domingo, 31 de janeiro de 2016

Domingo B com o Desmancha Prazeres da Silva



A mais que tudo diz que eu tenho uma irritante tendência para ser o advogado do Diabo. Eu cá nem sei quem é o Diabo, majácho que é lateral esquerdo do Arouca. Porque é que precisa de advogado, não faço ideia. Estes moços novos apanham-se com uns trocos no bolso e metem-se em alhadas. 

Apesar desta minha ignorância em relação à expressão, sou obrigado a confessar que habita em mim - salvo seja! - um senhor chamado Desmancha Prazeres da Silva. É verdade que não é uma jóia de moço, mas tem-se revelado bastante útil ao longo dos tempos. Ajuda-me a não embarcar em profundos disparates. O que compensa a resma de coisas que iam correr bem e ele não me deixou fazer. 

Por exemplo, foi ele que me obrigou a cumprir o compromisso semanal com a malta da bola, ontem. E às 18.00h em ponto, em vez de me estar a preparar para inaciar o jogo do FCP na Amoreira, estava a dar o pontapé de saída de mais um grande clássico: Coletes Amarelos vs Coletes Laranja. Um hattrick - mais duas bolas que foi só encostar lá pra dentro - depois, lá fiquei a saber pelo rádio que o FCP ganhava por doijum, de remontada.

Portanto, não pude ver o jogo. Mas faço fé no que entretanto já li, no éter cibernético e nas folhas a cheirar a tinta do jornal. Nomeadamente, nas virtudes e defeitos que os meus comparsas da bluegosfera apontaram. E há dois aspetos que o DP da Silva reteve:

a) A forma como, de forma geral, a malta exaltou - ou devia dizer exultou com? - o facto de termos tido menos posse de bola que o Estoril. Epá, não! Isso não é uma coisa boa. 

Tudo no Universo é evolução, no caminho inexorável do fim. Porque se caminhamos, chegaremos. Mas há pelo menos uma coisa que permanecerá imutável: O futebol joga-se com uma bola. Mais redonda para uns, menos para outros e uns dias assim, outros assado para o Herrera, mas uma. Apenas. O que significa que quanto mais tempo estiver do lado de cá, menos chatice se avizinha. Se isto não for uma verdade absoluta, não é o postulado que está errado. É incompetência. 

b) Parece que o aumento de corpos disponíveis para fazer o que o ABUMbakar não faz, independentemente da distância a que esteja da linha de golo, foi proporcional ao buraco que se abriu entre a linha defensiva - na verdade, os centrais - e o meio campo, Danilo incluído. O que facilita a transição dos anormais que jogam contra nós. 

Tenho para mim que o problema não é novo, mas fiquei com a sensação que se agravou. Por outro lado, o Zé não é moço para mudar muito, seja quem for que esteja do outro lado. Creio que isto tem um lado Jergo Jusiano, muito qualificado aqui para o burgo, but... A rever.

Claro que este Da Silva merece um chuto nas costelas que o deixe sem ar. Ganhámos em Lisboa. Foda-se, melhor que isso só ganhar na Madei...espera, isso já estava. Pronto, ao Mariti...ai, também já fizemos. Foda-se, ganhámos em Lisboa. Avisem os tipos das luzes e da rega que vamos a caminho! 

Vi o resumo do jogo e é só lances de nós a falhar golos e...os golos. E um é do Aboubakar. E um passe com açucar para o André falhar na cara do redes, também é do ABUMbakar. Incha DM da Silva!


...

Esta manhã jogaram os B. E perderam em casa. Com o Leixões. Pumbas.

A II Liga é um campeonato muuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiito longo. Com muitas mudanças de posição. Todas as equipas têm fases boas e fases piores. Umas vezes ganham sempre e outras não ganham nem para salvar a vida à Charlize.

(Kié??!! Não me lembrei de ninguém com quem não me relacione que mereça mais ser salvo. Que tem?) 

Foi um jogo típico de II Liga, mas com relva decente: O adversário fez três mil quatrocentas e quatorze faltas. Ou então foram três mil quatrocentas e catorze, o que acharem mais plausível. Jogou fechadinho lá atrás, de forma abnegada e solidária e quando a coisa não ia lá ao puxão e agarrão, recorriam à porrada forte e feia.

O jogo valeu essencialmente pela primeira parte. Os miúdos fizeram o seu futebol habitual e criaram duas ou três oportunidades muito claras para se chegarem à frente. O que mudaria por completo o jogo. Sim, digam o que quiserem, elogiem o Castro depois de crucificarem o Lopetegui, mas eu conheço este modelo. Conheço pois.

Não aconteceu e, pelo contrário, num livre bem marcado, o Leixões fez golo. Na segunda parte jogou-se aos bocejos - não, não é uma gralha - com um ou outro lance de kasekerakalkercoisinha. Até que uns três canastrões de Matosinhos se atiraram desmandados para a nossa baliza e marcaram outro golo. Fim. 

Siga, que já na quarta há mais e é no estrangeiro. Contra uns vermelhos sem riscas.

Ao contrário do que é hábito, e porque está aqui o Da Silva a buzinar-me aojóvidos, arrisco uma breve avaliação individual:

Gudiño: Nada a fazer nos golos e ainda safou outro certo. É tão bom este puto.

Garcia: A disponibilidade de sempre, junto com o pulmão habitual. Está na fase "não sei centrar, já disse que não sei!" Mas isto passa-lhe.

Chidozie: Shhh, calem-se, deixem-no crescer maijumcadinho. Sem que os tipos cheios da grana saibam...

Mauricio - Pois, sim, está bem, deixem passar o bailinho da Madeira. Não é mau, nada disso, mas também não é bom.

Pité - Ólheu a defesa esquerdo de vez, agora que o Rafa foi pá Faculdad...ops, dói-me a perna. Fuck!

