segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O monólogo de Maria Amélia



- Ah, o Júlio. - Sorri a olhar para o teto. - Ainda é cedo para me esquecer. Não que esteja presa a alguma memória. Ou sequer a esforçar-me para esquecer algum desastre, nada disso. Mas eventualmente esquecerei. É da minha natureza. Foi intenso e até profundo. E tão conturbado. - Sorri.

O Júlio era, antes de mais, uma pasmaceira. Monótono, pronto. A relação parecia um paquiderme, entendes? Arrastava-se, dra-ma-ti-ca-men-te leeeenta. Não te consigo explicar melhor. Imagina uma lesma gigante, cravada de setas no lombo, a arrastar-se penosamente para lado nenhum. Condenada. - Afasta o cabelo dos olhos. - É uma bela imagem, hein? Se calhar um pouco exagerada, mas foi o que me ocorreu.

Claro que no inicio não era assim. Vinha de uma época tão má da minha vida, raios. Aquela calma, a capacidade de auto-controlo que tudo nele me prometia, chegava a ser excitante. Mas olha que logo aí reparei que não caiu no goto de muita gente. A família desconfiava, os amigos deram-lhe pouco crédito. Enfim, não se pode dizer que tenha sido uma festa. Já se sabe que pouco me importei com isso. A vida era minha, eu é que tinha que estar feliz. E estava. Apesar de quase todos o acharem um chato de galocha. Cada dia mais.

Oh, mas íamos a sítios tão interessantes, tão cheios de vida. Conheci um Mundo novo, sabes? Tanto potencial, tantas possibilidades, tão claras que quase podia tocar-lhes. Sonhei, confesso-te. E sei que foi ele que me deu o sonho, quando julgava que só me restava a dura realidade da minha pequenina existência. E no entanto, chatinho como só ele. Igual, repetitivo. Eu sempre à espera de uma explosão, sei lá, às vezes até de um grito áspero. Olha, digo-te, alturas houve em que só me faltou rogar-lhe que me esbofeteasse. Para o saber vivo. Tudo tão perfeito, tão limpo, tão arrumado, tão assético. Tão inconsequente, tão à eterna distância de um danoninho. - Baixa a cabeça por um instante. Sacode os cabelos longos.

Sentia-me perto do Céu e ao mesmo tempo incapaz de lhe tocar. Mas não desisti assim, à primeira. Insisti. Se calhar mais por teimosia, não sei. Aquela sensação de agoréké. Mas já foi tudo muito atribulado. Eu sem paciência nenhuma, ele a escorregar para a depressão. Dias vieram em que quase senti pena. E o que eu detesto isso. Ele a tentar com as forças que lhe restavam, eu a ir de impaciente a exasperada. - Passa as mãos pela cara lavada, sem maquilhagem, e suspira alto um ai prolongado.

E o sexo? Credo. - Ri-se. - Não percebas mal, não era péssimo. - Ri-se de novo. - Não era péssimo é muito mau, não é? Digo-te, no inicio foi quase um balão de oxigénio. Era calmo, previsível, meigo. Quase sempre havia um orgasmo. Meu, claro. Exceto raras ocasiões, era certinho mas não faria 100 quilómetros para o comer. - Ri. - O que magoou mesmo, foram aquelas alturas em que estava tão acesa que quase iluminava a rua toda. Eu um fogo só, uma fera pronta a devorá-lo. E nada. Nem uma faísca. Ou o de sempre, ou, por vezes, - cada vez mais frequentes em direção ao fim - a tentar fazer coisas que não sabia. Ou para as quais não estava equipado. - Sorri e desenha aspas no ar.

Tu sabes que houve uma ou outra altura fantástica. - Pisca um olho. - Devo-te ter ligado em todas. - Sorriem. - Essas três ou quatro. - Riem maldosas.

Depois foi o que se sabe. Toda a gente aos berros com ele: A minha família, os meus amigos, os amigos de amigos deles. Todos. E eu farta, com raiva da turba inteira. Pu-lo na rua, mandei-os calarem-se, arremessei-lhes com a porta nas trombas e fui para os copos. Noite após noite, durante duas semanas. - Coça um joelho nu. - E conheci o Zé.

Está claro que o Zé tinha que ser a antítese do Júlio. Tudo nele é simples e alegria e gargalhadas. Adorava o humor inteligente, e irritantemente polido, do Júlio. Mas o que me apetecia mesmo naquela altura eram as piadas parvas, com peidos e palavrões, do Zé. Sei que tenho que lhe dar tempo para se aperceber do que o rodeia, mas acho que já cometi um erro crasso. Contei-lhe. Detalhe por detalhe. Parva! - Bate com a mão na testa.

E agora parece que não sabe o que fazer. Está numa espécie de limbo. A ser quem não pode deixar de ser; e a esforçar-se por ser outro. Melhor. Não consegue, não consegue. Eu bem lhe digo que seja só o que de facto é. Que se dane para exposições de arte que eu vou bem sozinha. Que não me importo nada que me lamba toda enquanto me delicio com um Dostoiévski, com a montanha do Mann ou assim. Até prefiro não lhe ver as fuças. - Dá uma gargalhada.

Mas não, ele insiste em temperar o arraial que me prometeu com pinceladas de calma e ponderação. Acabamos por nem foder como coelhinhos, nem escolher contas poupança para a velhice. Ficamos ali a meio. Entre uma noite para lembrar e um põe-t'andarquesófazezémerda. Não sei, não sei. - Abana a cabeça.

Há dias em que me lembro do Júlio com mais nostalgia do que sinto que devia. E nesses, nem posso ver o outro. Mas depois ele fala, com aquele tom convicto e o seu ar simplório. E embora me irrite que procure palavras que não lhe assentam, diz as coisas certas. Vê o que eu vejo. Só que promete o que eu acho que não tem como cumprir. - Sorri, com alguma tristeza.

Oh, é claro que não estou a planear ficar velhinha com o Zé. O que me apetecia mesmo era um período de espanto. Uma fase de completa loucura, a trezentos quilómetros à hora, sem rédeas. Sim, eu sei dos perigos. Mas era isso mesmo: Uns tempos à beira do abismo. Se cair, eu sei levantar-me. Se sobreviver, fico de alma cheia. Pronta para tudo. Até para despachar o Zé. - Ri. Toca o telefone.

É ele. Chateamo-nos ontem à noite, para variar. Estava tudo a correr tão bem. Depois pôs-se com salamaleques e nove horas. E eu com uma corda de Shibari na mala. Pronta a estrear. E aquele chicote que comprámos juntas, lembras-te? - Sorriem ao mesmo tempo. Naughty.   

...

