quinta-feira, 29 de junho de 2017

Resumo da semana: Suicídio

...tu macumbas bem!


Ando tão entusiasmado, mas tanto, com a Taça das Confederações que mais pareço um Alemão. De tal maneira fixado nesta competição que ontem até me lembrei de ver o jogo de Portugal. A segunda parte. Antes, tinha deixado passar todos. Exatamente como os principais jogadores da equipa Alemã.

Infelizmente, fomos de carrinho. No entanto, foi mais uma participação muito meritória. Apesar de apostar que vai meio Mundo desancar na seleção. É malta desde sempre habituada a ver Portugal a ganhar todas as provas em que participa. Haja paciência.

A verdade é que percebi depressa que íamos perder. Pá, uma equipa que joga com três Silvas, contra uma com Silva nenhum, já se sabe que, tarde ou cedo, vai ganhar. A menos que...não queira. E não é que não quisemos mesmo? Quer dizer, ao xôringinheiro não lhapeteceu.

Não há outra explicação para ter retirado do jogo os Silvas todos que tinha. Um por um. Se isto não é suicídio, então não sei como lhe chame. O tique de fugires com o pescoço ao colarinho nunca me enganou, oh Nandinho, é a tendência pró enforcamento, né?

Pelo contrário, o adversário, inteligentemente, não deixou de lançar mão do único Silva de que dispunha no banco. Resultado: No fim, ganhou a equipa do Silva. It figured.

Mesmo assim, os nossos melhores jogadores acabaram por ser, contra tudo e contra todos, dois Silvas naturalizados: Bolopost e Chichátraf da Silva. Um pouco estáticos, mas bastante decisivos.

...

Diz que organizaram um arraial solidário em Lisboa, para angariar ajuda para a malta que ardeu no incêndio.

- Não estúpido, para quem ardeu não. É para ajudar na reconstrução.

Pois claro, era isso que eu queria dizer. Deve ter corrido tudo lindamente e arrebanharam um daqueles prémios que agora sai todas as semanas: O milhão. Se por acaso tiverem dúvidas sobre onde o gastar, conheço, mas assim à distância, um tipo que tem uma sugestão.

Sendo que o mais importante foi o espírito solidário, a união dos Portugueses, as selfies do Presidente, ojartistas aparecerem nas televisões, o ar feliz e aos pulinhos da plateia, os diretos de Pedrogão, com tudo queimadinho em fundo. Ficou a mata a parecer o cérebro da Lena d'Água, tal e qual.

Enfim, apesar da bosta de música, lá arranjaram maneira de se entreter, os cachopos. Tipo um suicídio coletivo do gosto musical, mas por uma causa muito nobre. Sendo claro que gostos não se discutem. Há o bom e o mau, that's all.

Claro que a pessoa fica a pensar que de milhão em milhão, vai-se a ver e podíamos mudar o Mundo. Mas lá está, a solidariedade nem sempre dá tempo de antena e a malta tem as suas vidas. E as suas redes sociais para gerir. Qual era a piada de andarem sempre a postar cenas de ajudar ojôtros e assim? E os gatinhos fofinhos? Esses não merecem a nossa solidariedade, késbêr? Opá, uma cena destas de vêjenquando chega bem, para essas vacas invejosas verem que eu não sou só mamas, também tenho sentimentos. Incha Katy.

- És mesmo cinico, foda-se!

- Oh, estou-me a peidar para o que tu pensas.

...

- Acho que me vou atirar deste viaduto e esborrachar-me no asfalto.

- Ora, não se meta nisso, meu ex-Primeiro.

- É isso que me irrita! - Fica grená de raiva. - Como posso ser ex, se o Povo não pediu o divórcio? E vem o raisparta do monhé, armado em padrinho à espanhola... Sai da frente que quero pular, arreda.

- Não pule, senhor Presidente do Partido, essa gentinha não merece. Olhe lá, porque não faz antes uma declaração sobre esta confusão do incêndio?

- Achas?

- Pois claro! Tenho aqui uma informação fresquinha que é bem catita. Veja lá se não tenho razão. - Segreda ao ouvido do outro.

- Epá, isso é espetacular. E tenjacerteza?

- Eu não, credo. Acabei de me lembrar disto agora mesmo.

- Oh meu, isso é suicídio!

- Pois, lá está. Dá igual, majaleija menos do que se espatifar no asfalto.

...

No MAI anda tudo à trolha. Uns dizem que a culpa do fogo é dojôtros e ojôtros acham que é antes dojuns. É um jogo tradicional Português, o Fogecurrabásseringa. Aprendemos desde pequeninos.

Entretanto, e para grande descanso das consciências, já estão a seguir o fluxograma da resolução de problemas. Isto é, vai ser criada uma Comissão Independente de Inquérito, que comunicará as suas conclusões a um Comité Eventual de Investigação. Este, por sua vez, nomeará uma Equipa Especial de Relatores, encarregue da produção de um Relatório Final que será avaliado por uma Comissão Paritária, antes de ser despachado para a Comissão Parlamentar de Inquérito. Tudo auditado pela KPMG, pois claro. Longe da vista do Tribunal de Contas.

Como aquecimento para esta longa jornada - parecendo simples, isto é coisa para dar cabo dos músculos - a Ministra da Administração Interna foi ao Parlamento responder a uma Comissão. E disse:

- Ora aí está, bela pergunta. E olhe que tenho aqui maijumas 200 igualmente pertinentes...

Ainda vai aparecer um iluminado a sugerir que a Proteção Civil e as Forças de Segurança comuniquem através de sinais de fumo. Nunca falha, pá. É só chegar um fósforo a um montinho de caruma.

Em suma, está tudo prontinho para o suicídio das soluções. E das responsabilidades. Se o Passos não se tivesse atirado do viaduto, era moço para dizer: Agora a culpa é do eucalipto, késbêr?! Buuu, buu, vergonha.

...

Por fim, quanto aos e-mails lampiões, passámos à silly season. Distrai, mas não dá a mesma pica, já se sabe. Claro que compreendo o gozo de uma ou outra vendetta mais pessoal. Mas a mim, sempre que alguém se peida, cheira-me mal. Mesmo que seja um ato solidário.

Ainda assim, houve quem fosse atrás do Nhaga, para descobrir que não houve contrato nenhum e não recebeu cheta.

É nestas alturas que eu me pergunto onde anda o Arménio? O que andam a fazer as forças sindicais, progressistas e proletárias deste país? Voltamos aos piores exemplos do colonialismo e da ditadura, numa exploração torpe do autóctone desprevenido. Isto sim, senhores, é precariedade e exploração do homem pelo homem. Oh Avoila, tu põe mão nisto, que anda o homem a bulir sem contrato. Há-de estar há uns, deixa cá ver, quatro anos a recibos verdes.

De resto, continua tudo a assobiar para o ar, tranquilamente. Agora sob o ainda ténue nevoeiro da suposta investigação do MP. Toda a gente sabe que o nevoeiro adensa com a facilidade com que arde um eucalipto, tipo na Choupana. Por isso, não se fiem nas virgens ofendidas e mantenham a pressão, combinado?

Sim, porque não é por acaso que o Expresso só pega em factos que, mesmo que estranhos, nunca poderão conduzir a qualquer punição. Porque de nexo de causalidade impossível de provar. Nem é por acaso que, "O Jogo" à parte, parece não se passar grande coisa. Uns arrufos daquela malta falida do Norte, só isso.

Todos a fazerem-se de mortos, a ver se passa.

...

Nestes desmandos, amanhã é dia 30. Até ver, vale-nos o Silva. André.

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Soundtrack to suicide: Wine is fine, but whiskey's faster...



terça-feira, 27 de junho de 2017

Morreu Ermelinda

- Este rapaz é esquisito, mais os seus fatos garridos. Não achas, António? Ora, tu nunca achas nada, já se sabe. E andas cá um lanzeiro pouco mais ou menos, ai andas, andas. Quem te quer encontrar, é na cama. Escuta o que te digo, António, não te dês à cama, homem. Olha que quanto mais te habituas, mais ela te puxa. Qualquer dia, queres e já te esqueceste como se levanta uma pessoa. Uma bela manhã, dás por ti e morreste.