Govea - Mi nombre es Busquets, Sergio... Em breve. E olhem que já fez bem melhor que hoje. Mas a mim não me enganas tu, Omarzito.

Fede Varela - Deve ser rapaz para ir entrando. Para já, das poucas vezes que o vi, deixa aquela sensação de "epá, gramava que este tipo desse certo". Mas não tem dado, apesar de se notar a qualidade.

Francisco - Ver Chidozie e juntar a última frase de Govea. É só botar corpo.

Ismael - Nop, não pode vir. Acho que a mãe o pôs de castigo por não ter tomado banho. Ou assim...

Gleison - Na primeira parte, que foi a nossa melhor, esteve endiabrado. E foi ele que quase nos deixou a ganhar. Duas vezes. Uma no poste, outra no cabrão do guarda-redes. Depois foi-se abaixo nas canetas. Que não na vontade. Oh Portimonense, bo-che-cho! Este não o vês mais. Se é homem para ir mais longe, veremos.

André - Destacou-se pelas faltas a la Postiga sobre os centrais, quando era preciso que o jogo não parasse. Falta de ritmo normal e alguma estranheza da equipa, que já não se lembrava bem dele. Na quarta estará melhor, de certeza. E é um craque, ninguém duvide.

Os suplentes que entraram eram todos sub 19 o ano passado. Campeões, aliás. Teremos toda a época 2016/17 para falarmos deles.


...

Mas isto do Desmancha Prazeres não se limita às coisas do FCP. Incube-me o DM da Silva de enviar um recado direitinho para o Campo Grande, por trás da Churrasqueira, em forma de mote clássico:

Descalça vai para a fonte
Leanor pela verdura;
Vai fermosa e não segura.

- Hombre, creo que lo he...

- Sim, sim, Julen. Ouviste uma coisa parecida...


...

Soundtrack to party pooper: Paaaaaaaaartyyyyy!



sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Obrigado Portugal e a palestra da Cremilde



Um gajo acorda com a Rádio Arouca às cinquitrinta da manhã. E não percebe porque raio está aquilo a tocar, até levar uma cotovelada no rim mais próximo da gaja bem boa. Não quero tomar banho, não quero escolher um fato, não quero lavar os dentes. Dói-me muito a barriga, mamã. Hoje não posso ir à escola.

No caminho para a estação, a temperatura oscila entre o "Perigo de Gelo" e os 5 graus. Apesar de o céu estar limpo, há sempre a possibilidade de um aguaceiro repentino, mesmo quando tiver que sair do carro.

Se estivesse na Finlândia, é provável que o frio fosse bastante mais intenso. E que a música no autorádio fosse bastante melhor. Aposto no ar forçado a 22 graus e nas notícias. Vamos lá à limonada, que temos limões. 

...

O Presidente da AHRESP  (Associação de Tascas e afins), opina sobre a finta governativa à questão do IVA da restauração. O extremo esquerdo Centeno, agarrou na promessa do Mister Costa, deu-lhe uma revianga e transformou a prometida baixa do imposto numa baixássimassim. Nos comes pagam a 13, nos bebes arrotam 23. Não se governa para bêbados, portanto. Sobre isto, o xôr Presidente da coisa, recomenda calma. Aindágora começou a peleja. 

O Gonçalves está descansado. Diz ele que o código do IVA refere o serviço de alimentação E bebidas. Ora bem, se o serviço é um, as taxas não podem ser duas. 

E um gajo, já mais quentinho, tem que se rir. Da promessa cortada a meio pela realidade e do fraco posicionamento do defesa. Já estou a ver o Centeno a meter a bola por um lado e a ir buscá-la pelo outro:

- Ai ele é isso, oh Gonçalves? Tábem! Nesse caso, exclusivamente por respeito à lei, fica tudo como estava. Bem visto, moço!

Ganda cueca!

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Sem tempo para limpar as lágrimas da gargalhada, entra a comentatriz Ferreira Leite. Parece que a ultima aparição da vetusta senhora na televisão é notícia. Comenta o esboço do Orçamento de Estado. Vai e diz que o berreiro que por aí anda é exagerado. Porquê? Ora, porque as previsões de crescimento não são TOTALMENTE impossíveis. E o documento não é TOTALMENTE inexequível. Espeeeeera, agora fico muito mais descansado. 

Em miúdos: É extraordinariamente improvável que aquilo se cumpra. Mas, sabe-se lá, até pode acontecer. Desde que a Nelinha conheceu um senhor que já tinha visto um porco a andar de triciclo, tudo é possível. Afinal, o nosso Primeiro é António. E de Lisboa, como o Santo. Apesar de mai'scurinho.

Oh senhora, o ABUMbakar pode marcar 40 golos esta época. Não é TOTALMENTE impossível. E o Rio Ave pode ser campeão. Não é TOTALMENTE inexequível. Só não vai acontecer. Táver Tia?

Agora que me ponho nisto, acho que a Nela estava a gozar indecentemente com o esboço. Não?

...

Pronto, aí está como uma pessoa chega à enorme fila da bilheteira, a 5 minutos da hora do combóio, de sorriso rasgado. E queria o Pedro que nos puséssemos ao fresco para França ou assim. Espera lá que já vou. Mas sentadinho.

Obrigado Portugal. 

...

- Obrigado a ti, por teres vindo, Silva. Sinto que uma pessoa de fora pode trazer coisas novas. Não sei, um despertar. Queria que desses a palestra...

- De nada pá. 'Tájábontadinha, já sabes. Vamos lá a isso.

Bom dia, cambada de morcões imprestáveis.

Vim contar-vos, em poucas palavras, a história da Cremilde. A Cremilde nasceu feia e não melhorou com os anos. De raiva de terem uma filha feia, os pais chamaram-lhe assim, Cremilde. O que não ajudou. 