Soundtrack to Maria Amélia: Hit her like a man.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Concursos de Domingo B e pastéis de nata



Os B jogaram ainda agora na Póvoa. Um jogo interessante e, em boa parte, mal conseguido pelos nossos. Parece um paradoxo, mas foi mesmo isto. Perdemos bem e a estatística final prova-o à saciedade: 47 ataques para os Poveiros, contra 23 dos cachopos; 18 remates deles, para 6 nossos.

Num campo em que a bola anda aos saltinhos, encontrámos uma equipa que nos conhecia muito bem. E, por isso, deixou-nos o tempo todo naquela posição bastante desconfortável de ter sempre uns quantos pescadores a bufarem-nos nos calcanhares. Curiosamente, aguentámos bem isso, sem brilhantismo mas com raça, vontade e coragem. E foi tudo. 

A outra metade, puf, inexistente. Por mérito do adversário em dois aspetos fundamentais: A pressão constante e uns quantos etíopes armados em jamaicanos, a dispararem nas costas da nossa defesa. Remendada.

Acontece que do nosso lado se decidiu gastar a manhã de domingo em Concursos. Enfim, irrita um bocado, mas entretém. Ora veja-se:

Graça, vencedor do Concurso de maior numero de rotundas. Deu tudo o que tinha, como é hábito, mas deve ter acabado o jogo bastante zonzo. Tanta volta desnecessária, credo. Parecia o catraio que estava num carrossel. Alguém lhe dê um gelado.

André, vencedor do Concurso do calcanhar inconsequente. Lutou, lutou, lutou, valente e abandonado contra os centrais. E deu cabo da parte de trás das chuteiras, de tanto uso. Diz que tinha apostado consigo próprio que conseguia jogar exclusivamente com a retaguarda dos pés. Antes a dos pés.

Castro, perdeu o Concurso "Quem quer acertar na substituição?". Falhou todas.

Quando já se tinha percebido que o nosso meio-campo não aguentava aquela desvantagem numérica - e que o Ismael estava a congelar encostado à linha, aflitinho para fazer companhia ao André ali no meio - precisou de substituir o Gleison. Deixou tudo igual e meteu o Ruben - que ganhou o Concurso para o gajo que menos vezes passou pelo adversário. Depois foi preciso substituir o Omar, numa altura em que o Chico tinha começado a conseguir pegar no jogo. Isso é que não, pensou o bom do Luis. Mete um médio criativo que esteve quase a tirar o prémio ao Ruben; e recua o Chico que...desapareceu. Com 10 e a perder, um tipo pensa: Bem, agora sim, lá vai o Ismael para o meio, o Macedo dá uma perninha no meio-campo e ficamos em 3-4-2. Aha, aí está a substituição! Ena, tira o Ismael e mete outro moço colado à linha. Aaaaaah, nesse caso, peço desculpa.

Já sei que este ano não se pode bater no Castro. O ano passado podia. Agora, é melhor não. Mas acontece que é o mesmo exato tipo. Com as mesmas exatas, e poucas, virtudes; e os mesmos exatos, e bastantes, defeitos. A mim m'importa que não gostem de o ouvir.

Prémio especial de "Tipo mais irritante da Liga", para o senhor que passou o jogo a berrar coisas sem nexo na bancada. O que aos 80 minutos desatou a gritar "tánahora oh filhadaputa, tánahora". Só que não estava... 

Menção muito honrosa para o nosso Capucho e as suas belas pernas (hey Jorge). Muito bem em tudo, incluindo o sentimento Portista. Guess you will be back soon enough.

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Mai'logo jogam os graúdos em Belém. O que me leva sempre à interessante discussão do Pastel de Nata. 

É claro, e indesmentível, que em Lisboa se comem os melhores pastéis de nata do Mundo. Erradamente, pensa meio Universo que isso se deve à Fábrica dos Pastéis de Belém. 

Sendo de nata, os de Belém são uma estirpe um pouco à parte. Digamos que quase poderíamos falar de pastéis de nata e de pastéis de Belém. Duas coisas distintas. Não é pelos de Belém que Lisboa é a Capital Mundial das natas. É pela média ímpar da qualidade deste bolo em centenas de pastelarias, confeitarias, snack-bares e afins da cidade.

Por exemplo, na Tasca, as natas que se servem de sobremesa não são de Belém. São da Manteigaria. Ali ao Camões. Mais cremosas, um pouquinho menos doces talvez. Boas como uma Charlize acabada de sair do banho. Bem, nem tanto, mas bem boas ainda assim. Os de Belém devem ser comidos no seu habitat natural. Não sabem ao mesmo longe de casa.

Não restem dúvidas que a experiência de Belém é a melhor de todas. Nada a fazer. A não ser comê-los. E nunca se come um Pastel de Belém, é obrigatório enfardá-los aos pares, no mínimo. O melhor mesmo, é comprar a caixa de meia dúzia e aviá-los alarvemente, gozando o Sol de Inverno num banquinho dos jardins de Belém. Ou na Praça do Império, enquanto se passa os olhos pela glória perdida da Nação Valente. E Imortal. Mas não Invicta!

Entendido?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Resumo da semana: Nesse caso, peço desculpa.



Sempre inovador, o BE arranjou um cartaz super colorido.

É o que dá a malta ser jovem e cool e assim. Muntàsquerda, em bloco e coiso. Bora majé fumar um berlaite e tal. Depois não lêem livros. Limitam-se a postar coisas nas redes sociais, pelo meio de animais fofinhos. Golfinhos por exemplo. Mortos.

Vamos lá ver, oh Catarina, não! O pai é só um. O José é tipo a ama, tájaberohnão? Deus é Pai. O José toma conta. E não deve ter feito um trabalho lá muito bom. Basta reparar que à hora do seu primeiro falecimento, o catraio invocou o Pai. E não o José. Para além de que passava a vida na rua cujamigos e a cantar o fado pelos montes e a maltratar vendilhões. Linda vida, meu menino.  

Portanto, não, Jesus não tinha dois pais. E não, o José não andava metido com o Pai do puto. Por aí, esse cartaz não faz sentido nenhum. 

Por outro lado, isto levanta uma questão muito chocante: Então o Bloco de Esquerda discrimina as lésbicas? É que não vi cartaz nenhum a falar de duas mães. Que se passa Mariana? As gajas que gramam de gajas, têm bom gosto mas não podem ter filhos? É isso? 

Pelo que percebo, segundo o Bloco de Esquerda, o Melão e o Calado podem muito bem adotar uma criança. Já a Ana Zanatti e a Lara Li, não devem. Só se for por telepatia. Acho mal.

- Oh Silva, que parvoíce! Mas quais Deus e José e o camandro? Não é esse Jesus, pá. É o outro. O filho do Luis Filipe e do Bruno. Você é estúpido, hein?!

- Aaaaaah! Nesse caso, peço desculpa.

