sexta-feira, 10 de julho de 2015

Portogal



Vai fazer uma semana, tive a soberba oportunidade, não desperdiçada, de colocar rostos em algumas das palavras que vou acompanhando na bluegosfera. E, apesar das horas curtas, tão curtas, confirmar cumplicidades. Como se nos conhecêssemos há bastante mais tempo. Enfim, foi ótimo poder escrever, mas desta vez com os braços, "um abraço" ao Miguel, ao Jorge e ao meu guru nestas coisas bloguistas, que é outro Jorge, mas com apelido de defesa central da Juve ou assim. Naturalmente, sem menosprezo para todos os outros presentes, com quem aprendi num intervalo temporal tão pequeno, coisas tão grandes.

Panasquices à parte, impulsionado pelo tema que serviu de mote aquele Encontro, e posteriormente espicaçado por esta prosa, pus-me a pensar se de facto sou Portista ou se tenho andado a enganar-me. Até consigo perceber que me engane, que toda a gente gosta de gostar do melhor. Mas caramba, se assim é, tenho feito um trabalho de camuflagem espetacular!

Vejamos, há uns anos um querido familiar, à época ainda recente familiar, olhou para mim e definiu-me numa das suas sempre lapidares, e lampiónicas, afirmações:

- Pá, tu és preto, mouro e tripeiro. Porra, não te aconteceu nada de jeito! - Para elevação das almas mais suscetiveis, esclareço desde já que não há um pingo de racismo ou xenofobia implícitos nesta frase. Se o conhecessem, este parágrafo seria desnecessário. Pelo sim, pelo não, fica dito.

A verdade é que eu tive a felicidade de nascer em África, no seio de uma família completamente Africana. A mãe era de Cabo Verde, o pai é Moçambicano. Se recuar uma geração, a Avó paterna já foi nascida em Moçambique, apesar das origens...Mauricianas, a outra Avó era Cabo-Verdiana do Mindelo. O Avô paterno, esse sim, era de Rio Tinto. A verdade obriga a que se diga que era o mais Africano de todos. Porque o foi até morrer, por escolha. Do outro Avô sei muito pouco, mas creio que nele terminou um ramo anglo-saxónico da família. Pronto, imaginem a ONU e estamos conversados sobre as raízes.

Chegado à Metrópole, fizeram-me desaguar nos arrabaldes da Grande Lisboa, onde passei mais de 20 anos da minha vida. E paremos aqui por um instante.

Com quase 30 anos de idade, este belo mancebo nunca tinha vivido no Porto, ou sequer passado mais do que curtos períodos, em trabalho ou lazer, na Invicta. Pelo contrário, tinha crescido na Amadora, morado em Benfica e representado o Sporting Clube...Brandoense. No entanto, era a cidade do Porto, o Norte, que me deslumbrava. Aceitava sem rodeios o mito do "é no Norte que se trabalha" e enchia-me de um estranho orgulho, alheio, a estória dos Tripeiros.

Ou seja, é um exercício completamente ao contrário. Não era da cidade que me advinha o amor ao Clube, por ser manifesta e comprovadamente impossível. Mas do Clube se fazia a paixão pela Cidade. Ainda hoje isso me custa o dobro da revolta quando nos fecham as portas do Município ou quando portuenses achincalham o FCP. 

Ser Portista em Lisboa, por exemplo, é bastante mais complicado do que ser lampião em Campanhã. Hoje será menos assim, mas no meu tempo, para além da resma de papel para fotocópia custar apenas 25 tostões, era uma escolha bestialmente solitária. Em 1987, enquanto o Porto saía à rua em festa e alegria, eu saí de punhos cerrados e insulto pronto. Não para festejar, mas para confrontar. Fazendo uma batalha contra os outros da minha alegria intima, partilhada apenas e só em casa. 

Vivi bons momentos nas Antas, mas o meu estádio é o Dragão. Nunca assisti a treinos, nem sequer vi um jogo dos juniores ao vivo. Não passei dias entre o estádio e o Pavilhão Américo de Sá. Gosto da cobertura da minha arquibancada, gosto do conforto da minha cadeira azul e acho-os bem melhores que as bancadas de cimento. Não me incomoda o cheiro das pipocas e passo, sempre!, pelas lojas do Dolcevita antes de entrar. E sou do FCP. Nem por um momento isso tudo me faz ser menos. Não creio igualmente que me faça ser mais, nada de confusões. No máximo faz-me não ser saudosista. E mesmo isso, acredito que está mais na genética de cada um, no ADN!, do que na História.

Mas se a mística, para além de uma tosta (estás a dever Miguel!), se faz de um espírito guerreiro que em nós, Portistas, é maior e mais exacerbado, então deixem-me que vos diga que não há nada mais místico do que ser Azul e Branco em terra de Vermelhos e Verdes. E todos aqueles que viveram e vivem esta experiência saberão muito bem de que sentimento estou a falar. Também eles terão, suponho, uma dimensão de julgamento, de todos os tipos, especial para o NGP. Porque JNLPC foi o nosso Leónidas e nós os seus indefectíveis 300.

Por coração, acabei aqui. E este acabei não é uma mera palavra, é todo um processo de intenções. Já não saio daqui para mais lado nenhum. Tenho mais esta dívida de gratidão para com uma freguesa aqui da Tasca. E confesso, é muito melhor estar tão perto. Perto do Dragão, da Cidade, de vocês. Até Lisboa ganhou um brilho diferente. De facto, como é linda a Cidade, que luz única tem (não, não é essa! É luz mesmo, de iluminar!).

Portanto, não foram as raízes. Ainda que uma das minhas primeiras reminiscências seja o Avô a sintonizar um rádio enorme, que parecia feito de palha com botões dourados, para ouvirMOS o relato do Porto. Também não foi o local onde se viveu. Pelo contrário, a aura ainda hoje especial que o Porto tem para mim, deve-se ao facto de ser a casa do FCP. Não são as memórias dos locais mais míticos, pois que para mim nunca o foram. Então que raio de Portista és tu, Silva?

Não sei. Sou este, que querendo que a Seleção ganhe sempre, não se chateia por aí além se perder. Este que não mente e por isso avisa à partida que não, não vai torcer pelas "equipas portuguesas" nas competições europeias. Eu quero mesmo que os outros percam. Não fico particularmente contente, e menos ainda orgulhoso, por ser assim, mas sou. Make no mistakes, sinto-me tão Português como qualquer campino. Provavelmente sou é ainda mais Portista.

Pode ser que o Porto, o FCP, seja a minha verdadeira Nação. Tão esbatidas as raízes, tão dispersas as ligações, pode ser que me tenha restado o FCP. O elo comum, mesmo que inexplicável, desta vida. Não que isto vos possa interessar, mas se calhar o nosso Clube é a minha ALMA MATER.

E a vossa?  Am i alone in my belief?


...

- Oh Silva, eu sei lá se está sozinho. Sei é que está parvo, isso sim. Que tédio...
- Tome ópio.

terça-feira, 7 de julho de 2015

A hora da raiva ou supostas considerações dos sobreviventes



Sinto mãos nos meus antebraços. Suportam-me. Por um lado, ainda bem. Porque me apetece mesmo não dar mais um passo. Cair aqui, neste exato sítio, e deixar-me morrer. Também é certo que me apertam e que vou ficar com os dedos marcados. A minha contagem de plaquetas já não se coaduna com apertões.

Esta é a hora do remorso. Por tudo o que não fiz por ti, para ti. Preferia estar a tratar da logística de todas as coisas que ainda faltam. Ou a pensar no que mudaria na nossa vida, na nossa casa, se voltasses mas já não te pudesses levantar da cama. Mas não voltarás e todos me dizem que não me preocupe com nada, eles resolvem. Sobram-me, por isso, minutos demasiados para ocupar com os gumes das coisas que ficaram por te fazer e dizer.

