quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Silva on acid

É aqui, pá. Parece que aperta...

Um amigo disse-me há uns dias: Epá, tu não és otimista. Tu tomas ácido! Não vou revelar o nome dele - o apelido começa por V e acaba em O, com assal pelo meio - mas vê-se logo que é um tipo basto exagerado. Sou uma pessoa muito ponderada e racional. E bonito, essa é que é essa. Só não sei se sou charmoso, mas estou para tirar isso a limpo.

Isto a propósito de mais uma jogatana do nosso FCP. Este "nosso" é cada vez mais genérico, pois estamos mesmo à beirinha de ser fofos como um gatinho bebé abandonado. Toda a gente gosta de nós, por compaixão. Oh paaaaaaaiiiii, vamos levá-lo para casa. E abandoná-lo num pinhal quando vierem as férias. Pode ser no de Coina, para fazer companhia às senhoras. Afinal, os gatos safam-se bem sozinhos e, parecendo que não, adaptam-se muito bem a Coina, ou Raita, ou lá onde é aquilo.

- Pá, foda-se! Vais chegar a algum sitio? Se vais continuar a verbalizar a cacofonia dessa mente distorcida, avisa. Para ir tomar um alprazolam.

Ah, pois, a bola. Então, tenho grandes novidades, e bastante positivas, para vos contar, acerca do FCP x Pasteis de Belém de ontem:

1) O Inácio Sandro tem pinta; o Brahimi tem vontade; o André recuperou alguma força; o Ruben tem um tornozelo de adamantium; o Varela adapta-se tão bem a lateral como a extremo; o Teixeira tem bom toque de bola; o Depoitre é bastante grande; o Adrián tem duas pernas; o Rui Pedro estreou-se.

2) As nossas segundas linhas estão perfeitamente aptas a substituir as escolhas principais, sem se notar alteração de rendimento. Ainda mais espetacular, demonstram quase o mesmo nível de entrosamento da equipa habitual. Não digam que não há aqui dedo do treinador.

3) As bolas paradas evoluíram notoriamente. De nada, já passámos a quase. Quase que o Belga marcava, quase que o árbitro não palmava um golo limpo.

4) Abrimos a nossa participação na Taça do Selo bem melhor do que na época passada. Este ano não escapa, caraças!

5) Todos os que se queixavam de altos e baixos no nosso percurso, desde Lopetegui, ficaram, finalmente, descansados. Maior previsibilidade do que zerazero é difícil. 

...

Depois de ter prometido que acampava no Dragão até NES se demitir, se jogassem os de sempre, devo dizer - e agora num tom sério - que, nesse aspeto, o treinador está de parabéns. Na minha opinião, pois claro.

Apesar do momento conturbado para a equipa e, ainda mais, para si próprio, NES não sucumbiu à tentação de massacrar um pouco mais os habituais titulares. 

Expôs-se à crítica da treta da mudança exagerada; arriscou o mau resultado que o deixaria - e deixou! - em piores lençóis; e procurou sangue novo. Se procura mesmo ou se é só a fazer de conta, não sei, nem agora mimporta.

O facto é que acho que esta alteração radical era essencial nesta altura, para evitar o desgaste que já se vai notando. No fim do dia, há duas finais à vista e é bom que estejam todos tão fresquinhos quanto possível. 

Os próximos dois jogos decidem muito - tudo? - do que será a nossa época. E do local de trabalho de NES até maio. Também é certo que, ganhando ontem, nada se alteraria. Exceto, talvez, o grau de irritação dos adeptos. E a quantidade de ácido que eu tenho que tomar. 

Olha, lá vai outra Popota psicadélica, vestida de canguru, a correr pelo arco-íris. Cuidado com o buraco negro, Popota! Ah, não, era um close up da Erica Fontes, ufa. São tão kiduchos os hipopótamos cor de rosa, não são?

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Duas vitórias, nada menos. É o mínimo exigível para que as coisas fiquem maijómenos. Perder pontos no campeonato ou perder a Champions, torna a situação insustentável. Mesmo com ácido.

Pelo sim pelo não, espero que o Zé diga à sua defesa o mesmo que dizia ao Helton e ao Marcano e ao Chidozie e ao Danilo, há poucos meses.

E um autogolo ou dois também não faziam mal nenhum, tájóbir André Pinto?

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Soundtrack to Mr. Silva: Not that obvious...

domingo, 27 de novembro de 2016

Esse, não é o problema



Acreditem que este vai ser um post sério, digno de qualquer blogue de referência. Só que, antes de ser internada compulsivamente numa instituição psiquiátrica, a minha ex-psicóloga disse-me: "Oiça, você deve abraçar a parvoíce e não reprimi-la. Não é como se tivesse muito mais aí dentro". E eu faço questão de seguir ajordens dos médicos. Vai daí, não resisto:


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O Espírito Santo anunciou o nascimento do Menino para Belém. Azar dos azares, deu-se o Dilúvio e não havia estrela que se visse naquele céu carregado. Perdidos de todo na enxurrada, atolados em lama até aojoelhos, os Reis Magos mais pareciam umas baratas tontas. Três deles quase deram com a manjedoura abençoada. Ivan, Tsubasa e Laurent, seguindo o cheiro a palha e bosta de burro e de vaca - e demais animais presepiais - rondaram, mas não entraram.

E no fim, sem Menino, quase perdiam os presentes de mirra e ouro e prata e incenso que traziam. Valeu-lhes a Arca de San Iker...

Um parvo anotou um ponto mais, para a sua contabilidade Ikeriana.


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Do geral e profundo

Prefiro sempre que o FCP esteja em primeiro, com cabazes de pontos de avanço, isso que fique claro. No entanto, o problema, para mim, não são tanto os sete pontos de atraso que nos aprestamos a ter. Porque se forem cinco, ou quatro, nada muda substancialmente na minha análise.

Esse, não é o problema.

Quando dedicadas esposas lampiónicas procuram banir o vermelho das decorações natalícias, por forma a não enxovalharem os seus, já de si deprimidos, azulesbranquiçados mais que tudo ; quando indefectíveis Dragões olham a classificação e acreditam que os lagartos, a cinco pontos que estejam, ainda têm uma palavra a dizer, mas nós, a sete, estamos acabados; quando os meus colegas de trabalho multicolores, em vez de espumarem raiva pelojolhos, me dão solidárias palmadas nas costas; eu pasmo! Porque não estou habituado a esta irrelevância.

