quinta-feira, 28 de abril de 2016

Resumo da semana: Uma conspiração de estúpidos.



Um estúpido lembrar-se de atirar um cão de uma ponte é algo maijómenos expectável. Que seja tão estúpido que se lembre de filmar a cena, também não é propriamente uma surpresa. Neste ponto, nada mais natural do que desatar a partilhar a habilidade nas redes sociais. Porque é apenas uma estupidez. Pena tenho que o cão não lhe arrancasse um braço à dentada.

Custa-me um pedaço não ter ficado de cara à banda com a reação pronta de uma chusma de outros estúpidos: Insultaram o tipo do bungee sem elástico, provavelmente ameaçaram-no, crucificaram o gajo. De tal maneira que o moço teve que sair de fininho da dita rede social, pela esquerda baixa, e a agência que supostamente lhe tratava da  suposta carreira se apressou a esclarecer: Epá, nós não temos nada com isso. Não atiramos cães de lado nenhum. Que coisa estúpida, credo.

Como calculam, nos dias que correm, um tipo destes estar out da rede é pior do que um comunista ser degredado para o Tarrafal em 1968. Pobre estúpido, morreu lá no sítio onde a vida, de facto, acontece: Aquele em que nada é real.

Agora, os que o degredaram não me irritam menos. Pode ser da velhice, que me torna rezingão, ou do raisparta de feitio, que me faz ser contra. Mas não consigo evitar imagina-los a ver um vídeo semelhante, desta vez com um pai babado a fazer o filhote saltar para a água e nadar até à margem: Olha aqui Katy, olha. O puto do Adelino é o máximo. Destemido, o catraio. E que bem que nada, para a idade. Like.

Olha, a mim já me atiraram com uma velha, nas escadas de uma estação de comboios. E era a descer, chiça. Bem feito que falharam. Ou então foi a senhora que caiu, coitada. Mas desconfio.

Não tenho nada contra os tarados dos animais - subtil hein?! Acho que há taras muito mais estranhas. E sem representação parlamentar. 

Por exemplo, uma vez conheci um sujeito que era doido por maracujás. Quem queria vê-lo era no supermercado, na zona da fruta, a fazer festas aos maracujás, a cheirá-los, tudo com um ar bastante lúbrico. E já se sabe que o maracujá nem sequer interage com a pessoa. Está claro que não existem registos de ter atirado os ditos de cima de uma ponte. O que é bom, porque parece que o maracujá não sabe nadar. Yo.

Devia haver uma Fundação da Estupidez disposta a financiar aqui o estúpido - um vosso criado. Investigaria a forma como as redes sociais se constituíram como um espaço de partilha, de caráter terapêutico. Permitindo, pelo exemplo, a catarse da populaça. Através da amplificação - e glorificação - da estupidez humana.

...

INTERLÚDIO: Aviso

Os maluquinhos dos bichos escusam de vir moer-me a paciência. Tenho um gato com nome de cão e um cão com nome de astro. São membros de pleno direito da família e gosto tanto deles como eles de mim. 

O que quer dizer que se me chateiam, atiço-vos as feras sem hesitar. Sempre vos quero ver a correr à frente daquelas dentuças afiadas e garras cheias de tártaro. Ou talvez seja ao contrário. Vejam lá não se baldem de alguma ponte.

...

Um estúpido decidiu enfiar um balázio num cão. O dono do cão não se ficou e fez um escarcéu do camandro. Nas redes sociais, pois claro. De estúpido não tem nada.

O que vale a pena reter é a indignação generalizada com dois detalhes:

* Um tribunal condenou o caçador de cães a pagar uma multa de montante praticamente igual a uma outra, ao pagamento da qual obrigou o dono do animal. Por injúrias.

* O juiz desancou o injuriador por ter humanizado o bicho e ter feito a vida negra ao estúpido da arma. E por lhe ter chamado "assassino" e lhe ter atiçado uma matilha de estúpidos sociais.

O que deixam passar em claro, no meio da espuma, é o facto mais parvo de todos: O processo decorreu, creio que por escolha da acusação - o lado do cão - ao abrigo da Legislação Patrimonial. Quer dizer que se partiu do princípio que o bicho era património. E havia sido danificado. Isto porque a pena máxima neste caso é bem superior à que poderia ser aplicada se o enquadramento fosse a muito festejada Lei dos Mau Tratos. 

É giro que não venha a malta dos bichinhos para a rua. Mas pensar dá um bocadinho de trabalho. Pior, não proporciona nenhuma selfie fofa. No máximo, dá uma estátua de um gajo musculoso. Todo nu. Malditos gregos.

Vai dai, não sejam estúpidos. Se precisarem absolutamente de disparar contra alguma coisa - sei lá, podem ser obrigados a jantar com o Bruno de Carvalho, ou a passar a tarde a ouvir conferências de imprensa do Rui Vitória, ou serem designados para escutar todas as mágoas do Lopetegui, ou assim - nunca se esqueçam: É melhor disparar contra uma vaca do que contra um psiché. Dá menos cana e sempre se aproveitam os bifes.

