domingo, 24 de julho de 2016

A intervenção d'Aquele Senhor e uma conversa de homens

São bem boas as francesinhas do "Bolero". Mas proporcionam noites agitadas, digo eu. Ou então é das canecas traçadas, preta e branca, aviadas como copos de água. Ou da mania de venderem caipirinhas em copo de galão, com pouca treta e muita cachaça, a trêjeurojimeio. Ainda acho que é qualquer coisa que botam no molho. Depois, a pessoa não se afunda no sono profundo e deixa a mente disparatar. Gravemente.

Vá que me lembro de ter adormecido, apesar da gritaria de um sleep over da mais nova. Porque é que é sempre cá em casa, é um mistério ainda por desvendar. E "Oh!" não é uma boa resposta. Menos mal que a coisa começou bem.

Aliás, começou maravilhosamente, com o estádio em festa e o momento mágico em que o Otavinho recuperou a bola em esforço - na garra - e ela sobrou para o homem certo, no rodopianço bailarino sobre o adversário, que lhe abriu os horizontes da defesa desposicionada. Por altura do passe perfeito desse Teixeira para o carril do TGV Silva, por entre os centrais, já eu estava de pé em cima da cadeira. O chapéu milimétrico ao redes em pânico foi apenas o toque de génio. Arrogante, descarado, matador, nosso desde pequenino. Onde irás parar agora? 

A bancada explodiu num salto estranhamente coordenado. A Champions é nossa! Lembrem-se dos mártires de Arnhem! Contemplem o pote de ouro no fim deste longo arco-íris! E o meu cérebro a martelar: Foda-se, se te dão mais alguma coisa que comemorar este ano, apanhas uma cirrose. A trêjeurojimeio, nem sai assim tão caro.

Quando os pés voltam a tocar o solo, já não há estádio. Só flashes de máquinas fotográficas e luzinhas vermelhas em câmaras de filmar. E eu ordeiramente sentado, na fila da frente da conferência de imprensa d'Aquele Senhor. Em rodapé do Universo - coisa estranha! - passa a noticia do Jonas.

...

"Olá a todos. 

Eu é que sou Aquele Senhor que estava muito descansado da vida, a sacudir o pó dos sapatos depois de uma visita à Sagrada Família, quando sou abordado inopinadamente por um fulano com ligações ao Barcelona. Que me diz:

- Uera mira, se non es Aquele Señor. Epiá, necesitava mismo de te hablar una cosita. 

Y qué cosita es? O magano queria que eu conspirasse da maneira que melhor aprouvesse, para cumprir o desiderato - quais Manuel Machado, quais carapuça - de trasladar a Tasca do Silva para Barcelona. Enfim, transformá-la num blogue catalão, mesmo que tivesse um sotaque esquisito e tal. E acrescentou:

- Coño, la Tasca es lo que nos fialtya para sermos los más mejores buenos. Si quieren, mandamos por ahi el Messi y el caracias.

Estava eu a ponto de lhe dar uma nega, à conta do profundo amor que o tasqueiro nutre pelo blaublanco, quando se postam atrás do desgraçado dois calmeirões de aspeto Saxónico. Um dá-lhe um calduço, enquanto o outro explica:

- C´mon old chap, do not monopolizate Aquele Senhor for yourself. We need to speak the true 

( A mente é uma cabra com a mania que é engraçada. Juro que o Vitinho estava pendurado de um improvável trapézio suspenso do teto da sala. ) 

with him. So, bazate. Or you are here, you are eating.

Eram latagões Ingleses, com ligações ao Unaite e ao Ibrahimovic ou Abraão ou lá como se chama o Russo dojiates que nos levou o Zé. E o André."

- Que acabada parvoíce, pá. - Diz-me o gato, esparremejado no sofá.

- Hã?

- É parvo, pronto.

- Dass, como é que consegues falar com a cabeça para baixo?

...

Sabes gato, temos que nos unir, eu e tu. Ainda mais. Olha bem à volta, é só gajas pá. Até o cão é gaja, raisparta. Somos uma espécie de Winterfell rodeado de Boltons por todos os lados. Mesmo a outra, que ainda era maijómenos híbrida, já é uma gaja completa. Cresceu à nossa revelia, contra a nossa vontade. Não que acreditássemos que desta vez pudesse ser diferente, mas porra, parece que foi outra vez demasiado depressa.

Ainda ontem, se cá viesse a melhor amiga - esta vai ser para a Vida, não engana - seriam apenas horas e horas de berreiro ininteligível. E correrias despropositadas. Tu punhas-te a milhas durante uns tempos - espertalhão - e eu e a patroa voltávamos a fazer juras eternas:

- Mas nunca mais mesmo, combinado? Que vá ela para casa dojôtros, sim? - E os gritos sobem ainda um tom. - Amei-te, meu doce. Fomos felizes, enquanto mantivemos a sanidade. Deixa-me dizer-te isto uma última vez, antes que só me reste a baba a escorrer dos cantos da boca. Também sentes o cérebro a liquefazer-se?

Agora, fazem piadas. E têm graça. Como pessoas normais. E querem provar a caipirinha e contam segredos que eu não ia entender. A gritaria mantém-se, mas hoje faz sentido. Correm parvamente, mas a saberem para onde vão. Uma ao pé da outra, nota-se como está crescida a nossa. Enorrrme, como a pila do papá, que parece um iuefante. Quem teria ensinado este disparate à menina? Credo.

Por isso, gato, somos nós os gajos. Se vier por aí a carga da brigada ligeira dos meliantes, é a nós dois que cabe a defesa do mulherio. Tu esgatanhas-lhes as trombas, enquanto eu procuro um lugar seguro para as esconder. Força aí, amigão.

Se os amigos do senhor Alheio, que pelos vistos só se dá com ladrões, nos vierem visitar, somos nós que lhes trataremos da saúde. Mais aquele alarme novo que vamos comprar, que avisa a Policia, a Central de Segurança, os Bombeiros, o plantel do Canelas e a Sogra. Estamos safos, pobres vilões. 

E no entanto, tu és um gato cada vez mais mariconço, desculpa a frontalidade. Desde logo, mias, o que não é propriamente uma coisa de macho. Uh, espera que vou dar o meu miado do Ipiranga: nhaurr! Ainda por cima, de nós dois, só um tem tomates. E não és tu, jovem.

Portanto, fica estabelecido que quem manda nesta merda toda sou eu, tájaberohnão? I call the shots e tu limitas-te a obedecer. 

Não penses que isso dos biscoitos é quando tu queres; desengana-te amigo, as turrinhas não me amolecem; ainda menos esses olhares panascas, como se eu é que fosse o bicho amestrado; nem vale a pena pores-te de patas para o ar, pareces uma gaja desesperada. 

Um de nós tem que ser o durão por aqui. Sou eu! Para além de que havia de mandar em alguém cá em casa, foda-se.

...

Agora expliquem-me:

Um gajo lembra-se perfeitamente de estar a adormecer. Como raios é que acaba na cozinha, a dar guloseimas ao gato? E a fazer-lhe festas no lombo, Deusmalivre!

...

Soundtrack to delusion: Qué cosita es? 

2 comentários:

  1. Parafraseando a mais velha: "MANTEIGAS!".

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    1. Gostar do gato é coisa de homem! Bem! Kéjapanhar?
      Hã? Não, docinho, era brincadeirinha. À frente dos senhores não, vá lá. Pois claro, minha flor, era a rénar. Já se sabe que vou lavar a loiça, isso nem se discute...
      :)

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