Apetece-me tomar chá e comer areias contigo. Arrependo-me de todos os dias em que não tive tempo para chá e areias. As coisas tão importantes que tomaram esse lugar, esses pedaços da minha vida, caíram contigo e partiram-se naquele soalho. Estão feitas em nada, porque sempre foram nada ao pé do teu chá e das tuas areias. Como pude ser tão descuidado e tão pouco lúcido? 

No fundo, no fundo, a culpa é tua. Que me ensinaste, ventos e marés depois, a entender que estarias sempre lá. Agora falhaste-me. Quebraste a promessa de que me sobreviverias, que não me obrigarias a viver este tempo neste Mundo onde já não estás. Eu que tinha sempre palavras, que me deliciava na minha irresponsabilidade de velho, estou mudo. Só sei dizer chá e areias.

E agora as mãos nos meus antebraços, as minhas novas pernas, empurram-me um pouco mais para a frente. Há uma expetativa perante mim, perante este que nada espera e já não pode desesperar. Irónico. Ei-los, os muitos microfones que me ligarão aos muitos milhões que escrutinam as minhas lágrimas, sedentos de poderem chorar comigo ou apenas desejosos de acompanharem a minha dor. Enraivece-me. Mesmo sabendo que não é justo, que não há culpa a atribuir-lhes. A ti sim. Porque não caminhas aqui ao lado, porque não me seguras o antebraço e tornaste impossível que o meu passo trôpego se amparasse no teu e, assim cambaleantes os dois, avançássemos pela eternidade.

Inspiro e oiço o meu próprio suspiro. Detenho-me, concentro-me, encarno o Homem de Estado. Não quero pena, nem solidariedade. Só despachar-me, passar desta raiva, apressar-me, que tenho chá e areias. Contigo. 

Dou dois passos sem apoio, pela dignidade. Olho de frente para os microfones, as luzes das transmissões, imagino os milhões de respiração cortada. Tu pousas o tabuleiro com as chávenas, eu digo:

- Ide todos para o caralho! Cambada de voyeurs tétricos.

Não me virão as palavras. Todos guardarão um respeitoso silêncio e uma sincera pena. Recolher-me-ei às mãos nos antebraços, no silêncio do insulto que, proferido, não direi.


... 

Não conheço, nunca falei com e confesso que não nutro particular apreço pela pessoa que me pôs a pensar os disparates acima. Trata-se pois de uma generalização, motivada pelo que suponho será a dor aumentada de quem não pode sofrer sozinho. E, evidentemente, de um puro exercício sem qualquer ponta de ligação com a realidade. Este é um esclarecimento que considero pertinente. Só isso.


segunda-feira, 6 de julho de 2015

Assistência ao cliente while we all go slightly mad...




- Sim?! Boa tarde. É para apresentar uma reclamação, acho eu. Ou um protesto ou assim, como preferir.

- É comigo mesmo. Tenha a bondade.

- Eu preferia falar diretamente com o Professor...

- Compreendo. Mas isso não será possível, uma vez que assim que se estabelece a ligação, o Senhor Professor desata a ter visões sobre o passado e o futuro do seu interlocutor. Como por certo entenderá, trata-se de um serviço pago. De qualquer forma, a assistência a clientes é o meu departamento. - Risinho.

- Pois, não sei... Eu não sou propriamente um cliente. Pronto, deve ser um protesto e não uma reclamação. 

- Importa-se que esta chamada seja gravada? É por causa do nosso Sistema de Qualidade. E pode mesmo falar comigo. Disse-me que o seu nome é...

- Silva. E quero lá saber se grava isto ou não. Para mim é tinto. - Do balcão berram-me um "para nós também, bem cheio ohfaxabor!". 

- Senhor Silva, faça então o favor de dizer.

- Antes de mais, muito obrigado por me terem feito o grande favor de deixar um dos vossos coisos, folheto aquilo não é, anúncio também não, por isso não sei o que lhe chame. É mais um bilhete. 

- Não pretende receber mais informação comercial da nossa parte, é isso Senhor Silva?

- Lá está, é-me tinto de novo. - "E não é nada mau, não senhor!" - Nem vou discutir o conteúdo. Repare, eu estou perfeitamente disponível para acreditar que o Professor Diara é um soberbo vidente e que os resultados são 100% garantidos. Porque não? Não é como se fosse algo extraordinário. O Jergo Juses faz o mesmo e é bastante mais irritante.

- Preocupa-o então o facto de a nossa oferta ser muito vasta, correto Senhor Silva?

- Nem por sombras. Acho muito bem que tratem de problemas de amor, depressões, injustiças, impotência sexual e até sorte nas candidaturas. Oiça, nem vou elaborar sobre o tipo de candidaturas, assumo logo que é de todo o tipo e tá a andar. Até me inclino a aceitar que resolvem questões como o casamento, os exames e proteção contra acidentes, em meros sete dias. Mas quais OK Teleseguro quais carapuça. O Professor Diara é muito mais eficaz e rápido. E até aposto que não se põe a inventar desculpas para empatar o processo. 

Acho um pedacinho exagerado esta coisa do "se quiser pôr fim a TUDO o que o preocupa, contacte o Prof. Diara". Isso acho. Imagino a qualidade de chamadas que devem receber por aí... - Interrompe-me:

- Não imagina, não, Senhor Silva...

- Pois, calculo. Juro-lhe que não ponho em causa a honestidade do caríssimo Prof. e ainda menos a sua eficácia. Ainda por cima com toda a conveniência, uma vez que trabalha à distância ou pessoalmente, conforme der mais jeito ao cliente. No fundo, estou mesmo a fazer benchmarking, a ver se aproveito alguns dos vossos conceitos para o meu negócio de comes e bebes.

- Tem portanto um estabelecimento do setor da hotelaria e restauração, Senhor Silva.

- Pois claro que tenho. E é mesmo aí que a porca torce o rabo. É que neste papel diz que o bom do Diara faz emagrecer ou engordar as pessoas. Lá o emagrecer, estou-me nas tintas. Com tanta oferta que por aí há, porque é que não havia o homem de se candidatar a ter uma dieta infalível? Agora, engordar? Por telefone? Com facilidades de pagamento? Isso é concorrência desleal!

Onde está o documento comprovativo da implementação do HACCP? A licença da Câmara? A inspeção da ASAE? E dos Bombeiros? A quanto cobram o IVA? Que tipo de gorduras usam? A ver pela figura do patrão, há-de ser tudo cozinhado em banha de porco. Protesto! Ou param imediatamente com esta oferta ou está aqui armado um banzé que não lembra.

- Estou a ver, Senhor Silva. E se, para o compensar de toda esta maçada, lhe oferecermos 2 previsões para o futuro? De forma completamente gratuita, como é óbvio, Senhor Silva.

- Ah pois, também estão no ramo da Zandinguice. Pois que não sei, ainda acho que vou para tribunal com isto...

- Senhor Silva, pense lá bem. Quando alguém decidir alguma coisa, sabemos lá se o Professor ainda Diara ou se já terá Diarado de vez... - Do balcão: "Oh Silva, despacha lá isso que está a faltar um prá sueca."

- La isso... - Decido-me. - Pode ser quem ganha o campeonato e o que acontece à Grécia?

- Combinado, Senhor Silva. Enviaremos por correio no prazo máximo de 7 dias. Posso ajudá-lo em algum outro assunto, Senhor Silva?

- Não. Era só isto.

- Muito obrigado, Senhor Silva. Após o sinal, por favor deixe-nos a sua morada, para procedermos ao envio. Uma boa tarde para si, Senhor Silva.