Esse é o problema.

Este PCC - Processo de Calimerização em Curso - que se vai instalando, é que é grave. É disto que urge sair tão rapidamente quanto nos for possível. Os golos ajudarão, mas não serão suficientes. Em menos de um fósforo, enquanto o mafarrico esfregava um olho, tornamo-nos nisto? A escorregadela esporádica, toma ares de um trambolhão que nos lixou a cervical. Estamos paralimpicos! E não há noticia de que alguém se tenha safado a um estouro de gnus, ficando muito quietinho enquanto as bestas lhe passavam por cima.

O ano passado vi o Vitória ser campeão. E lembrei-me de todas as vezes que gozei com camaradas: Epá, fomos Campeões sem treinador. Para o ano, vamos tentar sem guarda-redes. 

O Vitória prepara-se para fechar a 11ª jornada com sete pontos de avanço sobre mim. Se calhar, nem precisa de guarda-redes. Foda-se, deve estar farto de se rir.

O senhor Presidente do FCP pode mudar isto? Eu acredito que pode. Só não sei se quer. E preciso de saber. Sim, Senhor Presidente? 


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Do particular supérfluo

Ontem ficámos a zero. De novo. Esse, não é o problema.

O treinador foi fiel ao seu sistema (?), foi coerente nas suas escolhas e assertivo na sua abordagem. Não funcionou e ele tratou de mudar, relativamente cedo. Acertou nas substituições; o esforço e solidariedade da equipa foram evidentes. Criaram-se algumas boas chances de ganhar. 

Mas parecia - que Diabo, foi só a mim? - que já toda a gente sabia que não ia acontecer. Quando o Otávio picou a bola sobre o defesa e o Depoitre ficou de trombas com a baliza, eu sabia que aconteceria qualquer coisa. Menos ser golo. E ele também!

Esse é o problema.

Sabem bem que eu gostei de Lopetegui - so sue me! I don't give a shit! - e demorei ano e meio a enforcá-lo. Fi-lo porque me pareceu que ficou a pregar sozinho a um conjunto de peixes que já não o ouviam. E ontem, em novembro, à 11ª jornada, tive uma sensação parecida. Até acho que a equipa quer cumprir as ordens do treinador, mas penso que não acreditam puto nelas. Isto é, eles simpatizam com o moço, querem vê-lo satisfeito, mas têm a sensação de que ele não chega lá.

Vejo toda a gente a bater no NES e eu tenho tanta vontade de lhe dar umas estaladas bem assentes. Mas não tenho a certeza se seriam justas. Como com Paulo Fonseca, creio que o Princípio de Peter é a melhor explicação: NES não está a fazer mal. Está a fazer bem. O melhor que pode.

Segundo os especialistas em recursos humanos, o Principio de Peter pode ser resolvido. É preciso provocar um choque no funcionário em questão. De tal forma, que ele como que acorde, saia do seu patamar de (in)competência e se deslargue a correr até conseguir ultrapassar as suas falhas. É um caminho. 

Neste caso particular, pouco importa se eu acredito ou não que isso é exequível. O que é verdadeiramente importante, é que aqueles que este funcionário é suposto dirigir acreditem. Creiam que ele superou as suas barreiras. Enfim, que um dia foi Herrera, mas, de repente, ficou bonito. 


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Do pessoal prospetivo

Pessoalmente, fico surpreendido com a velocidade a que aqui chegámos. E a solução é ser igualmente rápido a daqui sair. O facto é que para não sermos Calimeros, temos que começar, agora!, a ganhar.

Não há outra possibilidade, senão chamar à pedra quem toma as decisões. É a hora do Presidente.

Do meu ponto de vista, está novamente colocado perante três hipóteses:

1) Assume um erro colossal de julgamento, com custos ainda por determinar, e despede o treinador. Desta vez, não pode dar a época por terminada, nem por sombras. Tem pois que escolher um novo líder para a equipa, dotá-lo, se se julgar necessário, das armas adequadas e partir com ele para a batalha. 

Tendo a noção muito clara de que é apenas a sua cabeça que estará no cepo. Nenhuma outra. Correndo bem ou mal, no final da época deve devolver aos sócios a palavra. O resultado dependerá, pois claro, dos resultados. Mas é de homem!

2) Declara, mas agora sem margem para entendimentos dúbios, que nada disto é inesperado, porque se trata de uma época de transição. Explicita a totalidade do seu plano e mantém-se fiel a ele. Talvez possamos enquadrar as escolhas de Luis Gonçalves, o protagonismo de João Pinto, a nova direção da nossa Comunicação, em algo mais do que as nossas especulações blogueiras.

Se o fizer, apesar de ser bonito, sentir-me-ei semi-enganado. Porque devia ter sido avisado antes de abril. Ainda assim, mais vale saber-me corno, do que andar a mandar flores a uma gaja que dorme com o vizinho de cima. Poderei decidir se perdoo a indiscrição ou se vou afogar as mágoas em putas e vinho verde. Escolhas esclarecidas.

3) Dá dois berros à equipa e aos adeptos e reafirma o seu apoio incondicional, e fé absoluta, ao treinador. São duas cabeças no cepo. A do técnico rola no fim da época, se os resultados forem maus. A do Presidente rola se os sócios quiserem, quando, na mesma altura, lhes devolver a palavra.

Porque se é para Calimeros que vamos, então que não seja consigo, Senhor Presidente. É deste tamanho todo a minha admiração por si.

Seja qual for a escolha, o responsável máximo será sempre o mesmo. Delegam-se tarefas, controla-se o seu cumprimento, avalia-se a performance dos colaboradores e premeia-se ou pune-se. A responsabilidade permanece sempre. Nunca se delega.

Mas seja qual for a escolha, cá estarei, até ao último suspiro. Sempre que possível - e em algumas impossibilidades também  - na minha arquibancada, de pé no hino, coração ao alto, com a pele azul e branca colada ao esqueleto. Porque o FCP nunca caminhará sozinho.

Esse, não é o problema.


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Interlúdio para private messaging

@Vassalo: Our time will come. Soon enough! Já estou a poupar para bolas azuis, fitas brancas e gambiarras às listas. Sim, nessas cores! Estamos juntos :)


@Lápis: Foda-se pá, e se isto é o FootballWorld ? E nós somos meros anfitriões? E é o Orelhas que está a pagar as férias? Vou cortar os pulsos...

