domingo, 22 de abril de 2018

A lista de compras do senhor Monteiro da Silva

Procrastino no penúltimo cigarro, as luzes já apagadas, a mente à procura de desculpas plausíveis para deixar as limpezas para amanhã. Acordar às quatro, ter isto aberto às seis e vinte, não tem que estar sempre um brinco, correr com a malta mais cedo, ver-vos antes de dormir.

Predisponho-me a acabar o dia neste copo que sobejou da melhor garrafa que hoje se vendeu. Sorrio-me da lembrança do Berto Faz-Tudo a sair atrás da rapariga dos olhos claros, as mãos apertadas dentro dos bolsos, o puto em cabriolas à volta deles - oooh Marega, ooooh Marega - ela a olhar para o balcão antes de atravessar a porta, ele um lagarto resignado, o miúdo um alvoroço só. Cinco alvoroços. 

Chegamos a um compromisso, me, myself and i: limpamos as mesas, deixamos a máquina a lavar, enxagua-se o chão e o balcão pela manhã. E a cozinha. Damn.

Imagino-te a apreciares-me, a traçares a rota mais simples e eficaz para a recolha da louça, a minha rotação tropical gingando entre cigarro e copo, os nervos a eriçarem-te os pelos do braço, um assomo de alívio quando saio do balcão, os olhos espreguiçando-se pela sala. E lá vou, um Brahimi de chávenas e canecas e pratos, serpenteando pelo caminho mais difícil e improvavel, mais bailado do que trabalho. Ah sim, meu Amor, tudo é arte, tudo tem a sua estética. Upa, um pires pelo ar, meia pirueta, agarra-o com a outra mão. Às vezes partem-se, mas eu não te conto.

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Na mesa do senhor Monteiro da Silva, uma folha arrancada do seu bloco, esquecida:

Lista de compras
  • Azeite
  • Alhos
  • 1 polvo (grande)
  • Alfa Semedo
  • Batatinhas (assar)
  • Salsa
  • Lucas Evangelista
  • Colorau
  • 1 cebola (pequena)
  • Renato Santos (?)
  • Guardanapos
  • Queijinho seco
  • Calleri
  • Não esquecer: Palmas desceu
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Em casa, tu obrigar-me-ias a trocar a salsa por coentros. Mas o que mais estranho, é porque raio quer ele colorau para fazer Polvo à Lagareiro?

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sexta-feira, 20 de abril de 2018

hiperligação | 92º shooter: opus XI - traição



«traição!», bradou ele. e desatou numa correria desenfreada, qual fuga para a frente, rumo a um local incerto e que só existia na sua mente.
como chegara ali e àquele ponto, isso agora não interessa para nhaga, porque são contas de um rosário que não vale para este totobola.


diz quem viu que foi tudo contra-natura. e, como contra factos não há argumentos, ninguém se conformou. ainda hoje está muito difícil o consenso, aliás, daí um silêncio surdo e muito mudo sobre o sucedido - o que não significa que a “bolha“ esteja prestes a rebentar…
afirma quem não presenciou - que também os há - que nunca se viu algo assim, nos últimos tempos. que tudo se compeliu em direcção a uma catástrofe que, de tão evidente que era e que facilmente se percebia, só quem nela participou é que estava ceguinho de todo. «e isso é inadmissível», acrescentaram.
quem não compreendeu nada do que se estava a passar à sua frente e até já tinha deitado tudo para detrás das costas, ficou ainda mais paneleiro dos olhos porque nem queria acreditar no que se estava a precipitar em sua direcção - logo ele que até já tinha previsto alguns cenários, mesmo que hipotéticos.
quem tinha a responsabilidade máxima de dizer alguma coisinha, por mais singela que fosse, tal como o tinha feito num Passado recentíssimo, ficou pior do que um boneco de cera num qualquer museu da cidade - porque estes, ao menos e a bem da Verdade, ficam s-e-m-p-r-e calados para o público que os visita, dado que sabem que há silêncios que são de ouro.
quem adora botar faladura nestas ocasiões e invariavelmente em sentido contrário, adorou (e muito!) aquelas cenas, não poupando esforços em encontrar defeitos onde nunca antes tinha visto uma virtude que fosse; quem gosta de opinar sobre factos viu a sua tarefa complicada porque o que tinha acontecido fora mau - apesar de não ter sido péssimo.


