segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Nomes - Trilogia da Abelha: P._G.



Chego a assustar-me. Está muito pálido e com os olhos em alvo. Já vi pessoas a morrerem, outras já mortas, algumas que respiravam mas já tinham, de facto, morrido, e guardo a cor e o olhar de cada uma.

Há um processo mental de negação do susto que nos leva a ficar quietos e calados. Como se o silêncio funcionasse como gelo, mantendo o corpo preso por um fio, estacando por instantes, breves e suficientes, o avanço da morte. Ou da dor. Falo baixo, na esperança de manter intacta a paz da Tasca à volta dele. Não o deixo escorregar para a luz:

- Sente-se bem, avôzinho? - Estou de joelhos ao lado da sua cadeira, uma mão no ombro dele.

- Nem sei, Silva. Isto vai dar cabo de mim. Já não tenho idade para surpresas. - O facto de articular palavras, e elas fazerem sentido, soa-me como o estalar do foguetório na festa aqui da terra. Cada rebentamento um abraço, cada cana um suspiro de alivio.

- Mas que se passa? Quem ainda morre de susto de o ver assim sou eu, raisparta homem.

- Sempre que penso que lhe apanhei o fio, aparece-me uma montanha maior.

- Os papeis? A sério que é por isso? - Quase irritado.

- Pois claro. Vou ter que recomeçar, praticamente. Veja lá se isto faz algum sentido. - Estende-me um quarto de folha de papel pardo, rasgado à mão.

" Nomes - Trilogia da Abelha: P._G.

Tenho-te na polpa dos dedos
como antes nenhuma paixão.
Deslizo a minha pele na tua, etérea,
cibernética, feita de letras
e milésimas intenções.

De zero a um, guardas-me do vento
no calor de seres quem eu quiser
e desaguas na minha gargalhada
que não ouves,
nem sentes.

Amanhã acordaremos telepáticos,
cansados da noite gloriosa
que não dormimos,
molhados do amor liberto
que nunca fizemos."

...

- Bolas, mudou o género.

- Percebe? - Descaem-lhe um pouco mais os ombros.


domingo, 29 de novembro de 2015

Domingo B e a gestão de expetativas


Jogaram os B, esta manhã. Por nada, só porque sim, lembremos que jogou o líder, nós, contra um dos últimos, o Covilhã.

Jogo típico de II Liga: Muito físico; trezentos e cinquenta a trezentos e setenta e três ressaltos por cada jogada; onze latagões apostados em cumprir a máxima "se não ficas com a bola, rebenta um gajo qualquer, desde que não seja dos teus"; público muitíssimo irritante a tentar arbitrar, com razoável sucesso, o jogo; e uma claque saída direitinha do Grupo Coral "As Anas Avoilas".

Como se percebe, não é fácil para os nossos cachopos encarar isto. É seguro que este não é o tipo de futebol para o qual os estamos a preparar, supostamente. Ainda menos quando o Francisco desata a herrerizar. O nosso jogo emperra sem remédio, porque o Graça sozinho não consegue fazer a máquina carburar.

Valeu pela raça e entrega, a quase equivaler o bando de trauliteiros vestidos de Calimero. Melhorámos na segunda parte, ao ritmo a que os lenhadores da serra foram perdendo gás. Mas nunca o suficiente para desequilibrar em definitivo a partida. Podíamos ter ganho, lá isso podíamos. Mas assim também está bem. Sobretudo tendo em conta que os moços vão no terceiro jogo da semana.

Algumas muito boas impressões:

Gudiño: É uma espécie de Mly, com a pose de um Iker. Que classe. Ah, segurou o empate numa defesa impossível e defendeu duas bolas com uma mão apenas. Nenhuma delas caiu dentro da baliza.

Chidozie: Wadafuck?! Se este  rapaz jogar regularmente 80% do que mostrou hoje, é trocá-lo já com o Lichnocoiso. Vai ser um caso muito sério.

Graça: Nunca dei muitos reis de mel coado por este moço. Mas a verdade é que está a fazer uma época excelente. E mesmo num jogo em que foi difícil...jogar, esteve sempre a duzentos e foi o único naquele meio campo que conseguiu dar uma ideia do que é o futebol da equipa. Saiu em vez do Francisco. Go figure.

...

Ontem, pela noite, jogaram os A. Se não estivessemos em depressão profunda, era uma bela ocasião para uma série de clichés: "Estrela de Campeão"; "É nestes jogos que se ganham campeonatos"; "Ganhar quando se joga mal é muito importante". Ou seja, um monte de frases feitas que querem todas dizer o mesmo: Não jogámos um caralho, mas ganhámos.

Confesso que nunca dei para esse peditório. Sempre achei que quanto melhor se joga, mais perto se está de vencer. Aliás, esse é um dos motivos que me leva - sim, Presente do Indicativo! - a acreditar que ganharemos com Julen Lopetegui. Por isso, a bem da coerência, e apesar de ter visto o 5LB de Trapalhoni ser Campeão, jogos como o de ontem deixam-me mais triste que outros, como o do Dragão contra o Braga. Não tenho nada contra quem pensa de maneira inversa, só não concordo.  

Como estamos com uma congestão do camandro desde terça-feira, é natural que nos fiquemos apenas pela parte do piço. E por uma velinha a San Iker, que bloqueou três pontinhos com a mesma eficácia com que despacha malta da sua conta no Twitter. E outra velinha, sem ofensa, ao Yacine, por se ter lembrado de inventar um golo que não se estava a ver como ia aparecer.

O facto é que um dos primeiros, nós, jogou com o último, o Tondela. E ganhou. Apesar disso, não pareço tão condescendente com estes como com os B. Que empataram. Assim como fiquei orgulhoso da malta do Andebol, que perdeu e ficou numa situação praticamente impossível na Champions. Ainda pior do que ter que ganhar em Londres ao Chelsea. Parece um contra-senso, mas não é. É uma mera questão de expetativa.

Perder um jogo em dezasseis pode deixar muito satisfeitos quase todos os adeptos. Se a expetativa deles for perder três em dezasseis, quatro em quinze, dois em doze, ou assim. Não deixa satisfeitos os adeptos que, quinze jogos passados, precisam de uma vitória - caramba, um empate! - para verem cumprido o primeiro grande objetivo da época. É verdade que é exigente, but it comes with the job. À conta disso, creio, já houve quem abandonasse a cadeira de sonho. Sim, isso, o tipo que vai em quarto no campeonato russo...