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Na bancada descoberta do Restelo, com vista para o Tejo.

- Oh Pedro, mas que merda de tempo é isto, pá? Não te ponhas fino, não, se queres ver eu a canonizar o Anthímio... - Debaixo do seu oleado imaculadamente branco, a condizer com as barbas e os cabelos, escondidos debaixo do capucho.

- Mas se me arrastou para isto do futebol, que Quer que faça? Tive que deixar um beato a tomar conta, já se sabe que não é a mesma coisa. Estou farto de Lhe dizer que temos falta de pessoal, precisamos de mais Santos.

- Ui, esquece, estamos em contenção. A Santidade anda pela hora da Morte, nem pensar. - Esfrega as mãos para aquecer.

- Pois, mas para o Anthímio já dá... - Leva um calduço.

- Shhh, cala-te, deixa ver a bola. Olha, olha, distrais-me e dá nisto, lá vai o grandalhão isolado para a baliza, raisparta. 

- Ops, que foi aquilo, Senhor? Que estranho escorreganço. Parecia o Santo Agostinho a tentar dançar o break dance. - Riem-se com gosto, enquanto batem nas costas um do outro. - Isto, somado à paragem cerebral daquele pequenino, mais ao pé milagreiro a impedir a tolada do Espanhol...huuummm...não sei, não. Tem ar de intervenção Divina, não? - Olha o outro, com ar desconfiado.

- Pois, pois, mistérios. - Ergue as mãos abertas para o Céu, que se derrete em água. - Pumbas, acabou!

Levantam-se ambos, deixando uma mancha seca na bancada, com as formas dos respetivos traseiros. O mais alto cerra um punho na direção do campo:

- Incha, oh Espírito Santo de trazer por casa. O cachopo só nasce quando EU digo! Percebes, oh impostor de meia tigela?


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Soundtrack to Mr. NES: No presents for Christmas.

sábado, 26 de novembro de 2016

Broken



Olá, sou eu. Como estamos hoje, meu Amor?

Nós por cá, vamos indo. Como os coxos, sabes? Eles também vão, só que menos ligeiros. E chegam, como os outros, mas mancando.

Não sei pá, estamos assim como que partidos. Todos muito juntinhos, colados unjaojôtros, nem se nota muito, vistos de fora. Parece que no conjunto damos um de jeito. 

Cada um por si, é mais complicado. Porque desatamos a exigir que o Universo entenda o que não dizemos. Isso não é justo, mas estamos bem a ralar-nos para a justiça. É como se vivêssemos o nosso tempo de payback. Já se sabe que é uma cabra. 

Ou então sou só eu, nem sei. Olha, haja paciência para nós. Tu não me revires ojolhos, hein?!

Andamos a arrastar os dias. A vê-los passar, enquanto nos alapamos, sem sucesso nenhum, a outros que já foram. Nem é que vivamos das memórias dos melhores tempos, bastam-nos os piores mesmo. Os mais próximos. Tão bem ensinadinhos que estamos, nisto da frugalidade. E do egoísmo também.

Medimos semanas e meses e datas marcadas, a ver se não perdemos o pé nem a conta. Como se devêssemos isso a alguém, a ti, a nós. Mas pronto, o cansaço vencerá em alguma altura. Porque são muitos dias até nunca mais. Ainda não estamos é prontos para isso. Qual haveria de ser a pressa? Nenhuma!

Ah não, não te apoquentes em demasia, não sejas parva. A mamã diria isto tudo em meia dúzia de palavras: Atirando os dias para trás das costas. Mas tu sabes que ela exagerava. Temos Amores e crianças barulhentas a crescerem, preocupações e trabalho, bola e amigos. Pronto, a bola é maijeu, está bem. 

E temos uma rocha. Enquanto não chega o tempo em que começaremos a entender, finalmente, a dimensão do que nos deixaste, aprendemos a viver com a enormidade da nossa perda, nesta Vida nova. 

Devagarinho. Em passinhos de bebé, trôpegos como se fossemos velhinhos, cambaleantes como se estivéssemos bêbados, às dez para as duas como os coxos. Partidos. 

Quem sabe não começou já a colar, sem nos darmos conta? Há horas de dias e minutos de algumas horas em que parece que sim. Estragamos tudo quando reparamos neles, está claro.

Nada como dois dedos de conversa comigo para a pessoa ficar animada, hein? Um dia eu aprendo a mentir-te, vais ver. Agora ainda é cedo. Ainda acho que vais olhar para mim e perceber. E não me apetece nada aturar as tuas chamadas do "Então? Está tudo bem, claro. Mas está mesmo? A Gabi e as meninas? E tu? Mas está tudo, mas tuuudo, M-E-S-M-O bem?". 

E eu a pensar onde te deixei a pulga. Atrás dessajorelhas de abano, de certeza. Epá, alguém falou em narizes, por acaso? Chiça, se não tens argumentos, admites. Orelha ao lado, nariz à frente. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Falta um mês para ser Natal. É tanto tempo que ainda ninguém pensou nisso. Quer dizer, há malta a pensar nisso e a incluir-nos, de certeza. Mas não te preocupes, todos pensaremos. Pelas crianças que crescem, pelos Amores que nos rodeiam, uns pelos outros e também por ti. Por vocês.

Ainda gostava de saber como será o Natal por aí. Mas hey, nós vamos falando. Até já.

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Though life is long, i know you'll wait for me.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Bodysnatchers e Happy Meal



Afinal, acho que a Charlize não conseguiu salvar a Humanidade. Quero dizer, o resto da Humanidade, porque eu sei que cá estou. E também já tirei a limpo que a gaja bem boa que costuma dormir na minha cama é a mesma. Ela própria, portanto. A cachopa, também me parece intacta, que aquele feitiozinho de merda não engana. De resto, tenho a sensação que os bodysnatchers atacaram em força. Claro que é bola.


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Segundo os media, Portugal teve uma participação assim-assim na última jornada da Champions. Os lampiões deixaram fugir três pássaros bem gordos que tinham nas mãos; e os tripas de uma figa torta foram a vergonha do costume. Também empataram, ficaram, provavelmente, em melhor posição de se apurarem, mas são uma vergonha either way. Buuu, buu. 