...

Hoje de manhã, um papel na caixa correio:

PROFESSOR DIARA

Campeão 2015/16: FCP ou o Jergo Juses

Grécia: Mais austeridade ou mais austeridade

...

- Pá, pelo menos não podes dizer que foste enganado.

- Nem que o gajo se vai enganar...

- Mesmo! Parvo é que o Diara não é...

- Pois não. Parvo sou eu. 




  

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Post it futuro, com um PS



Na porta da Tasca AMANHÃ de manhã:

"Silva,
Sei que hoje nos deixa entregues aos caprichos das mulheres, sem porto de abrigo. Seja por uma boa causa! 
Depois da nossa conversa de anteontem, a propósito daquele magnifico artigo, não pude deixar de me perguntar, perante ISTO (!!!!), quo vadis Portugal? Mas pronto, até aposto que o meu amigo nem conhece o Vadis... :)
Divirta-se!"

PS. para elevação das almas: 

O Vice-Presidente e DIretor Geral da SAD do FCP, Antero Henriques, foi constituído arguido num processo judicial. NÃO foi detido! Mesmo que pareça... 
But then again, está no jornal, não está? Como as escutas no Youtube e as verdades escondidas nos porões dos Transatlânticos de putas que os pariram! Ca pouca Berguonha pá! 

quinta-feira, 2 de julho de 2015

EU.NÃO.SOU.ESTÚPIDO!



Há poucos dias percebi que os meus doijolhos juntos, dão um maijomenos em condições (não adoraram o "...verestajimagens..." do Juses? Foi uma homenagem à Tasca, de certeza!). Mas o pior é que parece que toda a gente, bloggers, media, comentadores, políticos, enfim, todóMundo, decidiu, ao mesmo tempo, por-se a chamar-me estúpido. Epá, há uma decadência inerente ao correr dos anos, é verdade. Mas estúpido? Eu não sou estúpido!

...

- Mas sou estúpido porquê? Por não me pôr a desconfiar de tudo o que faz alguém a quem entreguei a minha confiança? Sou um anormal por acreditar que quem deu Mundo à minha paixão tem crédito? Porque é que havia de fazer de conta que fui eu que ganhei os títulos todos e fiz os negócios inteiros? Isso seria estúpido.

Porque é que me devo sentir mal por estar todo contente? É que sinto mesmo uma pontinha de orgulho por ser do Clube que entrou numa guerra com o Inter de Milão e o Valência, que se saiba, estes, e ganhou. Diz que batemos 20 millones. Vinte é muito, ah poijé. Se calhar não temos tanto e alguém arriscou connosco. Se calhar quem vende um defesa direito por mais de 30 millones, tem capacidade para vender um Imbula por 40. Não sou eu que digo, é o mercado...

Sem ser se calhar, emprestaram-nos aqui há atrasado um rapaz. O Casemiro, devem conhecer. Sim, esse mesmo que era um perna de pau e deviaerajogaroRubencoitadodocachopo! Pois no fim do empréstimo, passaram-nos para a conta 7,5 kilos. Pumbas, já vai o Imbula em 12,5. Rumoreja-se por aí que o tal do perna de pau, aicoitadinhoquenemumxuto&pontapésabedar, ainda vai ser trasladado para outro clube. Pumbas, mais 5 a 7 kilos aqui para os moços. Imbula e vai buscar, que já só custas uns sete e meio. Ora, não me façam de parvo, que eu sei que nem vocês, fantásticos gestores, excelsos treinadores, megafantabulásticos catedráticos da bola e do desporto em geral, fizeram contas a este dinheiro para traçar os vossos apocalípticos cenários contabilísticos. A mangas de alpaca é que estavam bem. 

Ignorante porquê? Por gostar é de bola aos pinchos? Se eu quisesse ver milhões a circular, ia para vendedor de crepes de legumes em Pequim. Eu escolhi alguém para o fazer, entendes? E já tive mais alegrias neste bocado pequenino de história que a maior parte dos outros na vida toda. 

Mas seja, eu sou mongolóide. E tu, tu só sabes o que te dá jeito. Sabes que o miúdo em meia dúzia de palavras disse mais coisas boas de nós que o Jackson em três anos? Let alone as entrevistas do nosso Capitão wannabe. Alvora-te em connoisseur, em salvador da pátria, canibaliza-nos. Vais acabar comido pelos abutres que hoje fazem bando contigo. Ouve bem o que te digo: Eu não sou estúpido. Insolente, talvez...

...

- Mas sou estúpido porquê? Por desconfiar de um tipo que promete NÃO e desata a negociar o SIM que já se sabia? E que depois negoceia esse SIM na condição de, na verdade, ser um NÃO, como se os outros todos lhe devessem ou, mais provavelmente, fossem parvos?

Sou estúpido por não me espantar que acabe entalado entre a espada e um Núbio de dois metros de altura, extraordinariamente dotado? Espetado será, de qualquer das maneiras. O que querem que espere de quem diz NÃO para depois vir gritar SIM, demasiado tarde. Para cúmulo, passa a batatinha para quem o escolheu como representante. Amiguinho, os representantes representam e sofrem as consequências, boas e más, de se terem proposto para representar. 

Não, não é confuso. Confuso é convocar um referendo com respostas SIM e NÃO; mandar uma carta a dizer que afinal SIM, estava um bocado baralhado quando disse que NÃO; e na hora seguinte estar na TV a apelar a que digam todos NÃO aquela coisa a que eu acabei de dizer SIM, porque esse é o melhor caminho para dizermos SIM, quando na realidade estaremos a dizer NÃO. Really?

Eu até entendo o desespero dos nacionais comentadores da esquerda caviar. Pronto, sentem-se uns gandas ursos agora. É normal. Até tenho alguma vergonha alheia por eles. Mas virem espernear que a culpa é das mudanças climáticas, do entrevado, da porca nazi e, mais que tudo, que todos, de Portugal, paaaaaa, isso é fazerem-me de estúpido. Cristo, deixem-se estar descansados a passear no Chiado, é menos ridículo. 

Quem está contigo Alexis? A extrema direita e os neonazis. Mas eles nunca disseram SIM, nem NÃO. Disseram sempre FOGO! Agora arde...


... 

- Tenha lá calma homem, já lhe está a latejar a veia aí na entrada da careca. Por acaso dá-lhe um ar sexy, se não lhe olharmos para a penca. - Interrompo:

- Epá, desculpe lá, mas não faz nada o meu género. Só aprecio gajos sem pila, sem pelo, com maminhas e chamados Elisabete. Não discrimino pessoas pelo seu passado, mesmo que seja um tão triste como ter sido homem. - Acrescento um sorriso amarelo, pouco convencido da minha piada.

- Não se amofine, era só uma espécie de elogio. E fica-lhe bem não levar a mal, nesta época de arco-íris por tudo o que é lado. Até a mim, que posso bem ser uma das suas cores, já me enjoa um pedacito. Mas olhe, há coisas bem importantes a que ninguém liga. Por exemplo esta noticia aqui, que diz que menos de 20% dos nossos doentes mentais desinstitucionalizados têm algum tipo de apoio. - Olha-me com aquele tom de vês que eu é que me preocupo com as questões sociais?

- La está, depois os clubes é que acabam por substituir o Estado. E quase nunca são reconhecidos por isso...

- Os clubes? Mas não ouviu nada do que lhe disse? Isto não é bola!

- Para já, como diria o Miguel, se o todo é esférico, tudo é bola. Mas até percebi muito bem. Não sabe que o S. Calimero de Portugal criou um programa de acolhimento de doentes mentais abandonados? Já começaram por receber um que estava desquecido e ostracizado em Palmela.

