sexta-feira, 15 de julho de 2016

O Pai Natal e as abelhas ou a idade dos porquês


A mais nova atravessa uma fase engraçada: Acumula informação maijómenos inútil. Não completamente, porque está a ficar com um arsenal de desbloqueadores de conversa muito apreciável. Por exemplo:

- Oh pai - sim, porque de momento serei progenitor com minúscula, teen oblige. - sabes que os golfinhos são os únicos animais, para além dos humanos - todos eles com minúscula, se acima dos 16 - que matam e violam por prazer? Eu é que não quero nadar com eles!

Aprende-se bastante com a parvoíce dos cachopos. Eu, por exemplo, aprendi, mas não muito depressa, que não vale a pena a pessoa ir investigar e perceber se isto é literalmente assim. Pela altura em que tenha informação suficiente para debater o assunto, o máximo que pode esperar do outro lado será:

- Hã? Quais golfinhos? São tão fooooofos! Podemos ir nadar com golfinhos um dia?

O célebre psicólogo Dr. Pimenta "da mula russa" Machado, tem aqui substância para repensar o seu postulado. Digamos que o que hoje é verdade, amanhã não tem interesse nenhum. Desde que sejam poucos a lembrarem-se do que dissemos. Ou velhos. Também dá se forem velhos. Toda a gente sabe que os velhos estão sempre a fazer confusão.

São fases. Tipo a idade dos porquês:

- Oh mãe, quando tu e o pai me fizeram, tinhas uma t-shirt vestida? 

- Sim, filha, tinha. - Exasperada à tricentésima décima sétima pergunta sobre o assunto. Grande mentirosa, tss, tss.

Pelo sim, pelo não, eu cá já decidi que não vou nadar com golfinho nenhum.

- Tem medo que o matem, poiché Xilva?

- Não.

...

Se me ponho a pensar nisto, chego sempre à conclusão que ainda não entrei na puberdade. Não só nunca menstruei, como me mantenho firmemente na idade dos porquês. É muito irritante, mas não consigo evitar.

O que raio leva um gajo, qualquer que seja o seu grau de fanatismo, a pegar num camião e avançar aos tiros pelo meio de uma multidão de desconhecidos? Porque haveria alguém de achar boa ideia terraplanar seres semelhantes? Em nome de quê, de quem? Porquê?

Ao mesmo tempo, tenho até medo da explicação. Porque desconfio que se entrarmos na contabilidade do sofrimento, nunca mais temos as contas feitas. E porque não pode alguém com autoridade mandar parar? Pá, uma mão de fogo nos Céus, um punho de gelo a emergir dos Infernos, o Pinto da Costa, eu sei lá, qualquer coisa que os faça ter tino. A todos. A mim também, pode ser. Porque tem a natureza humana que ser tão golfinha? 

E só nesta parva ingenuidade impossível, só no estúpido conforto de uma utopia deveras infantil, encontro uma bucha de Paz. Um shot de Esperança. Sempre toldadas pela consciência da minha própria adjetivação: Utópica, Irrealizável. Foda-se.

Porque não haverão de me provar que pode mesmo ser? Pelos que começam a perguntar porquê tudo e qualquer coisa, pelos  que desatam a guardar informação ao calhas. Esses ainda não fizeram mal a ninguém. Os que tiveram a sorte de não precisar ou de não ser obrigados. 

...

Depois, inevitável e muito felizmente, a vida prossegue. Ou persegue-nos. E mesmo nesta impotência, ou talvez seja por ela, perante questões tão grandes e prementes, dou comigo reconcentrado nas minudências que me enchem os dias.

Porque é que emprestar o Francisco Ramos está muito bem, mas se for o Rafa Soares, é porque a SAD está podre?

- Porque o Presidente mentiu.

Mentiu? Porque dizem que mentiu?

- Porque disse que o Rafa ia fazer parte do plantel. Do outro não tinha dito.

E não fez?

- Não. Começou a época, fez treinos e assim e depois trataram de emprestá-lo.