Quem salvou a honra do convento foi, uma vez mais, o treinador que o Mundo ainda não consagrou. Mas vai consagrar, a bem ou a mal. Por acaso ao serviço de uns lagartos, averbou yet another bombástica derrota, mostrando a todos como se pode perder tantas vezes com imensa classe. Que Bayern e Chelsea - para não puxar pela memória às pessoas - tenham caído no Dragão nos últimos anos, é uma coisa normalóide. Pfff, nem se apuraram numa vez e levaram seis na volta do correio, na outra. Espetacular e dignificante para a Nação Imortal, é perder todos - TODOS! - os jogos com equipas de topo. E ir à Polónia disputar o acesso à Liga Europa, com o poderoso Légia. Construam uma estátua ao homem. Aos homens, que o Bruninho também conta para este Totobola.

O que não vale ter um Presidente novo, astuto como uma serpente. E cuspidor como elas, também. A alegria de ter um técnico tão fantástico que talvez - TALVEZ! - consiga apurar-se para a Liga Europa. Oh martírio, oh inclemência, oh inveja. Not!

Não vejo outra explicação que não seja esta gente ter sido ferozmente violentada pelos bodysnatchers. E há-de ter sido pelo rabo. Credo.


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Ah, mas já se sabe, eu não ligo nenhuma aqueles senhores. Se quero saber das coisas da bola, é ver o que dizem os meus patrícios Portistas, pela ciberlândia afora. E não é que a narrativa é maijómenos a mesma? Pronto, fico assustado, pois claro que fico. Queres ver que os sacanas dos snatchers... Na, não pode ser. 

Pelo sim, pelo não, se alguém aí ainda for si mesmo, há mantimentos e água e abrigo (ainda) seguro para vocês. A morada é: Tasca do Silva. Há vinho também, mas partilho com mais dificuldade, que não sei quanto tempo isto vai durar e não pode ser tudo à Lagardere. Dass, aproveitadores.

Então o que se diz é o que se vem dizendo: O treinador é fraco, a equipa joga mal, o Presidente ignorou o aviso da Segurança Social acerca do seu falecimento. Paz à sua Alma.

É estranho, porque vem na sequência de um jogo de Champions, em casa de uns Dinamarquecos que não perdem lá há 31 jogos e onde nenhum dos nossos comparsas de grupo fez melhor do que nós. Na verdade, só nós estivemos bem mais perto de lá ganhar do que de perder. Uuuuuh, o papão Lexus, Lobster, Leister, whatever, incluído.

Vejamos, o Grupo é fraco? É, bastante. Os Dinamarquecos são fraquinhos? Até são. Nós fomos piores? Nop, em nenhum dos jogos, muito menos neste. Ai que bom, dois pontos contra estes tipos? Nada disso, devíamos ter feito quatro, no mínimo. No Dragão, não soubemos ganhar, o que é mau. Em Copenhaga, não conseguimos, o que é diferente. E melhor.

Dar meia parte de avanço a um bando de vitelos bem constituídos, é estar a pedir que se tornem touros e nos enfiem umas valentes marradas. Isso não pode ser. Mas ignorar que San Iker, com uma ajudinha de uma defesa muito sólida - que saudades, hein? - manteve as donzelas imaculadas - acham justo acrescentar 750 mil mocas à conta do Iker? Eu acho um exagero, porque deviam ser divididos pela defesa, mais o Danilo, menos o Maxi; passar por cima de uma segunda parte de domínio A-BSO-LU-TO; fazer de conta que não merecemos ganhar; não é honesto. Assim como fazer crer que o treinador não tem nada a ver com a primeira hora de jogo contra os lampiões ou com estes 45 minutos, também não é.

Não, não foi perfeito. Não, não foi assim tão mau. Muito menos foi uma vergonha.Sobretudo, é falso que tenhamos comprometido as nossas aspirações. O grupo é fraco, também porque o cabeça de série designado não é muito forte. Ganhar no Dragão ao Coiso não é nenhuma transcendência, longe disso. Nem tem nada a ver com ter que ir a Stamford ganhar ao Chelsea, por isso poupem-me as comparações parvas. Transcendente será para o Coiso vir pontuar a Dragão. Make no mistakes.

Aliás, está bem mais difícil para os nossos amiguinhos DInamarquecos. Mas deixem lá pá, pode ser que tenham mais sorte na Liga Europa e vos saia... o Legia.


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Devo confessar que há bodysnatchers engraçados. O que eu já me ri com uns quantos entendidos que reclamam da falta de posse, de circulação, de controlo; que invectivam o ataque em esticões, a condução de bola, a sofreguidão. Digam lá que não foram tomados por entidades alienigenas, estes senhores que andaram ano e meio a insultar a equipa por fazer o que agora pedem, coño.


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    Oh NES, isto é uma embalagem de ketchup, tájaber? Já dizia o grande pensador Madeirense que às vezes estas cenas entopem e é o cabo dos trabalhos. Mas depois, desatam a derramar como se não houvesse amanhã. Olha que ficar sentadinho à espera que lhe apeteça, não é boa política.


Por isso, o Tio Silva ajuda. Aqui fica um conselho que já vem do tempo dos tetravós: Nalgada. 

Uma nalgada bem assente na embalagem e pumbas, vais ver a quantidade de molho que isso deita. Até o Ronaldo sabe. 

A nalgada serve para tudo, rapaz. Corrige os catraios, incentiva a vida conjugal e premeia a performance. Tem é que se saber dá-la no momento certo, com a intensidade adequada a cada propósito. Se falhas, arriscas-te a levar uma estalada de troco que até te salta o sangue pelajorelhas. Faz atenção.

Não te esqueças igualmente que o ketchup é parte importante da hamburguesa. Olha, de um Happy Meal, por exemplo. Chegares aos oitavos da Champions está a valer um. E eu faço coleção dos bonecos. 

Por isso, eu quero esse Happy Meal. Confio que não me deixarás ficar mal. Estamos entendidos?


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- Oh Pedro, soltamos a praga dos snatchers?

- Errrr... é capaz de ter havido algum problemazito com o software. Também, com a confusão que armou com aquilo da extinção...

- Ah, sim, pois claro, a culpa é minha, já se sabe. Como sempre, o senhor Pedro não tem culpa nenhuma, nãããããoooo, por quem sois, homessa! A culpa é toda aqui do Senhor, está claro.