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Ainda gostava de saber como se sentirá um Comunista ao ver o Orçamento que defendeu a ser elogiado pela Moody's. Sim senhora, não está nada mal. Mais errata, menos esboço, nós próprios não faríamos melhor. 

Vamoláver. Portantos, uma Agência de Rating aprovou o mesmo Orçamento de Estado que o Partido Comunista Português. E o Bloco de Esquerda, mas nesses já bati. Deixa-me lá pensar por um bocadinho em quem é que estará a dobrar a espinha. Já pensei. Yep, são mesmo esses.

- Oh meu asno, mas queremos lá saber disso. O que importa é a redução do IMI em TODOS os escalões. Que há aqui camaradas que pagam um balúrdio pelas vivendas em Caxias. Ou pensavas que aquilo era só uma prisão? És estúpido, hein?!

- Aaaaaah! Nesse caso, peço desculpa.

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O Banco Bom deu um prejuízo de um caterpillótrilhão de massa. Não tem mal, que pagarão os de sempre. E acho muito bem que se nacionalize. 

Não só o Arménio fica contente, como se arranja um sitio para meter uns quantos primos que já não cabem nas autarquias. O prejuízo, muito provavelmente, aumentará. Majómenos é nosso, olha que coisa.

- Pffff, ironia de direita radical agora, é? Mete-se numa errata do OE, leva-se à aprovação da Cata e do Jéjé e está feito. Até a Moody's bate palmas. Palhaço fascizóide. E estúpido, hein?!

- Aaaaaah! Nesse caso, peço desculpa.

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Na Síria, hoje é dia de cessar fogo. Ou então não. Quer dizer, sim. Mas nem tanto. Ainda não é. Mas está quase. Ou então não. Mas sim, é. Daqui a pouco. Espera aí um ratito.

- Silva, tovarishch, exáágêro! Ouvir "últimos dias", "última oportunidade" e pensar bombardear agora ou nunca. Encher Antonov de bombas e vrrrruuuuuuuuuummm largar no Síria. Afinal, era fim dos saldos. Ééstúúpidés, hein?!

- Aaaaaah! Nesse caso, peço desculpa.

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Uma senhora que ficou fechada num quarto um ror de tempo, parece que está bem posicionada para ganhar um Óscar no domingo. Aposto que é branca.

Outra senhora esteve entretanto ocupada a fazer de conta que ganhava o suficiente para pagar o buraco do Banco Bom. Diz que tem menos hipóteses de ganhar o boneco. Acontece que, no processo, tratou de arrecadar foi a guita a sério! E agora está-se bem a ralar se ganha ou não. Até podia ir toda pintada de preto para a cerimónia.

- Ai não, não, meu menino. Não só estás a menorizar o mais importante prémio que um ator pode receber, como estás, de novo, a fazer piadas estúpidas com as raças. Fica sabendo que quem devia ganhar o Óscar para melhor atriz era o Will Smith. Assim, talvez houvesse alguma equidade.

- Aaaaaah! Nesse caso, peço desculpa.

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- E a bola, Silva?

- Qual bola? Mas houve bola? Alguém jogou? Quando, como, onde?

- Então, mas está a fazer-se de... - Acerta-lhe o copo de shot do Russo na moleirinha, ainda a cheirar a vodka.

- Epá, foi sem querer. Era para o lava loiças e fugiu-me da mão. Peço desculpa.

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State of mind: Pior que um animal!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Perguntas parvas, adição simples, conselhos gratuitos e um aviso



Como só tive oportunidade de ver a ultima meia hora do jogo da bola, preciso de uma ajudinha dos estimados fregueses. E alguma paciência também. 

Ah! E uma bolinha vermelha no canto superior.


Perguntas parvas

Sem contar com golos em fora de jogo, quantas bolas entraram na baliza do FCP esta noite?

Se a probabilidade de um penalty dar golo é elevada, o que seria provável acontecer caso a falta sobre Suk, na área, fosse assinalada?

Um pontapé do Bruce Lee, se dado num jogo de futebol, é motivo para expulsão?

Adição simples

1 - 1 = 0

0 + 1 = 1

11 - 1 = 10

Conselhos gratuitos

Aos profissionais(?) de TV que gozam com o FCP, enquanto procedem ao relato da transmissão de um jogo no Dragão para um operador de Carn(ax)ide: IDE PARA O CARALHO.

Saber de cor estatísticas de jogadores e enumerar esquemas táticos ao sabor das respetivas hemorroidas, não te torna um comentador. Faz de ti apenas um humanoide que sabe utilizar o Google. Em suma, é preferível IRES PARA O CARALHO.

Aviso

Comer a palha que lhe tentarem impingir é uma opção de cada indivíduo. No entanto, a palha não transforma golos ilegais em auto-golos, nem penalties em vento. Se calhar, em vez de a engolir, diziam aos tipos da alfafa para IREM PARA O CARALHO.

Agradece a Gerência. Bem hajam.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Coerência não, obrigado.



O FCP esteve um ano sem perder no Dragão. Deve ter sofrido uns quatro golos e meio, ou assim, nesses jogos. A malta assobiava e acenava lenços, porque levámos seis em Munique e perdemos o campeonato do colinho. Por culpa do Lopetegui, naturalmente, e não dos árbitros. 

A verdade é que a maior parte dos Portistas não queria aquilo. Dava-lhes tédio e irritava-os. Ao ponto de puxarem do assobio ao segundo passe do Marcano para o Fabiano; ou ao primeiro do Maicon para a primeira fila da bancada. Eu não, como é sobejamente sabido e desancado. Está a maioria - e se o Porto somos nós, assim é que está bem - mais feliz hoje. Com toda a coerência.

Finalizo a análise ao jogo de Domingo dizendo que saltei com o Herrera, cabeceei com o Evandro e enfiei um palmadão nas costas do Espanhol que estava ao meu lado. Feliz. Eu. 

Sobre o árbitro, bem no penalty, mal na falta sobre o Brahimi na área e pessimamente assistido no lance do primeiro golo do Moreirense. Tenho mesmo dúvidas se o tipo de Moreira não foi buscar a bola às mãos do apanha-bolas, tão fora que estava. Afirmo isto com grande certeza e todo o orgulho. Em ser Portista.

Devia dizer cobras e lagartos da transição defensiva do Zé. Ou juntar-me ao coro e desatar a gritar contra o Presidente, por não fazer uma falta ou outra no meio campo. Mas sabem que para a gritaria dou pouco e anúncio-vos que para a coerência dou ainda menos. Esta semana. Porque não quero.

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Tenho o prazer, sempre renovado, de caminhar ao seu lado. Falamos de futebol, pois claro. E ele explica-me porque era impossível fazer mais em Dortmund e, pelo contrário, porque é que acha que o Zé esteve brilhante.

