quinta-feira, 30 de abril de 2015

Aberto para balanço III - O silêncio dos inocentes.



III

Se houve uma coisa em que, aparentemente, o Universo azulebranco, que como se sabe é apenas uma e a mais bonita cor, esteve de acordo este ano, foi sobre a roubalheira generalizada de que foi beneficiário o 5LB. Ah, e também sobre a bela jogatana no Dragão contra os alemães. Ah, igualmente sobre o facto de o Herrera ser particularmente feio, mas não tão feio como o Maxi Emplastro. Ah, e ainda sobre a necessidade de a direção/estrutura/alguém dever dar uns murros na mesa e denunciar o que se ia passando. Caramba, afinal temos montes de causas que nos unem hein?

Devo dizer, porque a porra do Balanço é meu, que não partilho da preocupação com o silêncio. Ainda menos acho que isso seja revelador de que o FCP está frágil, que já não é o mesmo, perdemos o espírito guerreiro. E isso depois afeta o rendimento, porque toda a gente (jogadores, claro, do futebol, claro.) deixa de se ralar se perde ou se ganha. Enfim, passamos a cornos mansos.

Pelo meu lado, proponho uma perspetiva diferente. E por partes, para não me baralhar e acabar a fazer piadas parvas sobre nomes de treinadores, ou assim...

"Deixaram o treinador abandonado à sua sorte, a levar porrada de todo o lado e a ser o único a defender o clube."

Desde logo, acho que Lopetegui pode bem com os "todo o lado" da vida. Isto se não lhe der mesmo algum gozo remetê-los à sua pequenez. Defender o clube deve ler-se "falar do colinho aos lampiões". Meaning, o escândalo que foi mais de metade deste campeonato. Parece-me que isso é mesmo uma das competências daquele lugar, ainda mais nas circunstâncias atuais. Aliás, creio que a escolha de Lopetegui passou também, ainda que, obviamente, de forma subsidiária, por aqui. Explico:

a) Apesar da divisão acerca da sua capacidade técnica (há sempre uns tolos, fazer o quê?), é cada vez mais unânime que Julen "é dos nossos". Não se cala, mesmo que seja o único a abrir a boca. É uma bela maneira de ultrapassar o estigma do "novato, sem experiência, com um camião de espanhóis ás costas, ele próprio um hermano". Há muito, se alguma vez aconteceu, não tínhamos um treinador tão envolvido no projeto, de alto a baixo, com tantas valências atribuídas e tanto poder de decisão. Torná-lo na voz do clube, dos adeptos, não me parece nada má ideia. Ainda mais quando ele o pode fazer bem. E faz! 

b) É Mourinho que desanca os árbitros. Como Fergunson fazia antes dele. Como, provavelmente, Guardiola fará, à sua maneira, pela Baviera (meter Lopetegui neste saco não é inocente, é nesta conta que tenho o tipo). E como fazem Wenger, Blanc, Emeri ou Luis Enrinque, num patamar abaixo (get it?). Ou seja, são os treinadores/managers que devem tratar de todos os aspetos do jogo, arbitragens incluídas. Nenhum problema nisto, a meu ver. Em nenhuma altura me pareceu que fosse um problema para o bom do Julen.

c) Somos, no entanto, diferentes. Porque a nossa cultura e a nossa ligação, mais sulista e mediterrânica, aos clubes se faz de maneira mais intensa e apaixonada? Não me parece, há malta que gasta tempo a escrever coisas como esta em todo o lado. A paixão é Universal e não devemos sentir de maneira muito diferente de um turco. Cada cultura encontra é a sua forma de extravasar. Acresce a isto que em cada sitio encontramos um estádio de desenvolvimento sociocultural, e também de gestão desportiva, diferenciado. Acho que as nossas muitas vitórias e a nossa exposição ao Mundo nos fez "evoluir". As aspas pretendem defender aqueles que acharem que isto não é evolução. Estão no seu pleno direito. O meu ponto é que estamos um nível acima. Isto não quer dizer que somos demasiado bons para a peixarada. Nada disso, credo! Ai deles! Quer apenas dizer que não podemos esperar que os mesmos motivos provoquem reações encarniçadas das mesmas pessoas. Isto é, do mesmo patamar de competência da estrutura.

"Isto de levar e dar a outra face não é ser Porto. Isto não é o meu Porto!"

Tendo como cenário o antes exposto, tomando-o por bom (humour me), é verdade. Não é! É outro, sendo rigorosamente o mesmo. O paradoxo explica-se porque o postulado a bold é falso. O FCP será sempre o nosso Porto. Nada a fazer. E pur si muove

O FCP estribou o seu crescimento agregando a força de uma região. Estava claro que se pretendia trazer sob o nosso manto sagrado as aspirações, convicções e anseios de um povo. O Povo Mais Forte, quase sempre relegado para segundo plano e que começava, com o advento da liberdade (e não é léria, seria impossível em ditadura o FCP chegar onde está), a querer fazer ouvir a sua voz. Jorge Nuno Pinto da Costa deu-lhes a bandeira. E isto é o nosso Porto: Guerreiro, revoltado, pronto para a luta. Estes valores estiveram tantas vezes palpáveis em campos de futebol, em onze camisolas (e calções, pois então!) azuis e brancas. Este o verdadeiro legado que devemos sempre defender: A tal da Mística. Que, para além de uma tosta na Tasca, é a corporização, em futebol, dos valores que tornaram o FCP grande. Quem é o mais apto a fazê-lo? Na minha opinião, eu! E tu! E ele! Nós! 

As direções dirigem, mas o Porto Somos Nós. Mesmo que o Presidente da Direção seja o NGP. O que podemos exigir é que ele seja um deste NÓS. Creio que ninguém dúvida que é. Pois não?... No fundo, é dar significado ao que cantamos a plenos pulmões (os que não estão na fila das pipocas, ihihih). NÓS SOMOS A TUA VOZ! Eu! Tu! Ele!

"Este Porto parece submisso, deixa-se comer por Lisboa e não refila"

Ao fim de 41 anos, isto já vai sendo um país. Sui generis, claro, como todos os outros, mas um País. E não um campeonato de futebol. Já não pode ser nos clubes que devemos encontrar a linha da frente das batalhas regionais. Não é pela sua voz, ainda que possa ser pela dos seus dirigentes/adeptos numa perspetiva individual, que as conquistas políticas devem ser feitas. Estamos aqui para ganhar jogos e campeonatos. E o nosso líder teve, quase sempre, o cuidado de se abstrair da politiquice. Se bem ou mal, cada um terá a sua opinião. Que isso não lhe granjeou grandes simpatias, também é verdade.

Sejamos francos, aquela frase ali em cima até tem razão de ser, sim! Mas o significado que lhe queremos dar, na verdade, é: O FCP parece submisso, deixa-se comer pelo 5LB. E isto já não tem nenhum sentido. Não encontro um único sinal dessa submissão. O FCP lidera o futebol, e o desporto de uma maneira geral, em Portugal. Lado a lado com o 5LB, pois claro. Nem poderia ser de outra forma. Encararmos isto como uma afronta é bastante estúpido. É esquecer o caminho que fizemos de clube regional a colosso de dimensão Mundial. Universal (olá Jorge :)). Não foram eles que mingaram, fomos nós que crescemos! 

"O clube não diz nada, o presidente também não, só os adeptos parecem ver a roubalheira!"