Então fez parte do plantel, como disse o Presidente, e o senhor que este ano manda na equipa decidiu que ele não devia ficar. O senhor que treina, não o que preside. Foi isto?

- Não. 

Porquê?

- Porque não! É por causa do Jorge Mendes. Qualquer dia estão a chorar porque não temos ninguém da formação para vender. Olha bem para os calimeros e para os lampiões e aprende o que é ter formação. E rentabilizá-la!

Podíamos vender o Ruben, boa?

- Não! Isso nunca. Para quê ter formação se depois os vendemos? O que vai acontecer aos meninos da B? É isto que temos. Buuu, buu. E um Presidente mentiroso.

Ai, não estou a perceber. Vendemos ou não vendemos? E afinal o homem mentiu porquê?

- Se não vendemos, está mal. Se vendermos, está bastante pior. E sim, mentiu. Se fosse um tipo de palavra, obrigava o treinador a ficar com o Rafa.

E com o Josué, poijé?

- Não, com o Josué não é preciso.

Ah. Porquê?

- Coiso. Chato do caraças, chiça, penico! Está lá o Otávio, já paga o Josué. O Rafa é que não podia ser. Eu se fosse da B, ia já para Lisboa.

Como se fosse o ponto de fuga, o escape da pressão dentro da panela, uma cabeçada na parede, vá. A coisa que nos resgata do desespero de não saber o que fazer, como fazer, para onde fugir. O sorriso no meio dos escombros que me ensina, de novo, o meu lugar no Mundo.

A bola tem destas coisas. Por vezes, no seu detalhe pequeno e mesquinho de ser sem importância, tira-me de uma Nice qualquer, são e salvo, e devolve-me a uma colmeia.


...

É sempre a primeira coisa que me ocorre: Porquê? Mesmo que tu aches que é mentira, porque pensas que a minha palavra primordial é não. Verás que o tempo te dará outra perspetiva. Crescerás e passarás a ter Pai, em vez de pai.

Eu continuarei a pensar: Porquê? Por que grande benfeitoria, ou por que bondoso Deus, terei sido abençoado, ou iluminado, com esta possibilidade de te ver crescer? Toda potência. Porque alguém salvará o Mundo, pois salvará? Tu. Porque não?

Ou tu? Meio perdida no fuso de um horário que já não encerra tanta aventura. Todos os caminhos têm troços de muito pó, a descoberto das árvores, no pico do calor. Não é por isso que não haverá um pedaço de bosque, ali, depois daquela curva, com um regato manso de água fresca. Ou um oásis que dê sentido ao deserto.

Há um pote de ouro no fim do arco-íris. Mas que importa isso, quando se pode caminhar ao longo do arco-íris?


...

E tu aí, leve no teu vestido florido, feliz no quilograma a menos que te assenta tão bem como dois a mais, porquê?

Porque te vejo sempre linda e confiante e positiva? Não, não, espera, porque dúvidas 
a
                                                                                                         espaços
que és tão linda e podes tanto e toda a Vida te sorri quando passas? Sou eu?

Porque desconheces esta certeza de pés descalços, duas cadeiras de baloiço em madeira gasta, um alpendre aberto sobre um campo de flores amarelas? E chapéus de palha. 

Porque não poderia, então, ver-te igual a agora? No teu vestido florido a voar pelos ombros, no teu sorriso gemido no interior da coxa, nessa confiança de dedos cravados nas minhas costas. Ou na nuca.

Sabes, informaram-me que somos, na realidade, cinco vezes mais feios do que aquilo que nos vemos. Quer dizer que somos apenas bastante bonitos. Os dois. Mas tu és mais.

...

Ontem, um querido amigo perguntou-me se eu acreditava no Pai Natal. Hoje respondo-lhe que sim, acredito. Enquanto houver abelhas.

...

- Pfff, mão de fogo, mão de fogo, deve pensar que isto é o Tocha Humana, este. Tá bem tá. Oh Pedro, anda cá. - Grita.

- Diga, Senhor. - Curvado.

