quinta-feira, 29 de maio de 2014
Os votos e as almôndegas
De joelhos no banco alto, debruçado no balcão, tenta compreender a minha explicação, seguindo a ordem da folha do jornal.
- Vejamos miúdo: então, estes ganharam porque ficaram em primeiro; estes ganharam porque era suposto perderem por muitos e afinal perderam por menos; estes ganharam porque fizeram mais pontos do que na época passada; estes ganharam porque estavam na segunda divisão e agora classificaram-se para as competições europeias; e estes ganharam porque ainda contam para o totobola. É mais ou menos simples, não? - coço a cabeça com o lápis das palavras cruzadas.
- Mas então, ganharam todos! Assim também eu, Sô Silva! - e dá uma pancada com uma mão de 10 anos, mesmo no meio da classificação.
- Quer dizer, não é bem assim. Os que ficaram em primeiro, na verdade diz que perderam...
Entretanto chegou mãe, carregada com dois sacos e a mala a tiracolo. Ainda se nota a marca da aliança no anelar da mão esquerda e um brilho de derrota nos olhos claros. Parece que apanhou qualquer coisa da conversa:
- Sempre a falar de bola os meninos hein?! - e no mesmo fôlego - Muito obrigada por olhar por ele Senhor Silva, obrigada mesmo. - inspira, continua - E tu Paulinho, portaste-te bem? Já aprendeste mais de futebol?
Ele roda o banco e protesta, sempre de joelhos:
- Não é bola mãe, é as eleições! - como a mãe, não há pausas entre as ideias - Podemos cá jantar, podemos?
- Hoje não querido. Talvez amanhã. O que é a comida amanhã senhor Silva? - claros e derrotados, de qualquer maneira doces e ainda jovens. Haverá outra vida para os teus olhos minha cara, aposto.
- Almôndegas oh yeah. Acho que será isso. - acabei de decidir o prato de amanhã!
- Oh yeah? E é o quê isso? - pergunta, já meio divertida.
Ele saltou do banco, pegou-lhe um saco da mão e deixou lá a dele. E responde-lhe:
- Deixa lá mãe, não percebes nada disto... E nem de politica. Depois explico-te.
Leva-a para casa pela mão, ele o protetor, o guia, o homem da casa...
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