Isto até é maijomenos verdade. O que demorei a entender é porque é que esta dicotomia parece existir. Primeiro, fazia-me confusão esta necessidade da massa adepta. Mas para que precisam que lhes digam que têm razão? Pensava eu. Se vemos tão bem, o que acrescenta vir de lá o Pintinho ou o raio que o parta dizer que viu também? Ok, porque escrever isto num blog visitado pela minha Tia Ermenegilda nos intervalos da novela não tem grande ressonância. Ao passo que uma conferência de imprensa, ou duzentas e cinquenta, do Presidente, caraças pa... uns comunicados, qualquer coisa. Tragam o Bruninho! É que menos que a quantidade de discursos, entrevistas e comunicados que o Calimero Mor tem (tinha?) capacidade para debitar numa semana, seriam insuficientes para cobrir tudo o que temos para dizer acerca do andor deste ano. O Presidente não pode, na minha opinião, expor-se dessa forma.

Por outro lado, pensava onde raio queria a malta que o homem falasse? Na Bolha? No Rascord? No Jogo ainda disse umas coisas. No CM (vómitos)? Na SIC, comentado pelo Anão? Em entrevista ao Carlinhos na TV de todos nós? Na TVI, perdido no decote de uma apresentadora qualquer, a virar scotch marado com o dótor? Não conseguia entender... Depois fui lendo Porto Canal, redes sociais... E percebi. O que se pedia era que o clube encontrasse uma forma de os obrigar a darem eco, sem lhes falar diretamente. Aí nasceu a minha dúvida final: Para quê? Só me fazia sentido na esperança de que algo mudasse, o que seria pouco provável, digo eu; ou para que os outros, incluindo os lampiões, percebessem que ganhar assim não valia nada. Isto é, que alguém deixasse de gostar de ser Campeão. Bi-campeão, T-R-I-N-T-A anos depois. Também não podia ser este o motivo de tanta indignação, podia?

Portanto, concluí que entre uns, adeptos, e outros, direção do FCP, existe um mal entendido, eventualmente. Os adeptos sofrem, oh se sofremos!, e guerreiam e berram, oh se berramos! Já aqui se disse que essa é a sua função. Mas isso mói, oh se mói, e para além de vitórias, precisam, de vez em quando, de ter a certeza que não estão sós. Que as investidas contra os que, para eles (nós!), são moinhos de vento, pela impossibilidade de os arranhar verdadeiramente, são secundadas por quem terá, porventura (ou por ventura, talvez...), verdadeira capacidade para incomodar os senhores de quem não gostamos.

Resume-se a uma diferença simples entre DECIDIDA e DECISIVA. O que me parece que se tem esperado é que alguém, de preferência o Presidente, tenha uma intervenção DECIDIDA. Que aponte os bois pelos nomes e os faça perceber, aos bois, que daqui de onde estamos vemos tudo. Mesmo que isso não parasse o andor. Precisávamos de um momento em que a estratégia desse lugar à tática. Uma conversa em família (pois...) que fosse, que nos desse ânimo para mais do mesmo. Moralizar as tropas, ainda que isso não representasse nenhum avanço no campo de batalha.

Pelos vistos, do outro lado pensou-se, especulo, que só faria sentido colocar as fichas numa intervenção DECISIVA. Que fizesse efetivamente a diferença. E a oportunidade, o momento, não surgiu. 

Por acaso, se isto fizer algum sentido, discordo. Para mim surgiu. No exato momento em que um Fontanelas se deu à liberdade de abrir a bocarra, a direção da FCP SAD devia não apenas ter-lhe caído em cima como uma tribo de hunos privados de alivio sexual há cinco anos, como ter aproveitado o embalo para tratar de tudo o resto. O que ficou por dizer, até agora. E era fácil, bastava dar uma voltinha pela Bluegosfera. Está lá tudo o que nos está atravessado...

Creio que devemos estar preparados para este novo estilo e para uma nova era. Ela está claramente a ser trabalhada. Mas isso é outro tomo (olá Miguel :))...

...

Eu sei que devia ter dividido isto numas 50 Partes de Post do Silva. Desculpem, parabéns e obrigado aos que chegaram até aqui. Sim Tia, é consigo. Depois mando-lhe os tupperwares já lavadinhos. Estava tudo muito bom, obrigado. Beijinhos meus e das meninas.   



   

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Aberto para balanço II - Fado, Futebol e Família


Eu não sou uma besta quadrada. Portanto, é evidente que as duas figuras retratadas acima são, por aqui, reconhecidas como vultos importantes do Lusitanismo e símbolos transversais do orgulho nacional (que não Nacionalista, credo!). Sendo que um era Moçambicano, o que nos levaria a discutir uma série de coisas. Fica para um dia destes, ok? Ponto prévio arrumado.

...

II

Há uma profusão de sítios onde podem consultar as estatísticas referentes a títulos conquistados antes e depois de abril de 1974. Não tenho o número de cor, só sei, como vocês, que antes o 5LB ganhava bastante e depois o FCP ganhou quase tudo. Todos os regimes ditatoriais têm o seu clube, nas nações onde o desporto, seja qual for, é importante. Não faço ideia se no Myanmar existe um clube oficial de luta de galos, ou assim, mas percebem a ideia. Se ele não existe, se não parte do pulsar da populaça oprimida, pois cria-se. Os exemplos são vários. Em Portugal não foi necessário fazê-lo, bastou tomar para o Estado Novo o clube que, de facto, congregava, no desporto mais representativo (vá lá, o único!), a paixão da maior parte da população. Isto não é uma história da carochinha, é politica bem feita. Veja-se a rábula da contratação do melhor jogador de futebol nascido em solo Português (Moçambique. Mas então...Ah, não é agora que tratamos isso, ok!). Supostamente destinado aos Calimeros (à época creio que menos...), acabaria encarnado. Note-se: o estandarte do orgulho lusitano, nascido no Ultramar, preto, a pedir meças pelo título de "Melhor do Mundo". O exemplar perfeito para a propaganda do regime. Ah, die Paradise! Pensaria Goebbels. Ah, já direitinho para Carnide, pensou alguém que percebia da poda.

As referências do parágrafo anterior não são inocentes, está claro. Nenhuma delas. Da estrutura centralizada e centralista, inevitável e bastante aconselhável numa ditadura, guardamos a fantástica máquina corporativa do Estado e a concentração dos centros de decisão, e de negócio, na capital do Império. São apenas factos, sem nenhum juízo de valor...para já. A estes, acrescem outros: há mais benfiquistas que malta em condições. É pois natural que a maior parte dos cargos, dos lugares, dos jornalistas, dos comentadores, enfim, de tudo!, seja...do 5LB.

Perante tudo isto, não posso, em boa verdade, considerar que o que se passou na comunicação social esta época, tenha sido substancialmente diferente do que aconteceu antes. Este ano tiveram o lastro de serem campeões e se abalançarem, de novo, a um bicampeonato fujão. E mais o magnifico motivo de termos um treinador aparentemente importante para a estrutura, ainda por cima espanhol, ainda por cima pouco dado à submissão. Por outro lado, estamos em ano de muitas e importantes eleições. Candidatos a perfilarem-se, algumas vitórias anunciadas, como o milhafre. E vimos de anos de crise profunda. Nada melhor que a paz proporcionada por um Marquês em festa. A todos? Não, mas à maior parte. Eleições ganham-se por maioria, não unanimidade. Se dura até outubro, isso são outros duzentos. Para já, mais taxa municipal perdoada, menos camisola oferecida na varanda camarária, a coisa vai bem. Mais ainda porque, a Norte, a conversa do regionalismo e da luta e do Povo Mais Forte se fica pelas bancadas do Dragão. Não vai mais longe que isso. O autarca da não promiscua relação entre futebol e poder vai, em pezinhos de lã, fazendo o seu caminho para Sul. O novo autarca, portista ferrenho antes, desapareceu da vista e deixou os seus ataques anti-centralismo acéfalo para outras núpcias. Nada de novo a Oeste. Os que forem cuspidos pela máquina ou a ela não se adaptarem, - é que se come bastante pior em Lisboa, garanto-vos - voltarão.