- Icho é uma generalijachão extúpida, oh Xilva.

- Hã?

- Não há nenhuma evidênxia de que todajajvacaj tenham um pechiché.

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O Presidente da Polónia veio de passeio cá à terrinha. Diz que correu tudo muito bem, apesar de estarmos perante um estúpido que defende o fecho de fronteiras. Porque o refugiado é um bicho que havia de ser atirado de uma ponte. Digo, de um viaduto, que as pontes tendem a ter água por baixo.

- Bem, isso dos refugiados tem muito que se lhe diga. Não posso deixar de simpatizar quando ele diz que podem pôr em causa o nosso estilo de vida católico.

De facto, a Polónia, esse exemplo de país católico. Sobretudo após determinada limpeza étnica, que o purgou de outras religiões igualmente perigosas, hein? 

Mas a verdade é que não preciso de ser tão incorrecto e inconveniente. Basta assinalar a diferença entre a nossa, por vezes apenas suposta, tolerância - aquela que fica bem ao lado das fotos de chinchilas adoptadas por ursos polares pernetas e assim - e o despontar do espirito Polaco.

Xinapá, confundirem os nossos com árabes muçulmanos é tramado, não é? Pois não, não é. É só tão estúpido como o resto.

...

Um jornal foi perguntar a uma manada de lampiões qual jogador preferem para determinada posição. A escolha era feita entre um Dragão e um Calimero.

Wadafuck??? A sério? Mas porque recarga de água quereria eu saber da opinião desta gente acerca disto?

Espera, já sei! Foram ouvir uma série de estúpidos sobre uma estupidez de todo o tamanho! Afinal, faz sentido: Lugar aos especialistas. E capa. Também fez capa, valha-nos São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.

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- Agora, agora. - Excitado.

- Senhor, isto é uma estupidez. - Hesita.

- Despacha-te, olha o timming. Anda, anda. - Aos pulinhos.

- Olhe que ainda se magoa a mulher.

- Não sejas estúpido, Pedro. Eu trato disso, despacha-te. Agora, caraças. - Grita-lhe.

Puxa a alavanca.

- Ora foda-se, falhámos. A culpa é tua. Tinha que ser quando eu te disse. Porra pá! Oh, oh, olha pákilo, ainda passa o fulano por bom samaritano. Raios! - Chuta uma nuvem.

- Senhor, a velha tem o mindinho a apontar para o lado errado... - Preocupado.

- Ela que não aponte, que é feio.

- É estúpido fazer isto às pessoas, Senhor. - Ousado.

- Bah, não é como se a tivesse atirado de uma ponte, poi'não?

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Soundtrack to stupidity: Hey stoopid!

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Um livro, com uma vénia: Uma conspiração de estúpidos

sexta-feira, 22 de abril de 2016

EXCLUSIVO: A TascaTV entrevista Maria Clara



- Ora biba, cara Maria. Ou prefere Clara?

- Maria, pela simplicidade.

- Fica Clara, por razão do meu mau feitio. Obrigado por ter escolhido a TascaTV para a sua primeira entrevista, após os desinfelizes acontecimentos recentes . Já assim de chofre: O Toni é homozigótico, quer dizer, homensexual ou isso? Panascóide, pronto.

- Vejamos, estatisticamente, é complicado dizê-lo. Por um lado, segundo o próprio, foi para a cama com mais homens do que mulheres. Por outro, isso não quer dizer que tenha ido mais vezes com eles do que com elas. Aliás, se eu for a média, então não há hipótese nenhuma, ganham as gajas. De longe. Digamos que eles podem ser em maior número enquanto visitantes únicos, mas elas dão dezazero nas páginas vistas. - Cruza as pernas e sorri.

- Sim, mas devia ser uma coisa mecânica, desinteressada... - Provoca.

- De todo! De entre os que conheci, incluindo o cabrão que apanhei com ele na minha cama, o Toni é, a boa distância, o que sabe mais da poda. - Endireita-se na cadeira.

- Raios. - Desiludido. - Mas o facto é que o matrimónio não foi ainda dissolvido. Porque não aceita falar com o homem?

- Isso não é bem assim. Na confusão da separação, acabei por não me despedir dos canários. Liguei-lhe umas três vezes para tentar ir lá a casa dar um xauzinho aos bichos. E ele nunca atendeu. Não mudei de número e ele não me voltou a ligar.

- O meliante, hein? Era maltratada, pois era? - Chega-se para a frente, interessado.

- Nunca. O Toni sempre foi um doce. É também por isso que lhe guardo, ainda hoje e apesar de tudo, um grande carinho.

- A sério? - Revê as notas. - Mesmo que ele tenha dito que você deu de frosques cheia de medo, qual bota de elástico quadrada?