¬ e agora? o que é que vai ser feito de ti?
¬ agora, vou retemperar energias. as necessárias para as finais que se avizinham.
¬ «finais»? plural? mas quais finais?! não perdeste todos os acessos às ditas?
¬ fingi que as disputei. há mais de oito meses que ando em Batalhas de uma guerra só. finalmente chegaram as finais. doze pontos. todo o Céu por esses doze pontos.
¬ que os Aliados estejam connosco!


“disse!“

Miguel Lima | 92º minuto

(este espaço será sempre escrito de acordo com a antiga ortografia. limices.)

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Putas e finais, com Eugénio



Sou um tipo derreado. Cansadamente exausto. Naquele estado em que os indivíduos falam para a pessoa e ela lhes acena com a cabeça, enquanto reza aos Santinhos da sua devoção para que não esteja a anuir a propostas de sodomização mútua, envolvendo a equipa de râguebi da Casa de Pessoal dos Estivadores de Mogadíscio. Ainda por cima, tenho sempre azar nos sorteios.

É um fastio muito acentuado desta coisa do “ainda não ganhámos nada”, “a quantidade de pontos que ainda vamos perder”, “we’ll always have Restelo e Paços”, “é com os últimos que vamos deixar fugir esta merda”. Boa parte dos que assim me extenuam, não há uma semana lengalengavam “só a vitória no galinheiro se aceita, nenhum outro resultado pode servir, nunca, é o fim, kaput, game over”. Fartinho debujóbir. 

Portanto, se o FCP não ganhasse, era o fim. Em tendo ganho, muita cautela que estamos quase a perder. Ora fodam-se, sim?

Começo a acreditar que em consequência disto, cria-se aquele mui visto, sempre irritante e mentecapto estado de espírito da final. É tudo finais. O Setúbal em casa, uma final; o Marítimo na Madeira, ui, os penalties de uma finalissima; o Feirense, tremei tripeiros, lembrem-se do que nos tem feito esta autêntica laranja mecânica de Terras de Santa Maria. 

Depois admiram-se que os cachopos pareçam meninos de coro, acabados de chegar ao dormitório do Colégio Militar ou assim. Ai que o adversário, um colossal Vitória de Guimarães de Peseiro - lá está! - nos marcou um golo. Credo, ainda se perde o (yet another) jogo das nossas vidas. Vai ser o fim. Procedamos a borrar-nos todos, dada a trampa que somos. Quanta responsabilidade, quanto peso, quanta tragédia, tanto relógio, tanta pomba assassinada, não quero para mim tanto veneno... Fuck it, já sei que já perceberam, mas eu gosto de citar Eugénio e a casa é minha.

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Rapazes, nada disso! Estais à frente de um Campeonato arbitrado por Bruno Paixão, João Capela, Luís Godinho, Bruno Esteves e outros camaradas igualmente dados ao sacerdócio; em que disputastes partidas como as da Feira, Moreira e Vila das Aves; em que empatastes a zero com golos ignorados, como o de Herrera, na vossa própria casa - la casa de un hombre es su castillo - contra o todo poderoso adversário; em que errastes clamorosamente como nos ditos Paços e Restelos; e em que resgatastes o lugar que vos pertence por justiça, ganhando orgulhosamente no terreno do inimigo.

Já chega de desconfianças e tremores. Que mais há a provar? É chegada - e já vem atrasada - a hora de encher os peitos e empinar o nariz. São eles quem tem a temer, os pobres Vitórias, os incautos Marítimos, os despromovidos Feirenses, pobres coitados. Abri alas, saudai o Campeão, vinde testemunhar o poder e o brilho do Primeiro! 

Trinta mil mareguianos caralhos vos enrabem se ainda não acreditam, se ainda desconfiam, se acham mesmo que são finais. As finais são apertadas e fechadas e tensas. Parecem nubentes ansiosas mas indecisas. Não é aí que estamos, senhores. Senhor. Sérgio. 

O que somos é o guerreiro cheio de cicatrizes - é certo - que emana o poder das suas múltiplas vitórias, a pele tisnada do Sol dos campos de batalha cobrindo os músculos hiperdesenvolvidos. O matulão de cabelo ao vento, instilando pavor e inveja nos adversários e arrancando suspiros e íntimas humidades às castas donzelas. É isso que sois! 