Vamos então falar dos árbitros? De todo! Eu vi, vocês viram, eles sabem. Isso muda alguma coisa? Muda tanto como o belo argumento do "aaaaah, mas quando aconteceu para vocês já gostaste". Para além de ser a assumpção perfeita de que a roubalheira lá esteve, não fui eu que vi mal, é uma afirmação que carece de um ponto de interrogação. Deveria ser "...já gostaste?". Ao que o tasqueiro responderia sem hesitar: "não faço ideia, porque nunca tive disto para o meu lado!". Mas não nos façamos de parvos. Já fomos beneficiados? É muitíssimo provável. Desta maneira? É pouquíssimo provável. É que nem eu, e se alguém poderia seria mesmo eu!, conseguiria ignorar uma coisa desta dimensão. Vale para quê? Nada! Quem ganhar, terá ganho. Ponto final. Isto é apenas fado! 

Muitos, quase todos, dos meus, clamam há muito por uma intervenção decidida da direção do FCP - da SAD? - contra este estado de coisas. Eu creio que há uma diferença entre decidida e decisiva que nem uns, adeptos clamantes, nem outros, direção silenciosa, perceberam ainda. Será outro tomo (ora viva Miguel :)).

Mas fado por fado, cantemo-lo até ao fim: Capela em Barcelos. E uma curiosidade: o Estado Novo durou 41 anos. Exatamente o aniversário que celebrámos no passado dia 25, em liberdade. Merecia uma festa hein? Fado.

Do futebol tratamos com bastante rapidez. O FCP jogou o melhor que por cá se viu este ano. É bastante possível que isso não seja suficiente para ser campeão. Como é bom de ver, segui, de alguma maneira, todos os jogos do FCP. Vi-nos ser piores que o adversário, e sublinho para os curtos de vistas que condensam noventa e cinco minutos num erro: P-I-O-R-E-S!, em duas partes de dois jogos distintos. A primeira no Dragão contra o Bayern - sacrilégio? no lo creo - e a primeira em Munique, naturalmente. De resto, nunca inferiores. E estou pronto, ah pois claro, para argumentar com o Manuel José, com o Jaime Pacheco, com o Vitinho, com quem for. Mas o que gostava mesmo era de o poder fazer com o Carlinhos, o Gordobern, o Anão Gomes da Silva e afins. Oh well, i wish... É futebol.

Uma palavra para a família. A mais chegada, as claques, nem sempre é a que gosta mais ou a que ajuda mais efetivamente. Mas este ano comportaram-se lindamente. Apesar de me fazer urticária celebrar derrotas, devo inclinar-me respeitosamente perante o que julgo ter sido o objetivo das despedidas e receções mais recentes: empurrar, segurar, empurrar de novo. Perfeito! E não, isso não é agradecer nenhuma derrota, nem ficar satisfeito com pouco. 

A mais alargada vai-se dividindo e todos tomam partido. Dos que estão contra, porque sim!, desde o inicio; aos que estão a favor, porque sim!, desde o inicio; passando pelos que eram céticos e se converteram; até aos que vão variando, conforme a coisa está mais para festas ou para enormes melões. É uma família, não podia ser diferente. Esperamos, creio honestamente que TODOS, voltar a encontrar-nos na festa, redimirmos as agruras das nossas vidas e das nossas distâncias em abraços fraternos, festivos. Em breve, na Alameda, combinado?

...

Porque não consigo escrever a palavra família sem derivar para a verdadeira, devo dizer que tenho a sorte - há coisas que não se percebem! - de dividir a Vida com uma benfiquista (cá em casa não há lampiões!!) da pior espécie. E a pior espécie é aquela que não deixa de assinalar, de sorrisinho condescendente, as suas vitórias e as nossas derrotas; e ao mesmo tempo, está-se perfeitamente a marimbar para as nossas vitórias e as suas derrotas. É de um gajo se atirar da ponte D. Luis! Se alguém souber de um grupo de apoio para pessoas que padecem desta condição, eu quero inscrever-me.

- Olha, sabes que mais, tu padece é que tens um gandamelão. Ou seis...
- Deixa estar, havemos de conversar. E é já para o ano. Se não for ainda neste...
- Oh, quero lá saber...

E não quer. Mesmo. Ca nervos! 
  

terça-feira, 28 de abril de 2015

Interlúdio: O Mundo ao contrário.





Definitivamente, tenho que abrir a Tasca mais tarde. Enquanto o Sol não nasce, as noticias são uma espécie de Twilight Zone. 

Baltimore está em estado de emergência e de sitio e isso tudo, incluindo recolher obrigatório. Mais uma vez a policia parece ter feito asneira da grossa e morreu alguém que estaria sob sua custódia. Revolta com contornos étnicos e protestos generalizados, a meter carros incendiados, montras partidas e lojas assaltadas. No Mundo ao contrário isto deve fazer todo o sentido. Nem estou a ver como é que se pode protestar contra os maus tratos da policia de uma forma que não obrigue a...policia a intervir.

Ao mesmo tempo, por cá, em jeito de comemoração do Dia da Segurança no Trabalho, ou algo que o valha, o Sindicato dos Inspetores do Trabalho declarou greve. E porquê? porque há trinta mil (T-R-I-N-T-A, como os anos que leva o 5LB sem ganhar dois campeonatos seguidos) multas à espera de serem instruídas. Vai dai, a Autoridade para as Condições no Trabalho, ou algo que o valha, botou os inspetores a instruir os autos. Pois que não pode ser. Se isto fosse uma empresa, diríamos que há trabalho atrasado que é preciso recuperar. Querida, hoje vou chegar tarde, por causa da merda das multas atrasadas. Juro que não vou pá Tasca do Silva emborcar copos de tinto e falar de bola. Podes ir lá confirmar.

Mas não é uma empresa, é o Estado. Somos nós! Vai dai, o inspetor inspeciona, não está cá para fazer trabalho administrativo, mesmo que esteja previsto na sua descrição funcional. Nem pensar. Se era para isso tinha ido para outra coisa. Detetive da Judiciária, por exemplo. Portanto, considera-se que não há condições para o inspetor trabalhar e pumbas, greve! Bonito é andar na rua a autuar, mesmo que isso não sirva para nada, porque as multas nunca serão instruídas. Ainda por cima, vai-se a ver, têm trinta mil bons motivos para fazer greve. Mas parece que os Sindicatos, mandatados para comunicarem connosco, não sabem... comunicar. Faz sentido, no Mundo ao contrário.

E pronto, é demasiado cedo e a minha mente estragada solta-se em filmes maijómenos assim:

- Hey, o que está o senhor a fazer? - Pergunta o homenzinho de óculos, no seu fato barato, mas impecavelmente passado, e gravata já meio desapertada, no meio dos estilhaços da montra partida.

O outro hesita, tosse, volta a hesitar, olha para as mãos enfiadas na caixa registadora, depois para a porta de vidro desfeita, os ouvidos a estourar com o som do alarme. Encolhe os ombros:

- Procuro a minha lente de contacto?! - Arrisca.

