quarta-feira, 18 de abril de 2018

Putas e finais, com Eugénio



Sou um tipo derreado. Cansadamente exausto. Naquele estado em que os indivíduos falam para a pessoa e ela lhes acena com a cabeça, enquanto reza aos Santinhos da sua devoção para que não esteja a anuir a propostas de sodomização mútua, envolvendo a equipa de râguebi da Casa de Pessoal dos Estivadores de Mogadíscio. Ainda por cima, tenho sempre azar nos sorteios.

É um fastio muito acentuado desta coisa do “ainda não ganhámos nada”, “a quantidade de pontos que ainda vamos perder”, “we’ll always have Restelo e Paços”, “é com os últimos que vamos deixar fugir esta merda”. Boa parte dos que assim me extenuam, não há uma semana lengalengavam “só a vitória no galinheiro se aceita, nenhum outro resultado pode servir, nunca, é o fim, kaput, game over”. Fartinho debujóbir. 

Portanto, se o FCP não ganhasse, era o fim. Em tendo ganho, muita cautela que estamos quase a perder. Ora fodam-se, sim?

Começo a acreditar que em consequência disto, cria-se aquele mui visto, sempre irritante e mentecapto estado de espírito da final. É tudo finais. O Setúbal em casa, uma final; o Marítimo na Madeira, ui, os penalties de uma finalissima; o Feirense, tremei tripeiros, lembrem-se do que nos tem feito esta autêntica laranja mecânica de Terras de Santa Maria. 

Depois admiram-se que os cachopos pareçam meninos de coro, acabados de chegar ao dormitório do Colégio Militar ou assim. Ai que o adversário, um colossal Vitória de Guimarães de Peseiro - lá está! - nos marcou um golo. Credo, ainda se perde o (yet another) jogo das nossas vidas. Vai ser o fim. Procedamos a borrar-nos todos, dada a trampa que somos. Quanta responsabilidade, quanto peso, quanta tragédia, tanto relógio, tanta pomba assassinada, não quero para mim tanto veneno... Fuck it, já sei que já perceberam, mas eu gosto de citar Eugénio e a casa é minha.

...

Rapazes, nada disso! Estais à frente de um Campeonato arbitrado por Bruno Paixão, João Capela, Luís Godinho, Bruno Esteves e outros camaradas igualmente dados ao sacerdócio; em que disputastes partidas como as da Feira, Moreira e Vila das Aves; em que empatastes a zero com golos ignorados, como o de Herrera, na vossa própria casa - la casa de un hombre es su castillo - contra o todo poderoso adversário; em que errastes clamorosamente como nos ditos Paços e Restelos; e em que resgatastes o lugar que vos pertence por justiça, ganhando orgulhosamente no terreno do inimigo.

Já chega de desconfianças e tremores. Que mais há a provar? É chegada - e já vem atrasada - a hora de encher os peitos e empinar o nariz. São eles quem tem a temer, os pobres Vitórias, os incautos Marítimos, os despromovidos Feirenses, pobres coitados. Abri alas, saudai o Campeão, vinde testemunhar o poder e o brilho do Primeiro! 

Trinta mil mareguianos caralhos vos enrabem se ainda não acreditam, se ainda desconfiam, se acham mesmo que são finais. As finais são apertadas e fechadas e tensas. Parecem nubentes ansiosas mas indecisas. Não é aí que estamos, senhores. Senhor. Sérgio. 

O que somos é o guerreiro cheio de cicatrizes - é certo - que emana o poder das suas múltiplas vitórias, a pele tisnada do Sol dos campos de batalha cobrindo os músculos hiperdesenvolvidos. O matulão de cabelo ao vento, instilando pavor e inveja nos adversários e arrancando suspiros e íntimas humidades às castas donzelas. É isso que sois! 

E agora o herói entra no bordel da terra e é festejado, agraciado, a sua voz incontestada, o seu ouro largado sem cuidado. Ai de quem lhe toque. Não vem para descansar, vem para foder as suas putas, mesmo as que ousarem fingir que resistem. Não são finais, não são nubentes, são o prémio da Glória que fizestes por merecer. Experientes, macias, infalíveis, perfumadas e cheias de tesão. Tomai-as!

...