O futebol do FCP atingiu um estatuto que legitima as aspirações, isto é, as expetativas, dos seus fieis seguidores. E não estamos aqui a falar de putos de doze anos, biológicos ou mentais, que jogam FM e tal. Os que pensam também têm a fasquia lá em cima. 

Não queremos - os que apoiam, os que contestam, os que dão o peito às balas por Bascos teimosos, os que davam o rabo e cinco tostões por verem Bascos teimosos pelas costas - baixá-la. Desde logo porque as hastes se querem para cima. Depois, e sobretudo, porque gostamos mesmo de estar mal habituados. Já ganhámos muito e temos muito mais para ganhar. É por isso que exigimos mais aqui do que no Andebol, ou na B, ou no hóquei, ou no que quer que seja. O que ali nos deixa felizes, aqui é mera obrigação. Só o fantástico nos causa espanto.

Acabaram-se as paragens para as Seleções, pelo que vamos ter que levar isto de enfiada. Para já, no mini-ciclo de objetivos internos da Tasca, a coisa vai maijómenos: 2 jogos, 2 vitórias. Isto é o mais. Quase nenhum brilhantismo. Isto é o menos. A seguir a Madeira, o borrego e a redenção. Sim, Julen?

- Siiiiiiiii!




sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Resumo da semana: Escatologia.

Não sei onde gamei, mas acho que é mesmo o que parece...


O termo "escatologia" tem muito que se lhe diga. De uma maneira geral, as pessoas acham que se refere a excrementos e fezes e assim. E é mesmo. 

Mas, por outro lado, designa igualmente a teoria do fim do mundo e da humanidade e das coisas que sucederão depois disso. Como se alguém quisesse saber do que acontecerá depois de nada mais poder acontecer, mas enfim. Ou seja, se vier mesmo o Fim do Mundo em Cuecas, estas estarão, pelos vistos, bastante borradas.

...

O Presidente Aníbal deu posse ao 21º Governo Constitucional, doravante conhecido como o Governo do Toino, by Cata e Jéjé.

Foi uma cerimónia um bocado aborrecida, como acontece sempre nestes casamentos por conveniência, ou preguiça, ou despeito, ou o raio que os parta. O pai da noiva deixou claro que aquilo não lhe agradava mesmo nada e que ela estava bem era com o namorado que tinha em antes. Achei uma coisa bastante racista, mas a dama Van Dunen não protestou, pelo que deve ter sido impressão minha.

Já o noivo, pareceu-me mais aliviado do que feliz. Como se tivesse posto as manápulas numa pipa de massa, que lhe dá à justa para pagar as dividas de jogo a uma malta chinesa que conheceu à porta do Casino. Deixa lá Toino, são seis meses de bodo aos pobres. Depois é forçar eleições e ganhar com a maioria absoluta dos votos apalavrados na boda.

Quanto ao namorado encornado, mais ao seu sócio imprestável para ménages - a menos que envolvam a base do Alfeite - estava com um ar...como dizer? Obstipado.

- Hã? Constipado? Ele que tome uma dessas pastilhas que você emborca.

- Não pá. Obstipado!

- Quê?

- Entupido de trampa até ao esófago. Dass!

- Ah! Fale Português, homem.

...

Ontem estive pelo Ribatejo, terra de toiros e toureiros. Toureiro é que não vi nenhum, mas ok. Lá deambulei, metido na minha vidinha, sem interagir com os locais mais do que o que teve mesmo que ser.

E não é que, à saída de Almeirim, sou surpreendido com uma festarola bem catita? Rodearam-me o carro e batiam palmas e havia um ou outro foguete. Pensei: Pumbas, já está: És uma estrela, como a mãezinha sempre disse que serias.

Afinal, foi-se a ver e não. Foi só a minha cabeça que ganhou o segundo prémio para "Melão do Mês". E não ficou em primeiro porque diz que era de origem Ucraniana. Parece que vale menos que o nacional. Roubalheira pá!

- Oh senhor Silva, isso não é nada escatológico.

- E se fosse à merdinha, hein?

...

Agora é que vamos dar cabo do ISIS. O Ministro dos Negócios Estrangeiros de França, Laurent Fabius, acaba de esclarecer definitivamente a questão:

- Ora bien, meus carrôs, il est o seguinte: O Assad é le grand probléme desta cená, há que lhe pôrr uns trés jolies patins. Mas no entrretantô, podem-se aprroveitarr les tropes do homem para ir a la bouche dojôtrrôs, tão a ber ohnon?! Nous autres bombárrdeamôs cá de cimá - boum, boum, boum - et ils verrgam la mole lá em baixô. Nous sommes entendus?

Não haja dúvida que tem tudo para correr lindamente. Para além de ser bestialmente coerente e promover um amplo entendimento, junto da malta prêt-a-radicalizer, de que defendemos a causa mais justa. Desde que esteja de acordo com o nosso interesse, pois clarrô.

Entretanto, a coligação vai de vento em popa. A Turquia mandou abaixo um avião Russo e esclareceu: Paaaaaa, estava na minha metade da secretária, era meu. Não quero saber de nada. 

Os Russos reagiram: Ou me pagas um novo, ou vou dizer ao meu pai, que é do boxe, que mo partiste.

Oh well, é capaz de dar merda... 

...

A Cate Blanchett acho que vai ganhar um prémio à conta do filme "Carol", em que interpreta uma senhora que gosta de outras senhoras. Só pela temática do filme, já acho que todos os prémios são muito merecidos. Como sabem, sou um grande adepto e defensor do lesbianismo.

Eu sei que há muita gentalha que me considera um tipo execrável, boçal, muito incorreto e que não sabe estar. Que acha que isto é uma piada de muito mau gosto e que tenho, na verdade, um preconceito arreigado contra a homossexualidade. Quando não um recalcamento qualquer. Eu acho que estão enganados, mas isso é eu a falar...

O facto é que tenho um lado feminino bastante desenvolvido. Felizmente não é as mamas. Acontece que esse meu lado gaja, de que gosto basto, é completa e esclarecidamente lésbico. E ninguém deve ir contra a sua natureza, certo? Muito menos se mete a Cate Blanchett enrolada com uma senhora. 

Só não embarco nessa coisa das gajas irem sempre juntas à casa de banho. Epa, querem convencer-me que vão, sempre!, fazer xixi? Népias, não compro isso. E mesmo que seja, querem ver que não, nunca!, lhes acontece sentarem-se e largarem uma bufa? Uma inocente e singela bufa, nem peidinho chega a ser. É impossível.