- Olhe que não parece nada isso. O senhor está é a assaltar este estabelecimento.

- Claro que não! - Indigna-se. - A verdade é que estou a protestar contra os maus tratos infligidos pela polícia. Desculpe a mentirinha, mas apanhou-me de surpresa... - Sorri angelical.

Ele olha-o desconfiado. Ajeita os óculos com o indicador da mão esquerda. Sente o peso da pasta cheia de formulários, pensa na sopa quente em casa. Descaiem-lhe os ombros.

- Ainda acho que está a praticar o gamanço à descarada, aproveitando-se da balbúrdia reinante. Há um recolher obrigatório, está ciente disso, não está? - Retórica. Todos estão. 

- É da polícia? - Pergunta-lhe, já de olhar endurecido pela revolta. - Está a ponto de me maltratar, posso vê-lo na sua expressão. Já nem se preocupam em andar fardados... - É interrompido:

- Digamos que o que me preocupa verdadeiramente é o senhor estar aqui a roubar sem máscara, nem uma arma que se veja. Tem seguro? Quantas vezes folga por semana?

- Aaaah, Inspetor do Trabalho! Vai multar-me? Sou um empresário independente.

- Estou muito tentado....

- Bolas! Tenho que pagar já?

- Não. Depois recebe uma notificação na sede.

- Em quanto tempo? - Olha para as poucas notas na caixa. Prossegue: - Este mês não me dá jeitinho nenhum...

- Isso não sei. Ninguém me paga para tratar de burocracias. Sou inspetor, inspeciono, nada mais. Era o que faltava!

- Podíamos resolver isto discretamente entre nós, não acha? - Pisca um olho.

- Eventualmente poderíamos, mas hoje não. Estou em greve, só cumpro serviços mínimos.

- Ah...

- O triste espetáculo de estar a roubar nestas condições, faz parte dos tais mínimos, pelo que tenho mesmo que o autuar. Já o suborno, teria que ser numa visita rotineira num dia normal. E isso era se eu fosse subornável. Nada feito meu caro, desculpe lá o mau jeito...


...

- Oh, tá bem! Mas não te ouvi dizer nadinha sobre o facto de serem precisos quatrocentos mangas para fazer aquele trabalho e estarem lá trezentos. E essa do suborno é uma baixaria pá. Generalização estúpida, porra! Andas a ficar meio facho, ai andas, andas. E se te limitasses à bola? 
Era aparecer aí um afro das américas armado em Lopetegui e dar-te una boga en el focinho e limpar-te a caixa. 
Pega lá os cêntimos do bagaço e até loguinho. Não venho aqui matar o bicho para me enervar, carago!

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Aberto para balanço I - No principio era o verbo...

Em busca daquele pedacinho assim que nos faltou...

Haverá, mais tarde ou mais cedo, uma profusão de balanços, inventários, resumos e quejandos. Todos terão as suas razões e a sua razão. Esta é a da Tasca. 

E é já, antes do fim, a destempo, pela simples razão de que nada mudará na opinião do tasqueiro, independentemente do evoluir dos acontecimentos (rufam tambores). O último esclarecimento prévio é que isto é tudo pessoal. O FCP, aqui, sente-se assim. É meu, sou eu que ganho e que perco! Deve ser por ser suficientemente novo para isso me tornar egoísta em vez de mártir...

Sumário:

I. No principio era o verbo...
II. Fado, Futebol e Família.
III. O silêncio dos inocentes.
IV. Tubi ornotubi...hegemonic.
V. Valar Morghulis, Valar Doaheris

...

I

Mesmo que se chamasse Abelardo ou Zé Pantagruel, era o mister para este ano e, mesmo que só por isso, mereceria todo o meu apoio. Depois, tratar-se-ia de tirar a limpo se era uma solução ou um problema. Respeito quem parte do principio inverso, ou seja, quem é, à partida, contra. Eu funciono ao contrário.

Muito, mas mesmo muito, cedo, o basco passou a ser o meu treinador para os próximos anos. Não vale a pena repetir-me à exaustão. Gosto do futebol, gosto da lata e até gosto que tenha estado a ponto de virar uns tabefes no Jesus. Não me lembro de uma opção que não consiga perceber, incluindo o Reyes em Munique e, pelo contrário, creio que sabe ler o jogo como poucos e que mexe muito bem na equipa.

Acho perfeitamente estúpido que se tente, sequer, comparar este FCP com o da época anterior. Mesmo não embarcando nas histórias das equipas em construção e da juventude e eteceteras, parece-me inegável que estamos mais perto de ganhar com Lopetegui do que com Fonseca. E embora entre no campo do oculto e para-mágico, de que não gosto particularmente, é minha convicção que, nas mesmas circunstâncias desta época, não haveria Estoril ou Kelvin que valesse ao Vitinho.

O nosso futebol de posse 2.0 (ou 6.1, se estiverem virados para a graçola...) faz-me feliz. Mais que tudo, a possibilidade de futebol que entreabre, e que já vimos em vários momentos, para mim fica muito à frente do que nos aconteceu desde Mourinho. Bem sei que pelo meio há o advento Vilas Boas. Mas é um ano sem Champions e mal preparado pelo 5LB, ao nível da implementação do desígnio nacional que os levasse ao título. Parecia mais ou menos claro que aconteceria e desleixaram-se. Naturalmente, troco já, sem hesitar, a campanha deste ano por essa do André. Sobretudo se puder pôr o Lopetegui na cadeira de sonho do outro...

Uma vez falaram-me de um ano zero, antes de entrar para a faculdade. Arranjei emprego, que era uma coisa ainda aquém do campo da utopia na altura, e fui estudar à noite. O emprego correu bem, as noites também, o curso é que nem por isso. Anyway, continuo alérgico a anos zero. Para mim não existem. No futebol (Clube do Porto) ainda menos. Preparamos o futuro a ganhar hoje. É por isso que considero o primeiro ano de Lopetegui frustrante. Não ganhei nadinha, nem uma festa para amostra, nenhum "Tomai, porcos infiéis, enfiai esta taça pelos vossos dilatados ânus!". E eu gosto, shame on me, desses momentos de alivio.

Nada de arrepelarem os cabelos, o tasqueiro não está a desistir. Ainda não acabou este campeonato. Acontece que se, no fim, o FCP for campeão, terá sido o 5LB a perder. Vai dar-me um gozo imenso, vou rir-me a bandeiras despregadas durante dez dias e engravidar a minha mulher oito vezes por noite, mas não será a mesma coisa de termos sido nós a ganhá-lo. Ora, estar lá para ficar com os despojos de guerra também tem o seu mérito, está claro. Ainda mais no contexto em que decorreu este campeonato. Festejarei a queda dos infiéis e devolverei o enorme melão que me parece destinado. Ah, e reconhecerei que afinal não havia um desígnio nacional, transversal, para fazer do 5LB bicampeão, trinta (T-R-I-N-T-A) anos depois.

Balanço: Frustrado, mas entusiasmado pela possibilidade, como sempre. Julen, estás a dever-me e acho que podes pagar com juros altíssimos. É por isso que continuarei a colocar todas as fichas em ti. Não é simpatia, nem sou bom samaritano e nem descendente do Miguel de Vasconcelos. É investimento de um ganancioso do caraças!

Es tiempo de ponerlos a chupar! Se no principio era o verbo, agora é a altura de se fazer luz. E é com grandes e potentes holofotes. Nada de petromaxes, tajobirohquê?!