As coisas quando têm que ser feitas, não há como começar logo a fazê-las. Diz que visitamos um prostíbulo esta noite...







14 comentários:

  1. Tão bom como o petardo do Herrera, sr. Silva.:)
    Sérgio Conceição deveria passar "osolhinhos" na sua prosa e aviar uns "néguinhos" de carrascão da pipa do patrão da Tasca.
    Que seja feito o que tem de ser feito.

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    1. É só isso. Não precisam inventar a pólvora sequer, porque isso já eles fizeram.

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    2. Imbecilmente acagaçou-se e deu merda, pois...ai se fosse o NES a fazer uma cagada destas

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    3. Se não foi, pareceu :)))
      E entregamos assim de mão beijada mais 2 troféus importantes. Taça e Supertaça.
      A famigerada "exigência" que era baluarte deste Clube, anda pelas ruas da amargura.

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    4. Hey, como assim Supertaça?? Brincamos? Vamos lá ter juízo, bem!

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    5. :))) O gajo já está tão borrado só de ouvir JJ e de pensar em treinar penalties que provavelmente vai dizer como o outro, que o Setubal, Guimarães, Feirense, Maritimo são adversários "dificilissimos" e joga para empatar, só para não ter de jogar com o Sporting. Olhe o pleno de JJ como oferta de Sérgio Conceição. :))))

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    6. Não blasfeme senhor! Vamos ser campeões em casa com o Feirense e vamos esperar 5 aos lagartos na Supertaça. Lei aqui primeiro.

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    7. Nada como passar pelo estabelecimento do Sr. Silva para esta arreliadora azia abrandar. :)))

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    8. Já se sabe que isto é uma casa de pasto que troca azia por dores de cabeça. Na manhã seguinte :)

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  2. Ao comparar os vários blogues relativos ao FCP que vou acompanhando, não tenho a mínima dúvida que este é, de longe, o mais interessante: pela criatividade, pela variedade, pela assertividade, pela irreverência, enfim... E tem toda a razão, "Seu" Silva, porque raio nos havemos de amedrontar perante adversários como o V. Setúbal e o Feirense em casa? Por que razão temer os Barreiros ou o Afonso Henriques quando a glória é logo ali? A quatro jogos do fim, com tudo para ganhar, esse discurso "coitadinho" só mete dó...
    E, mais uma vez, obrigado pela grande malha final com que presenteia quem o lê: prazer a dobrar!

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    1. Estamos de acordo...é uma grande malha ;)
      De resto, estou afónico de pedir que parem com a história das finais. Era só uma. Correu mal...
      Obrigado pela preferência Carlos. Pagas o fino à mesma.

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  3. Oi seu Silva. Prazer em reencontrar este belo estabelecimento de novo
    Demorei um certo de tempo para refletir sobre a sua prosa, bastante motivadora! Talvez seja o meu lado feminino mas houve algo que não encaixou, e até parecia que sim . Mas não. Por mais que o espírito viking seja interessante não creio que seja essa a nossa sina. Valhala está muito longe de nós porque acredito não teremos espojos de guerra porque a nossa luta é eterna. Trocando por miúdos, não é o caso de irmos a festejos na "casa das primas" do mesmo jeito que não temos "caralhadas de finais". Eu vejo mais assim com um espírito samurai. Ninguém morre de facto quando defende a sua ideologia. Ou antes. Desconsidero a minha morte futebolística. A minha espada é azul e branca morrendo ou vivendo. Essa sou eu e sei que não estou sozinha. Não tenho orgulho e nem medo só existo junto dos meus pares. Eita, vou parar por aqui acho que exagerei na caipirinha.
    Adili

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    1. Aqui toda a gente toma uma a mais. Bem-vinda a casa. :)
      Mas repare Adilia, os vikings festejavam as derrotas também. Chamavam-lhe descanso. E ganhando ou perdendo, davam por garantidas 3 coisas: há uma batalha a seguir, somos nós que a ganharemos e desconhecemos o medo. Quer dizer, os cabroes eram todos do FCP. ;)
      O ponto é deixarmos para lá essa coisa de estarmos sempre ansiosos, como se partíssemos sempre atrás. É falso, estamos à frente, somos melhores, vamos lá demonstrar isso.
      Foi daqui que pediram maIs uma caipirinha, certo?
      Até breve.

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