Para mim, isso não é a intimidade que o amor, a amizade, a cumplicidade, proporcionam. É o fim do desejo. A trampa dá-me cabo da tesão. Gostos.

(E prontinho, tenho dificuldade em dar-vos melhores motivos para me desancarem, queridos, limpinhos, sempre leais, mui corretos e terrivelmente cinzentos haters.)

...

O FCP vem jogar a Aveiro este Sábado. Infelizmente, vou ter que inaciar um canal pago qualquer. Como não poderei estar no balneário, por motivos assim assim, para dar a palestra, aproveito esta oportunidade para o fazer:

- Malta, isto é muito simples. Depois da bela merda que arranjaram na terça, ou tratam de ser uns Tarzões e cilindrar os MorTondela, ou lá que raio de carne processada vem a ser aquilo, ou enfio-vos na fossa asséptica da Tasca. E olhem que o Monteiro da Silva anda mal dos intestinos.

- Muy bien, cabrón

- Cabrón é o lado macho da tua tia, tábem? Tu não tomes tino, não. És o primeiro a ir. E é de cabeça!

- Pintxo!

- Já vai.

...

Soundtrack to shit: Dancing...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Hein?! A sério?! e o Game of the Enforcated



Eu não vi o jogo de ontem, o que, pelo que se sabe, foi uma sorte. Minha. Por isso, tive que visitar com redobrada atenção os tascos do costume (aqui ao lado), para me por a par do que, de facto, aconteceu ontem no Dragão.

Sim, claro que ouvi o relato. Mas tendo a não acreditar em Monteiros alcoolizados ou Queirozes ressabiados. É que mesmo quando, de longe a longe, acertam, metem-me nojo basto. É uma mania talvez, majéminha! 

Sim, claro que tentei ver o resumo. Mas tendo a ouvir um ruído estranho, qualquer coisa como "eusômgandapanascakegramédapanharnabolha" cada vez que o sujeito de Paredes fala. Sobretudo se regurgita acerca do FCP. 

A alegria desta gentinha quando falhamos, é das piores partes de cada um dos nossos falhanços. Ficam quase - quase! - tão contentes como eu quando os clubezecos deles se espalham ao comprido. Majamim ninguém me paga para demonstrar essa alegria. Se não consigo ficar caladinho, tenho que me mexer e arranjar um blogue e assim.

Para além disso, tinha quase a certeza que tínhamos perdido - que convencerem-me que o FCP perde não é uma coisa que se faça à primeira. Motivo mais do que suficiente para procurar algum conforto entre os meus.

Posto isto, o que sei acerca do jogo de ontem é:

Não jogámos a ponto de um corno. Consequentemente, fomos sodomizados, com alguma meiguice ainda assim, por um bando de Cossacos. Twice!

E pus-me a pensar: Oh Silva, coisinha linda que tu és moço, que consequências terá isto? Pensei, pensei, pensei e pensei. Uns trinta segundos nisto e lá concluí duas coisas:

a) Significa que termos ganho ao Chelsea e tudo o resto que até ontem fizemos tão benzinho, passou a valer maijómenos o mesmo que o Mogrovejo. Para um bocadinho mais, mesmo assim.

b) NÃO significa que acabou o Campeonato; que fomos eliminados da Taça de Portugal - nem do Festival da Canção; que estamos fora da Europa; que os Cavaleiros do Apocalipse desfilaram na Alameda do Dragão e, por conseguinte, é o Fim do Mundo em Cuecas. Lá isso não. E nem quer dizer que tudo o que foi bom, deixou de o ser.

Quando já estava prontinho para o meu merecido descanso, depois de um dia inteiro na Moirama, saradas as feridas da derrota da melhor maneira possível,

- Não Berto! Não te vou contar porra de detalhe nenhum.

- Oh, tábém... Era xó um cheirinho, Xenhor Xilva...

apareceu-me, a toda a largura de banda da cachimónia e ocupando a totalidade das polegadas do campo de visão, a porra da cara amarela cravada no topo deste singelo post. Wondering my mind was - está quase Master Yoda. Quase, quase. Iupiiiii.

E divagava: Ora, parece que não havia mesmo explicação nenhuma, tirando porque sim, para o André não entrar de inicio; e lá voltámos a esbardalhar-nos quando não devíamos; quê? devíamos? népias! quando não podíamos; será possível que tenha sido tudo tão mau?; e se foi, quem é que tem que se chegar à frente e levar nas fuças? O André não é, de certezinha...

Sabem o que eu acho? Acho que, como boa parte de vocês, o Espanhol não percebeu nadinha da estória da ZUBAIDA. E é pena, porque aquilo, parecendo que não, ainda deu trabalho a inventar.

- Que no! Lo entendi perfectamente, chaval!

- Pois pá, é capaz. É que, como a Zubaida, também tu és livre de fazeres as tuas escolhas. Está muito certo isso. Mas, como ela, também tu terás que viver com elas. Só que...

- Solamente lo que?

- Como te dizer? A Zubaida aprecia bastante a... errr... prática da sodomia com um bando de Cossacos. Já tu não, pois não Julen?

Hein?! Qual ameaça? Eu? Hein?!

...

Como na Tasca não se perde de vista aquele momento em que se definiram objetivos, o tasqueiro não deixa de acreditar e confiar na capacidade do seu amiguinho Basco. Ai poi'não! 

No entanto, o meu sentido de justiça é apurado - tajóbir oh Van Dunen? Por isso, perante a evidência de que estamos com a qualificação para os oitavos tremida - e esse era um dos pressupostos para uma boa época - vamos ao Jogo do Enforcado. Pela primeira vez em versão Champions. O que quer dizer alguma coisa.

- Tabáberkenão! - Esfrega as mãozinhas. - Senta lá aqui, oh Espanholito. A palavra é:

K _ _ V

- E. - Com ar de grande enfado.

- Fuoda-se, falhaste! 

- Que no, coño...

- Sim, sim, era em Ucraniano. Incha! E pelo estado em que isto acabou, neste jogo ficas assim: Só te falta uma perninha e pumbas! - Deita a língua de fora e deixa tombar a cabeça.

 Ri-se, de olhos semicerrados. A provocar.

- No es finito. - Responde-lhe o outro.

- Oh Silva, este pascácio acha que vai ganhar a Londres. - Bate com as mãos nas coxas e dá gargalhadas. - Acreditas nisto? Ai não que não está finito! Mais finito que o Luisão...

- Se acredito? Cincazero, caralho! Só tenho pena pelo Mourinho. E pelo Chelsea, que é azul.