- Mas não, não foi isso... - Interrompido por um trovão.

- Nem mais um pio! Vais já desfazer este disparate. E depois, estás de castigo.

- Mas...mas...Senhor, assim não chove.

- Nada de desculpas! Já para o teu quarto, meu menino.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

O dia em que Charlize salvou a Humanidade e Pacotes de Açúcar




Andava intrigado com isso do desafio do boneco. Achei que, sendo uma coisa que existe lá na ciberlândia, a minha especialista em redes sociais me poderia esclarecer. Bem boa que é. A especialista.

Mas foi-se a ver, a moça também não tinha um conhecimento aprofundado da questão. Fiquei logo a perceber que é uma cena que não sorteia viagens, não oferece bilhetes para espetáculos, nem dá desconto em lojas de sapatos. Recolho sempre alguma informação nesta fonte, mesmo quando não sabe patavina dojassuntos. E lavo a vista.

Como não sou de me ficar, arrisquei tentar estabelecer alguma forma de comunicação não digital com a centennial que mora lá em casa. Pumbas, o Gates devia ter desligado a internet, porque ela dispendeu uns dois minutos, à vontadinha, para me explicar o que raio é o mannequin challenge. Com o seu ar de sãocoisasmuintafixejequetunentendes, cota.

De posse da informação relevante sobre o tema, pude concluir pela minha cabeça: É estúpido! Bastante, até.

Epá, olha ali uma sessão de mindfullness no topo daquela elevação. Ou será o desafio do boneco? Ena, uma aula de ioga em pleno Parque da Cidade. Naaaa, é o coiso dos manequins. Será que aquilo é um gajo a cagar num descampado, ou estará alguém atrás de uma moita a filmá-lo? 

Com o disparate da água gelada pela cabeça, ainda a pessoa se divertia um pedacinho. Quando escolhiam uns recipientes grandalhões e depois não tinham unhas pójagarrar, por exemplo. Catrapimbas, lá levava o outro com um bidão cheio de água e gelo pelos cornos. Podia ser chato para a cervical do sujeito, majera uma barrigada de riso. É como ver gordos a estamparem-se. É basto estúpido, mas tem graça. O kékuma pessoa há-de fazer? Pois rir-se, já se sabe.

Agora isto? Caramba, trata-se de um mero apelo à lanzice. Fiquem práí, paraditos ohfaxabor, ninguém mexe uma palha. Parecem a equipa de funcionários de uma repartição pública. Em horário de expediente, está claro. Que najóras livres são pessoas bastante ativas. Diz que são. 

Olha, o Varela lançado em profundidade também dava um  belo desafio destes.

Como se não bastasse não ter sentido nenhum, ainda é pouco original. Quer dizer, há quantos séculos é que isto já foi inventado pelo Mestre Manoel de Oliveira? Há um, pelo menos. 

Desde o "Aniki Bóbó, na Residencial Cabinda" - aquele com a Lovelace, que era ligeiramente mais nova que o Mestre. E mais funda, também. Diz que era. - que o homem filmou mannequin challenges unjatrásdojôtros. Ele era pessoas paradas, bichos parados, mobílias paradas, até águas o tipo conseguiu parar. Foi o cabo dos trabalhos, à conta da mosquitagem. Esses, nem o Mestre pôde manter sossegados.

No entanto, como sempre e para ser muito irritante, existem aspetos positivos nesta modinha. Desde logo, aposto que há menos frases do Pedro Freitas, aquele que é uma Chaga no plural, nos murais de senhoras de idade. Devem andar todas a filmar challenges nos salões de chá, todas esborratadas de batom burmelho e assim.

Não é preconceito, que eu nem conheço as senhoras, é só que para ter paciência para tanta repetição e tanta frase feita, é pessoas à beira do Alzheimer. Diz que é. 

Para não ser um bota de elástico - sou um avôzinho bem cool, yeeey - proponho-me desde já a aderir a este movimento viral. Mas quero a vacina em antes, que na minha idade uma pontadita de ar qualquer, amaijóbirus, e pumbas, já foste! Portantos pá, a minha sugestão é:

Fazer um desafio do boneco com a Charlize Theron. É a moça a sair do banho e kétinha aí, babe. I challenge you! Fazconta que estás a limpar o soalho, Charlizinha. Majé como deve de ser, de joelhinhos, ahpoijé minha menina. Assiiiiiim mesmo, agora não mexe mais. Durante umas duajóras, vá.

- Ai sim?! Muito lindo isso. Pareces um velho babado. Olha mas que bem, babe. - Com aquele olhar de sabeskevaispagálas. E é todajuntas! Não é que tenha medo, mas inspira-me um certo receio, pronto.

- Hein?! Não, não, meu docinho. É eu a rénar cusrapazes. Já se sabe, juntam-se os moços e sai disparate. Eheheh. - Só espero que não se note que me treme a voz. Nota-se, pois nota? Bolas.

- Sim, sim, muito rénadios, os cachopos. Menos brincadeira e mais legumes em juliana, meu menino, que a sopa não se faz sozinha.

- E é já, minha flor. Ai ajóras que isto já são. Ainda bem que me avisaste, Sol da minha vida. - A trote para a cozinha.

- Vê lá não apanhes nenhum escaldão. A Charlize de gatinhas, pfff... - De raspão, apanho-lhe o olhar. Não era hmmkinteressante, poi'não? Naaaa! Na?

...

- Pedro! - Exasperado. - Kestamerda agora? Não se mexem? - A olhar pela grande janela.

- Pois, Senhor. Acho que é para depois colocarem naquilo da nuvem. - A consultar calhamaços à pressa.

- Hã? Mas as nuvens não são minhas, késbêr?

- Errrr, esta parece-me que não, Senhor. - Atemorizado. - É uma nuvem de informação, acho eu. 

- E é que não se mexem de todo, olha prákilo. - Surpreso. - Epá, é demasiado estúpido. Vou extingui-los, 'safoda, estou farto deles e dos seus disparates.

- É para já, Senhor. - Saca a maquineta da extinção. O outro apura o olhar na janela.

- Ui, kékilo? Ui, oh Pedro... É a Charlize a sair do banho, de quatro patas? É, não é? - Às voltas com a maquineta, ele olha também.

- Sim, Senhor, é. Olhe lá, isto para extinguir é verde-código-verde, ou só código-verde? - Profissional.