De todo o modo, como cada panela tem seu testo, a rapariga cedo fugiu aos maus tratos de um pai alcoólico e de uma mãe que se prostituía. Escapou da máfia romena, a que estava prestes a ser vendida por déjeuros e uma sande de queijo, com um talhante de salário mínimo.

Sem teto e sem sustento, labutaram até ao osso e lá conseguiram uma barraca de zinco com vista para um esgoto a céu aberto. Feia mas trabalhadeira e íntegra, a Cremilde pariu três filhos e duas filhas. Uns mais feios que outros, todos pobres.

Por altura do nascimento do ultimo, finou-se o talhante que - umas vezes mais, outras menos - era o sustento da família. Por pena dela e reconhecimento a um homem bom - que o era - o dono do talho pôs a Cremilde de senhora da limpeza. A ver se os cachopos comiam das sobras das vísceras.

A trabalhar em cinco empregos mal pagos, um por cada filho esfomeado, a Cremilde encontrou um dia - numa escada que limpava - um psicólogo que a fez contar a sua história. De lágrima na bochecha, o homem concluiu:

- Ai credo, que enorme depressão deve a senhora carregar. A sua confiança nos outros deve ser nula. E o seu amor próprio inexistente.

De queixo pousado na esfregona, ela respondeu:

- Oh senhor, eu não tenho tempo e nem dinheiro para essas coisas. Tenho crianças em casa que contam comigo. Se pudesse sair-me da frente, eu podia terminar de limpar esta escada. Que ainda tenho mais quatro para lavar hoje. Andor!

De pés descalços em cima das chuteiras de marca, eles aguardam. Ai ca burros! Elevo o tom:

- Moços, ou desatam a dar à perna e ajudam o Zé a ser o maior; ou desandam todos para o Al-Shakira, ou Al-Garbe, ou lá que raisparta de clube é que o homem vai treinar se lhe correr mal aqui. 

E isto é a começar já na Al-Moreira. Não tenho paciência nenhuma para meninos mimados. Estamos entendidos, caralho? Bem!

Agora, faxabôr de se porem nas putas que já devia ter começado o treino. Andor!

Pisco o olho à Cremilde, que passa a esfregona no chão do balneário. Quando está sujo, limpa-se.


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Finos traçados



Desde que me vi perante a abusiva - muito abusiva - interpretação da dialética Marxista, resumida na máxima "para acabar com os pobres, basta acabar com os ricos", que me dá urticária esta espécie de cambalhota do correto. Felizmente, em cada ciclo da vida, um gajo encontra os escapes certos para não dar cabo das sinapses com estas questões laterais. À época, e dada a inépcia para a obtenção de gajas, havia sempre uma mão que se envolvia nestas questões filosóficas e arrumava com as duvidas. Hoje, e dada a idade que já me permite ser um quarto de senil, basta escutar o meu amigo secreto dentro da minha cabeça. Está sempre a dizer-me: Como se não fizesses o mesmo, pfff. É bom moço, mas tem uma tendência para a honestidade que o torna irritante. 

- Poich claro. É por icho que eu digo xempre ao meu amigo xecreto: Ojamigoj xão para ajócajiõej. Nada como uma mão amiga, não acha Xilva?

- Vamos deixar isso entre nós e os nossos amigos imaginários, ok Berto?

- Ah, era imachinário! Penchei que era xecreto. Xó. - E come metade de meia tosta de frango com uma dentada apenas.

Acendam-se umas velas, respire-se fundo, vamos refletir ponderadamente acerca do assunto. Imaginem que estamos no topo de uma colina, que o Sol incide nos nossos rostos, sem estar demasiado quente, que há um chilrear manso em fundo. 

- Ou também pode xer numa caja de banho pública. Não é tão acheado, xá xe xabe...

- Berto!!

- Oh, ejtá bem, não digo maich nada. - Com a boca cheia. 

Uma conversa polida e civilizada, ainda que com os ocasionais tons mais ásperos - que ninguém tem sangue de barata - é sempre uma melhor opção. Quando não é verdadeiramente possível, pois que nos exaltemos e se soltem uns berros. O que não podemos perder de vista é a força do argumento. Ok, berre-se a nossa fundamentação, mas que ela seja clara e - sempre! - o motivo do nosso grito.

O que não faz sentido é esta instituição de "tem razão quem grita mais alto". Está errado, não devia ser assim. Se todos concordamos - sim? - que ninguém está certo só porque fala mais alto, porque aceitamos o postulado? Mais que deixar que aconteça, procuramos treinar-nos no método. Pensamos: Caraças, eu havia de ser mais como o Martins, da contabilidade. Com ele ninguém brinca, que levam logo uns berros. Com isto, os Martins da vida gritam cada vez mais alto e cada vez mais frequentemente. E levam a água ao seu moinho com cada vez maior eficácia. Até ao dia em que dão de caras com... um surdo.

Tantos anos que o Universo investiu na nossa evolução, para agora não percebermos que acabar com o berreiro não se faz por nos juntarmos a ele? Que resultado obteríamos se tornássemos evidente o sucesso da calma? Do silêncio.

- Ah, mas era preciso que houvesse sucesso, meu caro.

Tem razão, como quase sempre, o senhor Monteiro da Silva. Mas esquece, convenientemente, que a questão não é essa. Inverte, de novo. Não discuto se o contexto permite que o sucesso se obtenha por outra via. Digo que o contexto está errado. E que não há como modificá-lo sendo uma peça dele. Fazendo igual, perpetuaremos.

Parecendo que é uma grande chatice, é um assunto engraçado. Porque as inversões são bastas e variadas.

- Oh Xilva, chá que fala nicho, a Jubaida não apareche cá há muito tempo, não é? - Emborca meia caneca traçada, para empurrar o resto do pão saloio.

- É outro tipo de inversão, Berto. Não se canse.