...

Se isto fosse uma casca de ovo de Calimeros, estaríamos a berrar contra os senhores que entregam bilhas de gás ou assim. Todos comprados, em beneficio dos Ucranianos que são grandes clientes dos Russos e só estão aos tiros unjaojôtros para disfarçar.

Como não é, aliás, como não somos Calimeros!, estamos mais preocupados em encontrar as formas de não contribuirmos nós próprios para os nossos esbardalhanços. Gosto disso!

Mas não esqueçam, quando se trata de bater nos nossos, nós podemos. Mais ninguém pode. Por isso, se encontrarem panascóides Danieis, Gordoberns, Pedros Baleia Foradágua e afins - oh tantos afins - por aí, sejam uma só voz. Até os comemos carago!

E quem sabe, o Grupo de Cicloturismo do Cazaquistão e a Associação Cultural e Recreativa dos Ferroviários de Moscovo não atenuam esta dor.

- Silva! Mas você consola-se com o mal dos outros? - Repreende-me.

- Quais outros?

- Esses! Os encarnados e os verdes.

- Xim!

...

Soundtrack to sodomy: Inner Enemy 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O Festival da Canção, a Taça de Portugal e um balão.



Nestes tempos sem futebol a sério, temos andado entretidos, aqui na Tasca, com músicas e explosões e assim. Mais parece uma aventura do 007, sem as gajas. O que torna logo a coisa bastante desinteressante.

Gritam-me lá de dentro:

- Gajas o quê?

- Pois nada, docinho. Estava só a incutir algum tino ao Lima. Ai este rapaz...

Mas o verdadeiro problema está, como quase sempre, dentro da minha cabeça. É que depois empreendo nestas coisas e os sonhos dão cabo de mim.

- Sonhaste com quê, hã? Diz lá, anda! 

- Com a Manuela Bravo.

E pronto, assim se arranja uma bela pessegada. O que é basto compreensível. Se a minha cara metade me diz "ah e coiso, vê lá que sonhei com o Khan/Craig/Gajotrainerdoginásiodaskina (riscar o que não interessa), eu chateio-me de inveja. Mas não é nada de especial. Dois estão bastante longe e o terceiro parece-me que gosta mais de mim do que dela. 

Já se a moça se lembra de sonhar com, digamos, o Armando Gama, o mínimo que lhe exijo é que passe a andar com um vestido com um gandalaço como o da Valentina. E o melhor que lhe desejaria era que ficasse a pesar o mesmo que a senhora. Incha, agora sonha lá com o Armando Gama!

O que se passa é que é mesmo verdade: Eu sonhei com a Manuela Bravo:

"Sim, a apresentadora chama-se Manuela. Ou muito me engano, ou a boca da rapariga ainda há-de ser um ícone da nossa TV. E não me parece que aquela carinha laroca se aguente assim muito tempo. Ah, malditos cardos, malditas prosas. Enfim, kerocásaber, primeira fila do Festival. Isso é kimporta.

A coisa bela dos sonhos é que nos protegem. Por exemplo, aqueles pensamentos deveriam ser breves. Coisa para demorar um minuto. Dois, se estivesse à procura dos milhos num cartuxo de pipocas. Mas nem era comum as pessoas irem para salas de espetáculo dar cabo dos nervos dojôtros com o barulho das pipocas, em 1979

O facto é que o meu sonho saltou diretamente daquele intróito para a última canção. Sem passar pela casa de partida, sem receber dois mil escudos e sem gramar com as músicas todas do Festival. Aposto que entrava o Carlos Alberto Moniz e a Maria do Amparo. Dupla que produziu com algum sucesso a Lúcia Moniz. De resto, não fizeram nadinha de jeito.

Mas não nos percamos: Entra a Manuela Bravo, com o seu vestido de noviça à beira de ser aceite num convento em Famalicão. E ataca com inusitada alegria - ainda não devia ter sido mesmo, mesmo, aceite - o raisparta da canção. Pelo palco, passa o Luisão, a rodopiar de olhos postos no teto. À procura. Ceguinho de todo.

Até aqui era um sonho apenas estúpido. Agora é que se torna assustador. A tipa desata a berrar.

(Soooooobeeee, soooooobeeee...)

Eu começo a ver um balão a subir. E quanto mais sobe mais incha. Ela grita. E quanto mais grita mais vermelha vai ficando, já a atirar para o grená. 

(...balão soooobeeeeee. Baaaaaaaalããããõoo....)

Incomoda-me que mais ninguém pareça reparar no já enooooorrrme balão cheio de ar. Nem nas veias latejantes da cachopa.

(...sooooooooooooooooobeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!)

De repente, bum! Explodiu! E eu ria-me..."

- Credo! A cabeça da Manuela Bravo?

- Não. O balão.

- Oh, que desilusão. Um balão a rebentar não é nada de invulgar. Porque te assustaste?

- Era a cabeça do Bruninho...

...

Estou muito contente pelos meus fornecedores de verde de Amarante e pelo Jorge, pelo enrabanço a sangue frio dos Brigueis. Só por causa disso, não passo por cima de uma eliminatória sem grande história, e ainda menos futebol, da Taça de Portugal. Notas brevíssimas:

Uma confirmação: Quando um jogador do Xportém se atira para cima de um adversário, não há nenhuma falta. Nem que seja para cima do Luisão, do 5LB. Notável hein?

Uma dúvida: O Fonseca queixa-se basto do estado da relva em Faro. Diz que aquilo nem foi jogo nem nada. Eu fico na dúvida: Porque raio quer ele um relvado em condições para meter 11 gajos à entrada da sua própria área? Ou tu kéjber que não é sempre assim...

Uma sugestão: Pessoal do Casa Pia, não é boa ideia terem um gajo chamado João Coito. Pá, não é por nada, é só porque coiso, certo? Por exemplo, têm um Didi. Está muito bem. Mas e se o gajo se chamasse Bibi? Ficava Didi na mesma, pois ficava? Chamem Afoito ao João. Ou Oito. Coito é que não me parece boa ideia. Mas isto é eu a pensar...

Um chocolate: O Kinder já está a passar de Bueno a Délice. Ainda bem. Mais um bocado e lá se ia o prazo de validade.

...

O Guiness Book of Records acaba de anunciar que foi batido o recorde de links no mesmo post, na Tasca. Haja paciência. E bons serviços de internet...

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A lista de discos perfeitos do senhor Silva e favas contadas



Discuto conceitos com o Senhor Monteiro da Silva.