E agora o herói entra no bordel da terra e é festejado, agraciado, a sua voz incontestada, o seu ouro largado sem cuidado. Ai de quem lhe toque. Não vem para descansar, vem para foder as suas putas, mesmo as que ousarem fingir que resistem. Não são finais, não são nubentes, são o prémio da Glória que fizestes por merecer. Experientes, macias, infalíveis, perfumadas e cheias de tesão. Tomai-as!

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As coisas quando têm que ser feitas, não há como começar logo a fazê-las. Diz que visitamos um prostíbulo esta noite...







terça-feira, 17 de abril de 2018

hiperligação | 92º shooter : opus X - alive&kicking



ambiente próprio de um Clássico, quentinho qb e que se distingue de um ‘derby’ exactamente por isso mesmo.
no exterior estava tudo preparado ao milímetro e com atenção redobrada ao mais ínfimo pormenor, para que não houvesse violações dos perímetros de segurança, tão características por aquelas bandas e tão useiras e vezeiras pelos (in)suspeitos do costume. já no interior, tudo crepitava de calor humano, na ânsia de que o confronto tivesse início o mais rápido possível e os artistas surgissem para lhes satisfazer o seu ”glorioso” Ego. assim aconteceu e não foi preciso esperar muito para se perceber que seria um jogo disputado taco-a-taco.


a partida começou equilibrada, pese embora um maior ascendente dos da casa, apoiados pelo seu público, o qual rejubilava a cada vergastada infligida no adversário. é o que se diz de quem tem ”as costas quentes”…
já os forasteiros evidenciavam um manifesto incómodo por estarem a ser subjugados pelo arqui-rival e manietados na sua forma de jogar, tão característica ao longo deste campeonato (também) feito de E-toupeiras: pressão alta e jogo directo para os atacantes, poderosos no confronto físico com os defesas contrários. como tal não era possível, o pontapé para a frente foi o que mais se viu nos primeiros vinte minutos, para desespero do seu timoneiro, o qual não parou de se insurgir com os seus por não estarem a executar o plano de (pelo menos) uma semana intensa de preparos e de intenso trabalho.
apesar deste incómodo geral, o verdadeiro perigo tardava em surgir, até ao momento em que um deles surge isolado em frente ao último defensor e o obrigou a brilhar, parando um tiro que felizmente foi mal desferido e não causou mossa maior. foi esse o momento para que também houvesse retaliação por parte de quem não era bem-vindo naquela (espécie de) ”arena” e infligisse um pouco de ‘frisson’ na batalha.
chegados ao intervalo da contenda, o domínio da partida estava repartido e ninguém poderia afirmar-se superior ao outro – pese embora uns relatos enviesados de quem está acostumado a desvirtuar a Realidade e/ou a sonegar esta última a seu bel-prazer.


a pausa para retemperar energias foi benéfica para os que vinham de fora, os quais entraram com a ”pica toda”, resolutos em decidir a luta a seu favor. não se pouparam a esforços, impondo a sua lei e fazendo sofrer o adversário onde mais lhe doía: em sua própria casa. conseguiram causar dor, castigando-os com ataques fulminantes que tardavam em se materializar no que era tão desejado: a sua derrota. tal viria a acontecer mesmo no fim, pela parte de quem, em confrontos anteriores, fora alvo de chacota pelos adversários e inclusive de revolta pelos que também lutam pela mesma cor do estandarte. coisas complicadas de se perceber quando, na refrega de um combate, todos os que estão do nosso lado são válidos, para o tão necessário equilíbrio de forças…
em suma e para a História fica o resultado final: seis agentes feridos, sete detenções e o disparo de «tiros de aviso» por parte das forças de segurança.