O gajo mais rápido que o Lucky Luke, o Albanês mafioso, o Alemão genial, a máquina atacante que nos dava 5 de outra maneira.

Eu percebo tudo, mas o desconforto mantém-se. Ele lembra-me Munique. Eu lembro-o de Bilbau. Da segunda parte na Baviera, com tudo já perdido. Ele ri. Seizum, Silva. Não tenho argumento para isso. Pergunto:

- E quinta? Jogamos como? Atacar, não podemos. Que levamos cinco. Defender bem? A ver se ganhamos por um?

Não tem argumento para isso.

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Esbarro no Zé, à saída do Shopping. Agarro-o pelojombros:

- Escuta, podemos levar seis. Mas mostra-me que queremos. Que acreditas como eu. Mesmo que achem que é uma parvoíce. Ou só uma coisa que se diz. Mostra-me que consegues, como eu, visualizar a fuga do Chinês, ou do Africano, pelo meio dos matacões militarizados. Ainda não passaram 10 minutos e já estamos à frente. Imaginas, como eu, o Dragão a empolgar-se quando o Magrebino meter a bola na gaveta naquele livre? 20 minutos de jogo, Zé. É o Moreirense de novo, mas agora para o lado certo. Para o lado luminoso da Força. 

Ele pensa por um momento, diz:

- O gajo que corre mais que o Bolt e o Albanês e o outro. Defender bem. Achas que não?

- Se fores consciente, é capaz de ser ajuizado. Mas é provável que percas. Mesmo ganhando. Sê tu próprio. Acredita que marcas 10 se eles marcarem 7. É a tua mais valia. É nisso que podes ser bom, Zé. Só valeu a pena saíres de lá vivo, se for para caminhares à beira de todos os precipícios.

Mostro-lhe a camisola nova:

- Vês?! Prometo que o nome nesta será o teu. 

- Isso não seria nada coerente.

- Não. Obrigado.

...

A ti, porque tenho a certeza que - diagonal ou não - aqui chegarás, prometo que faremos uma sessão de fotos porcas daqui a 30 anos. Eu e tu. E postamos tudo numa Tasca da vida, para cobrir de vergonha as crianças. As grandes e as pequenas que já nos encherem os dias. Não é disparate, é Amor.

E ai de ti que não te estejas a rir. Incoerentemente.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O verdadeiro pesadelo não é amarelo



Sim, sim, eu sei. O estado de graça, o tempo, as limitações, os problemas, os receios e os anseios. É isso tudo. Igualmente verdade é que o nosso jogo de ontem foi - mesmo com um Fiorentina (who?) vs. Totenham ao barulho - o de maior cartaz da Liga Europa. Porque era um jogo de Champions. E era. Este foi o estatuto que ganhámos. É o nosso palco. Danem-se os orçamentos, esperam grandes coisas de nós. Porque as fazemos com a regularidade suficiente. Já agora, isto é culpa do mesmo tipo que parece que foi ao campo meter o Indi no caminho daquele remate. Oh well... Não podemos ser pequeninos. Nunca mais. 

Depois, não consigo libertar-me desta sensação de Jesualdo no Emirates. De Lopetegui em Stanford. Há um lugar do meu cérebro que teima em comparar este Dortmund - uma bela equipa, sem dúvida - aquele Bayern. E, confesso, ganho aí um certo alivio. Estão longe. Na qualidade, na intensidade e, felizmente, na necessidade. Que ontem foi o primeiro jogo e não tinham o que recuperar.

Deixemo-nos de tretas, sim? Nós sabemos os problemas que enfrentávamos. Para os outros, isso conta coisa nenhuma. Defender bem. Como pudermos. Defender bem. Um é melhor que dois. Defender bem. Como der. Defender bem. Dois é mauzinho, mas três é muito pior. Defender bem. Para que isto não seja Munique. Irrita-me! E nem vamos começar a conversar sobre o que para aí iria se em vez de Zé fosse Júlio.

Entre a simplicidade, que lhe gabei, e o rasgo de génio, que não lhe antevi, o Zé ficou pelo meio. Assim, mas também. E perdeu. Mas não tudo.

Um gajo vai dormir em cima disto e de uma pá de porco assada - com castanhas e couves de Bruxelas - e, enfartado que está, só pode dar pesadelo:

" Entra o Zé para a conferência de imprensa. Só está mesmo a TascaTV, que o resto tem o que fazer em Lisboa. Estranhamente, o Zé masca uma pastilha elástica e apresenta uma farta cabeleira, encimada por um barrete de campino. Raios de conjunto, não joga. Primeira pergunta:

- Mister, uma derrota hein?

- E? EU nã dizêra antes kiste era um tréne? A MIM m'importa. - Encolhe ojombros. - EU estou focade, amigue. Concentradíssime, sócio. - Juro que num instante, breve, se transformou num holograma do Futre todo nu, ladeado de belas mancebas enojadas. Infelizmente, todas vestidas. Segunda pergunta:

- E o jogo, que tal? - Responde de novo o estranho Zé. Retenho o refluxo com gosto de pá de porco, provocado pela nudez do outro. Credo.

- O jogue... - Coça o topo da farfalhuda cabeleira. Já não vejo o barrete. - O jogue começára bem e ira pra melhor. Majóspois vei'ocabrão do prete e metêraçàfrente da bola. Prontes, estragou tude.

- Quem?

- O que fôra expulse, sei lá o nome do môce. EU não decore os nomes dojôtres. Eles é que decorem o MEU. Tájaperceber?

- Ena, ca puta de confusão. As suas opções... - Ele interrompe, enquanto lhe cai uma melena para as vistas. Atira-a para trás.

- Ohohohoh, calma lá co'isse. Estes coxes lá conseguem jogar duas vezezásemana? Nem pensar. Se tu tens hemorróides, não te põejacoçar a peida.

- Hemorróidas, hein? Que classe...

- Ach'engraçade. - Ri-se para a plateia.

- A eliminatória está perdida?

- Fáce lá ideia! Pra MIM não. EU já ganhei a estes gajes. Agora, com estes manques, podemes perder. Aliás, ELES podem perder. Também, não interessa nada. Keremezéser os máiores aqui da zona do Barreire. Montije, Alhes Vedres, talvez mesme Pinhal Nôve. A ver é se me ponhamexer daqui pra fora. Senão, nunca mais ganhe nada de jeite. Fui.

Lá fora, uma multidão em delírio espera por ele. Para o aplaudir e reverenciar."

Acordo em pânico. Falta-me o ar. Emborco a metade que sobrou da garrafa de Água das Pedras. Mais calmo, lembro-me da parte do jogo do FCP de que gostei mesmo: As declarações no final.