- Claro que é inatingível, meu caro. Se de alguma forma, e em qualquer situação, chegasse a ser perfeito, então estaria apenas a quebrar um novo limite. A verdadeira Perfeição passaria a ser um passo à frente do sitio onde tivesse chegado. Esqueça.

- Oh, tá bem. Percebo-o. Mas não é disso que se trata. O que lhe digo é que podemos objetivá-la. De uma maneira subjetiva. - Ele bate com a mão na cabeça.

- PelamordeDeus! Mas que grande molho de bróculos. Ou bem que é objetiva ou bem que é subjetiva. Como raio quer você definir regras, se depois torna tudo relativo?

- Tem que ser! Não me conformo com isso de as Utopias estarem para lá da possibilidade. Se eu conseguir criar uma espécie de grelha, quase cientifica, que determine o que - para mim! - pode ser considerado a concretização do Impossível, então, de alguma forma, ele se concretizará.

- Não, não, não! Nem de perto, nem de longe. Estaria apenas a conspurcar o conceito. Quase como se a Alma se concretizasse, por absurdo. - Salta do banco do balcão, entusiasmado. - Olhe, como se a Arte fosse a Alma concreta! Ah, não me olhe assim. Eu sei que é bonito de escrever e dizer e ouvir e até - oh meu pobre pseudopoeta - de acreditar. Mas a nossa fria razão sabe mais que isso.

- Vamos pela arte! - Ele impacienta-se. Não o deixo falar. - Ande lá, humour me! Por exemplo, vamos definir o critério que tornaria um disco perfeito. Não parece complicado.

- Complicado? É impossível. E você sabe-o bem. Traga lá uma garrafa daquele Alentejano, ao menos não se perde tudo. E dois copos.

- Fazemos assim: Consideramos perfeito um disco em que todas as canções sejam muito boas. Aquele em que não só não se consegue deitar nenhuma fora, porque sem ela faltaria alguma coisa, como ainda por cima todas as canções são fantásticas. Que lhe parece?

- Um perfeito disparate, está claro. Desde logo porque teria que definir as regras segundo as quais uma canção não está ali a mais ou a menos e é fantástica. - Beberica o seu vinho, com o olhar safateládesta!

- Oh, isso é fácil. É puramente do arbítrio do individuo. 

- Mas isso é completamente subjetivo, logo nada cientifico! - Exaspera-se.

- Sim! Objetivamos a perfeição através da subjetividade do gosto de cada um. - Dou um gole no meu vinho e sorrio o sorriso da vitória.

- Já se sabe que isso é bestial e alternadamente parvo, oh Silva. Mas assim como assim, não tenho nada melhor para fazer e é uma lista. Não resisto! Vamos lá a isso.

- Sem ordem, certo?

- Claro. A ordem da lista não encerra o seu significado. Muito menos quando é uma lista de coisas perfeitas. Ah, e não vale best offs e lives e assim.- Pisca-me o olho.


OS DISCOS PERFEITOS DO SENHOR SILVA

Metallica - Master of Puppets
Iron Maiden - Seventh Son of a Seventh Son
Kamelot - Silverthorn
Voyager - The Meaning of I
Nightwish - Century Child
Queensrÿche - Rage for Order
Anthrax - Among the Living
Kamelot - Black Halo
Helloween - Keeper of the Seven Keys - Part II
Moonspell - Extinct
Scorpions - In Trance

- É isto.

- Onze, Silva...

- Imperfeito.


...

AVISO: A xô dona Gabriela e os xôres Lima e Vassalo, façam o obséquio de guardarem, até posterior notificação, as suas próprias listas. Isto se vos estiver a passar pela mona atacar a caixa de comentários. O resto da malta, força nisso. Sempre quero confirmar o que as gorjas que vão largando indiciam... Ou não.


...

- Então pá, já estás a torcer por uma escorreganço épico nos Açores para poderes malhar no Espanhol?

- Oh Silva, eu nunca torço contra o FCP! - Ofendido.

- Poi'não. É só contra o Espanhol mesmo.

- Para além de que são favas contadas.

- Isso é que é perigoso. Há sempre um Torreense... - Interrompe:

- Shhh, cala-te, não percebes nada disto. Vamos de avião para jogar contra uns tipos que são os maiores lá da terra deles. Ainda por cima, falam de uma maneira esquisita. Uma pessoa vê-se grega para entender qualquer coisinha.

- E que tem isso a ver com a cunbersa?

- Ora, os nossos vão pensar que é um jogo da Champions. Favas contadas.

Detesto ficar sem resposta para este tipo, raios!

- Caladinho é que tu estás bem, oh Silva. Shhh...

...

- Xenhor Xilva, não xe rejume a xemana, é?

- Ratatatatata. BUM!




segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Um momento de conversão do agnóstico. Ou o tempo de tomar partido.



O Mundo é uma piada. As mais das vezes, de mau gosto. É provavelmente por isso que nos vamos entendendo, o Mundo e eu. Não que o perceba, ou ele a mim, mas parece que nos toleramos. Sei lá.

Na sexta-feira houve uma pequena festa aqui na terra. Como anfitriões que se prezem, armaram aí uma tainada para dar as boas-vindas a uma família de refugiados Sírios. Não os conheço, confesso que não participei e só descobri porque alguém me contou. Genericamente, e ironia Cósmica à parte, achei lindamente que se tentasse fazer o casal mais os seus rebentos sentirem que chegaram a porto seguro e que agora há quem se preocupe com o seu bem-estar, em vez de se preocupar com a forma como lhes vai rebentar a cabeça. Aliás, achei bilindamente, porque da mesma penada a organização angariou fundos entregues a algumas famílias autóctones que passam por dificuldades. Muito bem. Inteligentes, ponderados e agregadores. 

E enquanto isso, houve Paris. Pessoalmente, a minha vitória hoje, neste instante, é perceber que continuo a achar muito bem a festinha de acolhimento. Mas já se sabe, eu sou um tipo danado para festas. 

Porém, não posso evitar olhar para as fotos e pensar que se aquele senhor, tão sorridente e tão - aparentemente - feliz, se lembrar de pegar numa arma, só por acaso, porque lha puseram na mão, porque a encontrou no chão e a quer levar para longe do recreio de uma escola - whatdafuckingever! - eu não hesitarei em passar-lhe com uma debulhadora por cima, antes de ele poder dizer Allahu akbar. Tenho pena por isso, mas dá-se o caso de eu também ter filhos. 