Vejamos: 

O rico não paga o imposto porque é esperto, à custa de estudar.
Quem sou eu para o repreender? Vou é deixar de pagar;
Meto baixa cheio de saúde, para não ir trabalhar.
Afinal é com o dinheiro do meu imposto que me vão remunerar;
Quero menos horas no emprego e mais férias para gozar.
Não muda é o tempo que vou, de facto, laborar;

Podia ficar nisto o dia inteiro e a noite assim virar
Que são demasiados os exemplos que tenho para dar:

A mulher caladinha, à força de lhe berrar.
Os tomates cheios, que há coisas que não se pode obrigar;
O corrupto simpático em quem vamos votar.
Para não ser outro que para lá se vá governar;
O Presidente que deve estar morto, por não gritar.
O que, evidentemente, legítima o árbitro a errar.

- Beca, beca, beca, não paras de falar. Não tenjálmoços para cozinhar?

- Raisparta, olhájoras que já são. Perco-me em parvoíces...

...

Ontem foi um dia marcado. O terror que brotou dos nossos valores Ocidentais, uma vez invertidos, não tem perdão. Assim como nenhum terror merece condescendência ou encontra explicação. Nenhum.

O rebelde não é o que faz o que fazem os outros de forma a obter os seus resultados. O que inova a bem do que está certo é que fica mais perto da Utopia. Por ele é que vale a pena torcer.

- Ingénuo! Ou só hipócrita? Provavelmente, traçado.

...

Soundtrack to pints: Cerveza.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Notas para uma Psicologia da Ignorância

Dale Ruff / Springfield Union News

A proibição do incesto é, reconhecidamente, a base da sociedade. Costumamos chamar-lhe família. Não só resolve os problemas da consaguinidade, como obriga a malta a conviver com outras gentes e tal. Senão podia bem dar-se o caso de ficar tudo fechado em casa a ver os novos episódios dos X-Files. Mães, pais, avós, primos e irmãos. Sem que se soubesse bem quais eram o quê a quem. E ainda menos de quem era a responsabilidade de dar a papa aos tolinhos.

A Sociedade é uma coisa importante para as pessoas. Vá que nenhum homem é uma ilha - nem o Demis Roussos foi, embora tivesse perímetro para isso. Acontece que se me ponho a pensar nestas coisas sociais, chego sempre à conclusão que o verdadeiro alicerce de tudo é mesmo o individuo. O fulano, pronto. E na base dele, a ignorância.

Era mai'bonito, confesso, se agora discorresse sobre as maravilhas da curiosidade, o fogo de partir à descoberta do que não se conhece. Enfim, da ignorância como ignição do imenso incêndio da alma. E de facto, esse será um tipo. Mas a que conta, mesmo, mesmo, mesmo, é mais trivial. Sendo que também não é a ignorância de ser burro. 

Ignoramos, ponto. E é disso que vivemos. Ignorar permite-nos manter a zona de conforto e permite aos outros pensarem melhor acerca daquela coisa que poderia, eventualmente, retirar-nos de lá. Como se lhes disséssemos: Olha pá, vou fazer de conta que não percebi isso, de modo a que possas fazer de conta que não o disseste/fizeste/provocaste. E assim, poderemos continuar tranquilamente a fazer o que quer que estivéssemos a fazer. Que não era isso, digo-te já. 

É ajuizado o outro aproveitar esta oportunidade. Caso contrário, é provável que venha de lá um molho de bróculos: Ai sim? Ai ele é isso? Então pega lá isto tudo de volta e mais uma tonelada de coisas chatas para ti. Ou vais ignorá-las? Não que isso possa resolver o problema inicial, está claro. Mas nem esse é o objetivo. O que se procura é que o outro fique com tanta coisa para resolver, ele próprio, que não tenha tempo nenhum para voltar a pensar na questão que levantou. Que nos era desconfortável. E, por isso, optámos por ignorar. Nem que seja à custa de tanto trabalho.

Também é frequente ignorarmos sem esta resma de considerações associadas. Uma ignorância mais superficial, talvez, mas igualmente eficaz. Podemos fazê-lo num duplo sentido:

a) Deixamos no ar aquela sensação de 'evespensarketenhopaciênciapressetipodmerda. Mas de forma polida, sem provocar nenhum confronto. A existir, terá sido o outro a iniciá-lo, normalmente com a onomatopeia "mastutásmaignorar?". E nós, plácidos e serenos, ou ofendidos e em surpresa, respondemos: Eu? Mas estamos a aparvalhar, é? O que foi, diz lá? Seja qual for o motivo desta ignorância, passou a ser demasiado pequeno/parvo/mesquinho para fazer sentido. Se não fosse, não teria passado tão despercebido, certo? Resta ao outro a vergonha e o ressentimento. Ao um sobra o tempo que não terá que despender a pensar num assunto para o qual, claramente, não tem solução/resposta/interesse. Resolvido.

b) Opta-se pelo estado mais puro da ignorância. O sou surdo, ceguinho e tapado como uma porta. Nem ouvi. Não vi, não reparei. Não entendi. Esta é uma atitude, antes de mais, profundamente altruísta. Todo o nosso esforço está concentrado no outro. Em dar-lhe a oportunidade de não nos maçar. Eu fazconta que não oiço, tu fazconta que não deste um piu. Resolvido.

Não menos importante é a auto-ignorância. Aliás, é até a mais importante de todas as formas de ignorância. Ignoro-me. Ignoro as partes de mim que me não são assim tão convenientes em cada momento. Ignoro que tenho uma ganda penca e gozo com ajorelhas do Herrera.

- Quem tem uma grande o quê, Silva?

- Tinto, senhor Monteiro da Silva?

- Oh Silva, diga lá, é quem?

- Está a sair Berto, deixa só derreter o queijo.