- Ah, não fazia ideia. Você sabia do que é que eu estava a falar, sim senhor.

- Sim, eu não sou estúpido!

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Je suis Tony!


É evidente que a culpa é minha. Desta maldita propensão para a inveja mesquinha do sucesso alheio. Bem sei que não é nada exacerbado, felizmente, mas preferia ser diferente. Não me dizer de tudo o que é abdominal masculino definido e cabelos bem tratados, pronto, cabelo apenas basta, que deve ter orgulho em ser maricas. Não desejar secretamente, ainda que apenas por um instante e depois outro, maior, de arrependimento, que todos os Jaguares que não são meus expludam misteriosamente. Eu não tenho Jaguar nenhum. Não embirrar só porque sim - mesmo que depois elabore complicadas, completas e, go figure!, quase sempre lógicas explicações - com malta que tem sucesso a fazer o que eu acho que também podia fazer. Mas não fiz. Não faço. Quando ponho isto assim, acho-me um tipo execrável. Preferia não o ser. Enfim,  vou continuar a acreditar que alguma coisa compensa isto ou que não é tanto ou que é normal e somos todos. E ir fazendo diferente sempre que conseguir ser assim lúcido perante mim. That is not the man i want to see.

Como esta é uma altura tão boa como outra qualquer, começo já por pedir desculpa ao Tony. Por não lhe ter dado o crédito suficiente, provavelmente porque desatou a ter um sucesso tão desmedido que me irritou. Nunca é tarde e aqui estou a penitenciar-me. A epifania deu-se no outro dia, ao volante, quando uma estação de rádio, à qual muito agradeço, embora não me lembre do nome, passou a canção "CORAÇÃO PERDIDO". Depois desta experiência, a minha perspetiva acerca da música popular portuguesa mudou completamente, bem como a importância que nela atribuía ao artista em apreço. Eu explico, como se isso vos interessasse:

Até aqui, o lugar que julgava que os homens tinham neste género não me agradava por aí além. Era como se fossem todos uns alarves que querem é pimba pimba e não conseguem alinhar duas frases seguidas. Para além de que há certos e determinados padrões que devia ser proibido existirem em camisas. Ou então uns tipos meio híbridos, com men boobs pronunciadas, que se choram amargamente por gajas perdidas. Quanto muito, meros palhaçoides, úteis para animar umas festarolas, mas limitados a rimas brejeiras e insignificantes. Não que se pudesse esperar mais de um lampião. Mesmo neste terreno mais primitivo, largamente batidos pela exuberância de qualquer pacote.

Reparem, não é que a minha vida não pudesse prosseguir medianamente feliz com este estado de coisas, que podia. Mas não sei pá, faltava qualquer coisa. Mesmo o grande Graciano, paz à sua alma imortal, o máximo que conseguiu foi bater o recorde Mundial de gente morta na mesma canção. Ainda que se vislumbrasse por ali uma centelha de relevância, tratava-se de um assunto sazonal. Pese embora a discussão geográfica que pode gerar o facto de Benavente estar em Espanha.

Enfrentemos os factos, as gajas dominam. Tanto pelo lado do esnobanço descarado, género ah e tal deves pensar que és uma grande merda, pois não vales um caralho. Como pelo lado da atualidade, dos dos avanços tecnológicos, mas sempre a arrastar o gajo pela lama. Foram gajas a chamar a atenção para o problema das famílias monoparentaisdas partilhas e da regulação do poder parental. Em todas as situações quem é a besta? O gajo! Até ao cumulo do desplante de fazerem parecer que somos nós que temos uma despensa cheia de pulgas. E era nisto que eu acreditava, influenciado pelos media e pressionado pela sociedade. Enfim, o vulgar e tão atual comedor de palha.

Mas agora tudo isso mudou. E a ti o devo Tony. À tua coragem de, num Mundo destes, dizeres claramente que a tipa anda a rondar-te a porta, mas tu queres mais é que ela se encha de moscas. É que te estás a cagar tão de alto, que ela até pode pensar que morreste, a ver se tu te importas. É lindo pá! Dizeres-lhe nas fuças que não passa de uma vaca interesseirona, que foi atrás do guito e agora anda a ver se te saca batatinhas. Mas não! Bem pode choramingar que é em ti que pensa que tu não estás nem aí. Caraças, é de homem escarrapachar que afinal não é bem o amor e assim que as move. A ver se não escolheu antes a linda casa. E o amor, onde fica o amor? Pois contigo, Tony. E agora já não partilhas. Tooooooooooma! Embrulha! Ela continuará sempre a voltar, em busca desse calor que não há dinheiro que compre. Oh well, there´s nobody home! 

Ah valente, numa única canção arrasas o mito e devolves-me a alegria da masculinidade. Obrigado Tony.


...

- Olha meu querido, isso é tudo muito lindo. Mas repara, o que fica subentendido no OFICIAL é que a cena se dá com o pianista. Paaaaaaaaaa, até o Tony concordará que com aquela espécie de poupa ou lá o que é, fica difícil a moça ver grande futuro na relação deles, né? E depois...bem, cala-te boca.

- Mas cala-te boca o quê? Agora dizes! É o quê?

- Eu acho que ela lhe ronda a porta para tirar a limpo se o gajo ainda tem coragem de usar aquela camisinha salmão! Como fazemos com aquele vizinho do bairro antigo, lembras? O que lavava o carro de pullover rosinha...

- Eu não faço nada disso, nego! E tu estás é à rasca por eu ter descoberto o Tony. Sabes o que te digo? 

- O quê meu lindo? - Diz no tom mais doce, enquanto agarra numa manta e na minha almofada...

- Que é provável que tenhas RAZÃO. - E puxo-a pelos glúteos até estar colada a mim.


segunda-feira, 29 de junho de 2015

Season of the silly




De um lado da Circular outra, porque segunda faz sempre pressupor que há uma antes, vivem-se os tempos da Inquisição e da caça às bruxas. Ferro, fogo, lágrimas e cheiro a carne queimada e carne gangrenada e, de uma forma genérica, a podre. Intenso. Do outro lado da estrada, reabrem-se os poços virtuais dos quais se julgava terem encontrado os respetivos fundos. Desde a multifacetada Illona Staller que não havia noticia de algo tão profundo. Às malvas a contenção, o novo modelo, a formação e tutti quanti. Reconvertem-se à pressa os berçários, já instalados, em bunkers, tal é a quantidade de bombas anunciada.

Entretanto, a Norte, gozam-se dias de Sol, em soberbos escaldões amansados por águas tépidas, enquanto se aguarda tranquilamente que passe a silly season e recomece o carrossel de emoções. Tranquilamente recostados nas almofadas de um trabalho sereno e em progressão, embalados pelo balançar suave do barco em águas calmas, de continuidade, por oposto à turbulência das mudanças bruscas e mal-enjorcadas. Certo?

- Oh Silva, mude lá de metáfora que já estou a ficar sonolento...

Errado! Quer dizer, maijomenos certo, aparentemente, para quem trabalha, mas completamente ao contrário para quem bitaita. Andamos entre o cataclismo, o purgatório e o fim do Mundo em cuecas. Por motivos vários, cada qual menos relevante que o anterior e, seguramente, de maior interesse que o seguinte. Afinal, não somos menos que esses malandros da Capital. Se eles podem andar entretidos, nós também podemos. Aliás, não só podemos, como arranjamos maneira de nos entreter muito mais e muito melhor que eles. Pimbas, embrulhem Mouros!