- Bem, não é como se tivesse outras opções. Mas no fundo, eu até queria ficar. Mais por ele, que se estava mesmo a ver que se ia afundar. Não foi possível.

- Porque não conseguiram engravidar. Esse era o vosso grande problema, certo?

- Oh, mas estivemos tão perto. E eu sentia que este ano é que emprenhava. Uma mulher não se engana nestas coisas. - Baixa o olhar, tristonha.

- Sim, sim, deixemos as lamechices. Quem não podia consigo eram os amigos dele, diz que...

- Uns anormais. Sempre a buzinarem aos ouvidos: A gaja não presta, a gaja não fica cheia, a gaja é feiosa, becabecabeca, estavas melhor com outra. E continuam! Ainda hoje, a culpa de ele estar pior do que antes parece que é minha. Enfim, ele também lhes ampara o joguito. Mas digo-lhe, tenho pena de vê-lo assim, barbado e bisonho.

- Ao menos tem os amigos. Acha que são todos panascas?

- Vai-se a ver... Mas não, acho que são só estúpidos. Mesmo os bem intencionados. Não me vou pôr a insultá-los.

- Raisparta! Álcool, violência, detalhes porcos da intimidade, flatulencias? Qualquer coisa. Por favor?

- Nada. Um tipo inteligente, culto, muito criativo. - Sai-lhe um risinho. - Mas a parte da criatividade guardo para mim. Olhe, pergunte aos amiguinhos íntimos, quem sabe...

- Foi acusada de gastar as economias em coisas inúteis e fúteis, que nunca se usaram, algumas.

- Tretas. Para já, a arte valoriza. Depois, tinham que contrabalançar com as preciosidades que fui desencantar no sótão da avó. Ah poijé bébé.

- Corrupção? - Ela abana a cabeça, negativa. - Já sei! Droga! - Ela ri-se. - Oh, está bem. Fica assim. Acho que os media conseguem fazer alguma coisa disto...

Apagam as luzes do estúdio.

...

Ele entra em passo acelerado, esbaforido. Fala-me muito alto:

- Xinapá Silva! A entrevista da gaja foi um estrondo. Caraças!

- Você viu?

- Eu não. Mas está tudo nos jornais. Olhe para isto. - Abre as primeiras páginas, uma a uma:

" Maria Clara:
O Toni é tão panasca que dá pena! "

" Maria Clara arrasa o paneleiro "

" Tenham dó do Toni!
Clara deixa mensagem de compaixão"

- E a sua cabeça, o que pensa?

- Que é muito bem feito que se venham a saber as verdades. A ver se o larilas não engana maizagente. Pobre moça.

- Ai, em que ficamos? Você passou o tempo todo a falar mal da rapariga! Agora virou?

- Errr...não é bem isso. Haviam de perder os dois. Bem feito. Buuu, buu,  vergonha!

E sai muito corado, com o seu molho de jornais debaixo do braço.

...

O Senhor Monteiro da Silva mostra-me yet another das suas listas:

Lista de rabos escondidos POR uma entrevista:

* Sol e praia em Faro
* Cristóvão a caminho do circo
* Um poleiro só, para dois pintassilgos.
* Datas de finais ou finais datadas

- Não xe perxebe nada dechas xuas lijtach, Xenhor Monteiro da Xilva. Xá não lhe bajtava falar de uma maneira tão 'xtranha...- Arenga do balcão.

- Oh, alfacices, Berto. - Diz-lhe condescendente.

O outro encolhe ojombros e engole de uma vez o seu croquete. Com um fio de mostarda.

...

Private message: Alô, alô, não há croquetes. Esgotaram, acabaram, kaput. Faxabor de repor o stock...


quarta-feira, 20 de abril de 2016

A minha estrela


Porra pá, estou fartinho de conferências de imprensa e flashes coisos e isso tudo. Ainda nem começou a sério esta porra e já deito estes gajos todos por ojolhos, fuoda-se. Olha aquele, olha, o panasca da bolha. Deve estar para escrever lindas coisas sobre nós, deve. Ui, os gajos da Cofina também andam por cá? Tipo abutres, filhasdaputa. Oh well, tem que ser. E o que tem que ser tem muita força. Majosdentes não me vêem!

- Boa tarde. Primeira pergunta. Sim, tu aí ao canto.

- Mister, como está a correr a pré-época da sua estrela?

- Bem, obrigadinho. Como já deve ter reparado, se não for completamente tapadinho. Está mais solto, o drible já lhe sai com facilidade, o remate cada vez mais afinado e o arranque poderoso. Já se sabe que isto com os jogos ainda melhora, mas para amostra está espetacular. 

- Próxima pergunta. O óculinhos ao fundo.

- Oh mister, garante a titularidade da estrela?

