Bote aí, pronto!
- E então, avanços?
- Começa a fazer sentido, Silva. Acho que isto é um continuum e não peças soltas. Preciso de algum tempo mais.
- Tempo não lhe falta, avôzinho. A menos que bata a bota no entretanto, claro. - Dou-lhe uma palmada nas costas.
- Não tenho planos para morrer, meu caro. Mas nunca se sabe se não somos apenas habitantes de um grão de pó no casaco de um ser desmesuradamente maior que nós. E às vezes, sacode-se o pó da roupa...
- Isso é que é colocar as coisas em perspetiva hein? So much for the meaning of life.
- Oh, deixai-vos estar preocupados com as vossas coisas transcendentalmente importantes. Como a cor das pessoas, a sua inclinação sexual ou quem devem tramar a seguir no emprego. No fim do dia, pode ser que vos nasçam filhos. Aí começarão a perceber um bocadinho da verdade.
- Você é um lírico. E vou mas é tratar de vida, que isso dos filhos irrita-me. Parece que nascem já aflitos para se porem a mexer...
...
Grita o transmontano, lá do fundo:
- Oh Silva, parece que o seu clube contratou outro Espanhol!
- Ai sim, quem é? - Berro-lhe de volta.
- Acho que é o Kinder. Diz que vai ser uma bela surpresa e já jogou no Real.
- Quais Kinder pa! Chama-se Bueno, sua besta.
- Kinder Bueno, Mars, Pintarolas, é tudo chocolate. - Desata a rir enquanto bate com a mão no joelho.
Voa o pano húmido de limpar as mesas...
segunda-feira, 25 de maio de 2015
Finalmente! Gajas escocesas todas nuas.
Há dias em que tenho pena que a minha psicóloga esteja de baixa psiquiátrica. E tenha mudado o número de telefone. De cidade também, aparentemente. Sinto falta que me diga que não tem mal nenhum, logo que não desate aos tiros a pessoas, coisas ou animais. Agora que penso nisso, reparo que nunca se referiu a plantas e minerais. Que terá a mulher contra as pedras e os arbustos?
Vem isto a propósito das eleições no Reino Unido, há umas semanas valentes. Mais concretamente aos resultados na Escócia. Vocês não se lembram, mas aqui há atrasado fartei-me de bitaitar acerca do referendo Escocês, que terminou com a vitória do Não à independência. Uns parcos meses depois, as eleições legislativas definem, também, a composição do parlamento local. E o que aconteceu? Desapareceram praticamente todas as forças politicas, exceto...os independentistas. Nestas alturas, sinto a mente como se fosse um jogo, em cassete, do ZX Spectrum, a entrar. Faz o mesmo barulho irritante e vejo tudo às riscas amarelas e pretas, como se as calças do Mathias Jabs me tivessem tomado o lugar da retina. Credo! E navego:
" - Hey! Mas o que vem a ser isto?! - Diz ele, com o telefone dela na mão. - Um sms badalhoco do Coiso para ti?! Não tinhamos já resolvido isto?
Ela atira os cabelos ruivos para trás e semi-sorri, um pouco incomodada. Mais pela invasão do que pela indignação. Põe as mãos na cintura e diz convicta:
- Na na, meu menino. Eu disse-te que ficava em casa, contigo. Mas nunca te prometi que deixava de me enrolar com o Coiso.
- Ai! Então e o carro novo, as férias, o cartão de crédito ilimitado, o seguro dentário e tutti quanti? Bolas, foste tu que escolheste. E agora isto? Merda pa! - Atira o telefone para cima da cama, com mais resignação do que violência.
Ela aproxima-se, com o seu andar bamboleante, a calhar, por aí. Pega-lhe nas mãos e coloca-as na sua cintura. Ele sente as curvas perfeitas da anca e a textura da pele lisa. Sente-lhe o cheiro, a um tempo doce e selvagem. Ela mordisca-lhe o pescoço e diz baixinho:
- Ora querido, mas é claro que quero isso tudo. E sei bem que só tu me darás tudo aquilo de que preciso. Não te preocupes dear, eu não vou a lado nenhum.- Cola-se a ele. Deixa os seios apertarem-se contra o peito dele. Ele choraminga, enquanto a mão passa por baixo da saia e testa a firmeza suave de um gluteo:
- Até os pelos púbicos rapei por tua causa...