No topo da lista, temos logo o Emplastro Gate, que motiva bloguistas, adeptos, comentadores, enfim, a Nação  em geral. Como isto se tem arrastado e não há meio de se saber se o tipo vem ou não para Norte, já há quem tenha passado à segunda fase: Se vem ou não, já não importa. O que importa é se houve ou não proposta. Aliás, não é uma dúvida. Houve! É seguro. E isso, só por si, é arrastar o brasão abençoado pela lama.

Claro que, vendido por um camião de dinheiro o Danilo, precisamos de um defesa direito. Claro que um dos problemas apontados o ano passado é que tínhamos malta demasiado nova, sem experiência no nosso Campeonato, precisávamos de gente com raça e experiência e, vá, alguma qualidade, que dá sempre jeito. Claro que o Emplastro, para além de uma besta do tamanho do rabo do Pedro Henriques, - pronto, ok, estou a exagerar um bocadito, coitado do Emplastro - também é, provavelmente, o melhor defesa direito a jogar por cá, depois daquele que despachámos para Espanha. Claro que, ao que se sabe, nos propomos investir uns 16 milhões para que o tipo venha jogar para aqui nos próximos quatro anos. Até pode ser que um dos quatro seja mais de pré-reforma que outra coisa. Um desastre!! Nem de propósito, publica-se hoje uma entrevista que parece que prova que se tens a Mística certa, então primeiro tratas dos papeis da reforma, ou de renovar o contrato ou lá como chamam a isso, e depois dizes o que te der na telha. Afinal, ninguém leva isso a mal aos velhinhos. Maldito Emplastro, desastre!

Desastre porque podíamos arranjar melhor por menos dinheiro? Não. Porque não tem as características que andamos um ano inteiro a dizer que faziam falta? Não. Porque não o vamos vender por outro camião de dinheiro? Sim, isso mesmo, mas é só uma das razões, dizem os indignados. Muitos dos mesmos que gritarão, porque já gritaram, gritam e não há nenhum motivo que os leve a parar de gritar - e bem, já agora! - acabou-se a margem, agora é ganhar ou ganhar, já! O dinheiro não é tudo! Quer dizer, excepto no caso do Emplastro...

Ah, mas essa não é a questão, explicam-me condescendentes. A questão é o sangue azul, a mística. Antes de mais, quero aqui deixar claro que não conheço essa senhora. No entanto, assim às primeiras, acho que deve ser boa, boa, boa. Se não três vezes boa, então deve ser uma puta. Pá, desculpem lá o preconceito e isso tudo, mas é o que penso de uma gaja que aparece nas conversas todas a propósito de tudo e mais alguma coisa. Por um lado, parece que é o anjo salvador. Ela e o seu eterno mais que tudo, o ADN. por outro, diz que é por não parar em casa que andam os homens todos a alucinar e umas quantas mulheres também. 

Portanto, o Emplastro não é místico. Pior que isso, é! Mas é dos da mística do demo. Porque aprendemos a vê-lo a defender a camisola que veste, e que detestamos!, a encarnar o horrendo espírito que aquele invólucro da cor do Inferno representa. Porque já se sabe que a família do tipo era toda lampiona, desde os tempos em que o Gaspar Ramos andava embarcadiço com os Descobridores Espanhóis. Certo? Errado! O anormal aterrou no Colombo, como podia ter aterrado em Vénus. Poderá ser que defende a dama com que se deita, independentemente da sua cor? Não nos interessa, desta vez... Porque o que nós aplaudimos mesmo, é quando raptamos malta íntegra. Como por exemplo, deixa cá ver, o Moutinho. Que soberbo jogador, que magnifico profissional, que portista dos quatro costados. Tudo verdade, não ironizo. Sendo que era do sportém desde canino e passou uma série de tempo a choramingar que queria ir embora do clube onde estava. Choramingou, bateu o pé, fez birra e cara feia, até nós, qual UNICEF, o resgatarmos. Assim mais coisa menos coisa, como um tal de Martinez com alcunha de dança nos tem feito ano após ano.

- Epá, oh Silva, nem fales nesse individuo! Acabaram os gajos que suam a camisola, que comem a relva, que detestam os adversários e não os abraçam quando levam na corneta. Onde estão os jogadores que os outros odeiam só porque são nossos? Agora anda tudo aos beijinhos. Não há homens como antigamente. Esses não tinham preço...

Ou então custam 16 milhões por quatro anos...

Mas este é o factor agregador: Todos contra o Emplastro! Emplastro na rua já! O Emplastro cheira mal! Mas também há o que nos separa e divide. No canto da direita, de calção castanho, a malta que acha que vamos direitinhos para a segunda divisão.

- Eu não quero ser ranhoso, mas achas mesmo que é com Licás e Josués que isto se faz? Ou Oliveiras e Andrés, é a mesma treta! Sai meia equipa, os melhores, claro, e é com esta malta que isso se resolve? Onde anda o guito de tanta venda? Eu digo-te Silva, anda nos bolsos dessa chusma que por lá paira. E depois ficas aqui tu, e fico aqui eu, a ver ojoutros cheios de gás: Ele é Coentrão, Mitrovic, Markovic e itches em geral; ele é o Ruyz e para lá estar o Juses, alguma coisa lhe prometeram. E não são como nós pá, não os viste vender Williams, nem Adriens, nem Coisos. Ninguém, na verdade! Mais um aninho à seca, é o que te digo...

É engraçado que estes são muitos dos que clamam pela Mística e pelo ADN, que cerraram fileiras contra o FC Oporto, com tanto espanhol que metia nojo. Acho até alguma graça às lágrimas que vertem pelos Casemiros e Olivers da vida. Ah, mas tranquilos, que já se apontam baterias ao Kinder - masparakékestegajoservepa? nãochegavajáumAdriancarago? - e ao guarda redes que não é preciso para nada, até o nosso problema ser não ter um redes com categoria para o FCP. 

Mas a alegria é infinita. No canto da esquerda, de calção branquinho com detalhe azulinho cueca, temos os gestores de tal brilhantismo, os treinadores de tão elevado calibre, enfim, fulanos que é do melhor que o Mundo tem, incluindo as crianças. Estes, não só vendiam mais uns quantos, como eram Campeões do Mundo com o plantel dos iniciados. Ou lá perto. 

- Defesa direito? Ricardo e Vitor Garcia. Defesa esquerdo? Rafa. Centrais? Lichocoisovsky, Reyes, Indi e maijakele miúdo do Rebordosa, muito bom. Avançado? Gonçalo, claro! André, claro! Bombakar, para a Taça da Liga. Médio criativo? Para quê? Com o Leandro e o Chico Ramos não precisamos de mais ninguém. Formação, mística, garra, adn, portistas a sério! Era como começar um jogo com Baia, João Pinto, Jorge Costa, Ricardo Carvalho e Murça; André, Jaime Pacheco e Oliveira; Jaime Magalhães, Seninho e Gomes. Quereis melhor?

Daqui a um mês estão agarrados às caixas de comentários dos blogues a sério, a exigir a Champions e a agoirar mais um ano de seca. Sim, agoirar! Ah infiéis, eu também lá estarei para vos atormentar.

- Sabe que mais, tasqueiro? Você é sempre a mesma coisa. Desanca para a esquerda e para a direita e é muito raro comprometer-se. A sua opinião, para depois o virmos nós desancar, está onde? Parece os Bloquinhos, oh caraças! Você é contra, pronto. A favor do que seja, ninguém sabe, só se sabe que é contra... Vá bardamerda homem. E dê-me um pratinho de dobradinha de choco, que lá nos petiscos não falha, valha-lhe a Santinha.

...

Telegráfico:

Jackson: vá para onde quiser desde que fiquem cá 35 milhões. Em dinheiro apenas ou dinheiro mais Oliver (siiiiiiiiiiiiim!). De outra maneira, deixa-te estar descansado Cha Cha Cha Rolando. Isto sem agradecimentos prévios, nem ódios posteriores. Os funcionários são contratados para funcionar. Este funcionou bem.