- Pois claro. Até porque, bem vistas as coisas, não há mais ninguém para aquele lugar. Depois, mesmo que houvesse, vá que é o melhor do Mundo. Como se não bastasse, o meu amigo sabe muito bem que é uma escolha minha para o plantel. E se não sabe, havia de saber. Que é também para isso que lhe pagam. Digo eu.

- Next. O tipo do cabelo à mete nojo, mesmo aqui à frente.

- Não lhe parece que dar essa garantia pode até desmotivar a estrela?

- E à sua mãezinha não lhe terá parecido um desperdício ter dado à luz? É só uma pergunta, por curiosidade. Majolhe, deixe-se estar descansadinho, que ninguém aqui se desmotiva. Desde logo porque o moço gosta tanto do Clube quanto eu. Depois, porque o gozo que lhe dá ver ratazanas como o meu amigo a voltarem para os seus buracos húmidos e escuros, é motivação que chegue para mais uns trintanos. É isto.

- Obrigado meus senhores. E desculpem lá qualquer coisinha.


...

E pronto, é isto que eu penso da sucessão de entrevistas do Presidente do FCP ao canal do clube.

Por outro lado, fiquei com uma estranha sensação de: Epá, mas quem é que lá estava antes? Quem é que autorizou a implementação de uma política de curta permanência e rapida valorização de ativos, que agora vamos reverter? Quem é que pactuou com uma comunicação pelos vistos pouco agressiva, que agora vamos mudar? 

Vou tomar isto como um "Ora merda, saiu cocó. Bora lá tratar de fazer de outra maneira para não dar mais merda". Parece-me lindamente. Sobretudo porque o tipo que vai à frente desta falua é o melhor que podíamos desejar: Jorge Nuno Pinto da Costa.


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- E se metesses a falua pelo real entrefolho do olho do cu acima?

- Hein?! Tás parvo? Kéjber um sopapo nas bentas que te biro, carago?

- Não é falua, é rabelo!

- Ops...

quinta-feira, 14 de abril de 2016

As escolhas esclarecidas



Ele fala-me no seu tom pausado, escolhendo as palavras, adequando-as à penumbra da Tasca, nesta nossa hora de últimos a sair. Escuto-o debruçado nos nossos copos de vinho tinto, como se fosse uma homilia. 

...

Deu dois passos lentos no corredor. Reparou na terra das plantas humedecida no ponto perfeito e, instantaneamente, o cérebro fê-lo ouvi-la a cantarolar-lhes, a falar-lhes como se fossem pequenas fadas ou queridos animais de estimação. Deslizou a palma da mão por uma grande folha de uma Planta de Borracha, suspirou baixinho. Depois encheu o peito de ar e entrou na sala, contornando o amontado de malas e mochilas no hall de entrada.

Reparou que estava ainda descalço quando sentiu a maciez do tapete felpudo nas plantas dos pés. Quis manter o ar enfurecido, ou magoado, ou lá o que fosse a cara que era suposto ter naquela situação. Mas honestamente não saberia dizer, depois dos pés naquele chão tão familiar, que raio se leria no seu rosto. Tristeza, isso era certo.

Ela estava sentada na beira do sofá grande. As mãos entre os joelhos, os olhos entre a parede em frente e a grande janela rasgada à direita. Cheirava bem. Ela, a sala, o corredor, a casa toda, a vida toda. Um cheiro que não notava todos os dias, mas que agora o abraçava e lhe fazia lembrar as camisolas grossas de lã do Inverno, acabadas de lavar. E corridas descalços pelo enorme corredor, com saltos perigosos para aquele mesmo sofá. Num tempo em que não haviam malas empilhadas à porta. A água brotou dos olhos, uma onda em direção ao odor perfeito daquela vida. Acabada.

Passou por ela num passo rápido e endurecido pela fúria que queria ter. Planou perante as prateleiras dos livros. Devia tirá-los todos, metê-los em sacos, levá-los dali. Aos livros e às suas capas cobertas da camada exata de pó que as protege mas não lhes rouba o cheiro a papel. A que se acumula por um numero certíssimo de dias, nem mais um. Todos, não deixar nenhum. Como se os livros pudessem contar a história, encerrar a dor, testemunhar a culpa. A que ele não podia ter. 

Sempre corajosa, ela dobrou as pernas debaixo do rabo - ele percebeu apenas pelo som - e afastou os cabelos para os ombros. Aprestava-se a quebrar o silêncio. Ele pensou em gritar-lhe que se calasse, mas ela ainda não tinha dito nada. Pensou em começar a atirar livros pela janela, para que ninguém falasse. Mas conseguia ver os pequenos pés perfeitos, as plantas a serem assento dos glúteos, sem nunca olhar para ela. E por qualquer motivo, isso impedia-o de se mexer. Ouviu:

- Se em alguma outra altura quiseres... - Hesitou, como quem sabe que nestes momentos só existem palavras erradas, mas não tivesse remédio senão dizer algumas. - Se quiseres, podemos conversar. Ou não. Já não posso pedir mais desculpas.

