terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Mensagem


Perdida numa mesa por limpar, uma folha rabiscada frente e verso. Tanto quanto podemos saber, pode ser uma carta de amor, uma lista de compras do senhor Monteiro da Silva, o rascunho do tratado de paz dos eslavos, as instruções de montagem de balões meteorológicos, o esboço do Nobel, um poema de Fernando ou de Álvaro ou de Alberto ou de Al ou de Alexandre, Eugénio, Luiz, sei eu agora quem foi o último que por cá passou. Ah, talvez não devêssemos, é um perdido privado, quem somos nós para o profanar?

E suportar esta curiosidade que nos mata, gatos todos? E se for um rato? Dane-se, leia-se:

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Caro Rui,

Completaste na CNN o teu milionésimo centésimo décimo quinto solo de veneno contra o FCP e mesmo assim continuas a encher a boca com a verdade desportiva. E não só, mas o resto não é para aqui chamado.


Achas que continuas a ter tempo de antena porque a audiência é composta por mentecaptos; ou porque dá jeito manter a soldo um cabotino como tu, sempre pronto a ajoelhar perante a nota mais alta? 


O teu comportamento público só é possível de sustentar porque isto em Portugal é uma palhaçada. Pessoas que se cansam se pensarem, media tomados de assalto por múltiplos interesses, adeptos conformados nas suas manadas, quando não em matilhas, um autêntico paraíso para invertebrados de risinho trocista.


Podes dizer, Rui, que a vida está difícil para todos e que apenas aproveitas o baixo nível de instrução das hordas. Talvez. Mas não te queixes do sistema, porque ele tem sido o teu ganha pão. Sabes qual é a maior prova disso? O facto de andares de nenúfar em nenúfar, qual elefante zonzo numa loja de porcelanas, e em nenhuma ocasião seres melhor do que bastante medíocre. E não me venhas dizer que não notas, porque todos os dias deves dar graças a Deus por viveres num país de tapados. Isto aqui, como sabes também, está tudo contaminado e bloqueado.


Imagino as gargalhadas que dás em frente ao espelho, apesar da dor de seres mais baixo do que o Rui Barros e mais redondo do que o Walter, cada vez que acabas um programa. Compreendo, tu tens muitas razões parar te rires disto, nem que seja por te lembrares que um dia, por mera conveniência, a própria comunicação da tua Nemesis te citou.


Mas digo-te, deixa-te de ilusões, Rui. A estupidez não dura para sempre. Nunca serás um profissional de primeira, mas faz um favor a ti próprio e a quem gosta de futebol pelo futebol: dedica-te à pesca do ananás panado em gravilha e…olha, diverte-te com ele.