Um estúpido lembrar-se de atirar um cão de uma ponte é algo maijómenos expectável. Que seja tão estúpido que se lembre de filmar a cena, também não é propriamente uma surpresa. Neste ponto, nada mais natural do que desatar a partilhar a habilidade nas redes sociais. Porque é apenas uma estupidez. Pena tenho que o cão não lhe arrancasse um braço à dentada.
Custa-me um pedaço não ter ficado de cara à banda com a reação pronta de uma chusma de outros estúpidos: Insultaram o tipo do bungee sem elástico, provavelmente ameaçaram-no, crucificaram o gajo. De tal maneira que o moço teve que sair de fininho da dita rede social, pela esquerda baixa, e a agência que supostamente lhe tratava da suposta carreira se apressou a esclarecer: Epá, nós não temos nada com isso. Não atiramos cães de lado nenhum. Que coisa estúpida, credo.
Como calculam, nos dias que correm, um tipo destes estar out da rede é pior do que um comunista ser degredado para o Tarrafal em 1968. Pobre estúpido, morreu lá no sítio onde a vida, de facto, acontece: Aquele em que nada é real.
Agora, os que o degredaram não me irritam menos. Pode ser da velhice, que me torna rezingão, ou do raisparta de feitio, que me faz ser contra. Mas não consigo evitar imagina-los a ver um vídeo semelhante, desta vez com um pai babado a fazer o filhote saltar para a água e nadar até à margem: Olha aqui Katy, olha. O puto do Adelino é o máximo. Destemido, o catraio. E que bem que nada, para a idade. Like.
Olha, a mim já me atiraram com uma velha, nas escadas de uma estação de comboios. E era a descer, chiça. Bem feito que falharam. Ou então foi a senhora que caiu, coitada. Mas desconfio.
Não tenho nada contra os tarados dos animais - subtil hein?! Acho que há taras muito mais estranhas. E sem representação parlamentar.
Por exemplo, uma vez conheci um sujeito que era doido por maracujás. Quem queria vê-lo era no supermercado, na zona da fruta, a fazer festas aos maracujás, a cheirá-los, tudo com um ar bastante lúbrico. E já se sabe que o maracujá nem sequer interage com a pessoa. Está claro que não existem registos de ter atirado os ditos de cima de uma ponte. O que é bom, porque parece que o maracujá não sabe nadar. Yo.
Devia haver uma Fundação da Estupidez disposta a financiar aqui o estúpido - um vosso criado. Investigaria a forma como as redes sociais se constituíram como um espaço de partilha, de caráter terapêutico. Permitindo, pelo exemplo, a catarse da populaça. Através da amplificação - e glorificação - da estupidez humana.
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INTERLÚDIO: Aviso
Os maluquinhos dos bichos escusam de vir moer-me a paciência. Tenho um gato com nome de cão e um cão com nome de astro. São membros de pleno direito da família e gosto tanto deles como eles de mim.
O que quer dizer que se me chateiam, atiço-vos as feras sem hesitar. Sempre vos quero ver a correr à frente daquelas dentuças afiadas e garras cheias de tártaro. Ou talvez seja ao contrário. Vejam lá não se baldem de alguma ponte.
O que quer dizer que se me chateiam, atiço-vos as feras sem hesitar. Sempre vos quero ver a correr à frente daquelas dentuças afiadas e garras cheias de tártaro. Ou talvez seja ao contrário. Vejam lá não se baldem de alguma ponte.
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Um estúpido decidiu enfiar um balázio num cão. O dono do cão não se ficou e fez um escarcéu do camandro. Nas redes sociais, pois claro. De estúpido não tem nada.
O que vale a pena reter é a indignação generalizada com dois detalhes:
* Um tribunal condenou o caçador de cães a pagar uma multa de montante praticamente igual a uma outra, ao pagamento da qual obrigou o dono do animal. Por injúrias.