- Não tens que pedir mais. Aliás, até te agradeço que não voltes... - Hesitou, como quem sabe que o tom da próxima palavra denunciará a imensa mentira que esconde. Ia dizer "a falar comigo", mas só se lembrava de "a fazer isto". Como se fosse possível ainda abrir a porta que os deixasse escapulir. Encontrar uma dimensão onde nada tivesse acontecido. Ou acontecendo, ninguém soubesse e eles não se importassem.

- Sim, sim, já sei, agradeces que não fale contigo. - Pousou os olhos no tapete persa em volta da mesa de café.

- Raios te partam. Como pudeste? - Murmurou de olhar fixo nas lombadas. - Não quero acreditar que me fizeste isto.

- Não me faças explicar do principio. - Suplicou-lhe. - Não é como se não me envergonhasse. E depois, que diferença faz repetir a mesma história infinitamente? Voltas atrás?

- Eu? - Gritou-lhe. - Eu volto atrás? - Mais alto.

- Sai. Não vale a pena continuarmos a gritar.

- Sabes o que és, sabes?

- Sim, sei. Sou puta!

- E dizes isso assim? - Incrédulo ou desesperado, não se consegue definir. - Mas és mesmo. É isso mesmo: puta! - E deixou de ser importante que escondesse as lágrimas. Chora agora como o menino perdido que sempre foi. De medo, de raiva e da imensa dor da humilhação.

Ela levantou-se, em três passos ficou atrás dele. Abraçou-o assim e ele não teve força para a repelir. Ela disse-lhe baixinho:

- As putas também amam. E eu amo-te. A ti e à nossa vida. Como não sei se alguma vez te poderei voltar a dizer isto, digo-te agora: Queiras ou não, és o homem da minha vida. Mesmo que isso não te sirva para nada.

- Não serve. Como pode? Como é que podes dizer que me amas? Fodes com quem te paga e amas-me a mim?

- Amo. E só fodo com quem paga muito e não me enoja demais. - Ele sentiu as costas da camisa a encharcarem-se das lágrimas dela.

- É isso amar-me?

- A ti? Sim. Não gosto nada é dos nossos ordenados.

Então souberam que as malas nunca passariam da porta e que os livros permaneceriam quedos nas suas prateleiras.

...

Eliminou minuciosamente os vestígios das lágrimas, menos os olhos inchados. Ensaiou até um sorriso, mas pareceu-lhe demasiado falso para poder dar ares de confiante. Bateu a porta do quarto e caminhou apressada pelo corredor, ao som dos saltos de madeira no soalho de cerâmica. Evitou com alguma graciosidade os cacos de vidro e as molduras ainda espalhados pelo chão. Encaixou com um movimento simples o necessaire na asa da mala grande, encostada à porta da rua. Da cozinha sobrevinha um cheiro a café velho e a torradas queimadas.

Entrou na sala para ir buscar o casaco negro e lembrou-se dos livros. Pegou num saco grande de plástico, esquecido no meio dos pedaços do espelho partido em cima do tapete de pelo alto. Passou por ele, sentado no maple das leituras, como se fosse uma rajada de vento e procedeu a esvaziar as prateleiras. Completamente. Tossindo no meio de uma nuvem de pó. Podia senti-lo enquanto se levantava. Adivinhou que vinham palavras e antecipou-se:

- Nem vale a pena abrires a boca. Deixa-me despachar isto, que já aqui estou há mais tempo do que queria. - Disse-lhe, de frente para ele, com o olhar duro que lhe saía com tanta facilidade.

- Isto não devia ser assim - Balbuciou.

- Ai não? Então devia ser como? Diz lá, anda, estou a achar imensa graça.

- Tu sabes que és a mulher da minha vida. Não há nada que tenha mudado isso.

- Olha que interessante. - Sorriu irónica. - Eu sou a mulher da tua vida, muito bem. É pena é não ser o homem, não é? - Estalou os dedos furiosos. - Epá, pois é, isso é que é mesmo uma grande pena.

- Já te expliquei isso. - Derrotado. - Não precisas ironizar, nem fazer piadas com a situação... - Ela interrompeu-o, aos berros:

- Piadas? Mas tu pensas que eu acho piada a isto? Para além de tudo, és completamente estúpido? - Sentiu que a seguir ia voar um livro, desejou que lhe acertasse em cheio na cabeça. Mas ele apanhou-o no ar.

- Pára com isso. Escuta-me, pode ser?

- Não, não pode ser. Era a minha cama, era o meu amigo. - O indicador a bater-lhe no peito - Consegues perceber isso? Não, não consegues. Vai-te foder, grande filho da puta.

- Não te amo menos por isso. - Ela deu uma gargalhada já muito próxima de lunática. - Ouve, é mesmo isso. Aliás, sabes que és a única mulher que eu amo. Serás sempre. - Os olhos marejaram-se-lhe, inapelavelmente. - Não quero partilhar a minha vida com mais ninguém, só contigo. Nunca te faltei, nunca te falhei, não concebo que possamos deixar cair o nosso Mundo. 