Guarda os óculos na bolsa castanha de veludo. Deixa-se ficar com a cabeça baixa, por segundos. E retoma:

- Tu não me morras, homem de Deus. Sei lá o que seria de mim. Já te escolhi assim cachopito por isso mesmo. Para ter a certeza que ia à frente. Já imaginaste a minha vida se tu morrias? Deus me possa guardar de tanta solidão. Da falta de propósito, de não ter dois ouvidos que aturassem as minhas lengalengas. Olha, vou é aquecer o resto da sopinha e já almoçamos. Podes ir para a taberna jogar o dominó depois, que eu tenho a minha sesta agendada. - Sorri. - Sou uma senhora muitíssimo ocupada, caro cavalheiro. Claro que não te apetece, já cá se sabia que ao menino não lhe cheira a sopa. E levantar o traseiro da palha, também não. - Volta a sorrir. - Deixa-te lá estar, malandro. Trago os pratinhos e comemos aqui, a fazer companhia aos homens das notícias. Mas não digas que não te avisei: Quanto mais te deitas, mais deitado ficas. 

Levanta-se, com as mãos nos joelhos, as articulações rangendo e um aaii em que já ninguém repara. Nem ela.

...

- Isto de a pessoa se pôr a pensar na morte é uma maçada. Com a conversa da hora do almoço, passei o resto do dia ansiosa. Já sei que é um disparate, mas que queres? A gente não manda nos apertos da Alma, pois não? Fico a pensar em mim, para aqui triste e só, à espera que venha algum voluntário trazer-me as compras, para poder aquecer uma pouca de água com um legume qualquer. Oh, está bem, é claro que é egoísta. Afinal, batias tu a bota e é de mim que tenho pena. Não te aperreies, homem, são coisas de mulher. E não era agora, tantos anos passados, que começava a ter tento no que te digo. Já não nos namoramos propriamente, caso não saiba, senhor António.

Sentada na beira da cama, alisa a camisa de noite, branca como os cabelos, entretanto soltos do eterno carrapito. Longos pelas costas. Deita-se muito direita, com um ligeiro esgar de dor, a nuca na almofada, ao lado dele. Diz-lhe:

- Achas que estamos a ficar deprimidos? Eu nesta aflição parva, tu nesse marasmo. Ainda nos faltava acabarmos dois velhos fracos da cabeça. Com problemas de gente nova. Valha-me Deus. 

Solta um risinho que move os ponteiros décadas para trás. Para os anos em que aquele mesmo som parava diligentes cavalheiros de chapéu e fato claro, desviando-os do caminho das suas repartições. Vira a cabeça para a parede, prossegue:

- Uma noite destas, aperaltamo-nos e levas-me aos fados. Ainda deve haver alguma casa de fados por aí. Em Lisboa, de certeza. O que tu gostavas de me levar aos fados, pois era António? Deixa-te de fitas, eu bem sei que te inchava esse peito de lá entrares comigo pelo braço. Até te digo mais, se juntares outras dez velhotas da minha idade, aposto que sou a mais bonita delas todas. Ainda tens que me levar aos fados, enquanto posso andar mais ou menos direita. E limpinha. - Ri-se e dá-lhe uma pequena cotovelada. Ele abana muito ligeiramente e parece soltar um grunhido. É provável que, do lado oposto ao da parede, onde continuam pousados os olhos dela, tenha sorrido. - Mas se não acontecer, também não tem muito mal. Tenho a impressão de que posso morrer um pouquinho feliz. No mínimo, morro no meu posto: A tomar conta do meu homem, da minha casa, da vida das vizinhas. - Desta vez, chega mesmo a soltar uma gargalhada. Impossivelmente fresca, tendo em conta as rugas. Vira o olhar para o teto. - Bem, deixo-te a ver os teus programas do futebol. A paciência que tu tens, apre! Eu cá preciso do meu sono de beleza. E sabemos bem que se não adormeço primeiro do que Sua Excelência o Senhor António, não adormeço de todo. Tal a betoneira, hein? - Pega-lhe numa mão, sempre frias, e fecha outro dia.

...

Ela anda, mais depressa do que seria suposto, de um lado para o outro no quarto, em alvoroço:

- Diz-me António, tu diz-me o que fizeste. Ou então vai lá tu à porta. Ai meu Deus, ai meu Deus, que tenho um pressentimento tão mau. - Muda de ideias. -Não, não vás tu à porta. - Já chora. - Não vás António, não vás que te levam. Ai Senhor, não deixes que o levem, não deixes que para aqui fique sem ninguém. Ai que eu morro. - Cobre a cara com as mãos. - Já sei, já sei. Deixamo-nos ficar muito sossegados e calados, vais ver que se vão embora. É a guarda António, é a guarda. E tu não me dizes porquê. E o meu coração já sabe que é por ti que vêm. Que fizeste tu, homem?

O barulho da fechadura a ceder passa despercebido, como todas as coisas irrelevantes num momento trágico. Os passos da senhoria, liderando o pelotão, pelo corredor, são silenciosos. Um guarda alto escancara a porta do quarto, para os encontrar deitados, lado a lado, de mão dada, os olhos dela a escorrerem água.

...

Há uma certa compaixão, mas sobretudo uma grande pena, na voz do rapaz. A farda impecavelmente passada, as botas a brilhar, um orgulho que se nota no emblema ao peito. Os sinais da recruta recente, da esperança quase intacta. Acocora-se do lado dela da cama. Segura-lhe um braço e diz-lhe:

- Dona Ermelinda, lamento imenso, mas temos que levar o seu marido.

Ermelinda está morta.

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sexta-feira, 23 de junho de 2017

Os pinheiros do caminho (com Interlúdio), as cerejas e Sim, nós sabemos



Shhh, escutem. Apurem ojóvidos, atentamente, em silêncio absoluto. Ouvem?

Pois, nem eu. Nada.

Passaram três semanas e não acontece a ponta de um corno. Zero, bola. Apesar de praticamente toda a bluegosfera andar a berrar os factos; a analisar, com brilhantismo, as causas e as consequências; e a bradar pelo que seria a justa cobertura mediática. Ninguém liga nenhuma.

Estão envolvidos altos dirigentes da Liga de Clubes, da Federação Portuguesa de Futebol, assessores jurídicos, funcionários, colaboradores apaineleirados, árbitros, observadores e putas. Toda a gente que conta, portanto. Ainda assim - escutem - nem uma agulha parece bulir na quieta melancolia dos pinheiros do caminho. Os que não arderam, está claro.

Não duvidem, entre tragédia e a Seleção no gulag, o tempo passa e, não tarda, a bola estará a pinchar e a paciência - mesmo a nossa - ficará tomada pelo que mais nos importa: O jogo. Então, ter-se-à esgotado, na espuma dos dias, a oportunidade. E as portas para a condenação, certamente rápida e exemplar, do mensageiro, abrir-se-ão de par em par. Aí sim, teremos primeiras páginas e investigação jornalística a sério. Viva Portugal!

Aiai, meus meninos, não dissemos já que não se pode vaporizar? Vamoláversaprendem, raisparta. Dediquem-se a criticar o Ronaldo e a Seleção, que ganham, mas não pintam quadros de uma beleza rara. Como se fosse hábito que ganhássemos. Deixai o senhor Gomes sossegado, a banhos gelados com as suas matrioskas, sabemos bem o que ele anda a fazer, acreditem. Em último caso, temos aqui mais com que vos entreter. Duzentos por uma, quatrocentos por duas, nas calminhas, sem pressa nenhuma.

[ Interlúdio: Regras básicas de negociação

Para quem anda déjanos à frente do seu tempo, esta malta negoceia mal. Talvez não conheçam os fundamentos da economia de escala, não sei. Mas até nas cerejas a coisa funciona melhor. Vejamos, um quilo de cereja bem boa, daquelas redondamente grandes e escuras, vende-se por uns trêjeuros, na berma da estrada. Se forem comprar dois quilos, nunca paguem mais de cinco euritos. Entra porojólhos adentro, certo?