Maxi: sou fraquinho no FM, pelo que entre 12 milhões mais ordenados por um moço do Torino que não conheço (para o bem e para o mal); e 16 pelo Emplastro... É para ganhar já! Certo?

Sérgio Oliveira: tenho tido wet dreams com este tipo no lugar do Herrera. No nosso meio-campo! Panascas do caralho! Eu nem conheço o Herrera! É só o Lopetegui agarrar no moço... Oh, deixem-se de cenas, javardos pá!

Pione Sisto: estou só? mais alguém está a pensar em 2017/18? Ou será que o puto tem netos? Mas bem, eu também gostava do Iturbe...

...

  

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Tablas rondatas tontos calimeros, tetas rabioskis. E uma lista.


- ... E o tipo acabou ali, entalado entre os que supostamente comandava, e que queriam que ele os safasse mas à maneira deles; e os outros, que sempre tinham sido o inimigo, mas que agora pareciam estar dispostos a ajudar o gajo a salvar-se, assim ele os salvasse também. - Aproveito a pausa para interromper:

- Dois finos tão gelados que corariam o Chico Buarque. Já vejo que também são seguidores do GOT.

- Do quem? Vai pró sportem esse? - O da mesa ao lado intromete-se:

- Não Silva, acho que estão a falar do António Costa, ou assim...

- Se você se metesse na sua vida é que era bonito, não?! - Responde a sorrir e com voz de fadinho de cuspir pro lado o segundo conversadeiro. - Quero lá saber do Costa pá!

O primeiro retoma o fio:

- Cambada de ignorantes. Estávamos a discutir a questão Grega... - Faz-se-me luz:

Oh no! They killed Jon Snow. Bastards!!!


...

- Sande Club e uma imperial, que aqui não servimos finos, tulipas ou príncipes a mouros lampiões. - E pisco-lhe o olho.

- Pois sim, está muito bem. E também vai deixar de servir cacau quente e mousse de chocolate, que me faz lembrar a camisola do FCP e deixa-me mal disposto. - E ri-se de mim. Ou para mim, o que no caso vai dar ao mesmo. Uma transeunte do outro lado do passeio prende a minha atenção por um instante: 

- Uiui, olhe quem ali vai. A sua amiguinha imaginária...

- Oh Silva, você deixe-se disso que ainda alguém o ouve. Olha que parvoíce! Mal cumprimento a rapariga. - Ajeita-se na cadeira da esplanada, repentinamente desconfortável. - A moça é simpática e educada e eu retribuo de igual forma. Nada mais, pelo amor de Deus.

- Mas é evidente, meu caro. Estava mesmo a meter-me consigo. Até porque, sejamos sinceros, é muito boa rapariga, mas é feia como a traseira de um acidente ferroviário. - Exagero para o provocar. Os olhos dele perdem-se por um instante no contorno cada vez mais pequeno no fundo da rua. Suspira inadvertidamente:

- Aiai, ainda nem tive tempo para saber se é feia ou bonita. Mas com aquele rabo, para mim é linda! E você é muito esperto, como o assunto não lhe convém, põe-se a desviar. Mas a mim não me leva. É uma camisola feia, muito feia, ai que feia!

- Não tem emblema?

- Hein?! Claro que tem emblema, olha que disparate...

- Oh, então para mim é linda! - Fim de conversa.

...

Um papel esquecido na mesa do Senhor Monteiro da Silva.

Misteriosos Desaparecimentos

* Voo MH370
* SS Waratah
* Bruce Jenner
* Maioria do Senhor Costa
* Cachecol do Senhor Varoufakis
* Vergonha na cara da Senhora Teixeira da Cruz
* Crimeia

Dobro a folha para lha devolver mais logo. Tenho que googlar SS Waratah...

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Gastronomias pendentes



...Arre homem, é um ingrediente como outro qualquer. É assim que o devo encarar. Confesso que me mete algum asco, nesta figura grande e aparentemente carnuda. É maior do que eu estava à espera. Muito maior que as rãs que costumávamos mortificar naquele lago ao pé do campo da bola de Santo Eloy. Selvagens. Nós e as rãs.

Diz que isto tem umas partes venenosas, acho que é a pele. Fica já decidido que não haverá pele tostadinha e estaladiça. Antes de o esquartejar tenho que o esfolar com afinco. Portanto, as receitas de aves não se vão aplicar. Assado no forno parecia uma boa opção, bolas!

Sushi! Deve dar para fazer sushi. Sashimi disto não parece mal. E misturado num temaki, ninguém vai saber que lá está sequer. Só que eu não sei fazer sushi, raisparta! Vamos lá explorar esta ideia de o morfar assim mais em cru. Posso muito bem juntar-lhe uma cebolinha, umas azeitonas e alhos, um belíssimo azeite e pumbas, Punheta disto! Toda a gente gosta de Punheta, salvo seja. Ou então picá-lo e fazer um molho tártaro de estalo. Talvez opte por ser mais chique. Uh, que atual, ceviche para celebrar a Copa América; uh, que tropicaliente, a usar receitas do Thaiti; uh, que fino, carpaccio. Basta marinar o bicho com umas especiarias e bastante limão.

Também deve dar para fazer sopa. Deixo os olhos a boiar no caldo, a la Indiana Jones, eheheh. Ou misturo-o na Sopa de Peixe. Boa! Canja! Canja sai sempre bem! Será que tem muita gordura? Porra de ingrediente, caraças. 

Bom, deixemo-nos de tretas, se for para ser há que o engolir e pronto. Não vale a pena estar para aqui com grandes considerações. Vai na volta até é bom. Mas mete tanto nojo, chiça...

A primeira coisa que me tira do torpor é o barulho da mão dele a bater no balcão, mesmo no meio do jornal, pum! Só depois os meus neurónios se dignam a descodificar o berro:

- SILVA! Está a dormir de olhojabertos homem? Já lhe pedi uma sande de rojão umas três vezes. Não me diga que não há, que lhe sinto o cheiro daqui. Foi a patroa que fez, diga-me que sim. E acorde! Ainda está a sonhar? - Pum, outra bordoada no balcão

- Hum? Não, não, estava aqui a ver o JORNAL...

...

Há pouco tempo, uma freguesa, a mais querida das, da Tasca disse que eu parecia o Mr. Sibley, que é um tipo feio que dói, o que muito me magoou. Esta personagem está habituada a engolir um grande sapo. Ainda magoado, apresto-me a cumprir o meu aparente destino. Mas já se sabe, na Tasca é em modo gourmet...

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A sapatilha na cremalheira



As tardes têm horas mortas, de duas de treta pura. 

- ... Não gramo de desportos sem bola! Quer dizer, até posso gostar, mas é de uma maneira errada. Por exemplo, gosto de ver patinagem no gelo. Mas estou sempre a torcer para que alguém se esbardalhe, para basta irritação da cara metade. Ela aprecia as piruetas de um ponto de vista estético. Cá para mim está é a apreciar os moços. O que é bastante injusto, uma vez que as moças são praticamente acabadas de largar os cueiros e têm o peito mais liso que o Senhor Monteiro da Silva.

- Isso é na Ginástica, acho eu. Mas o que raio tem isso que ver com a conversa? Estávamos a falar do preço da bicla nova aqui do brasuca...

- Um disparate profundo estarem a gastar os poucos euros que têm nessas coisas. Bebam vinho que vos faz melhor. Ou joguem qualquer coisa que tenha bola e golos e assim.

- Num é prá jogá não, Seu Siuva. É pêlo êxêrcicio né?