- Espera, Pedro, espera. Vamos dar-lhes mais um bocadinho, talvez... - De olhos muito abertos. E focados.

...

Pensava: Foda-se pá, se tenho de fazer mais um repolho em juliana, corto os pulsos, quando ele escancarou a porta da cozinha e avançou em passo decidido, quase marcial. Esfreguei ojolhos para ter a certeza que era mesmo ele. Aquele estilo não assentava no que até então lhe tinha visto. Ainda bem que não estava a picar cebolas.

Ele estacou diante de mim. Disse:

- Viva, Silva. 

- Olá, caro Fantasma Sagrado.

- Hã?

- Nada, nada, sou só eu a brincar com traduções literais... - Interrompeu-me com um gesto: Stop! Tão assertivo que me arrepiou. Que se teria passado?

Abriu-me a mão e colocou-me um papel amachucado nela. Virou as costas e saiu, no mesmo passo estugado, firme, um pouco arrogante até, com que tinha entrado.

Alisei o pacote de açúcar e li:

"Um dia, perdes o medo ao escuro e serás temido. Hoje é esse dia!"

...

Soundtrack to Mr. Holly Ghost: (No more) Fear of the dark.

domingo, 20 de novembro de 2016

Rol de raros e estranhos fenómenos, por Q.Q. Silva



O senhor Quintino Queirós, nasceu Quevedo, como seu pai e, antes dele, o seu distinto avô. Do casual casamento do nome próprio que o padrinho lhe deu, em homenagem a um tio que não chegara a conhecer, e os apelidos das árvores familiares que em boa hora o fabricaram e trataram de parir, chegou-se ao estranho QQQ das suas iniciais.

Se os Queirós nunca sonharam com um elegante zê que lhes aristocratizasse o apelido, já os Quevedo transportavam, orgulhosos, a bandeira de Brasão, para onde quer que fossem. De mãe lavradeira - da terra e do corpo, que nunca a sua cama foi conhecida pela monotonia - e pai patrão, não viria ao Mundo um Quintíno com anagrama dúbio. Ficou Silva.

O senhor Quintino Queirós Silva carrega impante o brasão dos Quevedo e os olhos sonhadores dos Queirós. Segundo duas ou três balzaquianas aqui da terra, não envergonha a ascendência quando se trata de lhes abrasoar a pele. Acrescente-se o orgulho nas origens, manifestado em todos os cumprimentos e apresentações:

- Muito gosto, Quintino Queirós Silva, nado e criado no Entroncamento, aqui acabado por voltas da vida e do coração. Um seu criado. - Se se trata de público feminino, que os homens não merecem criadagem que lhes alivie os fardos. O Quintino é que sabe.

Fica evidente que pouco surpreende o senhor QQ Silva, de tão habituado ao fenomenal, inusitado e inesperado. Mormente ao nível do tubérculo, do legume ou do bicho amestrado. Da batata cuja metade trazia impressa uma figura do Santo Sudário, à abóbora que só à força de grua se conseguiu transportar, passando por um vitelo que era a cara chapada do seu tio Inácio. À época que andava a estudar para padre. O Inácio.

A isto dedicou a sua vida, com assinalável sucesso. Às costas da desnecessidade de ganhar sustento e do tempo livre que isso tende a deixar às pessoas. E respetivas mentes. QQ Silva é Caçador de Raros e Estranhos Fenómenos. Assinala-os, sem perder tempo a analisá-los. Afinal, quem nasce em terra com nome tão honesto - pois que de um entroncamento de facto se trata - não precisa de fingir que tudo se explica.  

Quando astros se alinham de determinada forma - não sou astrónomo e nem astrólogo, pelo que não faço ideia quais astros e, ainda menos, qual forma. A de um legume, se calhar. - desatam a acontecer coisas fenomenais de seguida. O senhor Q explica.


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ROL DE RAROS E ESTRANHOS FENÓMENOS RECENTES, por Q.Q.Silva

1) O senhor Silva, o tasqueiro, pede desculpa em público.

Assisti há pouco a este estranho e raro acontecimento, capaz de relegar para os confins do esquecimento a descoberta da galinha que punha ovos de madeira. Daqueles de cozer as meias. 

O senhor Silva tasqueiro, posto defronte de um cliente, falou em tom suficiente para que todos ouvíssemos e pediu-lhe desculpa. Reproduzo para memória:

- Nuno, tu sabes que há coisas tuas com que simpatizo. Olha, por exemplos, o cabelo e a barba ralos e dessa cor sal e pimenta; os óculos para o quadrado; as origens Africanas. Pá, se fosses em bonito, eras até parecido com alguém que eu conheço. Já do lado da bola, tenho-te semidesancado amiúde e já te disse que não estou nada convencido. Mas sabes, desculpa pá. 

Eh lá, arreda. Nada de abraços e lágrimas e panascagens afins. Ainda não somos íntimos e contínuo pouco convencido. Mas devo-te este honesto pedido de perdão. Porque a verdade, meu caro, é que a sermos roubados no limite da escandaleira - e não no topo da pouca vergonha, como acontece - estarias em estado de graça. Serias o líder do Campeonato, estarias na 5ª eliminatória da Taça e já tinhas limpo lampiões e lagartos pelo caminho. Foda-se, erajomáior, rapaz. É assim que se criam - e que se impedem - ajondas. Olha, as verdes e encarnadas, por exemplo.

Assim, és só um burro que tão depressa acerta, como falha. Na! Só falha. És um manso, como o Presidente. Quando podias ser um tipo cheio de classe, que mesmo roubadinho não lhes liga nenhuma. O FCP é uma miséria e vamos a caminho do fim. A saque, ao abandono, sem rumo nem glória. A culpa é de quem manda. E tua. 

De quem vê doze penalties, em onze jogos, serem esquecidos e, mesmo assim, defende que com um Presidente a sério e um treinador em condições ganhávamos cincazero, é que não é! Achas? Não, pá, apontar baterias para os nossos lindos pés é que nos fará caminhar melhor. Tens dúvidas disso? Pois. Eu também.

Por mim, peço-te, para já, desculpa. Desculpa por ter demorado a perceber que, repito, devias estar à frente do Campeonato, em frente na Taça e a preparar, em ombros, a qualificação para a próxima fase da Champions. Onde estamos porque nos apuraste. É isto.