Ora, quando se trata de gajas, bem boas que sejam, como as cerejas, a coisa não é muito diferente, senhores. Se uma são duzentos, duas não são mais do que trezentos. Trezentojicinquenta, vá. 

Isto presumindo que se trata de um aluguer de curta duração. Se for uma aquisição de caráter permanente, já se percebe que não haja um grande desconto inicial, uma vez que o benefício do comprador se verificará pelas economias de escala. 

Desde logo, onde come uma, comem duas, pelo que já se poupa em víveres. Depois, porque na questão - sempre importante - da higiene, também haverá poupanças assinaláveis. Não se concebe que tomem banho à vez, por exemplo. É ambas para dentro da banheira, a esfregarem-se uma à outra, e a conta da água a encher de alegria o feliz proprietário. 

Mesmo no que toca ao guarda-roupa, aparentemente uma despesa significativa neste tipo de negociata, a coisa não tem que ser dramática. Para começar, dispensa-se a roupa interior, que não serve para nada. Bastam pois duas toilletes, usadas à vez por cada exemplar. Haja é o cuidado de escolher a fruta normalizada. Isto é, de tamanho semelhante, pois claro.

Enfim, até quando chega à fruta, esta malta parece que tem bolsos sem fundo. Gastam o que for preciso, mesmo que não seja. Só pró style, mano. ]

Shhh, escutam? Isso mesmo, nada.

São gente bem ensaiada, estes mânfios. Melhores que o Copperfield e o Luís de Matos na mesma banheira. Conseguem pôr seis milhões - ou sessenta, como preferirem - a olharem para o sistema montanhoso Montejunto/Estrela e a verem uma ninhada de hamsters amorosos.

Well, cá pra mim, uma ratazana é sempre uma ratazana. Seja lá qual for o modelo em que venha a bicha.

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No entanto, não sei se por distração, se por ser inconveniente por algum motivo, há um lado desta pessegada que tenho visto pouco analisado. Como inconveniente é a modos que o meu nome do meio - Fulano I. Silva, digamos - partilho convosco o que me parece um ângulo da mesma importância que todos os outros. Se não maior, até.

A cortar os silêncios, temos tido as ameaças de processos por difamação, crime informático, mau estacionamento e por usar as mesmas meias dois dias seguidos. Isto é, lá estão os grunhos do Norte a conspurcar a Pátria Amada. Ainda por cima agora, que o nosso futebol é o País das Maravilhas, os nossos soldados em missão pelas Terras dos Sovietes, a economia a crescer, o desemprego a diminuir, o incêndio dominado.

Pois seja, se somos nós os mafiosos, não tenhamos pejo em retirar os mafiosos benefícios de sermos os maus da fita. Ma che cosa si può fare?

Assim, o que temos para dizer, caros senhores, é que nós sabemos.

Sim, senhor Presidente que nos ama eternamente, nós lemos as mensagens. Sim, senhores observadores impolutos, nós percebemos como se cozinham as notas e onde e com que chefes gourmet. Sim, senhores árbitros, nós sabemos onde mora a Valdineide e em que dias passam lá por casa.

Não estamos aqui para chantagear ninguém, Deusmalivre, por quem sois - nós pelo Dragão - nada disso. Fica tudinho aqui guardado e até vamos aplaudir o Vice-Ministro Costa na tribuna do verdadeiro Parlamento Nacional.

Mas somos gente, com as mesmas fraquezas de todas as pessoas. Gostamos do nosso carinho. É por isso que nos podemos irritar, se continuarmos a ser tratados como a Gata Borralheira deste vosso conto de ninar. Vá, todos conhecem o fim da história da Gata Borralheira. Aquela pá, que vivia com duas irmãs que cobravam a duzentos uma e a quatrocentos as duas.

Sim, nós sabemos o que andam a fazer há uma série de Verões. Be very afraid...

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Passaram três semanas e está tudo na mesma. Só que não. Nem lá perto, bitches.

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Soundtrack to cherries: Gimme some pie.

terça-feira, 20 de junho de 2017

As estrofes da culpa

A culpa é do Senhor Mário
Que queria ter morrido.
Ele inteiro feito uma pedra só, de carvão ardido.
A culpa é do Senhor Guarda
Que devia ter avisado.
A guarda sabe de coisas que a nós nunca tinham lembrado.
A culpa é da Senhora Judite
Que parece tresloucada.
O horror mesmo ao lado e ela a sentir-se acompanhada.
A culpa é do Senhor Bombeiro
E do seu tanque sem água.
Foi-se tudo e uma sachola, sobra, incandescente, essa mágoa.
A culpa é do Senhor Agricultor
Que plantou eucaliptos na serra.
Maldito que seca, infesta, estoira como bombas na guerra.
A culpa é do Senhor Ministro
Que vem de fato e camisa aberta.
Venha, venha ver com os seus olhos esta bela merda.
A culpa é do Senhor Mirone
Mais da puta que o parisse.
Tanto que podia arder em nosso lugar quem só assistisse.

A culpa é do Senhor...
Oh, Dele, pronto, deixemos assim.
Querendo, ri dos sonhos e escreve a fogo um triste fim.

Mas a culpa não é minha!
Nem o permite a pouca humildade.
O centro do imenso Tudo, o fito de todo o Universo: isto a Humanidade.

O frágil, finito, desarmado Homem
Posto perante a Verdade.
Agacha-se, treme, encolhe. Arde.

Aprendo?

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We are what we are...





domingo, 18 de junho de 2017

Luto



O tempo virá para perguntarmos como e porquê. Agora, basta-nos o silêncio. O terrível, doloroso e insuficiente silêncio. De dor e respeito. Juntos, tanto quanto possível.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

O dedo no cu



Andam a correr aí pela bluegosfera uns rumores estranhos: Ah e tal, parece que o Bertocchini (lê-se Bertoquini. Quão panasca se pode ser, não é?) e mais o Vassalo (lê-se Vassalo, como se escreve. Não é por isso que é menos panasca) fizeram um podcast.

Por si só, isto não era uma coisa que merecesse um minuto de atenção. São bons moços e assim, mas convenhamos que estar a ouvi-los não tem lá muito interesse.

Maspera!!!

Os espertalhões, sabedores daquele facto simples, arranjaram uma bela batota para vos pôr a todos a ouvi-los falar durante algumas trêjoras, ou lá quanto tempo tem aquela gaita: Convidaram-me - coitados! - para abrilhantar o seu novo projeto, com o glamour natural que só um taberneiro pode conferir ao que quer que seja. É por causa da gordura dos fritos. Fica uma pessoa a escorrer tanto sebo que até brilha.

E pronto, é isto: 



Os Jorges - parece que vêm aos pares, como as mamas, mas em feio - explicam nas suas postas de apresentação do que se trata e quais os defeitos que lhe encontraram. Nem vou perder tempo com isso, até porque está muito claro que os únicos defeitos que pode ter é os pedaços - felizmente muito poucos! - em que eu estou calado.

Catraios e cachopas, é quase hora e meia de diversão garantida. E há mais de quinze em quinze dias.

Ora, de nada. Sabem que estou sempre a pensar na alegria da freguesia.

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Agora (quase) a sério:

Obrigado, primeiro, ao Bertocchini. Sei lá a que propósito, achou boa ideia desafiar-me para isto. Well, oxalá não se desiluda depressa.

Depois, obrigado ao Vassalo, meu compagnon de route e de hamburguesas e tertúlias antes e depois da bola. O que o facto de ainda estar disposto a aturar-me mais vezes diz do seu estado mental...bem, nem vamos comentar.

Ai de vocês que não oiçam. Claro que depois podem dizer o que vos aprouver. Desde que seja bem, já se sabe.

O objetivo mais importante está atingido: Divertimo-nos como uns bácoros a chafurdar na lama.

Have fun you too. Ou então não. A mim que me importa...