(Ah pois continua. É melhor pedirem uma garrafa...)

sexta-feira, 24 de abril de 2015

A ronda das mesas e um prenúncio ao balcão



- Dois Pneus, uma Opinião e uma cerveja a sério. E boas tardes também.

- Viva, Silva. Olha lá pa, no meio da febre da bola - e sorriem todos ao mesmo tempo três sorrisos dobrados. Ou seja, seis... - chegaste a reparar nesta coisa dos teus patrícios na Africa do Sul? Isto passa na espuma das noticias, ninguém ligou grande coisa, mas parece que foi feio. Lembrei-me de ti... 

- Incompreensível. E são recorrentes por lá estes ataques. África terá sempre uma maneira muito própria de lidar com os seus problemas, é uma coisa étnica e muito tribal. Mas a globalização começou com as armas e agora quando desatam à catanada já não acrescentam zaragatoas. É ao tiro mesmo. 
Mas Sul Africanos com atitudes xenófobas e discriminatórias... Não sei, soa-me a contrassenso. Como se Judeus construíssem fornos crematórios e câmaras de gás, para varrer os Muçulmanos da face da Terra... Enfim, São Mandela não permitiria. Aliás, acho que já há quem se manifeste na rua contra essa barbárie. Há sempre esperança... - Um assusta-se:

- Contra os fornos? Opa, não me digas que os Israelitas... - Interrompo:

- Não, sua besta! Contra os ataques aos imigrantes. Até já.

...

- Um pires de favas com chouriço, uma dobradinha de potas e um jarro de tinto carrascão, se fazem o favor.

- Obrigadinho, Silva. Você é que é gajo para ter opinião sobre isto. Viu aquilo da professora e do miúdo de quinze anos e o diabo a seis? - Toma! Fuck!

- Muito engraçadinho você. Oxalá não lhe caia nenhuma fava no gôto. Só sei que a moça desatou a aparecer em fotografias no jornal, toda sorridente e de camisolinhas de alças e assim.

- Pois foi, pois foi. Jeitosa hein? - Diz o mais velho e mais lúbrico. Que é um sinal de que está a envelhecer bem, está claro.

- Pois, para um miúdo de quinze anos é provável. As hormonas não têm sentido estético nenhum. De resto, acho é que o puto deve ser o herói da turma e que a diretora da escola devia embirrar com as camisolinhas de alças. É até muito possível que tenha gasto algum dinheiro a comprar umas para si própria, só para concluir que os elefantes não podem usar alças. Vai-se a ver, aquilo fez-lhe luz e lá descobriu que a outra só podia andar a papar as crianças todas que pudesse. Ainda por cima a gostarem tanto dela e com uma relação tão jovial? Naaaaa, isso não é Escola, é prostíbulo. Catrapumbas, processo!

- Não fazia ideia que a diretora era gorda...

- Nem eu, mas apetece-me que seja. A alternativa divide-me entre o "é enjaular a abusadora" e o "onde porra estavam as professoras em condições quando eu tinha quinze anos". Não apenas é politicamente incorreto, como dá cabo do meu amadurecimento tranquilo. Ainda para mais, é de um machismo insuportável. O que diríamos se fosse um professor e uma rapariguinha de quinze anos?

Eles trocam olhares meio corados. Do tipo "depende do desenvolvimento e das roupas da cachopa"...

- Aaaah, nem pensem! Whatever, i made my choice, as diretoras são badalhofas.

- Eu cá ainda acho que é muito jeitosinha. Média, pronto. Quero cá saber das suas questões existenciais... E a diretora é capaz de ser também...

...

- Oh Silva, depois traga-me um fino e um Sonhé, pode ser?

- Pois claro que pode.

- Epa, você vai gostar de saber disto. Acho que é no Domingo ou assim, que dá na TV um especial sobre os sessenta anos do Festival da Eurovisão. É capaz de ser sessenta e um.

- Não, não são. São sessenta! Seisazero e não seizaum. 

Abana a cabeça, sorridente:
- Sim, sim, é sessenta. E diz que vai aquela das barbas e mais uma série deles. Espere lá que tenho aqui no jornal.

- Vão os Abba?

- Os Abba parece que não. Mas não morreu já alguém desses?

- Desculpas... E os Lordi?

- Deixe lá ver. Sim, esses estão aqui. Não que eu faça ideia de quem sejam...


...

Por fim, o refúgio da trincheira. Ela senta-se no banco alto, pousa os cotovelos no balcão e pisca-me um olho claro:

- E então, melhorzinho? Preparado para Domingo?

- Domingo estamos fechados e vai ser um belo dia!

- Ui, a festejar de véspera? Ou é tudo confiança?

- Nop, nem um nem outro. É uma mera constatação. Há vida para lá da bola, minha cara jovem. O que não é o mesmo de haver vida sem bola...

Franze um sobrolho, perplexa. Nunca entendi como há pessoas que conseguem fazer isto. É tão irritante. Apetece-me logo enfiar-lhes um sopapo nas ventas, naquele preciso sobrolho, para equilibrar. Ou seis sopapos, se forem alemães...
O puto chega a correr e trepa para outro banco. Sentencia, esbaforido:

- Seisazero, Silva. Tem que ser!

Perco-me por segundos na parede do fundo, bem ao fundo, para lá das cabeças, das mesas, das conversas - umas aos gritos outras em surdina - do som dos talheres e das peças de dominó e da música. Em condições normais, Domingo será um belo dia, independentemente do futebol. Estratosférico se a bola quiser... E em condições anormais...também será! 

Entrego-me feliz ás reminiscências de um minuto noventa e dois, inimaginável e, ao mesmo tempo, completamente secundário, dados o local e a ocasião em que o vivi. Preparava-me para deixar cair os braços. Inusitadamente, fazia-o com um sorriso rasgado, de orelha a orelha, perante o que se me apresentava como o consolo da minha dor. Ah dane-se, troco todos os campeonatos por essa pele. Agora igual? Alinham-se astros?

Oiço a palmada na mesa da conferência de imprensa do Mourinho. Ou então foi no balcão da Tasca. Eles fixam-me de olhos semicerrados, indicadores apontados e polegares ao alto:

- Onde estão os nossos sumos, pobre infeliz?


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Os números da Besta



No trabalho:

- Viva. São seis finos para mim, faxavor! While you're at it, tira um para ti também. - Gargalhada.

A levantar crianças no infantário:

- Portou-se lindamente a Princesa. Está toda entusiasmada, que estamos a preparar uma representação da Branca de Neve e os Seis mais Um anões. - Gargalhada.

À conversa com o galã do bairro:

- E diz-me ela, "ai querido, gostava era que fosses alemão, para me dares seis. Assim, deste uma e ficaste a um danoninho da segunda". E deu uma gargalhada.

Em casa:

- Deixa lá isso amor, não voltam a perder dezazero tão cedo.
- Que dez?! Foram seis, caramba. Também não é preciso exagerar...
- Ah, ok. Só acompanhei o resultado até ao intervalo. Pensei que mudava aos cinco e acabava aos dez. - Gargalhada.

- ...E por aí fora. Têm sido dias muito divertidos...in Hell!

- SixSixSix... - Gargalhada.

THE NUMBER OF THE BEAST (obviamente...)

terça-feira, 21 de abril de 2015

Notas breves dos escombros do blitzkrieg



1. O Marcano é o meu novo jogador favorito. Só porque os tipos da TVI o detestam. Ivan, fá-los pagar!

2. O Lopetegui continua a ser, para mim, um dos 5 melhores treinadores da história do FCP. É claro que vão aproveitar para te desancar como se não houvesse amanhã. Perdemos por causa do Reyes, apostas? Limpinho, limpinho. Fá-los pagar!