aqueles números deveriam envergonhar, mais do que o mandante pelo apoio ilegal a esses «grupos organizados de sócios», que «nunca sube» da sua existência e que (literalmente) goza com o pagode – talvez porque usufrui de uma imunidade desportiva e de uma impunidade regulamentar como mais ninguém nesta República de bananas –, deveriam fazer corar de vergonha o responsável político pela gestão deste tipo de conflitos e que há dias afirmou «a Lei das Claques é ineficaz, não funciona. há poucos adeptos registados em relação ao número de clubes. queremos tornar a Lei eficaz». esse pamonha, se tivesse Brio, não só pelo cargo político que (ainda) detém, mas sobretudo pela sua pessoa, há muito que já teria resignado; pelos vistos e como o ”tacho” é apetecível, permanece em funções, num total desplante para com quem tem pedido Justiça neste ”faroeste” em que se tornou o comezinho futebolzinho tuga…


outra personagem menor do panorama político nacional e que se confunde com o desportivo, é o que, em tempos não muito idos, alarvemente disse «os grupos de adeptos organizados do 5lb deveriam registar-se para ficar como os outros [sic] mas, até agora, isso não tem sido um problema para o IPDJ nem para a polícia»…
alguém me pode informar se o sr Baganha já se demitiu ou se alguém já prestou esse favor ao País, no seguimento do que aconteceu nas imediações do antro de Carnide, e que envolveu os ilegais e assassiииos de Sempre? é para sossegar o espírito de alguns que invariavelmente alegam uma «invasão» ao Centro de treinos, na Maia e que, mais do que desconhecer a envolvente ao Estádio Vieira de Carvalho, ignoram a entrevista do actual Presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) ao DN, há um ano e que, entre outros considerandos, referiu que «não podemos dizer que eram elementos dos SuperDragões porque não se identificaram como tal ao Artur [Soares Dias]».



post scriptum pertinente:
para quem tem a paciência em ler os meus rudes considerandos e eventualmente estaria à espera de uma análise ao Clássico, peço desculpa pela desilusão mas há factores que não podem (devem?) ser sonegados porque se relacionam, de forma indelével, com o jogo que é praticado dentro das quatro linhas – e desde que o Caniggia se retirou do Futebol.



“disse!“

Miguel Lima | 92º minuto

(este espaço será sempre escrito de acordo com a antiga ortografia. limices.)

quarta-feira, 11 de abril de 2018

hiperligação | 92º shooter: opus IX - murro no estômago



então, tudo bem contigo? como tens passado? benzinho? pois, eu também. têm sido dias complicados, num regresso a um Passado nada distante e que só esteve “maquilhado” desde que esta época começou.
diz a lenda que «só és derrotado quando desistes de lutar!». nós fomos copiosamente derrotados ainda a Batalha não tinha começado e se estavam a ultimar os preparativos para a dita cuja – porventura mal, a começar pela escolha da cor da “armadura”, a qual terá confundido inclusive os próprios soldados, que aguardavam por envergar a sua cor natural num desafio clássico e contra um histórico rival (e já não foi a primeira vez que tal aconteceu… porra!) . explico.


desde a última vez que nos encontrámos, perdemos a importantíssima partida em Belém.
para os mais incautos, convém recordar que foi aquela que precedeu a uma perda de pontos em Paços de Ferreira e sucedeu a uma pausa para compromissos internacionais (também) da selecção de jogadores do Jorge Mendes, de preparação para essa montra que é um Mundial de Futebol – uma pausa que eu também adjectivei de «benéfica» porque acreditei que seria possível, naqueles quinze dias, recuperar alguns índices (sobretudo físicos) da equipa do nosso coração. debalde.
diz que nada disso aconteceu e que até perdemos um dos nossos pêndulos do meio-campo para o início da próxima época… abreviando (mais) uma estória triste, esbanjámos uma vantagem de cinco pontos por culpas muito próprias e que me recordaram, entre tantos exemplos, um jogo contra o Nacional, em Março de 2015; ou um outro, em Novembro de 2016; ou aquele, em Março de 2017, contra o Vitória FC. não sei se dá para perceber o fio condutor a todas essas derrotas, mesmo naqueles em que empatámos?… ficámos sempre aquém das nossas possibilidades e quando dependíamos só de nós para ultrapassarmos o arqui-rival. em todos esses momentos, parecemos o spórtém. o spórtém, porra! que, se não é no Natal, é na Páscoa; e, se não é nesta festividade, encontram sempre uma data autofágica para comemorar! Jesus, como eu não gosto n-a-d-a de ser equiparado a essa agremiação verde-pijaminha!… mas, cada vez mais, neste Passado recente, é ele o nosso ponto de encontro porque os outros, os novos campeões feitos de tretas, estão invariavelmente «dez anos à frente» – e mesmo que seja só a um ponto, no presente campeonato das e-toupeiras. e é aqui que, para mim, reside todo o busílis da questão: já não conseguimos ombrear com a influência megalómana de um #EstadoLampiânico dentro de um Estado de Direito e que tudo controla neste último, numa desfaçatez travestida de Democracia, e em todos os seus sectores inclusive no da Justiça.
ah!, e para quem julga que já caiu a ficha aos adeptos afectos ao carnidense, mas que andam arredados da realidade das redes sociais, desenganem-se! não se iludam! esta imagem aqui é bem real e comprova que os rabolhos dos lampiões vivem numa realidade virtual completamente paralela à nossa. aliás, desde há um mês que diariamente os ouço a delirar «rumo ao hexa». sim, hexa! o nosso bi-tri!
portanto, há toda uma impunidade que grassa pelos lados de Carnide e que os faz acreditar convictamente que nada do que tem sido publicamente denunciado e que, para nós, envolve comprometedoras trocas de mensagens electrónicas os irá demover da prossecução desse objectivo e que não é uma peta pegada, antes pelo contrário. e se Há Já Muito Tempo que Nesta Latrina o Ar se Tornou Irrespirável, imagine-se daqui a um
mês, se formos impotentes para reverter a Realidade actual… já esteve mais longe a hipótese de emigrar, sim senhor…