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Soundtrack to ACèdC: Turn it up, bring the noise!

quarta-feira, 14 de junho de 2017

A jurisprudência da roda

Não confundir com ctrl+alt+delete 

Sinceramente, não percebo o alarido com esta história do correio eletrónico. Que estava tudo feito "por outro lado", já cá se sabia ao tempo. Que a quantidade de gente burra que foi preciso arregimentar - para parir a hegemonia vermelha - acabaria por atirar merda à ventoinha, também era só uma questão de pensar um bocadinho. Que a malta que devia tirar isto a limpo desataria a enfiar a cabeça na areia, enquanto assobia "ser Carnidista" - para dar tempo ao larápio de se pôr na alheta - entrava porojólhos adentro. Cuidado com eles. Ojólhos.

Portanto, nada de inesperado, até ver. Pode ser que ainda se descubra que o Adão anexava nudes dele próprio, com a respetiva parra, nos e-mails que distribuía a eito. Isso sim, seria uma revelação bombástica.

É um assunto tão chato que nem no âmbito do julgamento e punição é preciso puxar muito pela cachimónia. Vamos agora perder tempo a inventar a roda? Com tanta pornografia de alta qualidade em que investir horas e horas de tranquila devassidão? PelamordaSanta. Basta seguir a jurisprudência e está o assunto arrumado.

Então o que temos? Ora, apenas uns fulanos que montaram um esquema de controlo dos tipos que assobiam os jogos de futebol. Quem não assobia "ser Carnidista", é castigado. Crime and punishment. Disso retiraram basto proveito, muito pela diligente ação dos seus controleiros. 

Do lado desportivo, a coisa é tão fácil que até aborrece. Não havendo motivos para diferenciar correio eletrónico de chamadas telefónicas; estando tão claro que se trata de uma teia de coação dos árbitros; resultando transparente que alguém retirou benefícios (muito) diretos do sucedido; consulte-se a jurisprudência e encontramos, com muita rapidez, o desfecho do processo. Em apenas uma palavra:

Boavista.

Ah, majisto é Portugal. O que para uns é coação, para outros é amabilidade; o que para uns é suborno, para outros são ofertas de cortesia. É malta com educação, já se sabe. Para além de que nós temos respeito, não tratamos a Velha Senhora como os Italianos.

Muito bem. Adaptemo-nos pois ao contexto. Continua a ser de uma simplicidade a raiar a monotonia e o enfado. Façamos de conta, para isto se despachar e podermos ir a banhos sossegados, que tudo foi apenas uma ou outra tentativa de suborno encapotado. E sem resultados práticos. 

Consultemos a nossa jurisprudência. Cá está, mais uma vez é muito rápido e diz-se em poucas palavras. Duas:

Seis pontos.

Para esclarecimento das Almas, acrescente-se uma breve nota explicativa: Seis pontos a menos, na época 2014/15.

E pronto, é só escolherem o que preferem e está tratado por agora. Depois, tendo os acusados a consciência tranquila e a convicção de que são injustiçados, que se recorra aos Tribunais Civis e se leve até às últimas consequências a investigação. Logo veremos onde vão parar daqui a uns tempos. 

Caso fiquem satisfeitos com a mera sentença desportiva, é uma chatice do caraças nunca se saber por onde andam os e-mails das épocas seguintes. E das anteriores. Seis pontos podem não dar para tudo.

No fundo, é só decalcar do que já se fez. Nem o banzé que o Vitória Sport Clube, com o apoio total do jornal "A  Bola", certamente se apresta a fazer, junto da UEFA, será uma lufada de ar fresco.

Está muito visto, não está? Até as escutas que serviam para tudo e mais um cento, bem vistas as coisas, deixam de dar jeito. Que maçada.

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Opá, não consigo pensar no Ricardo Costa sem ter um ataque de riso. Já me dói tanto a barriga.

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Soundtrack to bitches: Payback!

domingo, 11 de junho de 2017

Uma brincadeira de crianças - um post por capítulos (sim, é assim tão chato)

MP conta até até dois milhões, para a de vermelho se poder esconder....

I - Para o cabal esclarecimento do sistema de correio eletrónico

A mais nova diz que eu sou pré-histórico. Para lhe provar que está enganada, e para grande deleite de todos vós, pobres velhotes, passo a explicar o funcionamento do correio eletrónico.

Antes de mais, atentemos no equipamento necessário, composto por um computador. Como saberão, o computador mais não é do que uma máquina de escrever, acoplada a uma televisão. A pessoa escreve à máquina e aparece-lhe o texto na televisão. E também dá para ver filmes e isso tudo, como as televisões normais. Tem é a vantagem de já vir com Sport TV. E Hustler.

Portanto, vai que quero mandar uma carta por via eletrónica. Basta-me escrever no meu computador a dita e carregar num botão que diz "enviar". De seguida, o próprio aparelho trata de envelopar e selar a missiva, enviando-a etéreamente ao destinatário. Aquilo vai tudo muito comprimido, para caber nos fios de eletricidade e telefone, direitinho para a internet. Que é uma nuvem. Por fim, chove a carta na caixa de correio eletrónico da outra pessoa e esta lê e já está.

A grande desvantagem deste inovador método epistolar, é que, ao contrário de Vegas, o que acontece na internet, raramente fica na internet. Uma maçada.

II - Da ironia (rotflmao)

Está armada uma confusão do caraças, à conta da história dos Emilios.

- E-mails, estupido!

Isso. Eu cá, acho tudo bastante irónico. Desde logo, é uma delícia terem catado nisto a Baleia Assassina, famosa pelas resmas de folhas que apresenta semanalmente, enquanto debita anormalidades na televisão. Pá, malta tão chegada à celulose, não se devia meter na cibernética.

Depois, é muito engraçado que um dos primeiros Lampiões Caídos se chame Adão. Aí está um tipo que é useiro e vezeiro em fazer merda. Está tudo a correr lindamente, toda a gente feliz e saltitante, qual papoila num campo qualquer, e vem o Adão e pumbas, dá cabo do Paraíso.

Também fiquei com um sorriso, ao verificar que a pessegada se refere à época 2014/15. A primeira de Lopetegui. Aquela que foi uma brincadeira de crianças. Foi-se a ver e não. Poijé, olhe que não xôtor J. Marques, olhe que não.

É uma pena que o senhor Platini tenha ido com os porcos, à custa da corrupção,
                                                                                                      (Pausa para me mijar a rir.)
                                                                                                                                 porque seria muito interessante ouvi-lo acerca deste 5lbgate. Para cúmulo, verifiquemos quem foi o quarto classificado do campeonato passado. Ora aí está o clube que, castigados os corruptos, teria acesso à pré-eliminatória da Champions. É quem? A sério? Naaaaaa, estão a mangar comigo, seus tolos.     

III - Uma brincadeira de crianças

Felizmente, ao contrário de outros, vivemos numa terra que é um eterno recreio infantil. Por isso, somos para sempre alegres e joviais. É certo que os Brasileiros são mais, mas só porque podem ser mais Portugueses do que nós aqui na Europa. O clima, as mulatas, a distância do Schauble, enfim, tudo ajuda. E os Africanos também são mais festeiros e quentes. As mulatas, o clima, a distância do Schauble, o horizonte lá longe, muito depois do nariz. Tudo a ajudar estes também.

Mas não nos podemos queixar, para Europeus não estamos nada mal. Veja-se o caso em apreço. Uma brincadeira de crianças. Várias, até.

Os acusantes, vieram e coscuvilharam:

- Aiai, se vocês soubessem, ui, nem vos digo. Olha aqui o que eu encontrei. Ah poijébebé, olhóssantinho dos pés de barro.

- Xiiiii, estão feitos, vamos já à Polícia com isso.

- Nem pensar! A Polícia que venha até nós, se lhejapetecer. Entretanto, vamos espalhar aí pelo Povo. Nhanhanhanha, olhókeusêêê-iiii. - O que era inegável, however, era o olhar de abrincarabrincarékomacacovosvaiócu. A quantidade de hemorróidas que já disparam por aí, parece confirmar a tese.