O Zé, o verdadeiro, explicou-se - concorde-se ou não - deu os parabéns a um justo vencedor e não se deu por derrotado. Não menosprezou a Europa, não mostrou indiferença perante uma derrota e garantiu que a equipa a ia reverter. Or die trying! Disse sempre NÓS e nunca EU! Obrigado Zé.

E obrigado Presidente, por ser José e não Jorge. Digo, Jergo. Nunca. Prometa-me isso, sim?

...

Soundtrack to nightmares: Dreamtime!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Pacotes de açúcar



- Hey Zé, tass? Fortes?

- Defender bem. Tá tudo, Silva. Defender bem. Tira aí uma bica pró caminho, ohfaxabor. Defender bem. E embrulha-me duas bifanas e um pão com isca. Defender bem. Não gosto nada de salsichas. Defender bem.

- Cimbalino, Zé. Aqui é cimbalino. Se o Vassalo te ouve...

- Defender bem. Pode ser isso então. Defender bem. Mas italiana. Defender bem.

- Curto, Zé. Diz-se curto. - Ponho-lhe a chávena à frente.

- Defender bem, obrigado. Silva.

Dispensa o açúcar e bebe o café de um golo apenas. Gluc. Mantém o líquido quente na boca, a saborear, enquanto lê o pacotinho.

Engole já quase em seco. Olha-me um pouco pálido. Sorri. Roda o banco do balcão e procura ajorelhas no meio das mesas pejadas de fatos de treino azuis. Grita:

- HECTOR!! - E corre para um abraço, deixando o pacote de açúcar amachucado no balcão. Endireito-o o melhor que posso e leio:

" Um dia, acordas bonito e deixas de ser apenas um simpático patinho feio. Hoje é esse dia."

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O ADN da Ciberlândia



Eu não conheço nenhum blogger. Tenho a felicidade de conhecer algumas pessoas que, utilizando ferramentas ao alcance de qualquer indivíduo com acesso à internet, criaram blogues. A diferença, como em muitas coisas nesta vida, está no dinheiro. Quero eu dizer que um blogger ganha influência em determinada área, torna-se um opinion maker de um setor e, como corolário - e algumas vezes à partida - ganha dinheiro com isso. Destes, não conheço, estou em crer, nenhum. Let alone um fulano que, embora muito bem parecido, tem um blogue sobre absolutamente tudo. Que é o mesmo que coisa nenhuma, já se vê.

No entanto, e por razão da nossa humana condição, é inevitável que o feedback dos comentários, as estatísticas que as ferramentas disponibilizam, até algum glamour que está sempre associado a sermos um pouco mais que o nosso circulo restrito, levem estas pessoas que investem o seu tempo por mera carolice a tomarem-se, por vezes, demasiado a sério. Ou então não é carolice nenhuma. Acredito, com base em mero feeling empírico, que existam agendas e alinhamentos. Pode ser. Contínuo sem conhecer nenhum desses. Também.

Eu próprio já experimentei a sensação fantástica de ouvir falar de mim - pouco importa se bem ou mal - pessoas que nem sei quem são. Onde moram, com quem vivem, onde comem, não faço ideia. É giro, garanto-vos. E a Tasca tem um nível de visitas perfeitamente ridículo, posso assegurar. Imagino portanto o que acontece ao pessoal que é lido por cem, ou mil, vezes mais gente. Mesmo sem dinheiro envolvido, sem agenda prédeterminada, é muito possível que isto traga uma certa responsabilidade.

Não no patamar do "ai que tenho que ter cuidado". Felizmente, o que a social media tem de bom é a proliferação de opinião e esta sensação de um bocadinho para toda a gente. Cada um diz, sem dinheiro e sem agenda, o que lhe der na gana. Mas a auto-imposta responsabilidade de pugnar em contínuo pelo que se julga o caminho certo. Porque há quem vá atrás. E no fim do dia, o que fica são os posts, os respetivos comentários, as concordâncias e as discordâncias. O resto foi espuma. É tanto assim, que temos quadrantes bem definidos, por exemplo, na bluegosfera. Engraçado.

É muito provável que este grupo - restrito! - de pessoas que escrevem, comentam e debatem sobre, neste caso, um Clube, acabe por ter um peso que não supunha vir a ter. Também é natural que possa, de alguma forma, ser influenciado por ele. O peso. O que não podem é perder de vista que isso tudo é muito pouco. Ou seja, que a imensa maioria lê os jornais, vê as TV, ouve as rádios. E aí está a verdadeira capacidade de fazer opinião.

Portanto, bater, algumas vezes por aparente ciume, a torto e a direito na comunicação do FCP - do Porto Canal, passando pela Dragões Diário, acabando nas intervenções (cada vez mais frequentes) do Presidente - é bastante parvo. É que já vi a DD ser mais vezes citada nos Mass Media que qualquer blogue. O que significa, por maioria de razão, que aquela E-newsletter - NÃO, NÃO É UMA NEWSLETTER, falta-lhe o papel para isso! - é mais eficaz a passar a nossa opinião do que qualquer de nós. E perdoem, mesmo, estar a incluir-me. É por mera facilidade de discurso. 

E se em vez de desancarmos os media do Clube, lhes disséssemos que esperamos apenas que eles - e não os outros - nos visitem? 

(Vos visitem, pronto. Também não é preciso moer a moleirinha aos moços com tanto disparate.) 

Que vos leiam, sintam quais são os temas que vos preocupam e alegram. Sintam esta parte da massa adepta. Sim, porque se trata APENAS de uma parte. Minoritária até. Mas é uma que pensa o Clube e a sua Indústria. Nos artigos, de todos os quadrantes, e nos comentários. Sem ordem hierárquica, que já vi muito post estúpido ser salvo por comentários brilhantes. A começar aqui em casa.

Não é preferível ver plasmada a nossa opinião num orgão do Clube do que nas palavras de um cronista, comentador, jornalista? Com a assinatura do respetivo por baixo? Nunca aconteceu?

O facto de estas pessoas investirem o seu tempo - durante o qual podiam estar a ganhar dinheiro, ver fotos da Charlize meia nua, coçar os tomates ou outra coisa qualquer igualmente produtiva - significa que querem ser ouvidas. Isso é muito bom. 

Eu não quero nada da DD, porque não subscrevo. Não tenho interesse em ser informado do quotidiano do FCP e nem de conhecer a posição interna em relação às várias questões. Faço isso através dos blogues que visito, nomeadamente os colados aqui ao lado, sob "Bons Vinhos e Petiscos". É uma opção minha. Apesar disso, acho mal que seja desancada a torto e a direito. Porque disse, porque não disse, porque foi tarde, porque foi cedo, porque foi em amarelo.

Sobre o Porto Canal, que não tenho, pode ser que fale mais tarde. Ou não. Mas penso exatamente o mesmo. Deixá-lo na lama perante os Portistas serve para quê mesmo? Para o melhorar? E melhorá-lo é o quê? E isso não é mera opinião?