os pastéis que nos fizeram comer, em Belém, apesar da “canela” ter sido polvilhada por nós, tiveram a sua confecção nos bastidores da cozinha, por parte de elementos alegadamente afectos a uma agremiação que nasceu de uma fusão de dois clubes nas traseiras de uma Farmácia, assim reza a acta e numa época em que a grafia impunha o “Ph” mas que aquela nada refere… mas, destas polémicas com datas de fundação, todos os clubes têm o seu quinhão e não é este o ponto desta prosa. adiante.
estou convicto que o Sérgio Conceição sabia da armadilha que lhe estavam a preparar, a começar na forma como, na véspera, o 5lb conseguiu os três pontos no jogo contra o Vitória SC e a terminar na nomeação de um apitador que adora ver-nos provar «do próprio veneno. adora de paixão e o Brahimi que o diga desde aquele episódio, em Braga, na época transacta. e, vai daí, até é melhor não dizer nada…
acontece que, para mim, não a anteviu como seria conveniente porque, desde o primeiro toque na chichinha e para lá do meu nervosismo (que não conta nada para este totobola) pressenti que esta “queimava” nos pés de uns jogadores que fisicamente estão presos por arames – e só que não viu o último jogo, no Dragão, ante o Aves poderá afirmar o contrário.
sim!, estou a tecer uma crítica a um treinador que admiro porque a considero construtiva: há um imenso mérito no que já se construiu até à data destas linhas, mas persiste-se no erro de só se apostar num determinado núcleo de jogadores de um plantel exíguo e apesar dos empréstimos obtidos na última janela de transferências, a qual não envolveu qualquer «criminologia de alta qualidade». independentemente de nomes, continuo a não perceber por que raio é que não há consistência nas entradas de jogadores na equipa para substituir outros eventualmente fatigados: tanto são convocados e postos somente a aquecer, como na convocatória seguinte seguem directamente para a bancada, para posteriormente só alinharem nos últimos cinco minutos da partida. esta situação tem sido recorrente e transversal a todos os sectores e, repito-me, é indiferente a nomes de jogadores. para mim, este aspecto é fundamental para o ataque que se deseja ao que resta de um campeonato viciado desde a sua génese: convém que todos os elementos que constituem o plantel estejam focados nas próximas cinco jornadas e nos quinze pontos em disputa. t-o-d-o-s.
e que se os mentalizem para a importância dos jogos a seguir ao do próximo Domingo, mormente os que envolvem duas deslocações complicadíssimas à Madeira e a Guimarães. os adeptos que têm composto um verdadeiro #MarAzul de apoio à sua Equipa do Coração merecem-no mais do que ninguém e como não me canso de o repetir, porque têm sido inexcedíveis no seu apoio, inclusive o financeiro.