Os visados, começaram por reagir com o Jogo do Silêncio. Puseram-se a olhar muito calados unspójôtros, a ver quem se desatava a rir primeiro. Depois veio o que mandava lá na malta deles e tirou o badocha da equipa:

- Oh balofo, tu não jogas mais que só fazezémerda. Nem faz sentido falar mais nisso.

O resto dos petizes desatou a dar-lhe pontapés na peida e a chamar-lhe nomes e ele foi para casa a chorar. Eu podia ter alguma compaixão por esta criatura, só que não. É muito bem feito e ainda o veremos pior. Nunca tenho pena de gente sem escrúpulos, mesmo que tenham mais massa corporal que a Moby Dick grávida. De baleias gémeas.

Incha, gordo do caralho. Agora vais apodrecer ao Sol, enquanto abutres te comem a carcaça. Pobres bichos, vão ficar com o colesterol a mil.

Entretanto, o Conselho de Disciplina e a APAF, que não se ficam atrás de ninguém, decidiram ir brincar ao Faz de Conta. Faz de conta que abro um inquérito, faz de conta que me indigno. Aproveitavam e iam era brincar aos médicos, o Meirim e o Gonçalves. Ainda gostava de saber quem é que fazia de paciente.

III - Jogar às escondidas

O certo é que, apesar da quantidade de órgãos de comunicação que estavam distraídos, as cabeças de uns enfiadas nos cus dojôtros, a coisa não amainou e o ruído foi crescendo. É a merda do azeite, pá. Mesmo que a gente tape ojolhos, aquilo tende sempre a subir.

Vai daí, veio a PGR pôr ordem na casa:

- Bem, meus meninos, vamos jogar às escondidas mazé, a ver se acalmam um pedacinho antes de voltarem todos a dormir. Ficamos nós a apanhar e vamos contar bastante alto até dois milhões, para que quem tiver que se esconder possa ter toooooooooodo o tempo de que precisar. Não há por que ter medo. Menos o Gordo, esse não brinca que não cabe em lado nenhum para se esconder.

Sabem, Bernardo quando escreveu "A minha Pátria é a Língua Portuguesa", fê-lo demarcando-se de qualquer sentimento político ou social. Colocando na palavra a totalidade do seu sentimento patriótico. Como quem diz, não fosse pela língua e não me importava de ser outra coisa qualquer. Vanuatuano, por exemplo. Vai-se a ver, Bernardo sabia que em Vanuatu não se avisa com antecedência quando se trata de apanhar alguém a cometer uma ilegalidade. Era uma seca, o Bernardo, não gostava nada de andar a brincar.

IV - 10 anos de atraso

Joguinhos à parte, lá percebemos que, querendo ou não, é mesmo verdade. Levamos um atraso significativo para os lampiões. Vejam lá se não tenho razão:

Segundo as pessoas de bem, o futebol em Portugal andou 30 anos metido num lodaçal. Completamente controlado pela perfídia dos grunhos do Norte. E assim ganharam um camião de títulos, alguns internacionais. Majesses foi por acaso e montados no alazão das suas vitórias internas. Roubadas.

Como o conseguiram? É fácil, camuflando a corrupção de preocupação com a alimentação saudável. Punham-se a oferecer fruta aos árbitros.

Mas era tudo um engodo, na verdade, não se tratava de belas maçãs ou suculentos pêssegos carecas - à época ainda não era tão vulgar a depilação total. Eram prostitutas, mulheres da vida, meretrizes. Putas, pronto. Até a cor se podia escolher, mais clara ou mais escura, como o café com leite.

Tudo isto está basto provado nas escutas do processo Apito Dourado. Aquelas em que o Presidente de um clube de futebol foi apanhado a escolher árbitros para os seus jogos; e outros foram apanhados a falar, em código, de gajas, supostamente. Como resultado, o Boavista desceu de divisão, por decisão da Justiça Desportiva. No fim do dia, os Tribunais Civis mandaram toda a gente meter a viola no saco e arrasaram a treta de processo montado. Como um circo.

Enfim, somos uns amadores. Porque até hoje, independentemente de todas as sentenças, continuamos a ouvir ad nauseum a mesma história. Está julgado e sentenciado, no Youtube, onde se passa a realidade, poijentão.

Profissionais, com dez anos de avanço, não querem saber se a Justiça Civil, que têm no bolso na mesma, julga ou deixa de julgar. O que importa é o que o Povão, os 60 milhões - contas por baixo - ouve, lê - os que sabem, vê e quer acreditar. O resto são peaners, meujamigos.

Gestão a sério, não manda fruta a ninguém. Isso é de labregos provincianos. Gestores de topo, tratam de deixar claro a quem toma decisões que valem milhões, para que lado devem pender. Olha o castigo, meu menino. Põe ojolhos no Marco Ferreira.

Convenhamos, garantidas as subidas e descidas de escalão, mais os dólares que elas implicam, não há árbitro que se deixe corromper com frutinhas. Agora, podem pagá-las dos seu bolsos e não ficarem a dever favores a ninguém. Só ao nosso Primeiro, mas isso é inevitável. Afinal, são todos peças da mesma grandiosa engrenagem: Cada um faz a sua parte, para o Bem Maior do Grande Todo.

Dez anos de avanço, nada menos. Mas enfim, o tempo passa e às vezes, rebolando na abundância, os outrora avançados vão engordando. Quando dão por ela, já não conseguem escapar com a ligeireza requerida e são apanhados. E mesmo que sejam os donos da bola, já ninguém quer jogar com eles.

V - O capítulo por causa do Lápis

No post anterior aqui do tasco, o Lápis insurgiu-se por eu ter dito que os adeptos são um dos obstáculos ao sucesso de qualquer treinador do FCP. Aliás, que podem ser.

Todos sabemos que o mariola de bola não percebe um caracol, mas é bom rapaz e tem razão quando defende que a responsabilidade das escolhas e, portanto, dos resultados, não está nos adeptos, mas na Direção. No Presidente, mais exatamente. Podemos dar as voltas que quisermos, mas isto é mesmo assim. Está claro que não tem nada a ver com o facto de os adeptos poderem dificultar a vida ao treinador, mas não vamos esperar demasiado do moço.

No entanto, se esta responsabilização do líder faz todo o sentido, ou por outra, se não há NENHUMA maneira de o líder não ser o primeiro, máximo e último responsável, também é verdade que isso não é uma coisa unívoca. Pelo contrário, é uma via de dois sentidos. É por isso que, mais uma vez, me espanto com a quantidade de disparate que nós próprios conseguimos dizer. De nós.

O basquetebol acabou. Culpa do Presidente, que deu cabo de uma modalidade histórica. Depois, o basquetebol regressou e limpou tudo e todos, até ser Campeão Nacional. Mérito do Moncho e, eventualmente, da secção. Apesar do Presidente. O basquetebol não é bicampeão. Foi porque batemos no fundo, a Direção não reage, não se vê nada, um deserto. Pobre Moncho.

O andebol ganhou alguns 300 campeonatos de carreirinha. Grande Obradovic, grandes adeptos dos pavilhões, grande espírito de equipa, comunhão do Portismo. O andebol perde, merda de Presidente, está senil, gasto, já nem pró andebol serve. Não o substituam pelo Obradovic, não.

Somos crónicos Campeões de hóquei em patins, à conta do Reinaldo, do Bosch, dos treinadores, do Ilidio e seus estupendos croquetes. O Presidente, esse, só aparecia para comemorar, mais valia não ir. Agora que não estamos a ganhar, é vê-lo ausente, calado, culpado até aos tomates da miséria que vivemos. Como é que poderemos voltar a ganhar enquanto esta Direção não cair? E logo no hóquei, que é a grande força motriz do FCP.

Really?

Dado este estado de coisas, qual a retaliação do adepto Portista, fanático das modalidades, apaixonado pelos pavilhões, desportivamente mais eclético do que a Tracy Lords no que toca a pilas?

- Não vou renovar o meu lugar no Dragão!

- Caixa?

- Hã? Isso é o quê? No Dragão, pá! Comigo não gozam mais.

Brincadeirinha, só pode.

...