- Ainda bem love, eram horriveis. E podias usar um kilt de vez em quando, hein? - Lambe ao de leve o lóbulo da orelha e suspira quando sente a mão dele no interior da coxa. Ele sussurra:
- E o Coiso? - Ela responde num gemido:
- O Coiso já usa. Adoro!"
O Sean Connery é que a sabe toda.
- Oh sôr Silva, e as gajas nuas? É sempre a mesma porra, chiça!
- Ah, pois. Depois ela foi tomar banho. E embora não se pudesse já ver, existe uma forte possibilidade de que estivesse toda nua.
...
- Ah, pois. Depois ela foi tomar banho. E embora não se pudesse já ver, existe uma forte possibilidade de que estivesse toda nua.
segunda-feira, 18 de maio de 2015
Melão DOC ou o bálsamo imanente
Dói-me a cabeça e tenho o estômago a desembrulhar-se num novelo de enchidos em vinha d'alhos que juro que não comi. Quer dizer, tanto quanto posso jurar. Fazemos assim, juro até às duas da manhã. Depois disso, só ligando para casa para perguntar. E agora não me apetece, nem é assim tão importante, certo?
Há uns 30 anos que não ressacava assim, pelo que me dizem aí pelo Mundo cibernético. Apesar de as contas da minha idade, e os pedaços de memória que começam a despontar por entre a bruma de etanol, me dizerem que é praticamente impossível que isso seja verdadeiro, percebo o alcance da graçola e confesso que me faz sorrir. Às vezes, é dos lugares mais inauditos que nos chega conforto. E que fina ironia proporcionarem-nos alívio e ânimo, enfim, forças renovadas para prosseguir, quando o que queriam, mas mesmo!, era juntar uma achinha à fogueira que nos assa. Talvez seja azia apenas. Tenho que ir conferir o inventário das farinheiras.
Embora tenha a perfeita noção de que a minha cabeça tem, hoje, Denominação de Origem Controlada de Almeirim, já a caminho de melancia, parece que me pesa muito menos. Uma parte disto deve-se ao que me fizeram rir a maioria dos lampiões que cá vieram molhar o bico até agora. Um virou-me um abraço e pegou-me ao colo. Outro apareceu muito cedo com um Nenuco, a dizer que o cachopo só estava bem era ao colo e tapadinho com uma mantinha protetora. Mais aquele que proclamou bem alto que ele, no máximo, é heterocampeão, que isso dos Bis só se for de maçã. Têm sido bastante civilizados, mesmo que cada olhar me diga "Incha Silva, embrulha porco". Oh well, é pouco mais ou menos o que lhes faço tantas vezes. Só que eu é em bonito.
A PDI também ajudará qualquer coisinha, é verdade. É diferente comparar uma derrota no futebol com fugir pela escada de incêndio enquanto se apertam as calças; ou com o rol de coisas más a sério que a Vida nos oferece enquanto se prolonga. Cada macaco ganha o seu galho, com calma e estupidez natural.
Melhor que tudo, é que acabo de perceber que o verdadeiro bálsamo para esta minha dor - que dói, dói pois - vem de dentro. Como sempre, é nos meus que encontro a paz.
(- É a azia, Silva. Ou o refluxo. É assim a modos que um ardor, não é? Quer que vá buscar um balde?)
Mas é que é mesmo verdade. É o sorriso contrário ao meu, que vou notando em alguns azuis e brancos, que me faz estar a ter um dia melhorzinho. O facto de um punhado destes, ou menos que isso, estar genuinamente satisfeito, tanto como qualquer lampião ou - será possível? - até mais, relativiza-me por completo a frustração. Caraças, afinal podia estar bem pior. Podia estar contente! Quase - e neste quase leiam o respeito que teimo em guardar por quem, mesmo que muito de vez em quando, se crê portista. - feliz! Por não ter sido o Porto a ganhar... Raios, que triste fado o deles!
