domingo, 26 de maio de 2019

Balanço 18/19 - I: Flashback e Contexto



Direto. Diríamos grosso, porque sabemos que curto não será quase de certeza. Mas, tirando estes, sem floreados e metáforas e segundos sentidos. A Tasca agora é exclusivamente o que me apetece, quando me apetece e para o que me apetece. Desta vez é bola. Pura. Acabou a época e eu estou a ponto de sufocar se não disser umas coisinhas. Bem, umas quantas. Bastantes. Tantas que não me chegará a jornada de A Culpa é do Cavani que, certamente, tratará destes balanços. Por outro lado, tenho saudades de partilhar estas conversas com malta que, eventualmente, nem sequer ouve o podcast. Prontos? Na verdade, quero lá saber se estão. Eu estou! É quanto basta.

Por hoje, ficam as duas primeiras partes: Flashback e Contexto. Ficarão a faltar outras duas: Trial by fire e Futuro.


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FLASHBACK

Saberão, e se não sabem fica já dito, que não sou propriamente uma groupie do nosso treinador. Aliás, não o teria escolhido sequer. Até porque nunca percebi porque o deixámos cair num dezembro, para depois o trazer num agosto. Será uma questão de mês? Ou depende da graça de quem trás pela mão os negócios que fazemos? Pois que não sei, nem agora interessa nada. Como sempre.

Dito isto, estive à vontadinha para me deixar estar fora do band wagon que logo se montou. Aquela coisa do "ai pobrezinho que não tem jogadores, é uma cambada de pedreiros e de enjeitados da vida, como pode ele arranjar rosas se nem um papo seco lhe dão?", you know the drill. Defendi na altura, e defendo hoje, que, limitados que estávamos, mantínhamos argumentos para competir e ganhar. Como bem o provou Sérgio Conceição, ganhando um dos mais importantes campeonatos da história do Futebol Clube do Porto, impedindo o desígnio nacional de oferecer um penta de títulos, sujos e falsos, ao clube do regime. Tivemos pena, só que não. 

Sendo uma vitória de todos, foi sobretudo do treinador. Havia um esforço de denúncia feito pela comunicação do clube que abalou o gorduroso e fétido status quo, deixando, momentaneamente, o viscoso polvo sem saber como reagir, de gordo e pastelão que estava. Mas nada teria produzido qualquer efeito se não trouxesse consigo o Mar Azul. E no futebol, não há mar que resista à derrota e à resignação. Imaginem a época passada com NES. 

Por isso, Sérgio Conceição foi o grande obreiro daquela conquista. Não porque tivesse conseguido produzir qualquer milagre futeboleiro, mas porque conseguiu trazer de volta o espírito do Dragão - e poucos conseguiriam - e, ainda mais importante, somou vitórias, esse combustível infalível para a nossa chama. Pelo que leram acima, sabem que não posso ser mais honesto do que isto. Tendo perdido, teria a mesma responsabilidade de qualquer treinador do FCP que perde. Tendo ganho, é apenas justo reconhecer o papel que desempenhou nessa vitória: o principal!

Do lado da bola propriamente dita, nenhuma surpresa: fraquinho. Como todos, fui no Mar, dentes cerrados. Mas de olhos abertos. Não jogámos grande merda a maior parte do tempo. Mas hey, ganhámos! Vinha lá uma época toda nova, para crescer, equipa e treinador, e voltarmos a ganhar e, agora sim, começarmos a encantar. Está feito o flashback, vamos lá ao que importa.

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CONTEXTO


Já todos lemos, ontem, a última página deste livro, portanto permitam-me apenas que, para não nos perdermos, contextualize esse epílogo:

Em dezembro eu sentia-me Campeão Nacional. Bem me disseram pessoas ponderadas que era demasiado cedo. Malta dos números recordou-me o avanço desperdiçado no ano anterior. Mas eu sentia-me campeão na mesma, porque o espírito tinha voltado e, ainda que por motivos de força maior e, sobretudo, alheios à vontade do nosso treinador, o futebol ameaçava melhorar. E tínhamos seis pontos de avanço para o segundo à 16ª jornada. Sim, seis. Para o Braga! Sete para os lampiões, que vinham em terceiro, oito para o Leça, digo, os lagartos. Com quem, aliás, jogámos a última jornada da primeira volta, em Alvalade, e logo aí deixaram claro que, por eles, empatar todos os jogos contra o FCP estava muito bem. Virámos o campeonato com 5 pontos de avanço sobre o polvo. Juro-vos, ingénuo, achei que lhe íamos dar a porrada fatal.

Olhemos agora para os adversários. Em consequência do que era a demonstração de superioridade do FCP, o Padrinho entregou o campeonato. Fez uma retirada estratégica, despedindo o sonso Vitória para agradar às massas, arrumando o orçamento ao despachar as grandes estrelas que havia contratado na pré-temporada e nomeando um treinador interino que foi buscar à equipa B. Que me tentem convencer que tudo isto era para ainda serem campeões é lá com quem come gelado com a testa, eu não. Tenho claro que o Padrinho se preparava para passar meia época a preparar o ano seguinte. As palavras do novo sonso são prova bastante: não me pediram nada. E também não lhe deram nada. Ele que se arranjasse com os putos da B. Isso que agora chamam de "aposta na formação", "os meninos de ouro do Seixal", há menos de meia dúzia de meses era a direção a desistir do campeonato. Eles sabem que sim, eu li-os nas redes sociais e ouvi-os nos cafés.