- Oh Pedro, acho que o Adão já anda a arranjar chatice com as frutas outra vez. Raisparta o cachopo, não aprende, apre!

...

Soundtrack to this chapter: All the evil seem to live forever.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

O regresso ao novo paradigma

E se for preciso enfiar um banano em alguém, também se arranja...

Não gosto de ver as séries que tooooooooooda a gente vê, mas acabo sempre por vê-las. Tento não gostar dos filmes de que tooooooooooda a gente gosta, mas até gramo da maior parte. Procuro não ler os livros que tooooooooooda a gente já leu, mas... olha, por acaso, não leio mesmo, inchem! Só às escondidas. E não gosto deles. Muito.

É uma porra de uma mania estranha, mas não me vou agora pôr a perder o meu rico tempo a tentar mudar um traço de caráter, só por ser estúpido. Se fosse por aí, não fazia mais nada, credo. Por maioria de razão, também preferia vir para aqui escrever sobre coisas espetaculares de que ninguém tivesse ainda falado. Como a dieta do senhor Vitor, por exemplo.


Só que temos um treinador novinho em folha, como é que vou escapar a isso? Sobretudo porque me parece que a parte mais importante da apresentação do moço, escapou a toda a gente.


- E aos e-mails!


Oh, isso do correio eletrónico fica para a próxima, que ainda tenho que investigar. Como é que uma pessoa manda uma carta para outra, por intermédio de um computador, e vem de lá um malfeitor e desvia-lhe a correspondência? Estes miúdos de agora, ui, tramados pá...



...

Eu cá também gostei basto da apresentação do Sérgio. Também me pareceu que ele sente que chegou onde queria. E isso é bom. Teve um discurso inteligente - aquele "Vim para ensinar, não para aprender", foi a resposta de encomenda a muitas das dúvidas dos Portistas - foi apaixonado, agregador e ambicioso. E ainda se lembrou de dizer que "já não se ganha no grito". Perfeito. 

Enquanto treinador de futebol, é que ficou na mesma que era em antes de ter falado, pois claro.

O que mais me entusiasmou, porém, foi o que aconteceu depois da apresentação. Notei, bluegosfera afora, que a malta se apresta para acompanhar o Sérgio. Ele tocou no coração dos Portistas, disse-lhes pouco maijómenos o que eles esperavam ouvir e, ainda mais, o que eles não esperavam vir a ouvir. Mas queriam! Só por si, este simples facto elimina um dos maiores obstáculos ao sucesso de qualquer treinador no FCP: Nós!

Sendo que a verdadeira mudança se dá com NES. Isso mesmo, boa parte dos Portistas sente-se "obrigado" a ir com o Sérgio para a guerra, porque se o NES - que foi o NES - teve aquele apoio todo, então este cachopo não há-de ter menos. Temos pois, na minha opinião, que atribuir ao senhor Santo, Espírito, o enorme mérito - mesmo que tenha sido sem querer - de se ter constituído como o primeiro degrau. Foi com ele que subimos o primeiro lanço, rumo a alguma normalidade - neste campo - depois da anormalidade que foi a reação alérgica a Julen Lopetegui.

Lá está, toda a gente serve para alguma coisa. Até NES.

Devo dizer-vos que do Sérgio, na sua profissão, não sei grande merda. Lembro-me do mesmo que tooooooooooda a gente: O jogo que ganhou ao Rui Barros, com um golo de piço e 80 minutos posteriores a defender perto da sua área; e a épica, que não para ele, final da Taça de Portugal que perdeu para 9 mortos. Vivos. E, claro, do que se foi dizendo da recente voltinha por França.

Daí que, por agora, a minha opinião é que contratámos o melhor treinador do Mundo cujo nome é o mesmo do que a minha vizinha do quinto direito. Como com todos, incluindo o Octávio, veremos até onde chega, partindo do apoio total que aqui encontrará. Por agora, os sinais são excelentes. 

Enquanto treinador, é que ainda não pudemos ver nada, naturalmente. Mas vai ser do caraças, pá!

...

However, meus meninos, nada disto foi a parte mais relevante da cerimónia e do que por lá se disse. O mais importante esteve nas palavras do Presidente: O anuncio de um novo paradigma. No fundo, o regresso a um modelo que rompeu com anos de letargia azul e branca. Mas que por ter sido abandonado, agora parece novo. Paradoxo, certo? Mas não é, é mesmo o regresso ao novo paradigma.

Eu explico devagarinho, para que esses cérebros que mais parecem umas ervilhas mirradas não sobreaqueçam:

"Os dois que me pediu, não haverá possibilidade, porque me pediu o Messi e o Ronaldo. Não pode ser, embora lhe tenha custado a aceitar. Não estou preocupado com isso, porque foi por isso que escolhi o Sérgio, para poder, com os jogadores que tivermos, fazer uma equipa competitiva para ganhar". - Palavra do Presidente.

"Quando tenho Hulk, Falcão e James na equipa, o treinador é-me indiferente." - Palavra do Presidente.

Para além de ficar claro, para quem pudesse ter esperanças, que Hulk, Falcão e James não virão para o Porto; fica igualmente evidente que Sérgio Conceição vai ter "os jogadores que tivermos" e que o Presidente confia nele para, assim, construir uma equipa vitoriosa. Aliás, confia apenas nele. Como não confiaria em mais nenhum, pelo menos dos disponíveis. Isto é relevante, porque demonstra uma nova abordagem ao mercado e à importância do técnico. 

A verdade é que fomos Campeões Europeus assim. Twice. Foi Artur Jorge que fez da equipa maravilha de 87, uma... maravilha. Hoje, todos reconhecemos que estava recheada de foras de série. Mas e no defeso de 1986? Será que a Europa do futebol suspirava pelo Quim Vitorino? Pelo Lima Pereira? Quem seria o Celso? E o Eduardo Luis? E esse promissor rapazola, o Futre? Ou aquele tipo que veio recambiado de França, opá, aquele, o Argelino, numalembra agora o nome do garçon... Ou o guarda-redes grandalhão que fomos comprar à segunda divisão de França, o Militarzick ou lá como se chamava o tipo.

E foi Mourinho quem, sem Hulk ou James e muito menos Falcão, construiu, em dois passos, um duplo vencedor de Competições Europeias. A última delas numa final com o Mónaco. Hoje Campeão Francês.

Foda-se, a quantidade de ligações a França...

Também foi assim que Paulo Fonseca se esbardalhou ao comprido e acabou sem saber bem a diferença entre Frankfurt e Dortmund e o raio que partisse os Nazis todos. Só que...segundo o meu Presidente - sublinho: MEU! - agora temos homem. Treinador, i mean.

Isto é, o Presidente acredita que em Sérgio Conceição, acabadinho de resgatar em...França, teremos um novo Rei Artur, yet another Special One. E que daqui a um ano, "os jogadores que tivermos" poderão ser gabados como outros antes deles. Melhor que isso, o Sérgio também acredita! Ora, melhor ainda que isso, a Nação Portista acredita. Até os comemos carago! 

Pronto, doijanos no máximo. E outro de opção, como a Direção, certo?

É a este nível que está a expetativa. É bom! E perigoso. Mas quem tem medo, compra um cão. Ou um Adão...

...

Soundtrack to Mr. Conceição: I'm fuckin' back, bitches!

terça-feira, 6 de junho de 2017

A Mesa do Canto: A dieta do senhor Bertocchini (com o próprio)

Está quase...

- Oh Xilva, 'shtáli aquele xeu amigo, o Xorche... - Interrompo:

- Qual dos Xorches, Berto?

- O Italiano... - Interrompo:

- Epá, faz-me um favor e diz-lhe que vai ter que esperar um pedaço. Ainda tenho o molho a apurar. Olha, leva-lhe um fino para o entreter, importas-te? - Atarefado atrás do balcão, felizmente cheio.

- É que ele mandou dicher que quer xó uma xaladinha, oh Xilva.

- Hã? O Bertocchini? - Tento ver por entre as cabeças e os gestos das conversas animadas. Não o encontro.

- Icho mesmo! O Bertoxxini. Xó uma xaladinha, ouvi muito bem.