- Silva, aqui, aqui. - Acena com o braço. - Estava você a dizer que... - Interrompo:

- Que são trêjeuros e bintecinco. E é muito rápido, ohfaxabôr!

Digamos que - ainda que inconscientemente, de forma não deliberada - ignoramo-nos de modo a podermos reivindicar. A verdade é que se antes de pedirmos/reclamarmos/protestarmos o que seja, fizermos um auto-exame acerca do que é podre em nós, permaneceríamos calados. E ressentidos por não dizermos. E furiosos com o nosso ressentimento. Culpa de alguém, que não nós, naturalmente. Basta ignorar que fui eu que me calei para poder expiar a minha fúria em alguém que me calou.

A merda é ter noção disto. Escrevem-se posts sem piada nenhuma e sem ponta por onde se lhes pegue, se calhar. No fundo, é um disparate pegado, mas tem boa intenção. O que queria dizer é que a ignorância é uma coisa boa. Que nos permite viver tão felizes quanto possível. Quiçá, roçar o Éden.

- Aquela do Clube de Xetrip, Xilva? Xeu ganda maluco! A Eden, munta boa.

- O Éden, Berto. O!

- 'Ochpoij, xe não ximporta, traga a minha continha. Kinda tenho que pachar no Banco. Xempre a correr, xempre a correr... 

Atente-se em São Mateus: "Bem-aventurados os pobres de espírito, que deles é o Reino dos Céus". Existem duas interpretações para a frase. Ou bem que se refere aos tolos, ou então aos ignorantes, no sentido de burros. Usamos a expressão para ambos e está despachado o problema. À luz desta Psicologia da Ignorância, a coisa pode ganhar um sentido terceiro: Os pobres de espírito são, na verdade, os que ignoram tudo o que os pode desviar do caminho. São os conformistas mais abnegados. Deles o Reino dos Céus.

O que Mateus quer - mesmo! - dizer, é que o Reino dos Céus será dos humildes. Dos que aceitam que há coisas que não podemos, nem é suposto, compreender. Um Mundo invisível para lá da nossa inteligência. Que os orgulhosos tomam por medida da inteligência Universal. O Reino dos Céus é dos crentes, portanto. Não dos tolos, nem dos burros, nem da malta que assobia para o ar, nem dos que são lestos a apontar, antes que os apontem. Imaginem uma placa à porta do Reino dos Céus que diz "Para sócios apenas". É maijómenos isto. Ignorantes.


...

- Tájaber Pedro? Não te dizia? Irra, mais à vossa teimosia. Um gajo não se pode lembrar de tudo. Queria ver se existisses desde sempre e para sempre, se te lembravas de tudo. Dass. 

- Tem razão, Senhor. - Corado. - Peço, em meu nome e de toda a equipa, mil perdões. Sempre entendi assim. E depois, já se sabe, o Mateus...


- Pá, tábem, deixa lá isso agora. Trata é de devolver essa malta toda ao Magalhães Lemos e assim, que já não tenho paciência para tolinhos. Eu Me perdoe, credo.

...

Soundtrack to ignorance: Honesty is my only excuse...


segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

1 conferência de imprensa, 2 sms e 3 gargalhadas no Jardim da Celeste




Précoiso a posteriori

O que aparentemente é um paradoxo, trata-se de facto de mera honestidade. Dá-se o caso de ter escrito estes primeiros e curtos parágrafos, em jeito de aviso, depois de concluído o post, postscriptum incluído.

Na verdade, segue-se uma posta bastante infantil. Mete canções de fazer rodinhas, sms com emoticons, péssimas piadas e a Bota Botilde. Tudo coisas que remetem para crianças, portanto.

- Ena Silva, que subtil, credo! - Bate com a testa no balcão.

... 

...Complicado, muito complicado. Mas estivemos bem. Isto não é o trabalho de um homem só. Perdemos todos, mas acho que estamos de parabéns, ainda assim. Eles tentaram explorar as nossas costas, mas a equipa reagiu bem a isso. Subiu coordenada, no tempo certo e isso poupou-nos uns quantos calafrios. Tivemos problemas em parar os laterais deles, mas nunca virámos a cara à luta. Sobretudo na direita, a coisa desequilibrou-se algumas vezes. Mas a equipa teve a capacidade para evitar problemas de maior, mesmo no último momento de cada lance. Infelicidade no golo, nada a fazer. Foi pena, até porque conseguimos enervar bastante o adversário. Para não dizer inimigo, que parece que soa mal...

- Conferência do Vingada, Silva?

- Do Jorge Ferreira...


...

Zé,

O Herrera vai falhar passes fáceis. Não é um prognóstico, é uma lei da vida. Se insistires em jogar em 4-2-3-1, com ele no 2, ele vai falhar mais perto da nossa baliza. Ou achas que o tipo acorda bonito um dia destes? Para te fazer o jeito... ;)

Silva,

Ainda não lhes decorámos as fuças. Disse que jogava o médio mexicano ao lado do preto grandalhão, para meter sangue novo, e trouxeram-me aquele. Bem que estranhei ajorelhas... Pensamento positivo pá, podíamos ter metido o Imbula também. LOL :)


...

Eu fui ao Jardim do Atlântico
Giroflé-giroflá
O que foste lá fazer?
Giroflé-flé-flá
Fui lá saber do Marega
Giroflé-giroflá
E dum tal José Sá
Giroflé-flé-flá

E para que kéjesses tipos?
Giroflé-giroflá
Para dar cabo da mona ao Bruninho
Bahahah-ah-ah


- Oh Silva, isso são duas gargalhadas apenas!

...


Postcoiso

Sabe quem sabe que até gosto do Moussa. Deve ser por causa da Moussa de Chocolate da Licas. Bem boa. A moussa. 