...
- Pegue lá um Gaviscon. E um copo de vinho, antes que fique seco.
- Que é feito dos bons velhos Rennie?
- Estes vêm em saquetas e tal. É para chupar como os outros, mas engolem-se melhor. - E ri-se, pois claro. Outro é menos paciente e menos subtil:
- Falas muito, e às vezes bem, mas dar o braço a torcer, tá quieto! Não tarda estás outra vez a gritar aqui d'el Rei que os estão a levar ao colinho... Calimeros tontos tripeirus melonis, hein? - E ri-se igualmente.
- O colinho está lá, não há como esconder, nem vale a pena tentar. E o manto também, é mais que evidente. E não é novo, nem pensar. Até já tem borbotos e tudo.
- Ah, que alivio. Estava a ver que tinhas, sei lá, crescido...
- Mas também te digo, seu lampião inchado, com andor incluído, perdeste este campeonato em dois jogos. Como o do Kelvin. Nós é que não estivemos lá para o ganhar...
- Oh sim, sim, o jogo na Catedral e a falta de sorte em casa e blabla. Tem juízo moço...
- Nop. Na Madeira e em Belém. Quatro pontos, Porto Campeão. E aconteceu, só que deixámos que desacontecesse.
- A diferença entre as boas e as grandes equipas...
- Brindo a isso.
- Obrigado, Silva. Não precisas de dizer, ficamos pelo brinde e poupo-te a palavra.
- Grazie. Mas olha que vamos a caminho...
sexta-feira, 15 de maio de 2015
1+1=11
Tocam-se dois copos de shot de tequilla na penumbra das luzes de emergência da Tasca vazia. Sentem-se respirar as rodelas de limão, de próximos que estão. Um diz:
- Parece que foi há muito tempo. Outras vezes parece que foi agora mesmo. Não faço ideia nenhuma do que significa cada uma, só sei que às vezes parece...
- Sei. Também não dou importância a isso. Caminhámos, chegámos, continuamos...
- E celebramos, caraças! Com todas as angústias inevitáveis das nossas humanas vidas, celebramos.
- É. Por isso sabemos que continuamos a caminhar.
- Deixas-me pôr uma música parva? Só hoje?
- Se me deres a mão.
- Levo-te comigo.
- Eu vou.
- Eu sei.
E quatro olhos marejados. Parabéns.
...
- É melhor pores duas. Lembra-te que...
- Pois, é verdade.
De um e Do outro
terça-feira, 12 de maio de 2015
Porvires e Prestes a Passar ou a questão do cocó de cão
Entre algumas outras particularidades, o Sr. Monteiro da Silva tem um azar bestial com excrementos no passeio. Quero dizer, passa a vida a pisar bosta de cão.
Em si, é um facto mais ou menos desprezível, embora nunca agradável, está claro. Quem nunca sentiu a sola a escorregar quando não era suposto? Detesto enjoar-vos com isto, mas é necessário que se compenetrem não apenas do repugnante da matéria, mas também da impossibilidade de nos colocarmos, qualquer de nós, a salvo de um evento deste género. No entanto, na pessoa do Sr. Monteiro da Silva encontramos o tipo que levou com um raio vinte vezes. No mesmo sítio. De queda do raio, evidentemente. Não faço ideia onde lhe acertou de cada vez.
Tendo em conta que nenhum dos frequentadores da Tasca é conhecido por tratar dos sapatos ao homem, muito menos o proprietário - este vosso criado, salvo seja! - estou a ver-vos aí sentados a pensar: Oh homem, se não tem nada para dizer, fique caladinho. Você caladinho fala tão bem... Só se passa assim porque sois de vistas curtas, pese embora alguns dos olhos que por cá passam serem bonitos que se farta. Já se sabe que beleza e alcance não são uma e a mesma coisa, ao contrário da Dina e do Zé Gato.