É pois apenas uma meia vitória. Espero que a minha comunidade consiga fazer com que a prole deste nosso novo vizinho cresça sem ódio e chore todos os Parises que ainda nos faltam. Como se fossem deles. É essa a minha proposta.

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Os apologéticos brandirão as suas vozes notavelmente ampliadas por um senso de "politicamente correto" comum à sociedade Ocidental. Proclamarão que o ódio não encontra soluções, que a xenofobia só piora o estado geral do doente e o racismo é uma atrocidade como qualquer outra. E têm razão. Exceto nos casos, demasiados - quase todos? - em que se trata de mera retórica ao serviço do seu próprio interesse. Nomeadamente político. 

Os do extremo oposto aproveitarão a caixa de ressonância da dor, o megafone da busca - Humana - da culpa, para agitarem as bandeiras do medo, do nacionalismo, da integridade do território, quando não da própria raça. Estes nunca terão razão. Nem mesmo se a sua convicção for profunda.

E será este o tempo do Amor? Não, provavelmente não. Mas também não é o tempo do Medo. Nem do medo que nos faz dobrar e capitular perante os que não gostam da vida como a vivemos; nem do medo que nos faz pegar em armas maiores para equilibrar o facto de acreditarmos menos do que o suposto inimigo. Este é, como sempre e como todos os tempos são, o tempo da Razão.

- Xiii Silva,  já fomos!

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Por cada vitima de Paris, qualquer Islamita poderá levantar uma criança mártir. Não é pela contagem do horror que somos melhores. Admitamos que o nosso choque é maior porque estes são os nossos. Não há nenhum mal nisso. Mas não façamos de conta que os outros não existem. É o pouco que nos importamos com isso que nos retira, aos seus olhos, a Humanidade. Porque me custaria metralhar-te se nem quiseste saber como morreu o meu bébé? 

A culpa é nossa então? NÃO! Nem tua, nem minha! Menos ainda dos metralhados. A culpa é - SEMPRE! - da Ignorância. A começar pela de quem metralha. E é uma pena que não tenha sido morto antes de começar. Nenhuma dúvida disso.

Mas enquanto ouvia, a espaços, os doutos comentadores e comentaristas, analisadores e analistas, jornalistas e jornaleiros, testemunhas oculares e de ouvir dizer; enquanto via a noticia a desfazer-se em espuma; enquanto assistia a como tão rapidamente a catástrofe se tornava em audiência - os vídeos, os diretos, o senhor que mora a apenas 50 km do sucedido e não tem Policia na rua; enquanto os media, mormente os nacionais, passavam de "Aconteceu e está a acontecer" para "Veja Aqui, Já, e em Exclusivo, como morreu a rapariga que estava no wc do Bataclan", como se isso fosse um contributo para o que quer que seja; pensava: ALGUÉM QUER MESMO SABER?

Alguém está interessado em saber se o ISIS é MESMO um bando de tarados? Ou gente que quer controlar o petróleo? Ou malta que está é interessada em dinheiro? E se não for? Sabem, é que não é! E isso elimina aquela saída bestial para estas coisas: Dêem-lhes lá o que eles querem a ver se param de chatear. Mas a fazer de conta que não demos. Não há nada que o ISIS queira que nós lhes possamos dar. Quer dizer, há. Mas não estaremos dispostos a dar, acreditem.

Onde nasceram e cresceram os assassinos de sexta-feira 13? Se não sabemos o que é o ISIS, como podemos explicar aos nossos vizinhos, nos nossos subúrbios, que as primeiras e as maiores vítimas do Islão Radical são os Muçulmanos? Porque são!

E queremos saber? Ou bastam-nos riscas azuis, brancas e vermelhas sobre a foto de perfil do Facebook? Je suis o que vocês todos quiserem ser esta semana. Era Charlie, não era? Acho que é o do Snoopy. Tão fofinho.

Se continuarmos incapazes de juntar conhecimento ao choque, perante as execuções públicas e festejadas, a destruição de Património da Humanidade, as constantes atrocidades aparentemente inexplicáveis, continuaremos a perder. 

A culpa é da Ignorância. Sempre. E da Preguiça. Quase sempre.

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Eu não creio. Isto já foi uma coisa mais convicta do que é hoje, mas ainda assim, não creio. 

A idade adoça-me o agnóstico, provavelmente. Mas sempre tive claro que me insiro numa sociedade definida por um conjunto de crenças e valores de raiz Cristã. Faço parte dela, gosto dela, quero que evolua na sua mera continuidade. Por isso, aceito que também eu tenho um Deus. Digamos que numa batalha de Seres Divinos, eu puxo pelo mesmo Deus que a maior parte de vocês. 

Assim, hoje não se brinca com Deus na Tasca. Se outros se ofendem com caricaturas dos seus Profetas, eu ofendo-me com balas de Kalashnikov contra os Filhos do meu Deus. Porque são meus Irmãos. E espero que Ele esteja atento e vos faça pagar da pior maneira que puderem imaginar. Se lhe faltarem ideias, eu tenho algumas.

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Soundtrack to bloodshed: Walkways.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Resumo da semana: Multimédia

In dnacontractingcenter.com, ou qualquer coisa parecida...

Esta é uma época do ano tramada. Os ácaros e a humidade e o raisparta das alergias a mil, mais uma constipação ou outra pelo meio, que entre tanto ranho nem se nota. Pior ainda, é época de caça.

Eu não sei como é que há malta que não trabalha a uma quinta-feira. Devem meter férias; ou ir para o desemprego de propósito; ou morre-lhes um familiar por semana. O que eu sei é que todas as malditas quintas, ainda o Sol não nasceu e lá estão eles em fila à porta do café. 

Não teria nada a ver com isso, mas chegam antes das 6.30 da manhã, pelo que me ficam com o jornal. E é sabido que o jornal do café da minha rua é meu! E eu quero lê-lo.

É que eu estou lá todo o santo ano. Não é como se houvesse uma época do Silva ir ler o jornal para o café. Portanto, acho que devia ter precedência. Em vez disso, anda o jornal a passar de mão em colete de camuflado, entre um bando de maduros com idade mais que suficiente para não andarem a brincar aos tiros.

Pá, eu até me esforço por perceber o meu avô, que ia caçar elefantes e assim. É uma atitude besta, mas diz que na altura ninguém ligava nenhuma a isso dos bichos se extinguirem. E leões. Há nisso um certo desafio, devidamente compensado por um instrumento que permite matar o adversário a uma distância muito razoável. O que apesar de ser cobarde, quando se trata de elefantes e leões, é capaz de ser ajuizado. 