3. Quero que o Bayern seja campeão europeu, está claro. Hey, bávaros de um cabrão, façam os outros todos pagar!

4. Tenho um melão do tamanho de um planeta anão! Alguém tem que pagar. Tenho uma ideia de quem. E era tão lindo, não era?...

5. SEIS a um!!!!!! E quem somos? SOMOS PORTO, como ontem, como amanhã! Pagarão!

6. Uma citação: "No te preocupes, nos vamos a levantar!". Chupem!!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

A beleza do estereótipo: Contributo para uma noite descansada.




Não consigo perceber tanto alarido e tanto receio. Isto não é assim tão complicado. Tudo o que os nossos têm que fazer é encarnar o verdadeiro espírito Lusitano. E pronto, that's all folks!

Começa logo na baliza. Temos lá um latagão que estava bem era a descarregar contentores em Leixões. É mesmo isso que o moço tem que enfiar naquela cabeça dura. És um estivador português, Fabiano. Portanto, na tua hora de serviço, o que tens que fazer é contar, detalhadamente, ao Roberto as longas noites que passaste com a mulher dele enquanto o jovem andava embarcadiço. Se te aparecer trabalho, atiras-te ao chão à primeira oportunidade e ficas por lá até te levarem à enfermaria. E berras que queres ir pó seguro e que já não podes mais e que tens para seis mesinhos, mínimo! Vais ver os Diretores bifes todos a ferver, não fazem mais nadinha de jeito o dia todo.

No centro da defesa façam o favor de botar os M&M. Digam lá que os tipos não parecem dois armários. Eles que se compenetrem da sua verdadeira função: São porteiros de uma disconight portuguesa, pois claro. Vai daí, passarão a noite a explicar aos gringos que não será possível entrarem. Parece que os estou a ver:

- Pois, não, não. Tem que fazer o favor de ir para o fim desta fila de dez quilómetros, que isto está bastante cheio. - Diz o M, de óculos bem escuros, a comporem o ar bald and badass, sem sequer olhar na direção do suposto cliente.
- Mas estarr vazio lá dentrro. Verr-se daqui quando porrta abrrir parra entrrar gaja bem boa!
- Isso é o que tu dizes. Para a fila e a trote, antes que isto comece a descambar, tajaperceberohporconazi? - Conclui o outro M, mais sóbrio, mas não menos badass.

As faixas estão um mimo. À direita um cigano. Maravilha! Noventa minutos inteirinhos para moer a cabeça do alemão que lhe calhar. É ver o  boche cheio de sacos de roupa de marca e relógios e assim. Mal consegue andar por causa do peso, o pobre. Atrás do nosso cigano, jogará, a defesa direito portanto, um tipo da Damaia. Não há melhor combinação que esta. Enquanto os alemães estão entretidos a escolher polos Ralph Lauren made in Rebordelo, passa o Damaiense a correr e aos gritos de "Olha a bófia, olha a bófia". Pumbas, o cigano dispara atrás do gajo, até o ultrapassar. Melhor overlap é difícil. Vai ser um massacre por aquele lado.

À esquerda, quem temos? Um Marroquino!!
- Não Silva. É Argelino!
Argelino, Marroquino, Catarino, é tudo a mesma coisa. É malta que vende casacos de pele. Só temos que usar a mesma estratégia da direita. Não apenas ganhamos o jogo, como os rapazes ainda fazem uns trocos valentes. Sobretudo porque a defesa esquerdo jogará um tipo do Barreiro. Emigrado onde? Na Holanda! Já se vê a qualidade de contrabando deste, pois claro. Aposto que anda feito com o Catarino e passa a erva dentro dos forros dos casacos. Vai ser uma festa à esquerda. Isto é que é o Avante!, Jerónimo.

No meio campo é limpinho. Os alemães todos eficientes, cheios de pressa, os processos todos apreendidos e oleados. Coitados! Metemos lá o feioso, mais o Tsubasa, desencarnados em dois funcionários públicos tugas. Inundamos aquilo tudo de burocracia, até os gajos desistirem. 

- Como diz, senhor Göetze? Não, claro que não pode fazer esse passe de rutura. Então o senhor ainda não preencheu o modelo trinta e quatro, nem me trouxe o numero de beneficiário do seu vizinho do quinto esquerdo. Diga? Mas que culpa tenho eu que não lhe dê agora jeito nenhum ir a casa buscar os papéis? Havia de ter pensado nisso antes, não acha? Olhe lá, o senhor tem a certeza que não é anão? Uma vez conheci um anão, numa feira em Alhos Vedros. Era uma personagem bastante original. Onde vai senhor Göetze? Espere lá que ainda não pagou a taxinha. Primeiro paga e depois é que é substituído. Esta agora...

- Boa noite, senhor Shweinencoiso. Já viu este tempinho de caca? A humidade dá-me cabo dos ossos, até parece que ando marreco, valha-me Deus. Mete-se-me a chuva miudinha pela roupa. Horrivel. Escute, o senhor deixe-se estar aqui um pedacinho que está na hora do meu lanche. Se não se importa, tem que esperar. Oh amigo, se tem pressa viesse mais cedo. Você lá no seu serviço também tem pausas, não tem? Não me lembra de me vir perguntar se eu tinha pressa nessas alturas. Há com cada um, sinceramente...

Ainda nos sobra o Casemiro! Ora, toda a gente sabe que o Casemiro é tudo menos burro. Para além de ter um nariz que parece um elefante, manda um corpanzil de meter respeito. Não vai haver menino a pôr pé em ramo verde na zona dele, ai não vai não. Muito menos brasucas com nomes de estação de comboios da Linha de Cascais, ai que fino. É rebentar-lhe os dentes todos se se armar em parvo. E sem remorso, que o gajo há-de ser dentista e trata-se a si próprio a seguir. À borla, o chulo! Recibozinho com contribuinte tá quieto...

Sim, eu sei que falta a estrela. Preciso de explicar como é que um tipo chamado Jackson vai tratar da saúde a um menino loirinho e angelical? Pois...

domingo, 19 de abril de 2015

Pero que las hay..., incluindo a verdade sobre Deus pela "Porta dos Fundos".




- Para ser muito honesto, tinha acabado de me bater, sozinho, com uma dose para três do cozido que a sogra vem cá fazer em alguns Domingos. - Digo-lhe, entre dois golos de tinto.

- Bem bom! Já vim provar, tanta era a fama. - Enche o copo, com o à vontade dos habituais.

- Ainda por cima havia aí ainda umas garrafas daquele verde secreto de Amarante, a estalar de gelado. - Ele sorri e abana a cabeça, conhecedor. - Portanto, era eu uma espécie de ogre, de estômago hiperdilatado e a cabeça naturalmente gaseificada do vinho. Ou seja, feliz e contente. - Brindamos e esvaziamos os copos. Enchemos de novo. - E foi então que lhe disse, "eu seja ceguinho se não vou a Fátima acender um joelho de cera, se essa sua operação correr bem!".

- Mas a que propósito pá? Não tens nada para dizer, contas uma piada estúpida. Ca burro! 

- A mulher estava preocupada e cheia de receios parvos. À rasca, pronto. E eu quis, sei lá, solidarizar-me, mostrar-me disponível. Querias o quê? Que me oferecesse para a operar eu próprio?!

- Para além de que um joelho não se acende, está claro. Deve deitar-se  para dentro da fogueira ou assim. Cristo! Um tipo que achava que o sitio das velas na Capela da Senhora do Desterro era um assador... - Rimos os dois. Lá fora o Domingo desfia-se, pachorrento e inelutável. - E afinal vais lá assar o joelho da mulher ou não?