É por isto que quando ele se aproxima do balcão, como agora mesmo, e o fedor começa a elevar-se do soalho, já não estranho assim tanto e começo, mecanicamente, a pensar onde estará a esfregona e o balde. Hoje, apanha aqui debruçado sobre o jornal o Rei do Dominó - um dia conto-vos sobre ele. - que é um rapaz com a mania da frontalidade. As mais das vezes é só mesmo falta de tato, outras, mas menos, falta de educação. Funga duas vezes, a segunda só para confirmar. Sem levantar os olhos do papel, diz alto:
- Bom dia, Sr. Monteiro da Silva. É que não podem restar dúvidas de que é o meu caro e bastante mal cheiroso amigo que de lá vem. - Abana a mão à frente do nariz.
- Mal cheiroso não, desculpe lá. Pelos vistos tive o azar de pisar cocó de cão lá fora. - Anuncia o pisador fedorento.
- Outra vez, meu caro, outra vez... - Diz-lhe o outro, ainda sem o olhar, com um meio sorriso de gozo.
- Se as pessoas fossem minimamente civilizadas, estas coisas aconteciam menos. Caramba, estamos a deixar de ter passeios. Uma pessoa anda que faz lembrar o Niki Lauda numa pista só com chicanes. - Queixa-se amargurado, enquanto olha em volta à procura de uma solução milagrosa ou apenas de solidariedade.
O outro ferve e lateja-lhe uma veia ameaçadora numa entrada da careca. Bate com as mãos no balcão. Exaspera-se:
- Mas que raio, homem! Não lhe parece estranho que lhe aconteça sempre a si? É possível que você ande permanentemente com a cabeça na Lua? Mas não vê onde põe os pés? - Alisa os fios de cabelo brilhante que lhe compõem uma peculiar espécie de franja. O tasqueiro está já ao alto, esfregona e balde apostos, mas meio encantado com o diálogo.
De sapato na mão, desequilibrado sobre uma meia preta e o outro sapato completo, o Sr. Monteiro da Silva inspira e responde sem subir uma oitava ao seu tom normal:
- Não, senhor. Não olho para os meus pés enquanto ando. Ponho os olhos no horizonte. Lá à frente, onde estão as coisas que vêm e não as que se aprestam a passar. Você nunca andou de bicicleta, pois não?
- Por isso é que pisa merda de cão!
- Será. Mas nunca esbarro com as fuças contra um poste!
- Chiça, antes cagar um pé todo... - Acrescento, por instinto. E procedo a limpar as pegadas do meu singular freguês.
sexta-feira, 8 de maio de 2015
Um ano de noventa e três dias
Vejamos, o tipo tem bom ar no seu fato azul marinho, camisa extraordinariamente branca, a vincar a gravata azul elétrico. Como diria a mais velha, até a barba envelheceu bem. Menos branca e mais curta que o pouco cabelo. Ter entrado sorridente e o aperto de mão ao mesmo tempo firme e descomprometido, nem demasiado breve para ser distraído, nem constrangedoramente prolongado, ajudam a completar a imagem estudada, mas já mecânica, da personagem. Um profissional, isso é claro.
- Muito bom dia e muitos parabéns, Senhor -assim mesmo, por extenso- Silva. - E abre ainda mais o sorriso, mostrando os dentes bem tratados, mas naturais, sem branqueamento, aposto.
- Bom dia senhor. Desculpe se sou indelicado, mas não creio que tenha o prazer de o conhecer. De todo o modo, obrigado. É simpático da sua parte. - Aproveito para passar o pano húmido no balcão.
- De facto, ainda não tínhamos falado assim, cara a cara. Mas creia que tenho passado aqui tanto tempo quanto o meu caro amigo, passe o exagero. - Estende-me um cartão branco com letras azuis. - Silva, também eu. Consultor. - O sorriso permanece, sem acrescentar um "ao seu serviço" despropositado, pois que ninguém o requisitara. Sabe da poda este.
- Pois muito bem, é um prazer. Café? Hoje é por conta da casa. Mais tarde pode ser que haja uma fatia de bolo. Agora ainda não, tenho pena.
- Aceito com muito gosto, pois claro. O seu café tem fama de ser o melhor das redondezas. Não que eu o possa confirmar, uma vez que não tomo café em nenhum outro sítio. - Pimbas, o tipo de graxa declarada que, mesmo que não se queira, nos sabe lindamente.