numa prosa que já vai longa e que remete para outros tempos, noutro espaço igualmente aprazível mas mais solitário na sua redacção, convido-te a ler atentamente o que está plasmado na imagem acima.
não pretendo ser instigador de Violência gratuita, mas confesso que tenho saudades desses tempos. e destes aqui. porque, como agora não há uns "apertões" nos momentos-chave, os pés-de-microfone e os sabujos sentem-se impunes para praticar o que designo de #jornalixo. os exemplos são múltiplos e transversais aos mais variados títulos, sejam eles da Imprensa ou da Televisão, pelo que não te irei cansar com
eles. mas confesso que, se houvesse uma voz firme no Clube, seria muito complicado o dia seguinte para quem permitiu que se ouvisse este nojo aqui e sem qualquer reparo pela parte de quem de direito.

“disse!“

Miguel Lima | 92º minuto

(este espaço será sempre escrito de acordo com a antiga ortografia. limices.)

segunda-feira, 9 de abril de 2018

O batismo na Fé ou Ver a bola com jetlag



Olha, só eu e tu agora. Esquece todas as vezes que eu te disse que era preciso fazermos diferente, que a mesma solução para todos os problemas era insuficiente, que chegaria a altura em que as montanhas se agigantariam e os ratos aprenderiam as suas lições. Sim, ignora isso tudo. Façamos de conta, ainda que por sete breves instantes, que eram devaneios de quem tinha pouco com que se ocupar.

Sei lá, como se fosse Pessoa a brincar de Caeiro por lhe sobrar do tempo que determinara para Reis. Deixa, não é importante entenderes a metáfora - que se fodam essas também! - tudo o que interessa é a essência da mensagem. Eheh, nem de propósito, A Mensagem. Ah, nada, era só eu a tergiversar de novo. A perder-me, é isso que quero dizer. Foquemo-nos: esquece!

Ficamos aqui os dois até ao fim. Eu prometo-te que caminho ao teu lado até morrermos ambos ou tu saíres em ombros. Nunca mais falaremos de alternativas e de planos diferentes para desmoronar os inimigos. Partiremos de dentes cerrados para cada batalha, no conforto daquilo que sabemos fazer. Apenas! Sem mais um pingo do que seja. Aqui esconjuramos todos os acessórios, todas as curvas que não as absolutamente necessárias e expectáveis, qualquer vislumbre de diferença. Só estarei feliz quando te ouvir gritar às tropas as ordens de sempre.

Seremos vitoriosos então, ao lombo dos rapazes que transportarão a nossa bandeira, na profunda segurança do same old same old. Avançarão de olhos fechados, cada um a conhecer a distância exata do outro, lá longe, no meio das linhas inimigas, quase já nas suas costas, na verdade, onde detonará a nossa paixão que sobrevoou todo o imenso campo de cada guerra. Se nos rechaçarem, a segunda vaga será a mais terrível, marchando sobre o sangue dos seus irmãos caídos, como antes, como antigamente, como no dia primeiro e em todos os que se seguirão de hoje em diante. De hoje, ouviste bem? Porque estou aqui a dizer-te para esqueceres!

Na verdade, acho que estou a pedir-te desculpa. Está claro que eu não tenho a culpa, toda a gente sabe disso. É como a fome no Mundo, tão fora do alcance da nossa responsabilidade. E no entanto... Também sentes o remorso, pois sentes? Por tudo aquilo que certamente poderias fazer e não farás. É esse o sentimento. Desculpo-me por tudo o que te pedi e tu, sem me ouvires, fizeste e não quero que voltes a fazer, ainda que não saibas e não te interesse o que desejo.

Não voltarás a pedir que tenham calma e paciência. Porque eles ficam ansiosos na calma e nervosos na paciência.

Não voltarás a mandar refrear a sede de sangue. Mesmo que saibamos que muitas vezes ela nos tolda a razão e dá asneira. Isso agora não interessa nada. Eles secam sem a cavalgada e o choque, perdem-se em flores como meninas no demasiado tempo que ganham, espantam-se na serenidade bucólica e deixam-se adormecer.

Não mais tentarás dar ordem ao estouro de gnus. É um estouro, deixá-lo estourar e embalar no clamor dos cascos sobre as pedras os nossos sonhos, enquanto o inimigo se vê perante a carga, tantas vezes desnorteada, dos nossos Invictos.

