Há uma corrente que defende que a IKEA é, na verdade e essencialmente, uma empresa farmacêutica, com fortes e múltiplos interesses na categoria dos psicotrópicos. Será esta a razão subjacente ao intrincado método de montagem dos móveis
low cost do gigante Sueco. Amarelo.
Aquilo que parece uma prateleira por tuta e meia, feita de cartão e que é só desdobrar e fica prontinha a receber as fotografias do batizado do cachopo, do casamento dos pais e de um tio secular que ninguém sabe já quem seja, revela-se todo um teste à capacidade de autocontrolo da pessoa.
Mesmo que consiga descobrir qual é o lado de cima, o que não é tão fácil como pode parecer, o mais provável é concluir que falta a chavinha. Aquela que serve para apertar o único parafuso que, estranhamente, é suposto ser o bastante para segurar a coisa no sítio. Salvo seja. Não vale a pena porem-se a pensar que talvez haja uma lá por casa. Porque a chavinha é sempre uma cena única. Não é sextavada, nem em estrela, nem sequer das normais, para um parafuso simplório, com uma racha ao meio. Nada disso, que o Sueco é um bicho que não grama de dar azo a trocadilhos parvos de cariz sexista. E sexual.
A chavinha é única, para um parafuso único. E não existe. Talvez se tenha perdido ao abrir a caixa, pelo que se põe a família toda a desvirar a casa. Sem resultado. Pode ser que dê para apertar isto à mão, vamos lá tentar, que já se começa a ficar um bocado irritado. E o raio do catraio bem podia ajudar qualquer coisinha. Afinal, era ele o batizado. Não tarda apanha uma galheta.
Tanta merda por causa de umas fotografias velhas, mais um tio que não interessa a ninguém, dass. Não me grites, quero lá saber do casório, é preciso dependurar um documento que nos lembre disso, é? Dizes divórcio outra vez e eu meto uma pouca de roupa numa mochila e zarpo daqui. Isso mesmo, vai lá tomar um Xanax, a ver se acalmas. E traz-me dois. No processo, dá uma galheta ao puto. E um Actifed. Lá está.
Pelo contrário, o móvel de fabrico nacional já inclui uns senhores, normalmente usando calças de cintura descida, motivo pelo qual se lhes vê o rego cada vez que se baixam. São os montadores. Do móvel, pois claro. Não é a cena mais sexy do Mundo, mas poupa uma data de chatices.
A desvantagem é que para a pessoa se ver livre do mobiliário Sueco, basta arranjar um bebé e pô-lo a gatinhar pela casa. É sabido que os bebés têm uma cabeça descomunal, em proporção ao seu enfezado corpo, que tende a esbarrar contra tudo o que é esquina. Ora, qualquer toque na mesa de origem nórdica, e lá desabam as molduras pelo meio das peças em madeira contraplacada. Digo, cartão. Mas então não era uma prateleira? Ah, isso. Foi-se a ver, era uma mesa. Trocaram a referência. Ui, olha o que encontrei pai, a chavinha! Estava embutida numa das patas da mesa. A mãe pergunta se queres um Xanax. Pumbas, uma galheta nas trombas, para não ser insolente.
Já o mobiliário em madeira maciça - risos - carpinteirado à mão - mais risos - nas Lusitanas oficinas, é muito mais resistente. Para um tipo se ver livre de um aparador, é melhor começar logo por lhe enfiar um patarrão. Mas é de força. Aquilo abana, mas não cai. Momento em que se acrescentam mais seis porradas, de preferência com um machado de cortar lenha. Mesmo que uma não conte, as outras cinco devem chegar para desfazer a coisa. Salvo seja.
Olha, perguntem ao Sérgio Conceição e ao FCP. É malta habituada a ver-se livre de móveis.