- Muito obrigado pela preferência. E hoje decidiu trocar palavras com o tasqueiro, a esta desora da manhã, por algum motivo em especial? Ou apenas pelos parabéns? - Toca a despachar o engomadinho, que tenho que pôr as bifanas ao lume.
- É muito simples e muito rápido. Creio que o meu amigo, passado este ano, precisa de olhar de forma diferente para o negócio. Não entenda mal, o seu trabalho é excelente, está claro, mas há alguns aspetos em que... - Hesita. - Em que acredito que beneficiaria com uma opinião especializada.
- A sua, naturalmente.
- Nem mais. Por exemplo, acho que deve ter em atenção o seu público alvo. O perfil dos clientes. Notou por certo que são mais agora, com interesses diversos dos que cá estavam de inicio. Quantos mais haverá por esse Mundo? Como proporcionar-lhes a experiência da Tasca? Enfim, um sem número de coisas que o podem transformar num tasqueiro de sucesso. Não entenda mal, já o será, dentro da sua expetativa. Mas acredite quando lhe digo que Sucesso, mesmo a serio, é de uma dimensão infinitamente superior. E você tem tudo para lá chegar. Nem eu estaria a investir o meu tempo aqui se assim não fosse, perdoe-me a imodéstia. O Mundo é enorme, está na hora de o conquistar. - Pousa as mãos abertas no balcão, os olhos nos meus. Tem um grande nariz, chiça.
- Oh homem, isto é uma tasca. Não sai daqui, não parte à conquista para lado nenhum.
- Ora aí é que você se engana. Eu acho que pode ir. - Interrompo:
- Tipo Castelo Andante? Arranjamos-lhe um motor ou a coisa dá- se por feitiços mesmo? - Sorrio simpático, para atenuar a indelicadeza.
- Claro que não. - E devolve-me o sorriso. - Transformamos isto - Faz um gesto redondo com as mãos, abarcando a Tasca inteira. - num blogue. Provavelmente sobre futebol. Temos que pensar nisso. Os dados dos frequentadores aconselhariam. Ou não...
De repente, tenho a casa cheia. É só na minha cabeça, mas, por algum estranho motivo, sei que ele vê o mesmo:
O Sr. Monteiro da Silva, de headphones enfiados nas orelhas peludas, preenche a sua enésima lista, sentado num banco alto ao balcão; na mesa comprida, os putos empurram-se nos bancos corridos, sob o olhar benevolente da matriarca de cabelo vermelho; camuflado pelo nevoeiro permanente da zona de fumadores, o Sonkaya não tira os olhos magoados da mesa dos namorados, onde os olhos claros se riem de uma piada de um tipo que nunca cá tinha visto; o puto Paulinho vai borboleteando de mesa em mesa e quase derruba a pilha de papéis do velhote dos sapatos apertados; outros velhos batem-se ao dominó belga, fazendo barulho com as peças, naquela forma apurada durante décadas de as espancar contra a mesa; o Juses tenta explicar ao Lopetegui porque é que trata toda a gente por tu, enquanto os punhos do outro se fecham, devagar mas irremediavelmente; amigos fazem-me sinal, das mesas do fundo, acenando os jornais do dia, ansiosos por comentar as notícias; deputados e ministros atacam os bolinhos de bacalhau e os pasteis de nata, alegres mas nunca tranquilos; de nariz colado à montra, comentadores desportivos hesitam em entrar, jornalistas tiram notas, compondo crónicas de mal dizer, destinadas a rebentar com a reputação do lugar; lá fora é o Porto e é Lisboa e é a Brandoa, passa a procissão da Senhora do Desterro e o cortejo do Carnaval de Ovar; gajas escocesas todas nuas festejam sobre os escombros de um raide da Luftwaffe; acho que há uma estrela de cinema ao colo do Emanuel, que aperta com ela; e pairando sobre todos nós, hás tu: a inominável, a razão de ser da Tasca e da Vida, o princípio e o fim dos dias, inconsciente do impacto dos gestos ao calhas e do rabo redondo, concentrada nas braçadas de fuga aos líquidos retidos. Pelos meus olhos, o engomadinho vê e acena sorridente com a cabeça.