- Esquece lá isso! Por principio, não tenho nada contra marmanjos que se depilam, vestem lycra bastante justa e ganham calo no rabiosque. Sou um tipo bastante tolerante e razoavelmente openminded. Mas não consigo compreender o objetivo.

É como a moda de desatar toda a gente a correr que nem uns doidos. Nada de confusões, eu também corro. Se vier alguém atrás de mim ou se estiver atrasado para apanhar a carreira de Santa Maria da Feira e isso. Ponham o cão do vizinho desmandado a querer ferrar-me e logo veem porque é que me chamam o Usain da Murteira. Mas para nada? Não entendo. 

É que mesmo no Atletismo, se repararem, há o "Tiro de Partida". Quer dizer, os gajos só correm porque os neurónios lhes dizem: Dasss, ouviste aquilo? Foi um tiro, caraças! Raspa-te já daqui antes que te acertem... Nada de ah e tal, vou ali dar uma corridinha, só porque sim, sem ser para chegar depressa a lado nenhum, nem tão pouco para fugir de coisa alguma e ainda menos para escapar à policia ou à malta do Magalhães Lemos, que de facto devia era andar atrás destes doidos perigosos. Nada disso, é porque faz bem à Saúde! Faz, faz, então não faz? Sobretudo em janeiro, quando cai aquele granizinho bom ou em dezembro, a meter as patas nas poças todas e a ficar com os butes bem encharcados. Nada melhor que uma pneumonia para um gajo ficar rijo como um pero.

Mas se querem insistir, encantado da vida. No entanto, parece-me que deviam evitar ajuntamentos e horários em que as pessoas normais andam na rua. Acham mesmo boa ideia porem-se a correr no passeio à frente do Mercado em dia de...mercado? A sério que não são as couves transgénicas que estão a aluar. Nem sequer é o peixe de aquicultura que quer dominar o Mundo e desatou a saltar das sacas das velhinhas e a traçar-lhes a perna. É mesmo por causa dos vossos encontrões. E aviso já, se me voltam a bufar e a fazer cara feia por não sair da frente, enfio-vos um par de lambadas com um talo de couve galega. 

- O homem anda de bicicleta, irra! Não corre! - Há um laivo de irritação no tom, claro, mas nada que se compare com o do olhar. Gosto disso!

Outros que tais. Aliás, piores. Olha querida, são cinco da manhã e uma vez que não tenho que ir bulir já me apetece levantar ainda é de noite. Vais cavar batatinhas no quintal? Naaaaaaaaaa, vou andar de bicicleta! Sim, porque tenho dejanos de idade e o que eu gosto mesmo é de andar de bicicleta. Para além de que faz bem à saúde. 

Pimbas, lá está a confusão de novo. Como não fazem ideia nenhuma do conceito de "fila indiana", estes arriscam-se ainda mais que os outros a darem cabo da saudinha que tanto apreciam. Então mas como é que hei-de pedalar no meu lindo veículo de duas rodas, sem motor, numa Estrada Nacional? Na cunbersa com os outros lunáticos da minha estirpe, é evidente! Aí está algo que é difícil fazer em fila, uns a cheirar os traseiros aos outros. Uma pessoa para falar com outra, mandam os mínimos da educação que o faça, pelo menos, lado a lado. Se o assunto concerne três ou quatro, pois não há nenhum problema, ocupa-se a via por inteiro e já está. Afinal, as estradas fizeram-se para poder haver a Volta a Portugal, certo? Senão eram para quê? Para esses sacos de colesterol automobilizados passearem as suas panças? Naaaa, não pode ser! 

Só podem ser tolinhos. Paaaaa, vocês nem pára choques têm, nem um capacete à homem, como os das motas. Nada! No máximo uma daquelas cenas que parece uma rede pós rolos da minha avó. Que é que vos vai na cabeça rapazes, hein? Porventura enquanto pedalam pensam: Olha, lá vem um. Deixa-me ziguezaguear furiosamente à frente dele. Deve pensar que a estrada é dele, o porco. Vou já aproveitar para ensaiar uma fuga inolvidável deste pelotão imaginário, bem pelo meio da via. Pumbas, ninguém me agarra, já oiço a multidão. Ou então vou ali falar com o Gelson e o Nalgas, nós os três lado a lado, irmãos do pedal, coisa linda. E se este me acertar é muito bem feito para ele! Vai-se a ver caio mal, bato com a cabeça no lancil do passeio e fino-me que é para aprenderes, automobilista de um cabrão. 

Se ao menos fossem gajas de Ermesinde...


...

Ele está à espera à porta, com um cigarro já no filtro entre os dedos. Apanha um dos sacos que carrego. Diz:

- Bom dia Sô Silva. A abrir mais tarde hoje, hein?

- Mercado. Demorei uns vinte minutos a lá chegar por causa das bicicletas. E mais uns quantos a mais a voltar, por ter ficado a ajudar uma senhora que foi atropelada por um tipo a correr. Sem matricula. Até acho que, no meio da confusão, acabei por trazer uma couve galega que não é minha...

- Pois... - E põe-se a assobiar uma melodia familiar. 

- Onofre, é uma bica, sim?


...

PS. Com abraços para o compadre Zé, bicicletista assumido e atleta de uma maneira geral; beijos apertados para a mais velha e as suas (nossas) corridas; e desculpas generalizadas a todos os que acabarem por se ofender de alguma maneira com a catarse.
Há poucas possibilidades de eu abrir a porta para cima de vocês quando nos cruzarmos na estrada. 
Ah, e o aceno não é Olá, é Sai da Frente. Depressa. :)

domingo, 14 de junho de 2015

Prato do Dia: Catharsis Pie (com batata doce)



Aviso já que não estou a gostar nada da maneira como isto se está a desenrolar na minha cabeça. Passo os dias a explicar a toda a gente - na verdade a mim, mas acho que tem passado despercebido - que é tudo magnifico e extraordinário e coisas. E é mesmo, está claro. Mas não me tem parecido nada disso. A mim. Para mim. Raios, a casa é minha, posso ser egoísta até onde eu quiser. Estamos entendidos?

- Oh Silva, barafuste o que lhe apetecer, homem. Mas a malta já almoçava, se não se importasse muito...

Comedores de um cabresto, só pensam em comida. As pessoas estão bem é a enfardar. Nasce-lhes um rebento, pumbas, enfardam para comemorar. Morre-lhes um velho, ai que grande tristeza - lágrimas, lágrimas - mas o avô não pode aqui estar o dia todo sem comer. Espere lá que vou ali à Tasca buscar-lhe um panadinho ou assim. E traz-me um copo de três, filha querida. Tinto.

- Eu acho que vou almoçar a outro lado...

Bah, deixem-se estar. O empadão está só a corar um bocado.

Se quisermos ser muito honestos, é um empadão bastante normal. Nem se percebe o buzz à volta disto. Na Tasca gosta-se de carne e, por isso, mesmo sendo o elemento mais previsivel do prato, tem-se o cuidado de o comprar de boa qualidade e inteiro. Manda-se picar duas vezes.

Para começar, salteiam-se cogumelos shiitake num fio de azeite, com umas folhinhas de tomilho. Junta-se uma cebola média e uns dois ou três dentes de alho. Depois a carne, até tomar cor. Já sei que não é preciso tanta. Mas só sei fazer esta quantidade e não fui eu que mandei a frieira para a Muçulmânia ou lá onde fica aquilo. Agora sobra, pois sobra, fazer o quê? Oxalá fique cheia de remorsos pela comida que atiramos ao lixo. Sal e pimenta, naturalmente.