(Que má piada, dass! Majolha,  ks'afoda, é segunda-feira, queriam o quê? Ao menos não ando a dar cabo de entrevistas dojamigos a canais internacionais, como unjyôtros, coño. A inveja é uma coisa muito feia. E a nossa camisola cinzenta de há uns quinhentojanos também...)

De todo o modo, preferia que não tivesse caído lesionado aos 30 minutos do jogo de ontem. 

Mas o mais importante, é que é uma contratação - como a do Conan - para agora. Gente que está cá, que não precisa de adaptação, que sabe das manhas do campeonato e dos manhosos que nele pululam. Se derem para mais do que agora, pues encantados

Não desistimos, not just yet.

E só cá por coisas, para quem se sentir tentado a entoar a lengalenga do "ah não, nada de desculpas com o árbitro, patati patata, idapanharnorealentrefolhodolhodocu", pensem lá qual seria a diferença - PARA ESTA EQUIPA - de entrar na segunda parte a ganhar por dois. 

Baía para o Ferreira e sus muchachos, que foram os moços que melhor desempenharam o seu papel ontem. Ou há dúvidas que aquele era o seu papel? 

- E o Marcelo pá?

- Bahahahahahahahaha.

Eu disse que eram 3 gargalhadas.




quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A casa da Misericórdia é ceguinha de todo.




Um jornal decidiu dar destaque ao facto de os putos andarem a trocar o almoço por apostas no Placard. Não será uma novidade grande para quem não está em coma, mas convenhamos que entre isso e a campanha para as presidenciais, percebe-se o critério editorial. E saúda-se!

Acho que cada um deve cuidar dos seus, mas sei bem o que é este vício do jogo metido no corpo de uma criança. A minha mai'nova, por exemplo, que é agarrada às apostas. No entanto, aprendeu à custa de muito gelado e muita goma não comidos que há que saber controlar o bicho. 

Apostar sim, nada de fundamentalismos, mas só quando sabemos à partida que vamos ganhar. Tomou consciência disto entre os quatro e os cinco anos - maijómenos - na sequência de uma série de apostas perdidas, com o respetivo custo em guloseimas. Ainda por cima, fez-lhe bem à saúde. Não serei apenas o melhor Percidente da história, como já sou um Pai exemplar. Porreiro, pá.

Convenhamos que a miúda havia de ser burra como uma casa, pobrezinha. A quem é que lembra embarcar em apostas como: Aposto que te consigo fazer rir; ou aposto que o Pai Natal é do FCP? Enfim, parece-me que está mais esperta, pelo que tenho evitado apostar com ela.

Por falar em casas, a Santa Casa da Misericórdia comunicou que desconhece em absoluto o assunto. Nunca viu. Pois claro! Então não? Toda a gente sabe, mas não a Santa Casa. O que faz todo o sentido. Já vos disse que as casas são burras. E cegas também. Acho que é por isso que contribuem para a ACAPO, as misericórdias.

Bem sei que se diz que ojolhos são as janelas da alma. Mas creio que nisto das vistas, não se aplicam as propriedades da adição e da multiplicação. Ou seja, a ordem dos fatores conta à brava. Quero eu dizer que ojolhos podem ser janelas, mas não há notícia de que ajanelas sejam ojolhos das casas. Logo, é muito natural que a Casa da Misericórdia não veja os putos em fila a entregarem-lhe o dinheiro do almoço. 

Faz sentido, certo? Está bem que é Santa, mas há limites para a Santidade. Parece que ver o que todos sabem é um deles. Tipo corno, vá.

Ou então é só mais uma Instituição, ainda que extraordinariamente meritória, a fazer de conta que somos todos o José Angel.

- Espanhóis?

- Cepos.

...

- Silva, Silva, tss, tss. Mas que interesse é que isto tem? Ao menos o Baia e a Fernandinha e o que isso tem feito à pena de tanto Portista ofendido com a moça. Que não com o moço. Artigos, reflexões, coisas de interesse. Agora, palhaçadas com a Misericórdia? Porque os miúdos não sei que mais? Quais miúdos, pá? Os dojôtros. Estou bem ralado com isso...

- Pois, desculpe lá oh freguês. Mas que quer? A história da relevância da trica entre um balizeiro e uma Brasileira... Epá, não consigo ter mais piada que essa malta junta.

...

- Oh Pedro! - Chama, entusiasmado.

- Diga, Senhor. - Esbaforido,

- Ca pipa de massa, moço.

- Como, Senhor?

- No Placard! À pala do Famalicão! Pimbas. - Faz a coreografia do "É o bicho", do Iran Costa.

- Mas, Senhor, já sabe à partida que vai ganhar...

- Aaaah, as minhas apostas favoritas. - Dá as costas para sair. Lembra-se:

- Ah, é verdade. Lembra-me de instalar unjolhos na Santa Casa da Misericórdia. Acho que anda a ver bastante mal.

- Com certeza, Senhor.

- Olha lá, sabias que o Nicolau é tripeiro?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Eu é que sou o Percidente! (Inclui Resumo da Semana sem querer.)



Venho informar, em primeira mão, que o próximo Presidente é Eu.

(Aplauso pouco convicto, mas generalizado)

Não pá, do FCP.

(Vaias furiosas)

Cheguei a esta conclusão, de qualquer forma brilhante, depois de gastar algum tempo a ler comentários em noticias sobre o FCP nos media. E também em blogues. E em transcrições de programas de TV. Ficaram a faltar-me as redes sociais, mas o médico disse-me para ter atenção ao estômago. Deduzi que era ao meu.

Diz que ainda tenho que ser sufragado, mas anima-me a esperança que isso não seja uma coisa que magoe. Não sei porquê, mas imaginar que me sufragam faz-me lembrar um bando de pigmeus de rebarbadoras em punho. Preparados para me fazerem um peeling. E eu cá receio bastante que me lixem a peeling.