Abano com força os neurónios, sob o cabelo cheio de brancas, ralo, a condizer com a barba, e limpo as mãos limpas ao avental. Só para me sentir. Digo-lhe:
- Pegar nisto tudo e meter dentro de um blogue, fatalmente sobre coisa nenhuma, pois que seria sobre quase tudo. Esta a sua ideia. Ou devo dizer, o seu plano?
- Pois claro! Brilhante, hein?!
- Que grande e alternada parvoíce, sim senhor... - Decreto.
Ele debruça-se no balcão, segura-me os ombros com as mãos. Tem efetivamente um grande nariz. Diz:
- Seja. Parabéns de novo. Voltaremos a falar.
Sai em passo firme, com o mesmo sorriso com que entrou. Voltarei a ver este fulano?
Aproveito os minutos que restam antes dos primeiros mata- bicho e deixo a Tasca encher-se de uma música velha de um ano.
DANCE ME TO THE END
DANCE ME TO THE END
...
PS que não interessará a ninguém, nem aos visados, mas a mim sim!:
O primeiro blogue que segui, de facto, foi o Porta 19. Sempre achei que gostaria de ler mais do que futebol pela pena do Jorge. A Tasca existe, however, por outros motivos, como que uma necessidade. E era suposto ter permanecido assim anónima, até me ter dado para publicar um link de um post em alguns tascos que frequento (aqui ao lado) na bluegosfera. Creio que daí me apareceram uns quantos fregueses ocasionais e, sobretudo, um que por cá ficou. É inevitável que lhe agradeça a paciência: obrigado Miguel. E nele, sintam-se agradecidos todos os que foram deixando a sua marca por cá, no decorrer deste ano. Sei que vos dececionarei muitas vezes, mas de cada uma lembrem-se: A Tasca é sobre nada! E isso incluí futebol ;) Bem hajam. Até já.
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Aberto para balanço V - Valar Morghulis, Valar Dohaeris
V
O FCP campeão e dominador, que nos deixa sempre a esperança na vitória, não será uma obra solitária de Jorge Nuno Pinto da Costa, pois que outros antes, e alguns com ele, terão em muito contribuído para a afirmação do Brasão Abençoado. Mas sem dúvida que é o NGP a figura marcante, o timoneiro desse crescimento. O FCP não nasce com Pinto da Costa, mas deve-lhe boa parte do respeito que hoje granjeia no Mundo. E, por vezes, até em Portugal. Mas é mais raro. Nenhum portista deixará de o reconhecer e de estar grato. Quer dizer, um ou dois talvez...
É seguro, salvo algum grande e nada desejado imponderável, que JNPC cumprirá um novo mandato, que se seguirá ao em curso, como Presidente do FCP, SAD e clube. Estou em crer que será o último.
Nesse, chamemos-lhe derradeiro, capítulo da sua ação executiva, pois que por mim será Presidente Honorário enquanto viver e eternizado no nosso Dragão depois disso, deverá obrigatoriamente finalizar com sucesso um dos maiores desafios da sua liderança: A sua própria sucessão. E digo finalizar porque acredito que o processo está em marcha. Na minha opinião os sinais são:
a) Aposta num projeto desportivo de médio prazo para o futebol, complementando uma estratégia de grande autonomia e sustentabilidade já há algum tempo em marcha nas outras modalidades. Embora o futebol se mantenha sempre sob alçada direta da Direção.
b) Escolha de um técnico "formador", com amplos poderes, já muito próximo de um manager, e ação transversal a todas as camadas do clube. Comunicador fiável e de espírito aguerrido na defesa da sua dama. Estrangeiro e, portanto, completamente alheado da necessidade de ter "boa imprensa" em Portugal. Tarefa impossível para qualquer treinador do FCP, certo Zé?
c) Intervenção cada vez mais espaçada do Presidente e limitada a aspetos de caráter mais institucional, com implicações mais vastas que as incidências do jogo em si. Veja-se a questão da Liga de Clubes ou da FPF, por comparação com o silêncio sobre o "Colinho on tour 2014/15".
d) Afirmação de um FCP de corte cada vez mais internacional e internacionalizante, reconhecido como exemplo e representante máximo, se não único, do futebol Português na alta roda Europeia.