2) A Frente Fria do Campo Grande

Há noticias perturbadores acerca da existência de uma Frente Fria permanente, o que é raro e estranho, na zona do Campo Grande, em Lisboa. O fenómeno começa a ser basto documentado.

Ao que se sabe, a Frente Fria do Campo Grande baixa quando lhe dá na gana, provocando a súbita mudança de estado dos gases que resultam da evaporação. Digamos que estamos, por disparate, num balneário, a fumar um cigarro eletrónico. Chupa-se a coisa com força, salvo seja, para matar o vicio. Se, por bidisparate, quisermos expelir o vapor que restar, após o percurso pulmonar, nas trombas de alguém, pode bem acontecer que a Frente Fria acabe por liquefazer o fumo. Parecendo que não, pode ser desagradável.

3) A Burrice Humana

Não sendo um fenómeno raro, torna-se cada vez mais estranha a capacidade do Homem ser completamente tapado. 

Há algumas décadas apenas, um tipo pequenito e algo enfezado, moreno, crê-se que de linhagem judaica, escreveu um livro. Os iluminados fartaram-se de rir com aquilo. Tanto, que lhe entregaram o poder numa bandeja, pouco depois. Confiantes.

Afinal, era evidente que tudo aquilo eram exageros próprios de campanha. Para além de que eles próprios seriam, sempre!, o garante da normalidade.

Pelo Mundo fora, a populaça fez piadas ao longo dos anos. Com o bigode, o cabelo, o tom de voz irritante, o discurso estupidamente radical. Enfim, com o anúncio de viva voz de tudo o que estava por vir. E memes. Ai, espera, memes ainda não havia.

Hoje há protestos em Nova Iorque, e memes, em outras cidades também, e memes, porque outro moço com o cabelo esquisito se apresta a fazer aquilo que...disse que ia fazer. E elegeram-no. Numa bandeja de prata.

Credo.
  
4) Um Crescente, uma Estrela, um Estúpido perigoso (outro)

O Presidente da Turquia saiu por cima de uma recente tentativa de golpe de estado. Que por terem estado, alegadamente, envolvidos nela, tenham sido detidos milhares de militares, juízes, professores e etécéteras, é capaz de ser revelador do grau de confiança que a dita sociedade civil tem no seu Presidente. Da militar nem se fala.

A Liberdade de Expressão parece que também ficou com termo de identidade e residência. Bem como algumas outras liberdades fundamentais, ocidentalizantes. 

O raro e estranho fenómeno, no entanto, é que este senhor, cavalgando a sua importância estratégica, ainda manda postas de pescada. É mais arrotos

Ou seja, a Turquia quer ser Europa, Unida, mas deixem lá isso da Liberdade e assim, que chatice. Que mal tem uma pena de morte por outra? Mas se vão ser picuinhas, então óspois não se admirem que bazem mais uns quantos. Olha, com um bocado de sorte, criam uma Companhia concorrente. E aceitam a Turquia do Erdogan a partner.

Se fosse cavalgar um ananás panado em gravilha e cavilhas enferrujadas é que ele estava bem. Embora fosse igualmente estranho. Mas não propriamente raro, já se sabe.

5) A Fé

Eu quero muito, muito, muito acreditar. Eu quero, eu posso, eu vou acreditar. Que estranho. 

Mas não se esqueçam, geringôncios, que nós sabemos que a CGD é pública. Por isso, os gestores da CGD são administradores de uma entidade pública. O que os obriga a cumprir os mesmos requisitos de todos os outros. E estamo-nos a cagar de bastante alto para os compromissos, mesmo que escritos, que V.Exas. assumam. 


...

Somos comuns e temos senso. Nada podeis contra nós. Mas queremos acreditar. E vamos. Vou?


... 

Soundtrack to rebellion: Vivam o Povo e rebeldia!

...

- Pedro, tens algum anticiclone, ou outro fenómeno climatérico do género, estacionado no Campo Grande?

- Hã? Quem é que desenterrou esse desassunto, Senhor? - Incomodado.

- Oh, o do costume...

- Raisparta! Vou ter que mudar o bicho de poiso, que maçada. Irra, fulaninho embirrante!

- Estou farto de te dizer...


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A Mesa do Canto: Hora do conto (com Lápis Azul e Branco)


A verdade, verdadinha, é que a Tasca cumpre uma importante função social: Tomar conta de maduros. E de menos maduros. E do catraio de uma moça de olhos claros, de vez em quando.

É a modos que um "Bichos Carpinteiros", onde as senhoras deixam os seus mais que tudo; os seus maijómenos importantes; os antejaqui que em casa a moer-me a paciência; e um ou outro nemmaceguinha te queria. E lá vão, lampeiras, à sua vida, às suas compras, afazeres, Bertos ou meros esparrejamentos em sofás, deixando os programas vespertinos de televisão - onde andam as baleias nestes tempos de reality shows e apresentadoras romancistas? - drenarem-lhes os poucos miolos que lhes sobram. De aturarem os que eu gosto de aturar. Em sendo pago, pois claro.

Portanto, era mais que tempo de adequar a oferta e criar um espaço lúdico-pedagógico: A hora do conto. Como o cómodo é escasso e as moscas abundam, arruma-se tudo à volta da Mesa do Canto e entrega-se a cabeceira a um pedagogo. Dos lúdicos.

Que o rapazote tenha arranjado um fato de Lápis, qual personagem de uma Rua Sésamo da vida, já é bónus do artista convidado. Advém-lhe do brio profissional e não acresce ao cachet. E o que a malta gosta de bonecada.

Ele pigarreia para aclarar a voz. Os velhos imitam-no, por vício de pigarrear. Os restantes inclinam-se para a frente nas cadeiras, com as mãos entrelaçadas entre as pernas abertas. O puto abanca-se no chão, com as pernas à chinês. Eu decreto:

- Silêncio, vai começar.

...

Astérix e a Romanização

Esta estória não se passa no tempo de Astérix, Obélix e Ideiafix. Esta estória passa-se muitas, muitas gerações depois. 


Naquele tempo (perdão, Senhor), este trio de heróis liderava as aventuras da tribo de irredutíveis gauleses que se recusava terminantemente a vergar perante o invasor romano, fazendo da manutenção das suas tradições e costumes de gauleses um ponto de honra. 