Pelas sete eternidades que nos faltam, farão o que lhes ensinaste. Que é tudo o que eles sabem fazer. Porque é no que os doutrinaste e é nisso, apenas, que eles acreditam. Repara, estou a converter-me por esta vida que acaba em maio. Abençoa-me, entrega-me o teu Livro sagrado e eu jurarei sobre ele, um joelho no chão, a minha lealdade ao Grande Dogma. 

Ouve, é tarde agora. Não vamos demorar-nos sobre o que podia ter sido, à volta do que potencialmente podíamos ter tido, em elipses de recursos desperdiçados ou usados fora do tempo e do lugar. O que nos resta é o que aqui nos trouxe e isso não pode ser pouco. Pelo contrário, meu caro, será tudo:

O fim da longa espera, o grito, já não de revolta mas de conquista. A queda do Mal, o triunfo cliché do Bem. É isso que será, se esqueceres e te agarrares ao que sabes. Sabemos. Apenas. Comigo, com todos. Vamos! 

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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Do Golfo e de outra derrota



Eu acho que alguém me devia pagar para criar um blogue de viagens. Sou o tipo ideal, acreditem, desde que me mandem em lazer. Pá, nem me importo de ver os e-mails de trabalho duas vezes ao dia, pronto.

A questão é que parece que perco todo o sentido crítico. Adoro tudo. A comida pode não ser espetacular, mas a novidade dos sabores compensa-me plenamente. O tempo pode não estar lá essas coisas, mas hey, a maravilha que é lá estar no off season, a experimentar tudo o que os magotes de gente ao Sol vão esconder. É certo que o alojamento parece uma pensão manhosa na Brandoa, mas não há nada que chegue a este viver o sítio real, como se fosse indígena. Enfim, eu gosto mesmo é de laurear a pevide, de andar no laru, de alçar o rabo de casa e pôr-me na alheta. Se me quiserem pagar por isso - aliás, pagar isso, ponto! - é garantido que vou escrever maravilhas do local. No mínimo, de alguma coisa no local e de certeza que vou clicar na opção “voltarei”.

Depois há o “outro lado do Mundo”. Ainda que um pouco desviado na Geografia e no tom do castanho das gentes, alegro-me no cheiro das especiarias e na cor do Oceano. Aqui é Mar, mas acreditem que a água sabe ao mesmo. A localização permite-me cumprir a quota mínima de headshakers para que a minha Alma Indica se sinta igualmente em casa. Quero dizer, num upgrade de casa, como se o primeiro Mundo, de repente, tivesse invadido Hikkadwa.

A pessoa olha para a fotografia e pensa no Caribe, no Pacífico talvez, pode até condescender no Índico Maldiviano, em ilhas das Seychelles enfim. O Golfo são guerras e petróleo e explosões e mulheres de burca, no mínimo de hijab, e areia a perder de vista. Ou então imitações caras de grandes metrópoles, com espírito de Las Vegas, sumptuosos recreios infantis para os verdadeiramente ricos. Consigo ainda cheirar isso daqui, estereótipo à parte, mas a estrada foi marcando as diferenças, apesar dos poucos quilómetros e da mesma bandeira.

Voltarei, sempre que puder, mesmo que não me tenham pago. Mas deviam. Fiquem com o nome e mantenham o espírito Tuga alerta: de vez em quando aparecem promoções imperdíveis em RAS AL KHAIMAH.

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Eu acho que alguém me devia ter feito jogador de futebol. Seria um daqueles que todos os treinadores gostam de ter. O repositório de mística do balneário, o capitão - com ou sem braçadeira - que grita com os companheiros e os mete na ordem, a voz do treinador em campo, o exemplo de raça, de querer e de crer, o homem do nervo, do sacrifício e da superação. O orgulho no emblema estampado no rosto de cada vez que entrasse em campo, os olhos cheios de água ao ouvir o clamor do estádio a culminar o hino: Porto, Porto, Poooooorto! Huuuuaaaaaa!

Tenho tudo, ainda agora, na calvície grisalha. Só me falta saber jogar à bola. Get it mister?

Nem por isso? Então pegue lá meia horinha de explicações. À borla. E vamos a isto que este caneco não nos vai escapar!