Eu podia ser um bocado mais plasticina, lá isso podia. Em vez de maçar as pessoas com quantidades apreciáveis de disparate, como acima, fazia uma apreciação ao jogo e pronto. Quero dizer, moldava-me ao interesse do leitor, da maioria deles provavelmente. O que, é sabido, contribui para aumentar a relevância e, não menos importante, manter a DECO à distância. Seria muito menos divertido para mim, o que é motivo mais do que suficiente para me estar bem a ralar para o consumidor. Para além de que seria basto parecido com tudo o resto. Já sei que isso é excelente, porque põe o produto na linha da frente. E se for uma prateleira IKEA? Ui, não tarda, espanca-se tudo no chão. E seria tão monótono. Mas tanto. Nada divertido.
Ainda por cima, a capacidade de moldagem permitiria que me esquecesse. Podia muito bem fazer de conta que ter dito preto era maijómenos o mesmo do que ter dito cinza. Ou que a minha opinião era assado, dada a forma que assumia no momento; mas passara a frito, uma vez moldado a uma nova, mas passageira, realidade. Podia até dizer sempre cozido e pronto. Os cozidos são mais saudáveis, já se sabe. Mesmo que sejam morcelas e chouriços de sangue.
Não se dá o caso. Cada um é para o que nasce, paciência. Eu cá, parece que nasci lindo de morrer, nada plástico, e basto opinativo. Com grande dificuldade em abandonar a minha convicção, a menos que me demonstrem que ela está errada. Quem nunca? Se somarmos a isto uma parva mania de ser do contra - devo ser tãããão irritante. Hã? Qual Xanax, meu docinho? - damos com um gajo que gostou tanto do jogo de ontem do FCP como qualquer outro Portista. E que dele tirou as mesmas conclusões que, porventura, a maioria. Só que se senta do lado da bancada da imensa minoria que se está a cagar para a onda - olha a onda, olha a onda - e desata a dizer quais foram. Ai ca burro.
Então, grandes conclusões da demolição do mobiliário de Paços de Ferreira:
- O Iker é melhor do que o Sá.
- O Ricardo é muito melhor do que o Layun.
- O Herrera, em início de construção atacante, tem elevado potencial para dar cagada. Fora dela, é muitíssimo útil para o modelo adotado.
- Ter Corona e-fe-ti-va-men-te em jogo, é um luxo.
- Brahimi é o melhor jogador do FCP. E do campeonato. De muuuuitooo longe.
Todas as opções técnicas são legítimas e respeitáveis. Quando tomadas por quem de direito, são absolutas e inatacáveis. Infelizmente, para quem gosta de cenas muito submissas em nome da Nação, são sempre comentáveis.
Por isso, feliz da vida com um treinador que se tem revelado melhor do que eu o pintava, afirmo convictamente que nenhuma legítima opção técnica altera as conclusões expostas. Muito menos qualquer conferência de imprensa cujo substrato é deixar-nos de Alma cheia. Não é pouco, lá isso não, mas não é técnico.
Posso ter uma opinião? Posso? POSSO? - pumbas, porrada na mesa - Sem pedir licença aos treinadores e comentadores?
A propósito do que, devo dizer-vos, gosto muito das conferências de imprensa de Sérgio Conceição. Quase sempre dou por mim a pensar: Nem mais! Por exemplo, depois do jogo de Leipzig, quando disse que perdemos sobretudo por termos cometido erros defensivos pouco habituais. Daquela defesa que ele decidiu alterar profundamente.
Ou ontem, quando afirmou alto e bom som que temos um grupo espetacular, de gente comprometida e de grande gabarito. Enfim, o contrário de um plantel curto e feito de restos, como alguém deixou transparecer em entrevistas dadas a media internacionais. Sendo que uma parte substancial do mérito disso - de sermos bons e melhores do que os outros - é do treinador. Ah poijé bebé.
Para o fim, a que considero a conclusão mais relevante do jogo de ontem: O FCP de Sérgio Conceição, e de nós todos, está um nível acima da competição Nacional que disputa. Somos de outra liga. Da dos Campeões. E tinha saudades.
Mas bem, não é como se já não o tivesse dito antes. Nem como se a maioria não tivesse já afirmado o contrário. Right?