No tempo desta história, a aldeia gaulesa já mal se conseguia reconhecer. Já não havia heróis, para começar. Ou se calhar havia, mas noutras paragens. E, mais importante, os ideais da famosa tribo ficaram soterrados sob as areias do tempo. 

Não sei quantos chefes já lideraram a aldeia desde Abraracourcix, mas foram seguramente alguns. A irredutibilidade esbateu-se, as luzes brilhantes do império romano tornaram-se progressivamente irresistíveis e os chefes, um após o outro, foram estendendo a passadeira vermelha ao invasor. Houve até um que deixou o seu cargo na aldeia para ir fazer política para Roma. E os que não chegaram tão longe, foram abrindo os portões da aldeia. 

O peixe de Ordemalfabétix, por mais robusto que fosse para zaragatas, foi preterido pela oferta trazida por grandes mercadores de outros ponto do Império, sacrificando o sabor do "mar de Lutécia" pela poupança de sestércios. O mesmo em relação ao negócio de armas de Éautomatix, cujo neto se viu forçado a fechar, abandonando também ele a aldeia à procura de uma vida melhor para si e para a sua família. Tal como Assurancetourix, o bardo, que foi forçado a juntar-se a uma trupe de saltimbancos e até Panoramix, trocado pelo engodo do sistema de saúde público romano. Sobrou apenas o artesanato de menires em miniatura para turistas. Grande parte das crianças da aldeia vai estudar para Roma, onde acaba por se fixar pela maior facilidade em exercer o seu ofício.

O chefe de agora aparenta querer retomar onde Abraracourcix parou, mas a inércia dos seus conterrâneos e os tentáculos do Império não lhe vislumbram uma tarefa fácil. Logo veremos se mais cedo ou mais tarde não seguirá também inebriado pelo odor do poder.

Infelizmente, o problema não é exclusivo da famosa aldeia. É transversal a todos os territórios ocupados pela macrocefalia da capital. A romanização é uma triste realidade e por vezes parece ser um processo imparável. Os políticos de Roma montaram um sistema, aperfeiçoado ao longo dos tempos, que concentra na capital os recursos de todas as províncias, essencialmente para benefício próprio. 

Este sistema faz engordar Roma, ao mesmo tempo que esvazia o restante do Império, reduzindo-o a mera paisagem. Isto, inevitavelmente, provocou um movimento migratório de todas as periferias para o centro romano, que se estende já por várias gerações, ao ponto de actualmente grande parte dos habitantes da capital não serem romanos. Há um melting pot de gente de muitas tribos e aldeias dos quatro cantos do Império que, perante o irresistível desejo de se integrarem na sociedade romana, se transformam em romanos da noite para o dia, renegando as suas origens.

Durante muitos anos, foi através do desporto que a aldeia conseguiu manter a sua identidade, quando os demais sectores da sua sociedade já se haviam rendido aos impostos pela capital do Império. Não o desporto favorito de Obélix, o espancamento de romanos, mas o "foutbôle", o jogo mais apreciado por todo o Império. 

Como não poderia deixar de ser, para os romanos este era um jogo de XI contra XI, mas no final tinham que ganhar sempre eles. E assim foi durante décadas, até que um jovem e destemido chefe da equipa gaulesa desafiou e derrotou o poderio romano. 

Esse domínio de décadas da principal equipa romana, a única que tinha permissão para ganhar e para contratar os grandes jogadores de todo o Império, e portanto, a única que poderia brilhar quando defrontava equipas de outras civilizações e impérios, gerou em todas as províncias romanas uma enorme onde de apoio, alargando a sua base de apoio a todo o território - incluindo na "nossa" aldeia gaulesa. Esse apoio transmitiu-se de pais para filhos, de geração para geração, subsistindo ainda hoje como a maior base de apoio de todo o desporto interno.

Qualquer político romano que se (des)preze, jamais poderia desperdiçar esta muleta e deixar de cavalgar esta onda fácil. Jamais alguém em Roma se atreveria a desaproveitar qualquer oportunidade de se associar a uma vitória das equipas romanas, por mais insignificante que fosse. Folclore gratuito para todos, sempre que possível, granjeando simpatias e evitando que se olhe para outras coisas entretanto.

Voltando à aldeia gaulesa e ao bravo chefe da equipa da aldeia, foi no seu consulado que os papéis se inverteram, inaugurando um inédito período de glória ímpar em todo o Império, mobilizando atrás de si todos os verdadeiros gauleses, da sua aldeia e de muitas outras espalhadas por toda a Gália. A história de sucesso foi tal que por todo o Império, e até em Roma, se conquistaram muitos novos apoiantes. 

No entanto, nem todos na aldeia ficaram agradados com o estrondoso sucesso do (agora já não) jovem chefe e do seu clube. Alguns foram sodomizados pela tal onda romana ou simplesmente herdaram a sodomia. E aos seus olhos de lacaios, nada como enfrentar os seus "irmãos" gauleses para agradar os mestres romanos e, quem sabe, arrecadar alguma migalha vinda da capital.

Hoje, o chefe já não é jovem nem destemido. E na aldeia já não há quem faça frente à sufocante romanização. Não há? Há pois! Milhares de gauleses estão dispostos a defender a sua aldeia perante todo e qualquer invasor. Só falta quem os volte a mobilizar em torno de uma bandeira que os una.

Qualquer semelhança com outra qualquer realidade é puramente intencional.

Lápis Azul e Branco,

Este senhor opta por escrever na ortografia antiga. Bota de elástico.
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Quando pedi ao Lápis que ocupasse a Mesa do Canto, para explicar porque é que os de lá de baixo parecem condescender mais com as suas paixões fintabolisticas - muitas vezes deixando-me na dúvida sobre quem é, de facto, bairrista - previ uma crónica de opinião. Direta, ao bom estilo Lapisiano. Já se sabe que não fez nada do que eu lhe disse!

Em vez disso, Sua Senhoria mandou o seu labrego entregar-me o ópus acima. Que tem tudo, mais a extraordinária qualidade de nos deixar a pensar. Para além do cuidado na metáfora. Tasca style, arrisco do alto da minha proverbial modéstia.

Por isso, obrigado três vezes, pá. Uma delas pela inveja. Porque raio não havia de ser eu a escrever todos os bons posts? Não percebo...

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Soundtrack to kindergarten: Cry for Pompeii