Seja como for, é uma mera formalidade. Pelo que estamos perante um prognóstico depois do jogo. As minhas promessas eleitorais são apenas duas e completamente imbatíveis:

1. A malta envolvida nas decisões da equipa principal de futebol será:

Presidente Executiva: Myley Cyrus. É novinha, farta-se de dizer baboseiras, tem bom ar e diz que "lembe" bem. Sim, terei uma Presidente Executiva. Porque tenho uma Tasca para gerir e o meu cargo no FCP não será remunerado. Não estou cá para me servir, como uns e outros, corja, pfff.

ComunicaçãoBruno de Carvalho. Words are very unnecessary.

Treinador: A eleger por voto direto de todos os associados e simpatizantes do FCP.

Plantel

GR - Courtois, Stegen, Neuer e outro escolhido pelo Vitor Baia. 

DD - Dani Alves, Zabaleta, mais um a eleger por voto direto de todos os associados e simpatizantes do FCP.

DE - Alaba, Jordi Alba, mais um a eleger blablabla.

DC - Hummels, Piqué, Kompany, Otamendi, mais dois pelo método do costume.

MD - Busquets, Vidal, Kroos e aquele miúdo do Paço de Arcos. Dos juniores.

MC - Iniesta, Pogba, Modric, Fabregas, mais um através do voto dos de sempre.

MO - Messi, James, Reus, Muller e o Tó Maneta do Arrentela. Muito rápido, o Tó.

PL - Suarez, Lewandovsky, Benzema e um sobrinho de uma ex-glória do FCP. Pode ser primo.

ED - Ronaldo, Neymar e um elemento de uma minoria étnica. Pode ser o Quaresma.

EE - Bale, Hazard, e alguém que trabalhe bastante. Olha, a Érica Fontes, por exemplo.

Esquema Tático: Decidido através da contagem de likes na página do FB do clube, de entre os esquemas propostos pelo treinador.

Esta gente vem toda à borla e a trabalhar para o vocalista dos U2, pelo que nem salários teremos que pagar. Têm direito à diária na Tasca do Silva, exclusivamente ao jantar, desde que acompanhados pelo Team Manager, Octávio Machado. Que se encarregará de os acompanhar a casa e aconchegar-lhes os lençóis.

2. O processo decisório na gestão do clube será:

O Presidente não tomará porra de decisão nenhuma! Se era para isso, tinham que me pagar. Olha a lata hein?! 

Para cada questão, será aberto um concurso entre os sócios e adeptos do FCP. O vencedor decidirá. Os concursos terão por base a rede social Instagram e desafiam o adepto, e o sócio também, a partilhar uma foto sua no Estádio do Dragão, envergando EXCLUSIVAMENTE a camisola chocolate do FCP. Meus bombonzinhos. Ganha a foto com mais visualizações, pelo que é bem possível que algumas decisões estratégicas incluam a obrigatoriedade de os sócios adquirirem discos da Ana Malhoa e assim. 

Em caso de empate, de dúvida ou se a opção implicar ver cenas de sexo tântrico envolvendo o Sting (hey michael!), o caso será decidido pelo think tank do clube, composto por gente que reflecte (pun intended) como deve de ser.

...

A opinião é livre, o país é democrático, cada um pensa pela sua cabeça. Os que pensam, pois claro. Mas mesmo os outros, estão legitimados a dizer o que muito bem lhes aprouver. Até eu. 

Eu sentia-me ofendido se me dissessem: Sabes Silva, tu és um moço catita, mas estás senil de todo. Por isso, vou correr com umas pessoas que aqui andam e dizer-te com quem te podes dar. É para teu bem, oh velho dum cabrão, que nem escolher companhias já sabes. Depois de limpinha a fralda, podes sentar-te aí no cadeirão e ser o patriarca da casa, para as visitas cumprimentarem. 

Ora, vão pró caralho sim? Obrigadinho por tomarem conta de mim, mas era preferível chamarem-me logo corrupto e aldrabão e sabujo. Mais respeitoso também. Pensam vocês de que?

...

A pedido de várias famílias ou então por ordem da patroa, uma delas, não quero deixar de abordar um tema fraturante, e basto atual, da nossa sociedade: A polémica entre o Baia e a Fernandinha. Está bem assim, docinho?

A coisa resume-se de uma maneira simples: Vai o Baia e arranja um tacho na CM TV - concorrente direta da Tasca TV, mas para mai'reles - e diz ISTO. A Fernandinha toma as dores do marido e pimbas, RESPONDE. De acordo com a nova linha de gestão descrita acima, a Tasca foi ouvir a malta. É um fartote:

- Pra mim, a culpa é do Pinto da Costa. Se não sabe enfiar umas lambadas à Brasileira para ela ficar sossegadinha, não pode ser Presidente.

- Eu cá, entre o Baia e a Fernandinha, também me casava com ela. Até porque detesto que me arranhem o pescoço com as barbas.

- Ninguém me tira da ideia que ela está a ver se não perde a subvenção vitalícia.

- O senhor faça o favor de me respeitar, sim? Não vê que estou num velório? Ainda por cima a chover. Capaz de me estragar o capacete. Se eu fosse independente, aposto que não se metia comigo.

- Eu só gostava de saber porque é que ninguém me chama quando andam gajas em trajes mínimos a passear-se pela SAD. Porra pá, quando é para ver tristezas tenho que estar sempre lá. Valha-me o Candy Crush.

- Só digo que o 5LB vai ser campeão. E que o milho transgénico é um veneno para os submarinos, sobretudo em altitude. Ou então é o Sporting que ganha.

- A Calimerada? Campeões? Ora, não me faça rir.

- Acho que o treinador havia de ser o Almeida Santos. Isso é que importa e não o vejo preocupado.

- Credo. Mas você sabe quem era o Almeida Santos?

- Eu não. Mas toda a gente diz maravilhas do homem. Deve ser bom. Pior que este que agora veio é que não é de certezinha.