- Claro que vou. Um dia destes...

- Para quê? Não tens fé nenhuma nessas coisas. Ou é só em atenção à indústria das velas?

- Pá, mal não vai fazer. A velhota agora anda ligeirinha, o cozido nunca mais soube a preocupação nem a dores e incómodos. Já que disse, cumpro a minha parte. Vá que estou enganado e foi mesmo a contar com o meu prometido joelho de cera que correu tudo bem? - Acabo a garrafa no meu copo, com o à vontade dos amigos pouco importados com delicadezas. Há mais destas, ele só tem que pedir. Eu cobrarei apenas metade do preço. Ele ficou pensativo, imóvel.

- Abro outra? Por conta da casa. A minha metade, claro! - Gozo.

- Pode ser. - Continua ensimesmado.

- Que foi? Não te fazia tão preocupado com as artroses da minha sogra.

- Não é que podes ter razão? Que mal fará? Nenhum! 

- Claro que não. E ainda aproveito e vou ao leitão com a giraça.

- Não é isso. - Bate com a mão na mesa, o copo estremece. - Amanhã vou comprar uma galinha preta! E vou acender uma velinha à Igreja das Antas e telefonar a um amigo meu que é judeu, a ver que esconjuros eles lá têm contra os alemães! - Eu levanto-me, encaminho-me para o balcão. - Onde vais, Silva?

- Buscar dinheiro. Quero entrar em sociedade contigo nessa coisa da galinha...


...


(blink à Gabriela e ao Miguel. Há bola em tudo ou tudo é bola?)

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A Razão da Fé, com um ponto prévio, vários posteriores e uma música



Ponto prévio: 

Eu puxei pelo FCP de Fonseca, como pelo de Octávio (vómitos!) ou de Quinito. Acreditei neles com a força desta Fé inexplicável. E achei sempre que essas equipas podiam bem ganhar por cincazero todos os jogos. Uma crença ainda assim meio tristonha, como os amores adolescentes não correspondidos. Mas sempre presente.


...

Ah bolas, é claro que me sinto tentado. Muito mesmo. Afinal, quem não se sente tentado a um EU NÃO DISSE!? ou DOIS? Oh well, done! :) 

Sobre o jogo de anteontem, tudo está dito. Dos detalhes mais futebolísticos aos discursos mais apaixonados. É só ir clicando ali ao lado e visitar as outras tascas onde aqui o tasqueiro vai petiscar.

Os ainda troikistas tempos que vivemos, aconselhavam a que poupasse este post. Mas há uma coisa que tenho para dizer, uma palavra apenas: POSSIBILIDADE.

 Para o que agora interessa, apliquemos o conceito à bola. A Possibilidade de ganhar é, no fundo, a essência do jogo. De qualquer jogo, para quem - rendo-me, acuso-me, julgo-me e condeno-me! - acha que jogo é sinónimo de competição. Eu ganhei ás cachopas, sempre que pude, no "Quem é Quem" ou lá como se chamava o jogo dos bonecos. Já na treta de encaixar formas numa bola com buracos, iguais ás respetivas, nunca tive hipótese.

O que me delicia no FCP de Lopetegui, desde o inicio, desde aquela linha de defesa no meio campo no jogo de apresentação, qual Bayern-a-melhor-equipa-do-Mundo, é a Possibilidade. E na quarta, da minha arquibancada, foi isso que me levou a voz: Tudo é possível para esta equipa. E já! Em menos de um ano...

Viver assim implica saber lidar com as maiores desilusões e prováveis grandes derrotas e tombos. O que não é nem fácil nem saboroso. Detesto perder! Masoquismo portanto? Nem lá perto.

É a ilusão que enche os dias e a alma. A ilusão em vez do medo. A inquietação da esperança em vez da tranquila mediocridade. A barriga gelada da esperança de glória em vez do conforto de nada esperar. A paixão que queima, e também destrói, em vez do hábito morno. Enfim, acreditar que podemos ganhar, por adn, mas ainda mais porque... podemos mesmo. Porque nos mostram que é sempre elevada a probabilidade, se quisermos ver.

Por isso, sinto-me um grumpy. Porque não estou em modo "quero lá saber do que vem depois disto". Eu quero! Eu acho que estamos à frente, que a partir de anteontem temos mais hipóteses de ganhar do que o Bayern-a-melhor-equipa-do-Mundo. Não é um sonho, é uma verdadeira, franca e agora muito alcançável POS-SI-BI-LI-DA-DE. 

Se o Sonho comanda a vida, a possibilidade de sonhar é a condição de estar vivo. Agora contesta lá isto Bernardo. 


...

Ponto posterior 1: 

É pois fácil perceber que terei um enormíssimo melão se o FCP for eliminado. Não embarco no "depois disto é tudo lucro". 

Ponto posterior 2: 

Seria incongruente não considerar muito plausivel a possibilidade de ganhar na segunda circular. E por números suficientes para sermos primeiros depois desse jogo. Embora desconfie que não vão ser golos a decidir o campeonato... Outro melão do caraças se for diferente.

Ponto posterior 3: 

- Muito lindo isso tudo, oh Silva. E com o Pessoa ao barulho e tudo. Ena, que erudito. Olhe, acho que é isso mesmo que sentem os adeptos do Arsenal há uma porrada de anos. - E mostra-me as gengivas rosadas e desdentadas.

- E os do Barcelona, e os do Bayern, e os do Real... E eu agora! Que sou do FCP, outra das grandes equipas...

Ponto posterior 4: 

POST IT

Na grade exterior da Tasca, ontem de manhã:

"Silva,
O Bayern pareceu bastante pior do que antes. Muitos parabéns, é colossal fazê-lo!
Lamp"

Último ponto posterior:

Indignamo-nos, adeptos azuis e brancos, pelo baixo e nojento tratamento a que vetam o FCP. Os media, de uma forma geral, trataram de diminuir, antes e depois do jogo, a nossa brilhante vitória. Antes, porque, também eles!, sabem bem que esta equipa pode (tem a POSSIBILIDADE) ganhar sempre. Depois, porque, inevitavelmente, há um (bi)desígnio nacional a cumprir e porque não serão esses tripeiros a luz da Pátria. 

Pelo contrário, somos noticia em tudo quanto fala e escreve sobre futebol internacionalmente.

A Federação Portuguesa não se fez representar no Dragão. O Governo, nomeadamente a tutela do desporto, também não. A própria Câmara Municipal do Porto (ah, grande portista Rui Moreira, com muito orgulho, aposto!), primou pela ausência. 

Pelo contrário, o FCP é apontado como modelo de sucesso, pelo menos desportivo, nos quatro cantos do Mundo. Sendo ele redondo, a coisa complica-se. Mas isso é outro post.

E é para este país, para estes jornaleiros e paineleiros, que querem que o FCP fale? Se revolte? Responda? Amigos, estamos para lá disso, muito para lá. É o Mundo o nosso recreio. O pequeno e mesquinho país, que ainda assim nunca renegaremos, é apenas o solo da nossa raiz, amado e fixo na nossa memória, sim; mas lá atrás, no tempo em que as fronteiras nos definiam e sustinham. Hoje somos maiores que ele. Somos Porto!

Uma música:

THE BEST IS YET TO COME




  

quarta-feira, 15 de abril de 2015

É a Pátria, blöd!