- Olha lá, hás-de ver se o Nicolau anda a aparecer aos putos fora de época. Às vezes dá-lhe a travadinha...

- A sério, Senhor? Mas porquê?

- Coisa minhas. Faz o que te digo e deixa-te de porquês, rapaz.


...

Soundtrack to darkness and light: I believe in miracles.

...

Ena, por sorte e extraordinária coincidência, está mêmagora a dar um estupendo documentário, na TascaTV, que vem a calhar para esclarecimento de algumas duvidas entretanto surgidas a pessoal amante do tinto. Mas aparentemente reticente quanto ao estupro. Preferências...

TASCA GEOGRAPHIC: Os Golfinhos

Pouco credível? Como pouco credível? Olhem que não é do CM...

18 comentários:

  1. "Então fez parte do plantel, como disse o Presidente, e o senhor que este ano manda na equipa decidiu que ele não devia ficar. O senhor que treina, não o que preside. Foi isto?

    - Não.

    Porquê?

    - Porque não! É por causa do Jorge Mendes. Qualquer dia estão a chorar porque não temos ninguém da formação para vender. Olha bem para os calimeros e para os lampiões e aprende o que é ter formação. E rentabilizá-la!
    Podíamos vender o Ruben, boa?
    - Não! Isso nunca. Para quê ter formação se depois os vendemos? O que vai acontecer aos meninos da B? É isto que temos. Buuu, buu. E um Presidente mentiroso."

    O Silva é levado da breca. Devagar, devagarinho lá vai colocando a pimenta no inhof dos outros.

    E os golfinhos? Pesquisou? Pelo sim pelo não nunca mais nado com golfinhos...nem quero ver fogos de artificio, dasssss.

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    1. Nanana, nada de dissimulado por aqui. Nem pimenta! Só maneiras diversas de ver as coisas. Se nem consigo consigo discordar sempre, como é que havia de concordar sempre com quem quer que fosse?
      Quanto aos golfinhos, não investiguei, opto pela prudente preguiça. A mim não me apanham na água com eles. A menos que lhes cresçam belas mamas :)
      O fogo de artificio e trágico. Porra. Mas claro que vamos ver. Passar a haver São João sem fogo, é capitular. É como nadar com golfinhos: Nem pensem que é assim que nos apanham! Não cederemos. Nem no fogo de artificio.

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    2. Dissimulado, o caro Silva? Naaaa é sempre muito objectivo. Com vaselina, mas objectivo.
      Capitular? Nem pensar. Mas ver o fogo no rio, nunca mais. O gajo dos barcos que quer ir à Lua, também não é de confiança :):)

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    3. Menos, meu caro, muito menos. Não concordo com alguma diferenciação e algumas conclusões que se vão tirando. Porque me levantam as questões expostas. Nada mais que isso. Portanto, aí para onde está a atirar, é tudo água. Nem vale a pena.
      De resto, acho que prefiro arriscar um mergulho com golfinhos do que ir à Lua de barco. Chiça.

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    4. Valente caro Silva. Arrisca mesmo em pelota?
      Abraço

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    5. Eu?? Eu nem gosto do São João :))
      Para além de que o Felisberto é que grama de chamar os golfinhos... :)))

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  2. Correção: os golfinhos não violam! Só matam sem necessidade, o que indicia que seja por prazer.

    Olhos. Gosto dos teus, da forma como veem. Mesmo que acredite que cada vez vejam piorzinho.

    Felizmente que somos 5 vezes menos giros do que aquilo que nos achamos. Era injusto para o resto da Humanidade, certo?

    Luv u. <3

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    1. Ena, que bem frequentada que está a Tasca hoje.
      Atualizo o post com a questão dos animais marinhaqueos, a pedido de várias famílias. Fiquem longe da água, é só o que vos digo.
      De resto, as minhas diopterias estão muito bem e recomendam-se. E gosto das suas. Diopterias. Deixe-se estar afastada dos oftalmologistas. São uma cambada de aldrabosos mentirões.
      Luv u back, cara freguesa bem boa.