- Ai não? Mas era tãããããooo fácil. Bastava que não andasses enrolado com ele. Diz lá, quantos eles é que foram? É que eu vi, não é como se pudesses inventar uma história qualquer, pois não?

- Mesmo assim, nunca foi uma ela. Só tu. Mas... - Coça a cabeça. - É verdade que há coisas que não me podes dar. E de que eu preciso. Não é como se eu escolhesse, entendes? - De mãos abertas, em perfeito desespero.

Ela deixou cair o saco dos livros. Precipitou-se para a entrada, passou por ele como a mesma rajada de vento e saiu da sala. Voltou atrás, de cabeça baixa, quase calma. Disse-lhe da porta:

- Olha, meu querido, vai levar no cu, sim?

Então ele soube que iria.

...

- Pois, estranhas histórias, Senhor Monteiro da Silva, mas é mais ou menos isso...

- Pois é, Silva. Sejam quais forem, são sempre melhores as escolhas esclarecidas. Até as que se fariam de qualquer maneira, por mera fé...

segunda-feira, 11 de abril de 2016

RAP da pena...digo, da rena.

Só lá tinha este cachecol. Tenho pena.


Por muito que custe aos Rodolfos e Luises desta vida, o Porto não acaba. Não acabou no Dragão contra o último, nem em Paços de Ferreira contra o Simão. O que pode terminar é o suposto portismo a quem lhe apeteça. Porque isso permanece no campo do livre arbítrio de cada um. Com a licença do Senhor, está claro.

É muito interessante perceber que quem considera que defender o FCP é malhar-lhe forte, feio e lançando mão de qualquer argumento - por falacioso e desonesto que seja - grita alto pela defesa da Liberdade de Expressão. E proclama, em tom ainda mais elevado, o seu Portismo. Acho bem.

O que já não está nada bem é que o façam por oposição a quem não concorda com eles. Por exemplo, eu considero que tomar aquele tipo de atitude não é querer bem ao Clube, muito pelo contrário. Penso que Pinto da Costa é o tipo ideal para nos reconduzir às vitórias. Até acho, vejam bem, que não se enganou assim tanto nos últimos anos. É verdade, eu penso que a escolha de Lopetegui foi bastante acertada até. Um dia explico porquê.  

Aparentemente, os verdadeiros portistas chamam-se Reis. Ou não se chamam nada. Ui, sacrilégio, bater nas referências do Grande Porto! Como se Jorge Nuno Pinto da Costa fosse uma referência menor do Atlético Rinchoense. Muitas vezes tenho a sensação de que, aos olhos desta malta, pensar assim me torna um... lampião. Ou só burro, pronto.

Hey, tenho novidades para vocês: Estão errados! Temos pena.


...

- Oh, deixa-te de merdas. Vê lá o que tá a dar na televisão mazé. A ver se apanhas o capitão a dizer umas verdades. 


...

MUSICOL
Programa de música da TV do tintol.
Com Monteiro da Silva

Convosco, Silva e as Renas, featuring Maria Amélia Canossa. Afinfa-lhe tasqueiro.

(Hip-hop rythm, com refrão impositivo em falsete, pelas Renas. Beatbox by Vassalo. Vá lá, todos!)

A culpa do Silvestre é da comissão,
Temos pena.
Foi a SAD que ordenou a substituição,
Temos pena.
O Presidente é que falhou o corte,
Temos pena.
A culpa é dele até à morte,
Temos pena.
Foi ele que defendeu o golo do André,
Temos pena.
E que deixou de meter o pé,
Temos pena.
Mesmo perdendo com o Simão,
Temos pena.
Antes bem no fundo que lampião.

Vai Maria Amélia: Oh meu Porto ond'a eterna mocidade / Diz'à gente o que é ser Nobre e LEAL.

Pela chuva na moleirinha,
Temos pena.
Pela exibição pobrezinha,
Temos pena.
Pelo tamanho da pilinha,
Temos pena.
Pela hiena a rir-se sozinha,
Temos pena.
Senhor Reis, pela sua espinha,
Temos tanta pena.

Yo maibroda modafuckadocaralhiiiôôô, yo. Tass, peace e o camandrôôô.


...

Se alguém viu, como eu - a minha vida social mete pena! - o jogo de ontem dos Gueverreiros do Fonseca, estará igualmente preocupado. 

Um golo mal anulado ao poderoso Moreirense, mais um penalty inventado que o nosso Josué falhou e que teve, de bónus, a expulsão de um dos melhores jogadores dos Cónegos. E o Arouca ali tão perto, na fantástica época dos vermelhos de Braga.

De quarto só poderão passar para baixo, a Liga Europa é uma miragem, pelo que só sobram umas Taças.

