segunda-feira, 6 de abril de 2015
Teenage holiday ou a fuga dos velhinhos: Não moshar parvamente!
Há uma parte de mim que se recusa, com determinação e bastante obstinadamente, a envelhecer. É uma que em dias marcados me vê e pensa: epa, não estás nada mal... A mesma que cala o resto da frase: ...para um velhote da tua idade.
Isto até pode ser normal, mas conheço demasiada gente com formação em ciências da mente para escapar à sensação de que não é assim tão saudável. Acontece que as más companhias são uma grandessíssima chatice. E por um bambúrrio dá-se o caso de ser acompanhado 24/7 por quem devia ter conhecido aos dezasseis. Como não nos conformamos com isto do destino, temos um acordo tácito para o contrariar. Se era aos dezasseis, então temos dezasseis. Vinte seis, pronto, para não exagerar. Digamos que, juntas a fome e a vontade de comer, sou, por escolha, um caso perdido.
Mas como este estranho processo de degradação é inevitável e, consta, irreversível, já vou sendo também o velhote que assiste, divertido, ás peregrinações adolescentes destes dois maduros. Ainda por cima, o teenager rezingão tem um alter-ego envelhecido metido a analista.
Por ocasião da época Pascal, um belo pretexto para se largar o trabalho e enfardar tudo o que, fazendo mal, sabe deliciosamente, fechada a Tasca, apaziguadas as saudades da família que está longe, dias passados entre tachos e gargalhadas, houve tempo para algumas incursões dos tais moços que nos habitam.
Desde logo, uns anos de ausência depois, os senhores da imagem acima regressavam à Invicta. Para além de ter crescido no mesmo bairro clandestino de má fama que eu, nos arrabaldes dos arrabaldes da periferia da Capital, o Fernando amassou, e amassa - ele, que eu fugi para Norte - o mesmo pãozinho de ser Dragão em terra de lampiões. Portista convicto, o que só lhe fica bem! Sold Out! Mas os bilhetinhos já cá cantavam desde dezembro.
PRIMEIRO ATO:
- Então vizinha, que raio vai dar ao seu velhote no Natal?
- Ainda nem sei. Já nem contava ter que dar alguma coisa...
- Eheh, como eu a compreendo. Eu arranjei um carrinho com motor, para as botijas de O2. Aquilo põe-se uma espécie de uma corrente presa ao andarilho e vai atrás do homem. Muito jeitoso...
- O meu não usa andarilho, tem a mania que não cai.
- Poijé, poijé, o seu homem pensa que ainda é novo. O Sr. Ibrahim tem uns conjuntos de lenços muito em conta. E medianamente engraçados...
- Praquê? Prós pôr todos ranhosos?
- Ora, tenha paciência senhora. Sabe-se lá quantos Natais mais dura o homem. Dê-lhe alguma coisa que possam fazer os dois e de que gostem mesmo. Um fim de semana nas termas, um mega almanaque de palavras cruzadas, uma visita aos netos lá nas Arábias ou onde andam agora as cachopas...
- Bilhetes para os Moonspell! É isso mesmo! Vou comprar bilhetes para os Moonspell! É logo em março...
E pronto, assim seguem os representantes oficiais da Casa de Repouso Silva - tratamento esmerado para velhinhos, acamados e velhinhos acamados - para o falecido Mercado Ferreira Borges, hoje Hard Club. Em frente da Bolsa, são engolidos pelas suas versões adolescentes. Até aqui, tudo (a)normal. Duas horas bem medidas depois, o rosto dele estampa o que lhe vai na cabeça: ES-PE-TA-CU-LAR! O dela também: EM-CHEIO-GANDA-PRENDA-OH-YEAH! E o cabrão do velhote, qual emplastro, buzina-lhes aos ouvidos: Opaaaa, mosh pit naquela canção? Estão a brincar? Os putos hoje em dia não percebem mesmo nadinha disto, pois não? Devem embebedar-se antes de entrarem e depois pumbas, mosh pit naquela canção. Que estupidez tão grande!
Oh foda-se, a sério? A sério que depois de tanto me arrepiar com o Alma Mater, um canto da minha danificada mente estava a analisar os motivos que me levariam a discordar de um mosh pit num concerto de heavy metal? Isto depois de o ver tranquilamente, de cima, longe, de cerveja na mão. Pelamordedeus! É pura velhice...
- Qualquer dia você trespassa isto e em vez de se sentar connosco e jogar o belga, vai ali prá mesa dos cachopos... Olhe lá, a sua senhora podia era tê-lo levado à Madeira. Não gosta da Madeira, Silva? Olhe que é muito lindo. - E ri-se e engasga-se no catarro e continua a rir-se.
- Você sabe que está para morrer, não sabe avôzinho? Se precisar de um empurrão é só dizer... - Ele continua a rir e a tossir e a escarrar sem cuspir. Não é bonito, mas eu aprendi desde pequenino a associar isto a momentos felizes. Tenho saudades suas muitas vezes, Senhor Alvarim. Fuck, a partir de que idade é que começamos a autocomover-nos? Noventa?
Tudo ficção! Ufa!!!
ResponderEliminarPor momentos pareceu-me que esta história era baseada em factos reais, mas depois li "16", ou "26" pra não chocar ninguém e vi logo que não era.
(Eu cá ainda brinco com peluches e tu passas as tardes a jogar à bola com a miudagem da rua.)