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  3. Começando pelo fim, digo desde já que o Silva é o melhor DJ á face da Terra, do sistema solar, do universo, multiverso, e todas as galáxias juntas á la George Lucas!!!!
    Edguy não falha nem um único Ep na minha colecção, apesar do senhor Sammet andar metido em operas-rock com o projecto Avantasia!

    Sobre os golfinhos, são uns grandes fdp!!! Só de me lembrar que em Tróia corri uma maratona para tentar dizer á minha Maria que eles andavam ali no rio! Quando cheguei ao pé dela para lhe dizer que andavam golfinhos na costa, já os grandes cabrões tinham desaguado no mar!
    Resumindo: fiquei sem folego e sem crédito junto da patroa que pensou que eu tinha vindo a correr vindo duma tasca e estava em fase "delirio tremes todo, kisso é binhaça"...

    O que se passou em França, mostra toda a natureza humana, que quer pensar que age pelo divino, fala em nome do divino, e rege pelo divino!
    Mais uma vez digo, mais uma vez afirmo: foda-se, ainda bem que sou ateu!!! Até uma barata pus numa gaiola a pensar que era um grilo!!! É tempo de deixar o homem ser homem, caralho!
    Apesar de não ser a minha praia, acho o "Imagine" do Johnn Lennon cada vez mais actual!!!

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    1. Também pensei no Imagine, claro. E olhe lá, aquilo dia Avantasia tem piada.
      Já agora, tudo errado nessa aventura dos golfinhos. Toda a gente sabe que para atrair os bichos, tem que se entrar na água em pelota e de rabinho a dar a dar. Tipo pato. Diz que é tiro e queda, aí vêm eles desmandados atrás da pessoa. Parece é que causa um certo desconforto ao sentar :)
      A culpa é sempre da barata. Desde o big bang.
      Mais uma vez, OBRIGADO. Abraço.

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    2. Felisberto, aquilo em Nice será algo relacionado com o divino e as religiões? Muitos se esforçam para que pareça, mas não me cheira a nada disso.

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    3. O petróleo, as armas, o poder, o dinheiro de forma geral... Pode-se chamar deus ao que se quiser, desgraçadamente...

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    4. Com o devido respeito às vitimas, brincando um pouco com a desgraça, neste caso, quer parecer que foi um Lopetegui de origem Tunisina que lhe deu uma Maiconada.
      Mas, uma vez mais não deixa de ter razão, os deuses que menciona estão presentes em tudo, até nos tratamentos milagrosos da Dª Dolores e na não condecoração da Erica Fontes pelo n/ PR. :):):)

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    5. Olhe que não, olhe que não. Se fosse assim, tinha sido pacífico. O Lope ia fazer o camião circular à volta da multidão, sem magoar ninguém :) e o Maicon atropelava-se a ele próprio e depois ia amuar para outro lado :)
      A não condecoração da Erica é uma mancha eterna na colcha da nossa Democracia. Quem sabe um dia chego eu a Presidente..,ou você ;)
      Abraço

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  4. Touché. Leva lá a bcicleta.

    Ganhas esta, mas num ganhas todas!

    Abraçom

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    1. O Garcia também vai. Ganhas esta, mas não ganhas todas! :)
      Vamos ter que ir a prolongamento :))))
      Abração

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  5. O gato que à porta de casa, brinca torturando o rato caçado, não será por prazer?

    No nosso Porto, se quando ganhou com VP, estava tudo mal... Agora que não se ganha é o fim do mundo! À dias, um grande amigo e acérrimo crítico da rotação do Lopetegui, estava a elogiar a rotação de Fernando Santos!Golfinhos do c@ralho!

    Abraço

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    1. Na verdade, não, Carrela. Pode ser um pouco de exercício, mas não mais que isso. Provavelmente, é apenas um token do apreço do bicho pelos donos da casa. Vivo. Porque as prendas se querem frescas. É mesmo este o raciocínio. E devíamos agradecer o cuidado, porque os gatos sabem que somos muito fraquinhos a caçar ratos.
      Abraço

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