- Opá, chaladinho estás tu, majé da tola. - Rio-me. - Alguma vez? O Xorche? Nem pensar! - Ele fica um pouco vermelho.

- Oh, vai lá tu então, quero cá xaber dicho. E eu diche xalada! Não diche chalada. Xe foches gojar com a tua prima...

De pano ao ombro, avanço por entre as mesas, direitinho à do canto. Ele lá está, absorto no seu espertófone. Atiro-lhe a dois passos:

- Xaladinha, xenhor Bertoxxini? - Sei que ele adivinha o meu sorriso irónico. - Estamos doentes?

- Goza já tudo de uma vez, se fazes o favor. Que isto já é difícil que chegue, sem inteligentes a azucrinarem-me a careca. Simples: Di-e-ta. Importa-se, senhor Silva? Ou esta casa de pasto não serve erva?

Olho para o balcão, onde o Berto dá largas à sua vocação de taberneiro e despacha fregueses eficazmente. O molho borbulha de vez em quando, muito brando, aposto. Está lá a minha maçã-relógio-de-cozinha, há-de apitar. Abanco-me.


...

Digo-lhe:

- Há um lado asceta das privações voluntárias que raramente se aborda. Um caráter contemplativo que não se compadece com os prazeres mundanos. Olha, por exemplo, as dietas. 

Não é como se eu achasse que haviam de beatificar as gajas todas entre abril e agosto - estão todas de dieta, certo? - mas se olharmos para lá da superficialidade, à essência do gesto, o que vemos? Alguém que diz: "Não, não me darei o prazer de me deliciar com este naco de barriga assada no forno, o courato em torresmo, a carne a desprender-se do osso, tenra, o molho na espessura certa, com o seu travo de laranja e maçã, a humedecer as partes." 

Diabos me carreguem se não há nisto um sopro metafísico. Como se fossem vergastadas nas costas, ou votos de silêncio e isolamento. A negação do prazer, por um bem maior. Mesmo que seja só por causa de não lhes cair a barriga em cima das cuecas do biquíni, as mais das vezes. No fundo, é uma espécie de manutenção da castidade estomacal, a reboque da força de vontade e contra muitas vontades.

Será que quando comem bolachas às escondidas, conta como se estivessem a esgalhar uma?

...

Ele levanta a cabeça do aparelho. Abana-a, quase incrédulo.

- Obrigado pela imagem, é bom saber que sempre que precisar de purgar pela gaita posso pensar em muffins de noz ou numa malga de empadão e ganhar inspiração. 

Não vejo as dietas à luz da metafísica, é difusa demais e põe-me a pensar em gregos de toga e vem-me à cabeça o Katsouranis e não quero ter nada a ver com esse cabrão, nem à canzana. Mas compreendo o conceito de auto-flagelação gastronómica, com chibatada no lombo e aventais com tule de lojas chinesas, apesar de não ser o meu intuito. É antes uma opção por um caminho menos tortuoso pela vida fora. Mas como te disse, percebo o teu approach. 

É um estado mental, um alheamento da felicidade momentânea, com um objectivo mais profundo que se vê ao longe e se sabe que se consegue lá chegar, mas que custa de caraças. Consegues ir pela auto-estrada a ver os cartazes todos cheios de luzinhas e gajas esticadas ao comprido a enfiar os dedos na boca, enquanto dão uma ferradela num morango coberto de chocolate, sem pensar em comer? Uma ou outra? Uma com a outra? Se atinges esse nível de desinteresse, estás prontinho para abdicar do repasto e de algumas outras coisas, admita-se.

Dá-me jeito fazer dieta, para ver se vivo mais uns anos. E também dava jeito ver a gaita mais algumas vezes, até a ceifeira mandar a porta abaixo. Chama-me inseguro, mas saber que está lá só pelo tacto, já me chegou nos quartos escuros da adolescência.

...

- Ui, obrigado por não partilhares o que andavas a fazer em quartos escuros. E não sejas tão concreto pá, quero lá saber da tua dieta. Aliás, só para veres até que ponto posso ser solidário, da próxima vez que pedires uma francesinha - e pedirás, meu caro, oh sim, pedirás! - mando-te a Jacqueline ou a Françoise, coberta de queijo derretido. Só. Oxalá não se queime a moça.

Repara, a abstinência subjacente a isto das dietas é, quase sempre, subestimada. Partimos logo do principio que é um disparate. Tipo, lá vem a badocha com a mania das dietas, dass. Que coisinha fútil. E é por isso que te sentiste logo na obrigação de esclarecer: Alto! Dieta sim, mas por motivos de saúde. O resto também, mas isso é porque és o Bertocchini e estás a lixar-te para o que pensam. Se fosses a badocha, não querias ser superficial. Vá que a dieta não corria bem - outra vez - e sempre te podias agarrar a alguma coisa: Oh, tábem, mas podem comer-me à mesma que eu sou bué deep. Deep. Get it? - Só eu me rio da piada seca. Um clássico... Prossigo:

- Eu acho mal esta discriminação pela parte estética. Opá, se a pessoa quer ser mais magra porque lhe parece que isso a torna mais bonita, tem todo o meu apoio. Até pode comer só manteiga à dentada, se achar que isso a emagrece, e morrer com uma embolia. O que a preocupa é emagrecer, não é ficar melhor de saúde. É aqui que entra a metafisica. Para mim, esta malta é tudo Santos.

Oblá, oh mister, isso de querer viver muitojanos com saúdinha, é uma coisa que queremos todos. Porque somos egoístas! Ah e tal, vou é tratar de comer bem, a ver se não quino. Muito bonito isso, sim senhor. 

Mas quereres ficar giro cumócaraças - se pudesses Bertocchini, se pudesses - faz bem a uma parte maior da Humanidade. Porque dá melhor ambiente ao planeta, tájaberohnão? Ou seja, é seres asceta pelo bem dos outros. Sim, porque com aquelas fuças, a badocha pode pesar 20 quilos que ninguém lhe pega à mesma. Mas mete menos nojo.

...

- E tu queres que eu perca peso para o bem da raça!? Só se for nos guizos, porque algum do peso que perdi lá de dentro, acabou por originar uma coisa bem gira que até já obra sozinha, também contribuindo com a sua própria purga para o bem do estrume planetário. Por isso, que se fodam as vacas que a minha vitelinha também conta. 

Mas o ser asceta é bem mais do que uma dietinha e eu garanto-te que não o sou. Nunca fui, nem serei, porque se tiver de me isolar de todos os prazeres, não preciso de fazer dieta nenhuma, porque morro cedo. E tenho prazeres curtos, simples, puros, delicados, atingíveis, meus. 

Espanto-me todos os dias quando vejo gente a esforçar-se tremendamente para se divertir. Aliás, uma das frases que mais febre me tem vindo a dar nos últimos tempos, a par com "temos de reunir para decidir isso" e "és um chato com isso do Porto!", é o "vai ser tão divertido!". Só me apetece responder: "pode ser divertido para ti, seu monte de suburbanidade, tu que não consegues passar cinco minutos em silêncio sem teres medo de ficares sem voz até ao fim da tua inútil vidinha. Vai lá descer o rio ou subir o monte ou qualquer que seja a inclinação que hoje está na moda, mas deixa-me em paz, fazes favor?". Argh, gente que urge terceiros a divertirem-se, devia jogar contra o Vinnie Jones!

Ah, em termos de francesinha, podes mandar-me a Marine, mas com brie a sair-lhe pelos orifícios que não se mostram e a queimar-lhe a chafra toda, para ver se ganha juízo. Assim à medieval, como ela.

...

Grita do balcão:

- Oh Xilva, 'shtá aqui uma machã a apitar!

- Oops, o molho. Tenho que ir. Olha, havias de aproveitar e deixavas de fumar. Doía tudo de uma vez. Já lhe mando a xua xaladinha, xôr Vitor. - Levanto-me, não sem notar a interrogação que se lhe forma por cima da careca: Será?

...

Soundtrack to loosing weight: Too much man for you to take!

...