Uma vez que é provável que o Orelhas não queira pagar a conta - ora,ora, deve haver uma conta - com a Taça dos Correios, penso eu de que estarão a pensar, os vermelhos em conjunto, noutra Taça qualquer. E fico com medo. E com pena também...

...

- Pedro! - O grito ribomba pelas alturas. Xiii, lá vem granizo.

- Diga, Senhor. - Esbaforido.

- Ah, sim, Pedro. Vê lá se o Nicolau soltou outra vez os bichos. Esse gajo não tem cuidado nenhum com os animais, dass.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

EXCLUSIVO: TascaTV entrevista o Presidente



Vai por aí uma rebaldaria de comentários e análises à entrevista que o Presidente deu ao Porto Canal, para ajudar as audiências. O que é meritório, porque a solidariedade fica sempre bem. Em resumo, quem estava disposto a gostar, gostou; quem já sabia que não ia gostar, não gostou. Se o homem tivesse respondido "Azul!" a todas as perguntas, o resultado era maijómenos o mesmo:

- Então o senhor acha que os árbitros estão todos comprados pelo 5LB? - Pergunta o Júlio.

- Azul!

Aí está! O Presidente a pôr os pontos nos is! Assertivamente a deixar implícito que existe um certo asco à nossa cor, por parte dos camelos que apitam os jogos.

Aí está! A prova acabada da senilidade, do amorfismo, da amiba em que se tornou o Presidente. Cabisbaixo e derrotado, quando afirma - com todas as letras - que os árbitros são tão imparciais, que até é a nossa a sua cor favorita.

Eu, que estava disposto a gostar, até gostei. E acabei com um sorriso nos lábios e tudo. Mais a frio, continuo a pensar que o mesmo discurso com a Taça de Portugal ao lado teria melhor efeito. Mas às vezes uma pessoa tem que adiantar serviço, para poder sair mais cedo e chegar ao Dragão a tempo da bola ou assim.

Por sorte, estava ainda a bateria do telemóvel - único ativo da TascaTV - carregada, quando o Presidente apareceu por aqui para dois dedos de conversa e um cálice de Porto. Bem disposto que estava, acedeu a repetir a entrevista. Mas agora Tasca style. Ou seja, a sério! Desde que não fosse para aparecer em algum blogue. Ops...

...

- Para despachar já o assunto, oh Presidente, isto das comissões e o diabo a quatro é uma grande embrulhada, hein?

- Olha a novidade! Andamos todos a pagar comissões ainda o Brasil era uma democracia. E agora é que é o aiJuses? PelamordaSanta, oh Silva. Eu bem disse ao Angelino que não merecia a pena andar a escrevinhar isso nas contas. Mas aquele tipo, livra, parece que engoliu um garfo.

- Oh, tábem. Mas sabe muito bem que a questão aqui é que mete o filho pródigo. Deixe-se de fitas.

- Kercásaber disso. O que importa é que os gajos por quem se pagam as comissões metam a chicha na capoeira do adversário. Deixam logo os Tribunais todos de ter audiência sobre quem é que recebe a percentagem de quem, paga pelo meu padrinho torto.

- Está a referir-se a um blogue? - Espantado.

- Eu não. Nem sei o que é isso. Felizmente nunca tive. Pelo menos que o meu médico tenha dado conta. De qualquer maneira, não estou nada preocupado. Tenho a cabeça mais dura que o Wolverine. Ai espera, esse é Blob. - Ri-se.

- Sim Presidente, mas isso mais o passivo... - Interrompe:

- Oh Silva, bem sei que o meu amigo é um tipo todo liberal e tal, mas eu não. Sou conservador e não vou desatar a inventar sobre o passivo e o ativo e porcarias que tais. Cada um é livre de comer do que gosta. Eu, é mais picanha. - Pisca-me o olho.

- As contas, Presidente, as contas.

- Ah, isso. Outra coisa sem interesse nenhum. Enquanto tivermos mais no bolso do que o que devemos, é-me tinto. Como este Calém. - Beberica o Porto. - Olha, nas palavras de um soberbo engenheiro, isso do passivo é para se ir pagando. Ou então não. Majolha lá, é para isto que aqui me trouxeste? Eu sei é de bola, para contas tenho lá uns amanuenses e eles tratam. Desde que não roubem...

- Tábem. E os petardos e as tarjas e o caraças? -Ele dá uma gargalhada e bate com a mão no joelho.

- Opá, foi lindo! Não é que os pascácios se enganaram na casa? Andaram a mandar o foguetório para o quintal do meu vizinho. Bem feito, que não gosto nada do gajo. Já disse à Fernanda que ela é que vai à próxima reunião de condomínio. Não estou para aturar o mal encarado: blablabla os meus canteiros, becabecabeca a relva queimada e rebéubéu pardais ao ninho. Maricas pá! Este é que deve ser o famoso passivo. - Continua a rir.

- Colinho? - Um bocado a medo, confesso.