Vai daí, e exclusivamente porque não o vi ainda feito, muito possivelmente por pudor ou modéstia, eu digo:

Hey, Comunicação, o que eu espero da DD e dos espaços de debate acerca do FCP no Porto Canal e, também, na informação que transmitirem ao Presidente - se isso acontece - antes das suas intervenções, é que passem pelo Porta, escutem o Vila Pouca, leiam o Tomo, atentem ao Universal, prestem atenção ao Lápis, deliciem-se com o Imbicto, aprendam com o Tribunal. Se for só pelo gosto da leitura, não podem perder a Miss BlueBay, no Bibó. E não deixem de ter em conta o que se diz em tantos outros locais da Ciberlândia: Os que refletem, os que se orgulham, os que contam a nossa História, os que se rebelam e os que se conformam. ISTO (também) É O PORTO.

São muitos, eu sei. Eu fiz a minha seleção, vocês não podem selecionar. Mas hey, diz que vos pagam para isso. E muito mais.

Ah, está claro, apareçam na Tasca para um 3 Marias f'esquinho. Não é garantido é que esteja a dar a bola.

E sim, estamos do mesmo lado. Certo, pessoal? É que o ADN que faz falta não é só o dos outros.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Os mortos andantes



Por fim, fui convencido a ver o "The Walking Dead". A mais que tudo usou aquela sua maneira única de me levar a fazer o que ela quer. Maijómenos assim:

- 'Moooor... - Em fundo fala o brasileiro no meu espertófone:

- Próximo êxêrrcicio, flexõiss. - A arfar:

- Diz, puf, puf. Filhadaputadepanasca, faz tu as malditas flexões, puf, puf. - Ela, sem tirar ojolhos do PC:

- Toda a gente que conhecemos já viu isto dos mortos caminhantes. Não queres ver comigo? - Brasuca:

- Próximo êxêrrcicio, ágáchamentôiss. - Eu, em posição de quem vai mandar um fax de braços estendidos:

- Não. Se toda a gente vê, eu não quero. Ai os meujoelhos. - Em pé, a ver se não me esbardalho. - Sim, sou assim tão embirrante. E não me ponho mais de cócoras. Dass, capaz de dar um jeito aos costados. - Viro-me para ela. Depois de meio agachamento e duas flexões, sinto-me o six pack do Rocky Balboa, há 20 anos atrás. Está de fones, ojolhos no ecrã, a poupar-me o olhar parecezomêpaicoatuidade, mas em mai'bonito. Diz:

- Anda, anda, vai começar. Tomas duche depois.

- Hein?! Já disse que não quero, porque acho que...

- Shhh, cala-te, já tá a dar.

...

Isto dos mortos que caminham - como o João do scotch, mas sem a bengala - tem um enredo simples:

Uns estão vivos, outros estão mortos mas não há meio de perceberem e querem comer os primeiros. Pelo aspeto e pela filosofia de vida, são assim uma espécie de adolescentes dos 80's a verem o "Marés Vivas". Baba incluída, mamocas balançantes excluídas. O que é pena.

Acho indecente a discriminação aos mortos-mortos. Não contam para nada. Ai estás vivo? Pega lá uma sachola e vai matar mortos. Dass, parece o 5lb a jogar contra o Belém. 

Ah, espera, seu magano, isso não é lama de andares de motoquatro por as matas com ojamigos, mariconço. Tu estás é coberto de vísceras porque faleceste. Et pur si muove! Então vai já atrás da loira menos má, a ver se lhe afinfas uma dentada numa nalga. O amigo aí ao canto, o morto morto, faxabor de ir andando e não atrapalhar quem trabalha. É isto.

Quer dizer, se estiverem mortos mas conseguirem ficar de pé e emitir uns grunhidos, têm trabalho garantido. Vivos que utilizem a ferramenta de trabalho para dar cabo da cabeça aos outros, também. Parece uma repartição de finanças.

Mas agora encontro-me viciado nesta coisa e ainda me faltam umas 50 temporadas. O que me irrita é ninguém explicar como é que o apocalipse se deu. Nem porquê. Terá sido uma experiência militar? Uma bactéria que escapuliu? As tensões do Octávio terão sido um sinal? O Zika?

Enfim, na categoria de "diversão a ver monstrengos a serem espancados", não está mal. Mas o nosso jogo no galinheiro foi bastante melhor.

...

E então, esta manhã, num processo de transferência temporária desta velha carcaça para a Capital, dou com um bicho no casaco. A espreitar da aba, cheio de antenas e assim. Mesmo a pedir um piparote. 

Só que é muito cedo e a parte de mim acordada é, exclusivamente, a parva.

Penso: E se este bicho estranho é o agente do fim do Mundo? E eu o paciente zero. Foda-se, vou esmagá-lo. 

Espera, podia levar o bicharoco para Lisboa. Pimbas, soltar o Inferno no Seixal. Ou em Alcochete. Construía-se um muro alto ali por alturas de Leiria e pronto, ficávamos com os apitos só para nós! A ver se não recuperávamos os pontos todos ao Jergo. E mais bem governado que ficava o país.

Entretanto chegou o comboio e enfiei um piparote ao insecto que o desfiz. Quer dizer, pelo menos ainda não voltei a vê-lo...

...

- Pedro! - Imperativo.

- Sim, Senhor. - Atrapalhado.

- Já soltaste a praga? - Desconfiado.

- Sim, Senhor. Só que... - Atrapalhado.

- Ai! Eu vi logo. Fizeste tudo conforme combinado? O bicho pra cima do anormalóide e tal? - A ira a crescer.

- Sim, Senhor. Mas... - A coçar a cabeça.

- Porra pá, sempre a mesma coisa! Não fazem nada como deve ser. É o que dá esta treta dos empregos vitalícios. Qualquer dia dou-te um piparote que te desfaço.

- Pois, foi mesmo isso Senhor.


...

Soundtrack to living dead: Black sabbath (4 xôr Costa)


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A literatura da simplicidade e campos de flores amarelas



O Murakami talvez vocês não conheçam. É seguro que um dia destes ouvireis falar dele, porque acabará por ganhar um, para já adiado, Nobel da Literatura. O Murakami é Japonês e escreve bem que dói. De dar inveja. Eu vou-lhe roubando umas quantas coisas, - os "está claro", por exemplo - umas vezes de propósito, outras sem querer. 

As suas personagens têm uma forma muito própria de lidar com as situações. Uma espécie de resignação consciente que impele à ação, mesmo que a ação seja ficar completamente quieto. Este paradoxo é a verdadeira magia da obra do tipo: Aceitar o que se posta diante dos olhos, por inverosímil que seja, sem procurar justificações ou causas ou consequências. É assim e é com isso que tem que se lidar. E é-se feliz, mesmo que seja aos bocados.