Ou seja, a abertura deliberada do espaço necessário ao surgimento de novos protagonistas e vozes outras que, mais dispersas e especializadas, tomem o lugar de uma figura hoje única e na qual se concentram os olhares de todos: Portistas, quase Portistas, Portistas wannabe e malta sem gosto nenhum que é de outras agremiações.
A parte mais complicada desta tarefa, que me parece uma estratégia bem urdida, será evitar a proliferação de putativos candidatos a candidatos. O caminho que parece estar a ser seguido é o de esvaziar de alguma da sua importância o próprio cargo. Torná-lo o posto da reserva moral, da decisão final, pois claro, mas sem a exposição, o mediatismo e, por conseguinte, a espuma de glória que hoje promete o ser-se Presidente do FCP.
A alternativa seria encontrar o delfim e poder oferecer-lhe a quase unanimidade que detém JNPC. Missão praticamente impossível. Visto daqui, o caminho parece ser acompanhar o projeto Lopetegui até ao final, ter algum tempo depois disso para capitalizar a paz que um ciclo de vitórias trará e usá-la como rampa para um adeus tranquilo e na glória muito merecida. Deixando em simultâneo a casa arrumada.
Como tudo isto é, inevitavelmente, um exercício adivinhatório, feito apenas porque tenho dificuldade em ficar calado, pode acontecer que esteja redondamente enganado. Que JNPC queira, disso estou certo, voltar a ganhar, e muitas coisas, e depois deixar que os sócios, em democracia sem rédea nem preparação, tratem da sua sucessão. Sem intervir de forma alguma, limitando-se a gozar o seu também merecido descanso.
Nesse caso, gostaria de lembrar, como se se importassem, todos os que ansiarem pela cadeira, que o FCP é o maior de Portugal e um dos grandes do Mundo. E isso já não está apenas nos nossos corações, está na história das nossas conquistas. Junto-lhes, com o respeito que sabem que me merecem, aqueles dos meus que clamam contra o silêncio. Lembrai-vos que os filhos se afirmam contra os pais, os pequenos contra os grandes, os guerrilheiros contra o poder, os oprimidos contra os poderosos. Os Vieiras e os Carvalhos contra os Pintos da Costa. Nunca o contrário. Nunca mais o contrário!
Valar Morghulis, todos os homens devem morrer. O FCP não é um homem, é todos nós: Pretéritos imperfeitos, presentes compostos e futuros mais que perfeitos. O homem que hoje governa esta nossa casa, deverá entregar amanhã as chaves a um novo mordomo. Sim, não mais do que isso, um mordomo. Com espírito de missão para servir uma causa maior que todos juntos. Valar Dohaeris, todos os homens devem servir.
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- Isso é que era mesmo bem visto, oh Silva. Você calava-se um bocadinho e servia-me uma tacinha de tintol e uma sande de torresmos. Que me diz, hein?
sábado, 2 de maio de 2015
Aberto para balanço IV - Tubi ornotubi...hegemonic.
- Ele acredita mesmo que ainda acaba na Premier League. - Opa, cala-te que já me dói a barriga... |
IV
... Detiz dacuestion. Em grande alvoroço, uma fatia dos azuis cultos e brancos exigentes, ou do Exigente Culto, já iniciou o habitual enterro da hegemonia portista. Esta coisa das hegemonias depende um pouco do intervalo temporal que se quiser definir. Se forem os últimos 30 anos, é uma coisa; se forem os últimos 60 é possível que seja um pouco diferente. A recente descadeirização do sonho do Chiclas, pôs-me a pensar se não temos na sua própria figura um advento suficientemente importante para que marque os tais limites temporais. Agora é que ninguém sustém o ego do palhaço...