Agora lebres? E perdizes? Tanto cão para apanhar passarinhos? Com uma fisga não conseguem caçar uns pardalitos? Cá pra mim, isto da caça é uma bela desculpa para se meterem uns cojôtros no meio do mato. E levam vinho e tal. Ai que estávamos bêbados.

Como não sou nenhum fundamentalista disso dos animais - e nem dos maduros que vão para o mato - não me vou pôr a julgar os senhores. Querem ir caçar? Pois vão com Deus. Oxalá algum bicho lhes atire cocó. Mas façam o favor de me deslargar o jornal. Combinado?


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Por isto da bicheza, acho que deviam atribuir o prémio "Empreendedor Visionário Tecnologicamente Evoluído" ao André Silva. O gajo teve a lucidez de olhar para as redes sociais e perceber que estão pejadas de fotos e filmes de gatinhos fofinhos; e cãezinhos espertalhões; e baleias para adoção; e isso tudo. 

Depois, conseguiu analisar de um ponto de vista sociológico: Toda a gente tem que gostar dos bichinhos. Ou porque são engraçados e fofinhos; ou porque estão maltratados e abandonados; ou porque só sobram uns poucos e descobrimos que precisamos deles como do pão práboca; ou porque sim, que é o motivo mais frequente. Isto é, quem é que se atreve a dizer: Num é por terjumgatofofinhonatimelinekésmenosputa. Isto é um suponhamos, está claro.

Vai daí, o André agarrou nesta tendência dos media sociais e pumbas, criou o seu próprio emprego. E conseguiu agarrar o tacho, montado numa série de cartazes que podiam muito bem ser posts da família no Instagram. Ainda acho que 80% dos votos foram no gato. E os outros 20% no copo menstrual.

Tudo a favor do André. Escusava era de vir dizer que votou a favor da queda do Governo porque "o programa ia fazer às pessoas aquilo que já fazemos aos animais e à natureza". Caraças, se não parece uma frase para maço de tabaco. Fiquei logo a imaginar 20 mil degraçados enfiados num aviário, com 20 mil chineses a fumarem-lhes para as trombas. 

Credo, como é que a direita se foi lembrar disto. Reminiscências do Adolfo, aposto!


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Ainda no Reino Animal, o SIS (Serviço de Informações do Silva) divulgou, através do lado oculto do Youtube, as mais recentes escutas a indivíduos com responsabilidades no fintabol tuga. Para proteção dos visados, utilizarei nomes tão falsos que ninguém vai saber quem são:

Benvindo Costa: Tô?! P.? Tass? Olha lá pá, ké isso de me suspenderem o gajo por dois meses? Tá tudo bêbado? Foi para isto que aí te pus? Aiaiai!

Paulo Pinto: Calma, querido. Não tenho nada com isso. É coisas da malta do Fernando.

BC: Olhósnomes pá!

PP: Porra, tens razão. Do Filipe, pronto. 

BC: Kerokásaber desse tripeiro alampionado! O menino empurrou um preto, treinador de uns mija na escada! Dois meses? Estamos a brincar, só pode! Não é como se se tivesse pegado com um steward no túnel. Aí percebia-se. Isto não é pior que bater num policia, Deus nos livre. Racistas.

Lopes Fontes Varão: Alô? Vitó? Isso vai? Oh meu, késsamerda de vires dizer que não foi ninguém ao balneário e blabla? São porcos é? Não tomam banho? Estás a mijar fora do penico agora?

Vitó Policarpo: Oh xôr Presidente, a culpa é do Abilio Santos Damásio. E do raisparta do observador. É o que dá mandar observadores ceguinhos para estes jogos. Umas vezes convém-nos, outras dá nisto.

LFV: Nem uma cena escabrosa num túnel? Nadica? Um roupão! De certeza que havia roupões! Ninguém vai investigar isto? 

VP: Claro que vamos investigar! A fundo! Até encontrarmos qualquer coisinha por onde pegar. Se não encontrarmos, inventamos. Sejamos criativos, que é para isso que nos pagam.

LFV: E que palhaçada foi aquela do Cosmos Machete? Não estou a gostar nada disto!

VP: Nem sei o que lhe diga... Ele diz que aquilo era na serra e que ficou sem rede na careca. Enfim, da próxima mandamos o Jorge. Pode ser?

LFV: Pode, o Jorge pode ser. Ai carago, olhósnomes!

AVNI (Árbitro Voador Não Identificado): Tá lá? Salmonelas? Ora viva. Pá, não percebo nada desta minuta. Parece que já vem com as respostas...

Salmonelas: És mesmo estúpido! É assinares e mandares pra cá, como toda a gente. Eu depois preencho, não te preocupes.


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Tenho um Brasileiro dentro do meu telefone. Sim, é uma cena um bocado esquisita de se dizer, mas não há outra maneira. Trata-se de uma app que consiste num gajo a mandar-me fazer exercício. Em tese, pareceu-me uma boa ideia. 

Apesar de ter alguma dificuldade em lidar com a autoridade e obedecer a ordens, a relação com o brasuca até ia menos mal. Só que aquilo me deixa de rastos. 

(Pausa para piadas idiotas envolvendo o autor, um Brasileiro e a expressão "Deixa-me de rastos")

De tal maneira, que fico sem energia. Pus-me a pensar: Tu kéjber keste panasca me põe aqui aos pinchos, de flexão em abdominal, a suar em bica, a pensar só em duche e sofá, para ter oportunidade de se afiambrar à gaja bem boa que mora cá em casa?

Eu também acho que é um bocado paranóico da minha parte. Por isso, evito falar do assunto. Só porque sim, tratei de duplicar o cumprimento das minhas obrigações conjugais bidiárias. Isso mesmo, é 2 x 2. Isto à semana, porque no fim de semana aumenta. 

(Pausa para piadas idiotas acerca do grau de bazófia do autor, envolvendo um Brasileiro e a expressão "Deixa-me de rastos")   

Seja como for, sobra-me energia para mais umas quantas coisas. Mudar de canal, por exemplo. Ah, e desinstalar aplicações do telefone também.


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O momento em que uma rádio anuncia a reedição dos álbuns de uma banda, comemorando os seus 50 (CINQUENTA!) anos de carreira, e tu pensas:

Pfff, tenho isso tudo! Em vinil, até!



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- Senhor, outra vez agarrado ao canal do reality show do fulano?