Do Sporting da Covilhã todos sabemos tudo à saciedade. Até porque eles próprios - diz que pela mão do atual Croquete Mor até - fazem questão de passar para fora o que se passa no balneário. Sejam massagens com as mãos, abertas ou fechadas em punho, sejam festinhas com fivelas de cinto, enfim, o costume. Sem plano, sem treinador, sem equipa, lá se fizeram à estrada. São estas duas as equipas que em 2018/19 tiveram troféus para comemorar em Portugal. Nós não!

Em janeiro, o treinador pediu e recebeu um avançado versátil, um médio defensivo e um lateral direito. Do nada, chegou ainda um multi-titulado defesa central que, para mim, é o segundo melhor do plantel. O que se decidiu fazer com esta gente, não é responsabilidade de mais ninguém senão do próprio Sérgio Conceição. Acredito que preferisse Mbappé, Canté e Meunier, só para ficarmos em malta que fala francês, mas isso não pode ser razão para desperdiçar avanço para adversários no estado anteriormente descrito.

Achar que isto pode acontecer exclusivamente pelo ressurgimento em força do polvo vermelho, é contribuir para perpetuar este estado de coisas. É falso! Assim como a nossa força em campo o abalou, foi a nossa incompetência na relva que acabou por torná-lo relevante novamente. Não que isso justifique a batota. Nunca! Sermos fracos não implica que nos roubem para que outros, ainda piores, possam fazer de conta que ganham. Digamos que numa terra com justiça teríamos vencido apesar de nós mesmos. O que não nos tornaria melhores.

Nada apaga a pouca vergonha a que assistimos em Braga, em Moreira, em Vila do Conde, em Freixo de Espada à Cinta se fosse preciso. Como nada apaga o facto de termos perdido tudo para as equipas descritas acima. Porque aconteceu? Porque ao roubo instituído como normalidade numa Nação completamente falhada - que somos! - juntámos o nosso futebol: fraquinho. Perfect storm.

Quem decide do nosso futebol? Sérgio Conceição. Tendo perdido desta forma, é apenas justo reconhecer o papel que desempenhou nessa derrota: o principal.

Já fora do campo se adivinhavam sinais preocupantes. A Comunicação perdeu gás e quase pareceu uma caricatura de si própria, mesmo quando não esteve mais preocupada com interesses pessoais, porque de pessoas, do que com os do clube, numa espécie de roda-livre em auto-gestão. A verdade é que não há porque acreditar que antes houvera uma estratégia do clube, ao mais alto nível, depois colocada em prática por segundas linhas executivas brilhantes. Tudo teve sempre o ar de carolice e abnegação e fervor clubista. Como que por acaso. 

Portanto, é natural que em alguma altura se esgote.  E esgotou. Esgotou tanto que nos demos ao luxo de "calar" o treinador durante boa parte da época, no que toca às arbitragens. Aquele que, cavalgando a clara injustiça com que temos que nos confrontar semana após semana, trouxera de volta o espírito do Dragão, via-se desautorizado, em direto, por um qualquer invertebrado com tempo de antena. Por alma de quem o tem, não sei, mas gostava. Até porque depois tenho que aturar as redes sociais que acham que A Culpa é do Cavani não deve transmitir aqui ou acolá, porque são vermelhos ou encarnados ou rubi. Já esta contribuição, sei lá até que ponto decisiva, do canal do clube para a bela merda que foi esta época, epá, lá acontece, merdas que já se sabe, é correr com o gajo, siga. Siga tudo na mesma, portanto...

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6 comentários:

  1. Bem vindo Sr. Silva e em grande forma. Palavras para quê, está tudo aí, até no Pepe que é de longe o segundo melhor jogador do plantel.
    Como não ouço o Cavani (gosto tanto dum dos elementos, como do Pedro Guerra), sabe bem ler o que aqui está bem esgalhado com marca de autor.
    Abraço e que as lágrimas de desespero individual não se repitam, mas sim as lágrimas de alegria colectiva.

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    1. Acredita que é em si que penso primeiro sempre que me dá para cá voltar? Ele há coisas... :)
      Quanto ao Cavani, se um dia se proporcionasse, veria que é mais o que vos une do que aquilo que vos separa. But hey, eu gosto de pipocas :)

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  2. "And now the end is here". Ou "a crónica de uma morte anunciada". Não consideraria o artigo tão pessimista se vislumbrasse alguma alternativa. "No way at all". Todos os dias há mais alguém que quer sair... menos o patrão. Falei nisso várias vezes mas o título do ano passado mascarou as coisas. Agora vai ser muito complicado remendar um plantel partido em cacos. Dinheiro vem por aí algum da UEFA mas falta cabeça fria e discernimento a uma SAD fossilizada. Abraço

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  3. Não nos demos ao luxo de calar o treinador. Ele calou-se, possivelmente para se preparar para o corpo a corpo com os adeptos do F.C.Porto.
    Curioso é que mandou contratar um guarda-costas de 7 milhões, para o ajudar na tarefa.
    Com a vantagem dos custos serem como as dividas do Orelhas, os outros que paguem.

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    1. Não há corpo a corpo com adeptos, nem lá perto. QUanto ao Loum..não tenho opinião, nunca o vi a jogar :)

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