As mais das vezes, as personagens de Murakami carregam uma culpa qualquer. De serem o que não querem ou de quererem o que não são, de procurarem algo ou de serem encontradas inusitadamente, de preservarem a sua paz à custa de violência extrema ou de serem violentos pela paz de outros. O que nunca acontece é encontrarem um significado outro para o que representam, na sua leitura mais simples, as ações, os momentos e os sentimentos. Como se cada coisa fosse um fim em si própria e nunca um meio para que dela se faça algo. Por isso passam as páginas a polir as palavras, os atos, as paixões, os encontros e os desencontros, com mil cuidados. 

Tudo acaba no instante em que acontece. Mesmo que nunca aconteça. O amor e o ódio, o sucesso e o fracasso, são pedaços de Mundo - por si - para os quais não existe uma lei necessária que obrigue a que conduzam a um desfecho. Os fins são sempre dos leitores. Como se o jogo perfeito não precisasse de ser jogado.

Claro que o Murakami às tantas desatou a ser lido por uma quantidade de gente. Espero que se divirtam com as peripécias de um tipo vulgar, sempre vulgar, que vai ao encontro de um homem-ovelha que, muito provavelmente, é o último resistente comunista. Ou com as desventuras do Tengo, que vai ter um filho de uma mulher com quem nunca foi para a cama. Mas deu-lhe a mão, quando andavam juntos na escola. Não havendo na História nada de mais corriqueiro, está claro. A não ser, possivelmente, encontrar uma entrada para outra dimensão no fundo de um poço que funciona como ponto de fuga. 

Quando ponho isto assim, percebo porque é que uns quantos o detestam e outros tantos acham que se trata de literatura de cordel. Se calhar é mesmo. Momento este em que escreveria Irene: Não sei que diga, não sei que pense.

No fundo, trata-se de encarar a vida no extremo da simplicidade: É sempre bonito um campo de flores amarelas. Ponto.


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Alça pois o nosso FCP para a Germânia. Consta que cheio de dúvidas e problemas. Com medos mil das consequências que advirão das escolhas que forem feitas. Uma escuridão.

Olho para o Zé e calculo que se enovele a sua mente, carregadinha de esquemas e hipóteses e possibilidades. Ou então não: Olho para o Zé e vejo uma personagem de Murakami. No sorriso de repente, a escapulir honesto. No encolher de ombros sem ensaio: É isto, está claro. Não é como se pudesse ser de outra maneira, portanto continuemos para a frente. Se é para a frente que queremos ir.

Confesso que não vislumbro um rasgo de génio. Mas é um tempo tão cheio de génios, de brilhantismos, de foras de série e sobredotados, que já fico na dúvida. Se tantos são tanto, não serão os olhos que os medem mal? Ou conforme lhes convém? E então deposito renovada esperança no que é simples, no que não rebusca uma solução para lá da compreensão do vulgar. O que aceita o contexto e o cenário e sorri para ele. Confiante.

Se leio bem o Zé, teremos mais um menino meio imberbe em estreia, e outro, mais rodado, a tentar fazer as vezes do pilar de ébano - credo! - do nosso meio-campo. Nenhum deles estará à altura da missão, a menos que todos os outros estejam. Se a equipa for equipa, prevalecerá. 

Simples, como um campo de flores amarelas.


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Soundtrack to yellow flowers: Wild!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

A vitória do Zé e o assalto à mão armada

É na OUTRA baliza, Bruno!

Já vi o FCP ganhar em Lisboa bastante fechadinho lá atrás. A disparar Kostadinoves e Domingos - e a incrivelmente épica correria de um Romeno que nos deu a mais gloriosa das vitórias. Ontem não, digam o que quiserem da contabilidade de oportunidades e da eficácia. Tudo coisas que só contam para um lado. Para uns pragmatismo genial, para outros uma sorte do caraças. Have it your way.

Isto é uma vitória do Zé. Ciente da fragilidade defensiva do seu sistema e, neste momento específico, do problema em escolher jogadores, fez o que tinha que fazer: Atacar. Não prescindiu da âncora do meio-campo, não prescindiu da identidade. Arriscou, com aquele sorriso meio aparvalhado, meio labrego, que o caracteriza. Como se fosse normal não sentir tremores nas pernas perante as circunstâncias. E perante o rolocompressordiabólicóestonteante. Estás coberto de razão Zé. É normal! Os Dragões somos nós.

Dito isto, importa não fazer de conta que estivemos mais perto de marcar mais golos que os lampiões. Não estivemos. Convém não escamotear os desequilíbrios, as falhas de posicionamento. A sofreguidão que fazia todos os ressaltos caírem nos pés errados. Assim como não tem mal nenhum ser franco e assumir que foi uma noite de San Iker. Espantoso. Isto é tudo verdade. 

Assim como é claro para quem quiser ver, que só porque houve chama alta de Dragão, coração, qualidade e muita - muita! - coragem, é que a maravilhosa exibição do nosso portero serviu para alguma coisa. Para muita coisa até. E isso, é uma vitória do Zé.

Eu não sei se Lopetegui teria ganho este jogo. Sei que sofreríamos menos, que controlaríamos mais e, provavelmente, melhor. Também sei que aquele atempado golo do empate, dificilmente surgiria daquela maneira: Um lateral subido, quatro homens na área, um médio a receber, rematar e festejar. Sim, quatro homens na área, que muito contribuíram para o espaço aberto para o remate redentor do nosso Patinho Bastante Feio. Do mesmo modo, a quantidade de vezes em que estivemos em desvantagem e, ou, perdidos como baratas tontas na nossa defesa, aconteceriam menos. E aí houve Casillas. Mas também André fora de posição a atrapalhar Gaitan, por exemplo. Dedo teu Zé.

Mas toda a gente que atira com Peseiro a Lopetegui, que amaldiçoa a "herança", culpada ela - a herança - por todos os males do próximo milénio, devia pensar no que aconteceu no período de jogo em que fomos mais Lopeteguianos. Depois do 1-2. Aquela parte em que o 5LB não voltou a criar um lance de perigo. Porra, terá sido a equipa que recuperou a inteligência e soube dar ao jogo o que o jogo pedia? Ou foste tu, de novo, Zé? Com o Ruben, com o Marega, com o Varela. Assim ganhas-me.

Foram todos brilhantes. Não é verdade que tenham sido, mas agora parece. Iker brilhou mais, no momento certo. Como Helton em Braga. Mas de todos os paradones de ontem, para mim, o melhor foi ESTE. O próximo, meus caros. É o próximo que fará este valer. 

E Chidozie? Digam-me alguma coisa que eu não tivesse visto antes.