- Escuta lá Roberto, por motivos que não te interessam um corno, devia fechar isto mais cedo e deixar-me estar embevecido a contemplar o bando de miúdas giras que vivem lá em casa. É um vicio que se me meteu no corpo e um dia sem isto faz-me uma confusão que não te passa pela cachimónia. Hoje devia meter uma dose dupla, para compensar os quilómetros e as desoras de ontem.

Mas não vai acontecer, a cause de uma relação extraconjugal que mantenho desde que me lembro, de mim e, portanto, do matrimónio, com um grupo de rapazes que jogam à bola de azul e branco. Aviso já que não estou a gostar nada desse olhar recriminador, o preconceito não te fica bem.

O intróito serve apenas para te recordar que, para além de umas bem boas salsichas com chucrute que sei preparar, sou um tipo com tendência para a normalidade, com família e animais de estimação e um carrito utilitário com uma caterfa de ruídos estranhos. Preciso de estabelecer este laço contigo, porque creio que não deverás ter nenhum motivo para ser impiedoso para comigo. Até porque a verdade Roberto, é que se aqui venho falar contigo é apenas porque me custa ver-te perdido nessa traição, seguramente inadvertida, cometida sem consciência, a modos que um imposto por pagar do Primeiro Ministro de Portugal.

Em suma, venho em teu auxilio, com o propósito único e desinteressado de te ajudar. Ou pelo menos, de te ajudar a salvar o que resta da tua Alma. 

Olha à volta Roberto, que vês? Lá atrás, um gigante de olhos azuis e enormes manápulas. Diz-me que nunca o viste a mirar-se de cuecas ao espelho, a imaginar-se de ligas por baixo de uma farda das SS. Eu sei que sim. Logo à frente dele tens outro monstrengo, o do cabelo a la David Luiz em versão Stevie Wonder. Não te deixes enganar Roberto, ele é grande, é mau, é desprovido de compaixão e tem nome de Inferno. É o exemplar perfeito do Ariano de ébano, a mim não me engana. Sim, podem apontar uns pequenitos que por aí saltitam, de proveniências latinas para disfarçar. Colaboracionistas todos! Olha o franciú da cicatriz. Queres ver que aquilo não foi a catar judeus nos bairros de Paris, não foi não... A alguns basta olhar-lhes para os apelidos: Muller, Schweinsteiger, Lahm. Vão ao ponto de recrutar o único anão ariano conhecido e torná-lo numa máquina assassina. 

É nisto que tu andas metido Roberto. E tu és Polaco! Sabes que à custa desses teus compinchas morreram mais de 5 milhões de Polacos como tu? Em percentagem da população, nenhuma outra nação foi tão devastada como a tua. Como podes andar alegremente a ajudá-los a trucidarem mais gente?

Roberto, por mim podiam vir com a Brigada Neerlandesa e os Panzers avariados e isso tudo, que não me metiam medo nenhum. A minha questão é mesmo contigo. Custa-me ver-te nesse papel de sniper a soldo dos gajos maus. Ainda vais a tempo Roberto, começa hoje. Lixa-os. Erra na baliza, aponta para a tua, quero dizer, para a deles, faz-te Homem! Combinado Roberto? Vamos tramar o Franco, pá!

- Bringen Sie die Würste und Halt die Klappe! Mein Name is nicht Roberto, blöd! - Ladra o gajo, com ar de poucos amigos. O intérprete apressa-se:

- Ele diz trrazerr salsichas e calarr bocarra. E também... - Interrompo:

- Sim, sim, eu percebi... À noite logo vemos quem é o blöd! Polaco de um cabrão! A enfardar enchidos desta maneira, acabas com um rabo do tamanho do do Pedro Henriques. Da Merkel, pronto. Também não é preciso exagerar... 

segunda-feira, 13 de abril de 2015

WTF?!



- Deixa-te de fitas pá, com um bocadinho mais de sorte, como se já fosse pouca, nem onze alemães te aparecem aí. Está tudo escavacado! Eu disse logo na altura do sorteio que se fosse o Barça ou o Real, já tinham ido de carrinho. Agora assim...

- Deves estar a brincar! 

- Ai sim? Então olha, em 1987 apanharam estes gajos na final. O Futre, o Madjer e o diabo a quatro. E eles? É que não me lembro nem de um dos deles. Devia ser a equipa mais fraquinha que alguma vez tiveram, tirando esta agora, porque não tem jogadores em número suficiente. E mesmo assim, viram-se à rasca para ganhar. Isto depois de terem apanhado os ceguinhos todos que podiam nas outras eliminatórias.

- A sério? Eliminámos o Dinamo de Kiev nas meias-finais! Era uma equipa... - Interrompido por uma gargalhada forçada dele:

- Oh Silva, oh Silva, o Kiev? Até o Miguel Veloso tem lugar no Kiev! Mas alguma vez isso foi equipa? Não me façam de parvo!

- Mas não é o Kiev de agora... - Ele fala mais alto:

- Depois em 2004 ganham ao Mónaco. Ao Mónaco! Repara bem que não foi ao Real Madrid, foi ao Mónaco! Deve ter sido a única vez que um Casino chegou à final da Champions. - Ri-se com gosto da própria piada. - Pelo caminho foram à Corunha. Sabes que estão para ir para a segunda divisão em Espanha, não sabes? Sim, sim, Grande Presidente, uiui...

- Porra pá, mas isso é agora, na altura... - Empurra o ar com as duas mãos, sobrepõe-se-me:

- Claaaaaaro, blabla, e a roubalheira ao United também nunca aconteceu, nuuuuuuuunca. Escuta, para se poder criticar os outros temos que ser sérios. Sejamos intelectualmente honestos, caraças. Ai que o Libras Boas ganhou tudo. Mas já viste a equipa que o gajo tinha? Hulks e James e Moutinhos! Se não ganhasse é que era esquisito. Olha, o Paulo Fonseca foi deitado para o lixo por não conseguir fazer o mesmo com o Licá. Essa é que é essa!

- Ai a merdinha já! Não estás a falar sério, pois não?

- Claro que estou. Fazem falta pessoas como eu, que não se calam e são honestas e isso tudo. Não é como vocês, pequenos paroquianos parolos. O Libras Boas ganhou uma final ao Braga! Ok, quase tão bom como o Mónaco, de facto.

- O Braga tinha eliminado os lampi... - Ele completa:

- ...Ões. E então? Não estou a falar disso. Estou a fazer-te ver que com aquele grupo da treta, mais os Suiços de terceira a seguir e agora uns alemães que provavelmente têm que jogar com os iniciados, é preciso o espanhol ser muuuuuuuuuuito mau para não chegar mais longe na Champions. E ninguém parece ter coragem para dizer isto, só os jornais e as televisões e as rádios e o teatro de revista e vendedores de almofadas em feiras. De resto, ninguém! 

Tento em vão manter a boca fechada. Os meus maxilares recusam-se, apartados por um TIR de espanto. Articulo palavras, creio, a custo:

- Lembra-me lá o que é que tu fazes na vida...

- Sou jornalista. E comentador desportivo. E paineleiro. Se tenho tempo, dedico-me ao meu blogue, para espairecer. 

Aceno com a cabeça, a boca ainda aberta. Escorre-me alguma baba pela barba. Acrescento:

- E benfiquista, claro! Também é profissão, não?

- Benfiquista, eu?! - A face ganha o contorno da indignação. - Lagarto, lagarto, lagarto!

- Ah, desculpa, lagarto, ok!

- Não, não, lagarto ainda menos. Sou Portista, Silva! Com muito orgulho.

- Ah!...