O senhor Bertocchini opta por escrever na ortografia antiga. Gordo!

domingo, 4 de junho de 2017

David e Godzilla e outros Mitos e Lendas


Naquele tempo, andava David a pastar ovelhas para se entreter, quando lhe apareceu a Godzilla. De susto, até o leite dos ovinos se fez em requeijão. O bicharoco disse-lhe:

- Olha, vou-te espezinhar.

David mirou o monstrengo, com a confiança de quem sabe da poda, e respondeu-lhe sorridente:

- O Golias pensava como tu e foi o que se viu.

Procedeu a tirar do alforge a sua funda e a apanhar, com um estalar de dobradiças - o tempo passa por todos, uma pedra de tamanho razoável e bem arredondada. Brandindo a arma em rodopios por cima da sua régia cabeça, apontou ao meio da testa daquela espécie de dinossauro, tão carregadinho de esteróides anabolizantes que faria corar de vergonha o Ben Johnson.

A pedra partiu a alta velocidade, cumprindo uma trajetória perfeita e acertando em cheio na testa da Godzilla. Mesmo entrujolhos.

O bicho pestanejou, levantou uma patarrona e espezinhou o David.

Moral da Lenda: Se passardes muito tempo concentrados apenas em repetir a mesma coisa, não vos dareis conta de que se tornou um mito. E podeis muito bem ser espezinhados.

... 

Naquele tempo, reuniram-se uns num sitio e puseram-se outros a falar. Um estúpido levantou-se da plateia e perguntou:

- Porquê?

Ao que lhe responderam com muitos factos não provados, cuja veracidade - de se repetirem por gerações - ninguém contestava. E disse-lhe um:

- O rendimento per capita a Norte é mais baixo. Mas já os nossos avós sabiam que no Norte é que se trabalha. E Norte somos nós. Que ali mais acima são todos amigos dos Sulistas, ali mais abaixo já é mais Sul do que Norte, ali mais ao lado é interior. Enfim, fora das nossas muralhas - tivéssemos nós sido bafejados com umas, mas já se sabe, vai tudo para a Capital, a começar pelas muralhas - ninguém trabalha e ganham do que nós produzimos.

O estúpido mostrou uma lista dos 10 maiores exportadores daquele Reino. E eram todos de outros vilarejos.

Moral da Lenda: Enquanto carpíeis, comprastes mais Correios da Manhã do que Primeiros de Janeiro.

...

Naquele tempo, o Rei tinha desatado a perder muitas e inúmeras batalhas. Os nobres instigavam a populaça à revolta, o clero rezava pelas Alminhas que viriam salvar o Reino e os inimigos mandavam os seus bufões animarem os mercados da mui Leal, com cantigas de escárnio que os sempre Invictos basto apreciavam, enquanto acenavam com as cabeças.

Chegou a altura de escolher o Rei para mais quatro anos - tinha aquela monarquia as suas democracias - e todos aplaudiram a certeza de Rei morto, Rei posto. Só que nenhum se quis pôr, pelo que não tiveram remédio senão lá deixarem o antigo.

Ao sinal de mais uma batalha perdida, voltaram em alegre cantoria a anunciar a morte do Rei, o fim do Reino, a queda da Nobre, o Apocalipse Nuclear em cuecas. Tinha passado só um ano desde que houveram sido chamados a escolher um Rei e faltavam ainda três para oportunidade semelhante se lhes deparar.

Assim, o Rei mandava os seus Ministros dizerem umas patacuadas à maralha, enquanto ponderava entre o esforço para regressar à Glória Antiga e o dolce fare niente da sua reforma doirada.

Moral da Lenda: Os meninos que não falaram na sua vez, deixai-vos agora estar caladinhos.

... 

Naquele tempo, o Povo ansiava por um Campeão. Um David, um João Ratão que fosse. Depois de despacharem entre penas e alcatrão um padre que se apresentara vestido com uma luzidia armadura, clamavam por sangue na guelra, murros nas távolas, forte clamor e, já agora, que afinasse quando chegava a hora de cantarem Aleluias. 

Se sabia ou não espadeirar, não parecia muito importante, porquanto fosse "dos nossos", habituado a bulir de Sol a Sol por uma malga de água suja e duas lentilhas, sob a opressão do Centralismo Castrador.

Logo que lhes apresentaram um, enumeraram a lista de defeitos:

- É mal educado e grita muito.
- Vai insultar os inimigos e ser posto de parte no campo de batalha.
- Deixou ficar mal o seu antigo Rei, para se vir tornar no nosso Campeão!
- Deve ser burro, pois deixou de ganhar muitos cobres de bronze só para se juntar a nós.
- Entregaremos todo o Tesouro Real para que venha ser nosso Campeão, é a Grande Fome!
- Afinal, nem moedas por ele exigiram, já se vê a bela trampa que de lá vem.
- A Sãozinha cheira mal!
- E espadeirar, será que sabe?
- Veio pela mão do Grão-Vizir.
- Não veio pela mão do Grão-Vizir.
- Parece que não tem mãos sequer...

Moral da Lenda: Servil é o que serve apenas para negar a escolha de outro, nunca para pensar a alternativa ao outro. Até porque pensar dá trabalho e o trabalho dói.

...

Naquele tempo, um parvo prometeu: Outro dia, falo disto a sério. Mais a, quero eu dizer.

...

Soundtrack to Myths and Legends: Bash the bastards.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

A Tasca sob escuta


É uma porra que até na panela das bifanas se mete...

Fomos grampeados! É uma vergonha. Lavro o meu muito veemente protesto, enquanto me deixam lavrar o que quer que seja. Viva a Reforma Agrária, a mim ninguém me cala, a luta continua e isso tudo, avante camarada.

É o regresso do Fascismo, da PIDE, da Outra Senhora. Espero que venha melhor das mamas, ao menos. Vão tentar silenciar a Tasca a todo o custo, tenho a certeza. E nem era preciso, uma avençazinha bem negociada e tudo se fazia muito mais discretamente.

Sei que - saberei? - conto convosco, distinto e acabadíssimo bando de bêbados, para defender a honra da espelunca e a liberdade e continuar a luta nas ruas, se preciso for. Também já percebi que o nosso Clube está atento a este revivalismo fascizóide, apesar da ajudinha que deu no enterro da Liga Salazar.

No entanto, sem ilusões, é convosco que conto. Porque isso de andar a desenterrar mortos até pode entreter, mas não põe comida na mesa. A menos que durante a profanação do cadáver se lhe afane os oiros com que o enterraram. Sempre se contribuía qualquer coisinha para o fairplay.

Enfim, enquanto andamos distraídos com estas coisas, lá vão voando umas competições. Agora foi o andebol. A mim kemimporta o andebol, verdade seja dita, mas à mingua de um croquete da Petúlia, qualquer papo-seco meio ressequido já marchava. Mesmo que seja num desporto que se pratica sempre em falta. Porque com as mãos. Ladroagem.

Ainda pior, os maus, matulões e mal-parecidos adversários, infestam esta casa do Portismo, este estabelecimento do bem comer e melhor beber azulibranco, este cantinho onde se juntam gerações de adoradores do Brasão Abençoado - má sorte termos parado antes de chegarmos a baluarte - dizia, infestam a Tasca de microfones. Daqueles muita'caninos, do Chinês, acho eu, que funcionam com uma pilha de relógio.

Depois ficam os monstrengos lá nas caves húmidas e escuras onde habitam, muito quietinhos e caladinhos, com as suas faces macilentas e dentes bolorentos, a ouvirem tudo o que por aqui se diz. Um horror, credo.

E assim, enquanto se desempoeiram os calhamaços da História, como quem solta balõezinhos de ar quente iluminados, para que a maralha toda olhe para cima e se despreocupe com o que se passa debaixo do nariz, os vilões tratam da vidinha.

A Tasca está sob escuta. Não há outra explicação para isto e isto e sobretudo - bolas! - ISTO! Conforme determinada conversa tida nesta casa de pasto. Sim, porque ruminamos, pelos vistos.

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Wired soundtrack: Shhhhhh...