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Agora mesmo, há registo de um assalto à mão armada e à descarada, no Olival. O FCP B perdeu com o Famalicão. Com um penalty que já está nomeado para o Globo de Ouro na categoria "Melhor Comédia". Isto depois de nos terem escamoteado um outro penalty, este sim, clarinho como água. É capaz de ser do novo patrocinador, os penalties nesta Liga passaram a ser chineses.

O adversário bateu forte e feio em tudo o que mexia, sobretudo no Francisco Ramos. Ninguém o manda ser irrequieto. Claro que no fim do jogo o Ramos tinha um amarelo. Bem feito. 

No último quarto de hora, o adversário foi acometido por uma caganeira de tal ordem que passaram mais tempo no chão a rebolar do que em pé a dar pau. Felizmente estava lá o xôr árbitro, para garantir que todos recebiam a devida - e proloooooooongada - assistência.

Se não fosse tão recorrente e sempre a pender para o mesmo lado, tinha piada. Enfim, vamos ao que é mesmo importante nesta coisa da equipa B:

Estamos numa fase complicada da época. O físico pede algum descanso - que não haverá - e a ideia de jogo ressente-se com as várias adaptações, fruto de saídas, empréstimos e promoções. 

O Francisco Ramos é um grande jogador e está pronto para qualquer desafio; o André ainda não recuperou o momentum que perdeu na A; Gleison e Graça, apagados; Verdasca ainda a anos luz de Chidozie, mas a caminho; Tomás certinho e útil, mas sem o andamento de Omar; Garcia continua na fase kéjbereuacentrarpáscouBes, qual Angel wannabe; e Ismael... Bem, Ismael não se viu, excepto por... um breve e hulkiano momento. Grande golo de um futuro grande jogador.

As melhoras aos moços de Famalicão. Se a caganeira não passar, metam o árbitro mais os bandeirinhas no cu, que tapa. E não se perde nada.

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A message to mister referee: Up yours!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Outra palestra da Cremilde e uma sugestão ao Zé (em noite de San Iker)



Um dia a Cremilde acordou bonita. Não se ouviram sininhos de fadas, nem ninguém notou luzinhas de perlim na barraca de zinco. Dormiram todos ferrados, num sono de fome e de cinzentos. Como sempre. 

Ainda por cima, tinha chegado aquela altura do mês em que é Inverno por mais que brilhe o Sol. Frio de quarenta graus sob a torreira das chapas do casebre. Uma chuva permanente nos olhos e trovões nos estômagos mirrados. Os dias em que olhar para os cachopos era ainda mais difícil, de mãos vazias. Sem promessa que se pudesse fazer de côdea para amanhã. Assim adormecera.

Quando se viu no pedaço de espelho em frente da tina de plástico, ansiou por um trago de Blimundo pão duro que lhe tirasse das vistas a miragem. Mas o pão, duro que fosse, era demasiado precioso para ser gasto em literárias artes mágicas. Para além de que não fazia ideia de onde lhe vinha aquele nome Blimunda. Ela, toda a vida feia, sabia só que acordara bonita. Nem tempo havia para duvidar disso, que a hora era de se levantar o Sol para o Mundo e de esfregar o chão do talho para ela.

Com a cabeça cheia de o que será que se comerá à noite e os calos a ferirem-se no cabo da esfregona, nem notou que o patrão entrou cedo. Fresco da cara barbeada e ranço de tudo o resto. Menos da alma, que era podre. Ele sim, pôde espantar-se do estranho acontecido. Bonita que acordou a Cremilde. Jeitosa, mesmo por baixo dos andrajos e do sebo. Imagina-se que haja sebo. Apressou-se:

- Mas que diacho, mulher. Acordaste assim, como que de repente? - Ficou sem resposta, mas não sem um pedaço de nalga que já apertava na mão sapuda. Ela saltou da estranheza de alguém a querer agarrar e encarou-lhe os olhos mortiços.

- Que me quer o senhor? Deixe-me acabar o trabalho e ir-me à minha vida.

- Deixo, deixo. Pois claro que deixo. Mas antes vens ali comigo à geleira. - E sorria lúbrico. - Contar as carcaças. Levas um naco de figadeira se te portares em condições. Se não quiseres, não precisas nem de terminar a limpeza. Pões-te a andar assim esfomeada. E esfomeado fico eu também.

O que não tem solução, está remediado à partida. Com os seus novos lindos olhos no chão, inspecionando o primor do soalho já limpo - que caminhar para o cadafalso não é motivo para se perder o brio - ela seguiu os passos do asco. Entrada na câmara frigorifica, encarou-o:

- Ande, despache-se com a roupa. Tenho o chão para esfregar.

- Podes começar a esfregá-lo já aqui, querida Cremilde. Com os joelhos. - E já quase arfava pelo meio das palavras, enquanto, livre do cinto, baixava as calças de bombazine. Logo seguidas das trusses de algodão. A puxar pelo prepúcio da famélica pila, acenou-lhe com a cabeça.

Talvez ela o tivesse visto logo que entrou. Ou soubesse antes que lá estava. As coisas que as mulheres conhecem são mistérios insondáveis até para alguns Deuses. Pode ser de ter ido de olhos no chão ou apenas porque tinha acordado assim, bonita. Ou Blimunda.

Ao mesmo tempo que se ajoelhava, estendeu o braço direito o mais que pôde. E quando, inevitavelmente, os seus lábios hoje nada gretados afloraram a pele logo acima do pénis do seu algoz, a mão fechou-se num gancho de pendurar os cadáveres bovinos. Perdido no chão.

Ele fechou os olhos a antecipar o prazer. A sentir o seu ego macho a inchar, como as veias do seu falo cobridor. Mais devagar, se de todo, as últimas. Mas o poder - ah o poder - é orgasmo que chegue.

Ela olhou para cima por um segundo. Viu-o de olhos cerrados e sorriso colado. Guardou o vómito e cortou-lhos rentes.   

Depois do grito de dor, a tapar o jorro de sangue que lhe tomava o lugar da pila com as mãos, ele pensou em insultá-la e ameaçá-la. Cedo percebeu que era tarde. A última vez que o talhante viu a Cremilde, ia ela com um vitelo às costas. Ligeira. Bonita.


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Zé, nenhum medo. És Dragão. Sois todos. Mesmo os que não souberem. De Dragão para Dragão, sem promessas de sucesso nem ressentimentos se não cumprires, aqui te deixo a minha sugestão:

Iker; Maxi, Chidozie, Indi, Layun; Danilo, Hector, André, Brahimi; Marega, Suk

Tu sabes do que é que eu estou a falar...


...

E depois do Carnaval, comemoramos a noite chuvosa de San Iker. Haters gonna hate, but we're back bitches!