- Ah, Pedro. Ainda bem que chegaste. O filho da mãe já topou a cena do Brasileiro! Sacana pá. Temos que arranjar outra manigância...


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Soundtrack to (multi)media overkill: Lost.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Nomes - M.T.



- Ena avôzinho, o monte desarrumado já está bem mais pequeno hein? - E deixo-lhe um café na mesa.

Ele aponta para o chão, para a mala de médico de província aberta. Cheia de papéis.

- Ainda falta aquilo tudo, Silva.

Tiro um. À sorte.

" Nomes - M.T.

Tenho tanto para me calar contigo que não me chega a vida toda. A minha mais a tua. Há sempre tanto que temos para não nos dizermos, neste nosso modo de andar à volta do que aqui nos trouxe, sem precisar de concretizar. Dando palavras às coisas, deixando que se percam em volta dos lugares e das nossas pessoas que, invariavelmente, os preenchem. Sem nunca as fazer pousar no assunto. Seja qual for esse assunto premente que nos faz desconversar sobre qualquer coisa. Menos sobre ele. Porque os teus olhos me disseram tudo e a minha gargalhada acrescentou o que pudesse faltar.

É como acordar a meio da noite e não precisar de acender a luz para se saber que se está em casa. Ou não. Devo-te, para lá do que alguma vez te poderei pagar, este desaguar no meu lugar. A absoluta certeza de que pertenço a algo maior. A um Nós que corporizas, que existe só em ti: Todos os teus, o sangue inteiro, em ti. Mãe, Filha e o nosso Sagrado Espírito.

Oh sim, eu sei que é pouco provável que tudo possa mesmo ser como eu sinto. Mas conhecer os degraus onde tropeças, as clareiras das tuas imensas falhas, redime-me comigo. Soa-me tão bem a minha voz quando responde à tua. É tão pura a gargalhada que partilhamos, sempre. E nascem risos tão espantosamente novos da memória daqueles primeiros, primitivos, que povoam as ilhas das nossas - fastidiosas? - recordações. 

No fundo, tudo o que tenho hoje para não te dizer é que me tornas nós. Todos. Os mortos, os velhos, os novos e os por nascer. Comungo em ti. Sou tão melhor por me amares. E maior.

Tenho tantos silêncios para partilhar contigo que não me chegam os dias todos. Quero tanto o conforto do teu cheiro, do teu ar, que temo quebrá-lo. Procuro não lhe tocar. Calo-me. Contigo. "


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Volto em silêncio para trás do meu balcão.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Introdução à Sociologia da flatulência boçal




É muito provável que seja uma consequência do nosso processo de socialização, profunda e tradicionalmente machista. Daquele machismo clássico e estereotipado, em que o homem pode - se é que não deve - ser um perfeito boçal com vincada tendência para a alarvidade. É-nos permitido ser assim. Oh sim, sim, eu sei que estão uns quantos aí a pensar "ah, eu cá não. Como é que este se atreve a generalizar, eu não sou boçal, nem alarve, nem pouco educado. Nunca." Mas são tretas. Ou então são panascas! Aha! Viram? Sorriram! Estereótipos alarvemente boçais.

- Oh Silva, eu não me ri!

- Mas tu és mesmo panasca.

- Ah, tá bem.

Nada explica tão bem isto quanto as questões da flatulência. É preciso ser gajo para soltar gases? Não. Toda a gente o faz. Mas é preciso ser gajo para ter até algum orgulho nisso. Até podem haver senhoras que gostem e tenham brio nas suas flatulências, pois claro que pode, mas o facto é que não são tão toleradas socialmente como os gajos. Alguém consegue imaginar uma mulher toda gira e assim a soltar uma flatulência de tal modo sonora que inclusivamente faça eco? E se imaginam, riam-se? 

- O quê, Silva? Soltar quem? Já está outra vez a malhar no Sócrates? Ou é no Salgado?

- Não pá, nada disso. Largar um..errr...um gás barulhento, percebes?

- Hein? Qual gás?

- Opá, G-Á-S, tajaberohnão? - Faço o som com a boca, enquanto levanto uma perna e aperto o punho. How typical.

- Aaaaaaaah! Um peido terramoto! Você chame logo as coisas pelos nomes, homem. Põe-se praí a empatar, parece uma senhora...

E porque é que estamos com esta lábia toda? Apenas para poder dizer, sem nenhum problema, uma vez que também eu sou gajo, alarvemente e da mais boçal forma que possam imaginar - mas esforcem-se, por favor - que é preciso não perceber um peido de futebol para achar que ISTO pode não ser penalty

Só se eu andasse a ser enrabado diariamente com um poste de eletricidade, é que podia dizer que o Calimero se atirou à bola; escorregou e foi sem querer; ou qualquer das inúmeras - e igualmente divertidas - desculpas de merda que estão a tentar arranjar. 

Vejamos, eu não me importo que se entretenham com isso. Mas não pensem que a malta é um bando de barões falidos, com ojolhos muito esbugalhados porque temos um braço enfiado no cu até ao cotovelo. Naaaaa, istégente que tem olhinhos. Dois servem para ver, o outro serve para cagar. Em vocês, por exemplo. PelamordaSantinha!

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Recordar é viver: Este é o ano lagarto da Liga Aliança.

O SCalimeroP, só nos últimos dois jogos ganhou 4 pontos bastante gamados. Isto são os factos que eu tenho para apresentar. E vocês, Calimeros? Têm algum? Ai não? Então ide coas putas, kisto é uma casa de gente séria.

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Juro que tinha um post espetacular sobre o jogo que ontem opôs o FCP aos gajos da Brisa. Justiça seja feita, aquilo de jogarem com os coletes refletores está bem visto. Olha, o jogo deles contra o União não é adiado de certeza! 

- Pois, mas não estavas à espera que o "colinho" fosse camaleónico, é?

- Quais camaleão, qual merda! O "colinho" tem sempre a mesma cor: Uma qualquer que não seja azul e branco. 

Agora contem-me histórias de frutas e de apitos em oiro, contem. A única coisa que se mantém igual é que ganharemos apesar disto tudo. Ah, e apesar também de quem viu o jogo de ontem e conseguiu dizer mal de Julen Lopetegui. Portistas incluídos.

Já agora: Oh Julen, eu gostei mais da primeira parte. E quero que se fodam os assobiativos. Mas só hoje, amanhã já volto a ser mais polido.

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- Oh Xilva, tente compreender. Vochê também havia de preferir uma garrafinha de Barca Velha  do que um roupão em techido turco. Afinal, não pacha de um atoalhado.