Olha, resumiu-se a semana sem dar por ela. Há assuntos que de tão fantasticamente interessantes, dão mesmo para tudo. 

- Shhh, cala-te, que se vai cantar o fado!


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Uma velha piñata



Todos temos amores, e Amores, e desamores na vida. Não contemplar Desamores, não é esquecimento. É uma opção filosófica, testada diariamente pelos Brunos e Jergos e outros bastante mais importantes. Não resulta. Given love or given hate, determines everybody's fate. Mas divagamos, voltemos à vaca fria.

Nos amores mais escondidos encontramos o maior prazer, porque proibido e secreto e ainda mais íntimo que a intimidade dos amigos. Alguns, poucos, têm a suprema felicidade de os saber partilhar com a pessoa certa - plurais possíveis, gandas malucos! - e viverem a plenitude do sentimento, dor ou gozo ou contemplação, sem o esconder de quem não se quer ocultar nada. Quase nada. Enfim, partilhar o amor com o Amor.

E há ainda os amores úteis. Que na verdade detestamos à superfície, mas que sabemos, lá nos sítios escondidos por onde passeamos de mão dada só connosco, que são determinantes para podermos continuar. Em frente. Sorrindo . São os pequenos ódios que amamos, porque nos justificam. O chefe que é um asno. E por isso trabalhamos pouco, desmotivados. O Governo que é corrupto. Porque haveria então eu de pagar os meus impostos? A mulher que é fria. Anda cá Zubaida que estou carecido de calor. Fora de mim boa parte dos motivos que me levam a ser quem eu não quero. A alternativa é aceitar que sou menos do que a conta em que me tenho. Ou gostaria de ter. Não é fácil.

Na lista destas coisas que não interessam, e que não parecem pertencer a uma tasca, mormente a esta, faltam ainda os amores intocáveis. Os que sabemos à partida que vamos amar sempre. Estes são responsáveis por doses iguais de dor e êxtase. Não os discutimos, nem sequer quando nos doiem tanto que magoa. 

- Os filhos, por exemplo...

- Oh não, nada disso. São amores, ainda assim. A maiúscula é que define essa linha de sangue, meu caro Monteiro da Silva.

- Ah pronto, chegámos à bola...

Mas encontramos sempre a mistura certa de bode expiatório útil e pequena embirração epistemológica que explica a dor. A que o nosso amor nos provocou. Por culpa de alguém, algo, aquilo. Não por ele. Menos ainda por nós, Deus nos livre.

É a piñata. A coisa em que se bate até que se parta e nos molhe com a sua chuva de rebuçados e gomas. Prometida. As mais das vezes, está vazia. Altura em que desatamos a bater furiosamente noutra. Essa sim, é que vai ser.

...

Se fossemos Orientais, olharíamos para os nossos velhos de modo respeitoso e expectante. Esperaríamos ver jorrar a todo o momento a sabedoria que decerto guardam. Pelo menos, é o que me vende a literatura e outros diversos tipos de arte Oriental. Bem sei que estou a maçar-vos através de um telefone, o que pode bem significar que o tempo em que os velhinhos valiam muito já passou. Até no Oriente.

Vá que somos do Ocidente moderno e despachado. Que nos ensina que os nossos velhos são, mais que tudo, um prenúncio de morte. Coisa chata, a morte. E os velhos.

- Mas porque é que tens que ser sempre tu a tratar das coisas ao velho? O inútil do teu irmão nunca pode? 

- Naaa, o velho não tem mão naquilo. Coitado, como é que havia de poder? Com aquela idade, já se sabe...

- Mas porque é que o raisparta do velho não fica em casa? Para empatar o trânsito, está claro.

Quero dizer que aprendemos a esperar nada dos velhos. Apenas decadência e uma série de porcarias que teremos que limpar a seguir. Incluindo as literais. E assim escorregam na nossa memória de ídolos a empecilhos. Até que morram e os voltemos a considerar. Um pouco tarde, um pouco falso. Pouco. Apenas.

Eu sempre gostei de velhinhos. Sei que soa condescendente e quase ofensivo. Oh, que querido, o velhote. Mas não tenho outra forma de o dizer. Foi por convivência e não opção. Por ter crescido na rua e, ainda mais, numa tasca que às vezes aqui reproduzo. No que me permite a memória seletiva. Rodeado de velhos. Analfabetos muitos, todos sábios. 

No fim do dia, são tudo tretas. Só vinha mesmo dizer que há uma coisa que se aprende quando um velho fala: A aprender.

...

Ri-se muito, dobrado sobre a barriga que já lhe dói. Sente a ligeira incontinência preparada para lhe fazer lembrar que o tempo passa para todos. Até para quem não tem tempo determinado. Mas não consegue parar de rir. A auto-satisfação aumenta exponencialmente o caráter divertido da brincadeira. É muito engraçado. Entra alguém na sala imaculadamente branca.

- Senhor. - Baixa respeitosamente os olhos para o chão. Ele não responde, só ri. - Vejo que está bem disposto, Senhor. Por algum motivo particular?

A enorme figura limpa os olhos com as costas das mãos e inspira profundamente. Procura recompor-se. Ainda a esfregar a vista, diz:

- Ai ai, que bem metida. Diz lá Pedro, o que foi agora?

- São José quer dar-lhe uma palavrinha, Senhor.

- O...o...o Zé? - E desata num novo e revigorado ataque de riso.

...

- Oh Silva, isto da piñata e dos velhos e do Zé... Oiça, isto não faz sentido nenhum. Era sobre o quê? Depois admira-se que a malta se chateie e vá beber copos para outro lado.

- Oh, não ligue. Era sobre nada. E sobre o respeito, talvez. Mas pouco. Deixe lá, vamos é beber um penalte katéstala, hein?

- Ah, issékéfalar!