sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
Nomes - E.F.
- Ena velhote, grande confusão de papéis que aqui vai... - Fico com o pano húmido das mesas suspenso no gesto.
- Isto é um achado, Silva. Encontrei no meu alfarrabista. - Remexe o monte de papéis, alguns manuscritos.
- Hum? Um monte de papéis velhos? É que livro, isso não é.
- Isso agora é que ainda não sei. Tenho andado ás voltas com eles e é bem possível que exista aqui uma lógica.
Rio-me:
- Eu também estou a ler o "Livro do Desassossego"...
- Nada disso! - Insurge-se.- Nada tão complicado e muito mais concreto. Tenho a certeza. Quase a certeza... Para além de que não consigo, pelo menos ainda, encontrar qualquer referência a autores, pseudónimos ou quaisquer outros ónimos.
Pego numa folha ao calhas, aparentemente datilografada. Por um instante não consigo sequer pensar a palavra, até visualizar, num canto ainda não tão obscuro da mente, a arcaica tecnologia. Leio:
"Nomes - E.F.
Por fevereiros são avistados pelo ponto de fuga dos olhos nas bermas. Ou bordejando ribeiros, delineando bosques tímidos no primeiro esboço. Na cama da nossa certeza tranquila rebentam súbitos, invasores de todo o panorama, eles próprios as margens e os contornos. E o resto, as heras, as silvas, mesmo as persistentes azedas, um ou outro ainda tenro pinheiro, esconde-se por trás, ou sob, a explosão inevitável dos paquidermes. Promessas vãs de campos de flores amarelas.
Alinhados marcialmente seguem-nos os percursos com os seus intemporais olhos aguados. Imóveis, atentos. Suspira toda a outra flora encomendada aos braços ágeis dos voluntários calcorreeiros de zonas delimitadas, protegidas. Nas valas das estradas, nas terras de ninguém, nos baldios, reinam um eterno instante. É breve e para sempre o seu tempo - todos os calendários têm algum março.
Avisados geneticamente por gerações de sábia desconfiança e capitulação, não esqueçamos que nas elefantinas memórias guardaram os poisos conquistados e anotaram os terrenos a ganhar na próxima estação, ás costas de uma qualquer beata descuidada. Retornam amarelos depois de não morrerem os elefantes fugazes."
Olho-o no seu entusiasmo missionário:
- Circo?
- Acacia dealbata?
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