* O juiz desancou o injuriador por ter humanizado o bicho e ter feito a vida negra ao estúpido da arma. E por lhe ter chamado "assassino" e lhe ter atiçado uma matilha de estúpidos sociais.
O que deixam passar em claro, no meio da espuma, é o facto mais parvo de todos: O processo decorreu, creio que por escolha da acusação - o lado do cão - ao abrigo da Legislação Patrimonial. Quer dizer que se partiu do princípio que o bicho era património. E havia sido danificado. Isto porque a pena máxima neste caso é bem superior à que poderia ser aplicada se o enquadramento fosse a muito festejada Lei dos Mau Tratos.
É giro que não venha a malta dos bichinhos para a rua. Mas pensar dá um bocadinho de trabalho. Pior, não proporciona nenhuma selfie fofa. No máximo, dá uma estátua de um gajo musculoso. Todo nu. Malditos gregos.
Vai dai, não sejam estúpidos. Se precisarem absolutamente de disparar contra alguma coisa - sei lá, podem ser obrigados a jantar com o Bruno de Carvalho, ou a passar a tarde a ouvir conferências de imprensa do Rui Vitória, ou serem designados para escutar todas as mágoas do Lopetegui, ou assim - nunca se esqueçam: É melhor disparar contra uma vaca do que contra um psiché. Dá menos cana e sempre se aproveitam os bifes.
- Icho é uma generalijachão extúpida, oh Xilva.
- Hã?
- Não há nenhuma evidênxia de que todajajvacaj tenham um pechiché.
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O Presidente da Polónia veio de passeio cá à terrinha. Diz que correu tudo muito bem, apesar de estarmos perante um estúpido que defende o fecho de fronteiras. Porque o refugiado é um bicho que havia de ser atirado de uma ponte. Digo, de um viaduto, que as pontes tendem a ter água por baixo.
- Bem, isso dos refugiados tem muito que se lhe diga. Não posso deixar de simpatizar quando ele diz que podem pôr em causa o nosso estilo de vida católico.
De facto, a Polónia, esse exemplo de país católico. Sobretudo após determinada limpeza étnica, que o purgou de outras religiões igualmente perigosas, hein?
Mas a verdade é que não preciso de ser tão incorrecto e inconveniente. Basta assinalar a diferença entre a nossa, por vezes apenas suposta, tolerância - aquela que fica bem ao lado das fotos de chinchilas adoptadas por ursos polares pernetas e assim - e o despontar do espirito Polaco.
Xinapá, confundirem os nossos com árabes muçulmanos é tramado, não é? Pois não, não é. É só tão estúpido como o resto.
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Um jornal foi perguntar a uma manada de lampiões qual jogador preferem para determinada posição. A escolha era feita entre um Dragão e um Calimero.
Wadafuck??? A sério? Mas porque recarga de água quereria eu saber da opinião desta gente acerca disto?
Espera, já sei! Foram ouvir uma série de estúpidos sobre uma estupidez de todo o tamanho! Afinal, faz sentido: Lugar aos especialistas. E capa. Também fez capa, valha-nos São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.
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- Agora, agora. - Excitado.
- Senhor, isto é uma estupidez. - Hesita.
- Despacha-te, olha o timming. Anda, anda. - Aos pulinhos.
- Olhe que ainda se magoa a mulher.
- Não sejas estúpido, Pedro. Eu trato disso, despacha-te. Agora, caraças. - Grita-lhe.
Puxa a alavanca.
- Ora foda-se, falhámos. A culpa é tua. Tinha que ser quando eu te disse. Porra pá! Oh, oh, olha pákilo, ainda passa o fulano por bom samaritano. Raios! - Chuta uma nuvem.
- Senhor, a velha tem o mindinho a apontar para o lado errado... - Preocupado.
- Ela que não aponte, que é feio.
- É estúpido fazer isto às pessoas, Senhor. - Ousado.
- Bah, não é como se a tivesse atirado de uma ponte, poi'não?