Agora é começar a acrescentar tomate como se o Mundo acabasse amanhã. Na Tasca, poupa-se na polpa engarrafada e tritura-se do pelado. Umas oito colheres do segundo para três ou quatro do primeiro. Água para ter molho. Conversamos daqui a uns quinze ou vinte minutos.

- Oh Silva, se fizer esparguete dá Bolonhesa, não?

É este tipo de abrunho que me tira do sério. Quem lhe espetasse uns puñetazos, a modos como se fosse o banco de suplentes do Restelo, é que era uma pessoa como deve de ser. Um tipo a dar-se ao trabalho de partilhar a melhor Pie do Universo conhecido e a besta a falar em Bolonhesa. É claro que isto de ser a melhor não está certificado por nenhuma organização independente. A bem dizer, neste momento, nem por uma dependente. Que acho que já não vai fazer parte do próximo IRS, a estúpida. É indecente fazer isto a uma pessoa, depois de uma resma de anos a contribuir para o reembolso, deixa-me assim na mão. No entanto, contínua a não ser Bolonhesa, seu anormal.

É preciso fazer puré. E o truque é fazê-lo com batatas doces. Um quilo e umas cem ou duzentas gramas, para oitocentas de carne. Pode ser novecentas. 

- Ah, então é esse o segredo?

É chamarem-lhe o que vos apetecer. Se puré de batatas vos parece a oitava maravilha, vocês la saberão. Tristes vidas, chiça. O que é importante, é não acrescentar às batatas esmagadas mais que duas ou três gemas de ovos, para lhe dar a corzinha que está agora a ganhar no forno. A carne em baixo, as batatas em cima e rapa o tacho. Ou enraba o gajo, conforme tenham aprendido a música. Quero lá saber.

- Boa tarde senhores. Qué frô?

Olha, monhé dum cabrão, tu e os teus primos ponham-se finos com a miúda. Tajóbir bem? Não a tratem nas palminhas não, se querem ver eu a cair-vos em cima, seus filhos da puta cheios de dólares...

- E eu.
- E eu.
- E eu.
- Até eu, Silva.

É a Tasca inteira, infiéis. Pior que os Cavaleiros do Apocalipse! Tenham muito medo e comportem-se. E vocês, aproveitem que está pronto. 

Não volto a fazer esta porra até vires cá para a comer, estás a ouvir? Merda para isto.

...

Soundtrack to Katharsis (reader discretion advised...muito. E desligar os aparelhos da Casa Sonotone também.)

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Enjoy the silence.



- Que é isso, miúdo? - É certo que sei que é uma espécie de jarrão branco, com uma tampa, decorado com o que parecem ser flores azuis e uma espécie de pássaros. A pergunta é mais o que raio está o puto a fazer com isto aqui.

- É um jarrão, Silva. Quase, quase igual... Acho que nem se nota a diferença. - Responde enquanto analisa bem de perto a peça. Cheira-me a esturro.

- Ora, isso vejo eu, obrigadinho. Mas porque recarga de água andas com isso para trás e para a frente? A mãe não sabe disso, pois não?

- Claro que não! - Diz ele. E aperta o seu precioso pedaço de cerâmica contra o peito. - E não vai saber, combinado?

- Xiii, temos história. Conta lá isso...

- Oh Silva, se visses ontem... A bola vinha redondinha. Foi cá um tiraço à entrada da sala, tau! Sem deixar tocar no chão, direitinha ao ângulo da porta da varanda. Lindo! - Os olhos brilham, suspendendo a preocupação por momentos.

- Ouch! Pumbas, direitinha mas é ao jarrão chinês made in Caldas. - Sinto a palma da minha mão acertar-me na testa.

- Não pá. Isso foi o ricochete no reposteiro. Merecia ter entrado, mas esbarrou em cheio na barra...

- Na trave do reposteiro...

- Pois, mesmo na quina. E catrapumbas, ressaltou para o vaso que a avó deu... - Volta-lhe a sombra de receio.

- E ninguém deu por ela ainda?

- Não! - Alegra-se. - Apanhei os caquinhos todos. A mãe quando chegou vinha ao telefone. Devia estar a discutir com o Sonkaya da vez. Depois apareceram os avós e ela ainda estava ao telefone. A avó abanou a cabeça e disse "ai minha querida filha" e o avô disse mais alto, por causa do aparelho dos surdos que ele usa, sabes Silva?, "não fui à bola com aquele tipo. O outro, o turco, ao menos era simpático". E eu estava à espera para contar do jarrão. Mas aí a mãe desligou e disse ao avô que ele não tinha nada que fazer comentários. A avó suspirou que era melhor tratar de fazer qualquer coisa para o jantar, a mãe ficou logo cheia de dores de cabeça e o avô pegou em mim e levou-me para o treino.

- Moita carrasco sobre a jogatana dentro de casa. Muito lindo isso, meu menino.

- Oh Silva, não tive oportunidade. Quando voltei, pensei que ia ser do bom e do bonito. Mas a avó já tinha os pratos prontos. A mãe comeu pouco e disse que a chefe dela devia era casar com o novo Sonkaya, que estavam bem um para o outro. A avó repetiu "ai minha querida filha", o avô abanou a cabeça e eu comi tudo até ao fim, para não repararem em mim. A mãe deu-me um beijo porque ia descansar e que amanhã, quer dizer hoje, estás a perceber Silva?, íamos os dois ao cinema. A avó colou na novela, o avô já estava a adormecer no sofá...

- Uma sorte hein?

- Pois, acho que sim. Andava tudo aos gritos e às turras uns com os outros e nem deram por mim. Então eu pensei que hoje podia era passar na loja do Senhor Ibrahim e ver se ele tinha um igual. E tinha, Silva. Quase igual. - Admirou a coisa abraçado a ela, com um sorriso de alívio. - Acho que passa. 

- Não sei se posso compactuar com essa mentirinha, puto. - Cresço para a minha idade.

- Vá lá Silva! Gastei quase todas as moedas do meu mealheiro. Que mal tem? Fica lá o vaso, ou jarro, ou lá o que é isto, à mesma. 

- Não é lá muito honesto, pois não?

Ele pensa. Levanta a tampa e volta a pô-la no sítio. Encosta a cabeça ao jarrão. Olha-me:

- Oh Silva, estavam todos a falar ao mesmo tempo, sobre as coisas deles e os problemas e quem era bonzinho e quem era mau como às cobras. Achas que devia ter interrompido e chamado a atenção para mim? Assim eles trataram das chatices deles, eu tratei da minha. A coisa fica lá no lugar onde estava a outra, a avó não fica triste, a mãe não se arrelia e ainda vou ao cinema! Os Vingadores, espero que seja para ver os Vingadores...

Calo-me. Passo o pano no balcão, só pelo hábito. Penso na Scabia a sussurrar enjoy the silence, recito de cor take the time just to listen/ when the voices screaming are much too loud, penso que aquela criança não é minha e, por isso, posso ser sincero, já que não me pesa o fardo de ter que a educar. Ou então isto é educá-la, não sei. Digo:

- Fica entre nós puto. Quando os adversários se engalfinham uns com os outros, é inteligente estar caladinho e tratar da nossa vidinha...

...

Faz uma festa na cabeça do cachopo, estende-me um aperto de mão firme, sorridente e suado, dá uma palmada no balcão, enquanto se senta e metralha palavras, sem pausas para diferenciar assuntos:

- Venha de lá um 3 Marias estupidamente gelado que caloraça Que é isso que aí tens rapazola É engraçado a minha velhota havia de gostar de um desses Oh Silva, então e o Jesus uma confusão aquilo hein?

- Não faço ideia, amigo. 

- Você não faz ideia? Era a primeira vez! Desembuche praí que eu gosto de o ouvir. Que me diz?

- Nada. Calo-me e oiço. Shhhh...