Goste-se ou não do debilóide (nota-se?), é justo reconhecer que nele o Orelhas encontrou a estabilidade que ameaçava detonar o seu reinado. João Batista terá cumprido no final desta época o seu sexto ano na liderança técnica do 5LB. Nesse período de tempo terá ganho dois ou três campeonatos. Se estatisticamente o título deste ano fará toda a diferença, acredito que devemos olhar para lá disso: Neste ciclo de seis temporadas, não fomos hegemónicos e fazer de conta só faz mal.
No período de seis anos imediatamente anterior a este, o FCP ganhou cinco vezes o campeonato, incluindo um tetra. O 5LB ganhou apenas um. E foi o de Trapalhoni. Devemos pois reconhecer que no intervalo definido pela presença de Pedro, o Pescador, nas nossas vidas, o 5LB está mais próximo. Mesmo que ganhemos este ano, há que ficar atento à forma como vamos ganhando. Os três ou quatro campeonatos que teremos ganho no fim desta época, foram muito renhidos. Disputados até ao fim, exceto o de Villas Boas. Aliás, ressalvando esse ano, o traço comum a todas as outras vitórias é que... estivemos muito perto de perder.
Judas Iscariote terá, por muito que me custe, e custa taaaaanto, reconhecer, que ter algum mérito nisto. Assim como a orelhuda direção dos lampiões, que lhe entregou excelentes planteis e investiu muitos milhões e parece ter feito bastante bem as coisas pelo outro lado. Nunca conseguiram, porém, passar a fronteira. Sempre que foi preciso ser grande para lá de Elvas, pumbas, ficaram-se. Estiveram, no entanto, duas vezes perto de o conseguirem. Nós conseguimos mesmo...uma.
- Oh foda-se Silva, mas isto é um post a dizer bem dos lampiões? Pior ainda, a bater palmas ao Orelhas e ao Jegro Juses?
Palmadas são dadas quando e a quem merece palmadas. Feita essa parte, este post pretende anunciar o fim de um ciclo. Quando, na minha opinião, a hegemonia do futebol português é, efetivamente, dividida entre os Bons, nós!, e os Maus, eles!, nesse exato momento, o FCP faz o que faz melhor: Dá-lhes um bigode do caraças.
Ao novo inicio lampião, com ou sem Simão, o Zelote, a treinador, respondemos com um projeto de médio prazo, liderado por um dos melhores treinadores que passaram por cá em dias da minha vida. É opinião e é pessoal, mas muito convicta. Os sinais indicam-me o final deste ombro a ombro, pelo menos no que diz respeito a futebol jogado. Pelo outro lado, pelo contrário, creio que nos levam um avanço muito significativo.
- E o Mateus, o Publicano, achas que vai mesmo para um grande campeonato?
Até o Orelhas se mata a rir com isso. Mas alguém consegue imaginar o palerma a trocar o nome do Wenger ou de Louis van Gaal? Melhor ainda, imaginemos o Chiclas a mascar de boca bastante aberta e a falar inglês. O sonho do homem pode ter a cadeira que ele quiser, mas a falta de nível da personagem é impeditiva de aspirar a mais que... o 5LB. Por isso, acho que é agora que iremos mesmo ver o fantabulástico fabricante de craques a partir de gajos só com uma perna, o catedrático do rolo compressor contra o Souselas, o pragmático do ataque todos fechadinhos lá atrás, o grande João, o Bem Amado, sem milhões para gastar em jogadores. Estarão as fichas todas no Vitor Pereira e sus muchachos.
Ao que prevejo seja um novo ciclo de grande hegemonia azul e branca a nível nacional, seria excelente juntar um novo título internacional. Seria branco sobre o azul, embora o fosso para os grandes da Europa ameace alargar-se. Para além disso, parece preparar-se uma nova forma de intervenção do clube, que para já se consubstancia em...não intervir de todo. No entanto, não será fácil fazer emergir novos protagonistas que, mais do que o reconhecimento dos de fora, obtenham o respaldo e a necessária quase-unanimidade dos portistas. Somos difíceis, muito difíceis, muitas vezes estupidamente difíceis... Mas isso é outro tomo (não é, Miguel? :))