- Shhh, cala-te, 'xóspoisar. Há coisas que têm que se fazer por outro lado.

- Então bola! Há três anos que não cheiramos nadinha.

- A culpa é do coiso!

- Ah não! Outra vez essa história?

- Do Blob, pronto. Oh Silva, que queres que te diga? Que depois de ter sido bicampeão com o Vitinho, achava que até uma foca podia ser nosso treinador? Que pensei que aquilo lá pela Catedral da Cerveja ia desmoronar-se como um castelo de cartas? Que a seguir, estava convencido que tinha encontrado o tipo ideal para fazer diferente? E que estivemos tão perto de o conseguir que apostei que era para continuar?

- Sim, por exemplo. Foi isso?

- Claro! Que não. A culpa é do Lopetegui e mai'nada. Minha também, que o contratei. Mas menos. Aliás, é dele e pronto. Ficamos assim, ok? Passa lá à frente que eu estou cá mais quatro anos, meu filho.  

- Ok. Peseiro e a Taça e o raisparta de época que nunca mais acaba.

- Ai não que não acaba. - Ajeita-se na cadeira. - Olha pá, aqui entre nós, já disse aos moribundos que se acabou o forrobodó. Ou dão à perna nos jogos que faltam e limpam a Taça sem espinhas, ou meto-os todos na cave do Paulinho Santos. Em trânsito para a liga de Madagáscar ou o caraças. Piam fininho daqui para a frente.

- A sério?

- Ai não! Oh Silva, tu biste a miséria de jogo contra o Tondela? Opá, numafodam! Uma vergonha. Buuu, buu. - Agitado.

- Mas o senhor é o Presidente...

- Quais Presidente, quais caralho! Tabáber aquilo e só me apetecia atiçar o Bobi e o Tareco ao Pesudo e aos filhasdaputa daqueles paralíticos. O Tondela! O Petit! Fuooooodassss! Mais valia porem os bês. Eu seja ceguinho se até o Josué não tinha lugar nesta equipa. Credo.

- E vamos mesmo botar os bês? E o treinador sabe?

- Para o ano, alguns, pois claro. Tenho visto os jogos dos miúdos como tu, Silva. O Chico, o André, o Rafa... E o treinador, se não sabia antes, fica a saber agora. Também, não é como se lhe fizesse muita diferença no Qatar. - Limpa os óculos, distraído.

- Errr, isso é discurso de adepto, Presidente.

- E eu sou o quê, carago? Lampião, kejber? Nananana meu menino, comigo acabou-se. Esta merda agora anda tudo na linha e é direitinhos. Até precisamos de fazer umas massas, fora comissões, por causa da treta do fairplay e o camandro. - Olha para o relógio - Jovem, eu já não tenho a tua idade e quero ir nanar. Por isso, se não te importas, vou-me pôr ao fresco. Ainda te faltava muita coisa?

- O património...

- Sim, sim, vou construir um Estádio. E um Pavilhão a mielas com o Bruninho, lol.

- Disse lol?

- É. Tinha aqui escrito no caderninho. - Sorri sarcástico. - É o Centro de Formação. Agora meti esta na tola e até estar feito não descanso. Falta muito?

- Bem, nem por isso. Era a questão do respeito por quem já tanto ganhou... - Interrompe:

- E quem é o tipo? Eu?! Opá, 'toumacagar para isso! Quero é vir aqui beber uns canecos contigo, a comemorar o que vamos ganhar a seguir. O resto está bem no Museu e eu gosto de visitar. Mas se não tratarmos de o encher, não passa daquilo. E podes fechar a boca, qual é o espanto? - Levanto-me e abraço-o. Ele dá-me duas palmadinhas nas costas e empurra-me - Deslarga-me pá. Já te disse que não aprecio gajos de barbas. 

Levanta-se, bate o cálice no balcão e dirige-se para a porta. Antes de sair, grita-me:

- Olha, diz aí que gosto muito do xôringinheiro do Penta e do Ronaldo e do Moutinho. O resto é uns pernas de pau, tirando o Danilo. E se por acaso correr bem, o último a ter mérito é o Nandinho. Vendido dum cabrão! 


...

A culpa deste disparate é do michael! Seu...seu...Lopetegui! :) Foi por lhe ter "dito" que o Presidente não podia sentar-se com cada adepto e ter uma conversinha franca, que me deu para isto. Qualquer coisinha, já sabem, é insultar o michael. Incha.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Luta na lama, tarjas e petardos.

Gamada do Porta 19 que a tinha gamado ao Universal. Ladrão que rouba ladrão...

Diz então que, a pedido de várias famílias - penso eu de que, o Presidente vai embarcar em mais uma entrevista no Porto Canal. Logo à noite.

Eu cá acho que é uma bela oportunidade para dar disparate, mas já se sabe que eu sou parvo. Ao contrário da maior parte da malta, gostava que estivéssemos caladitos até maio. Até fiz um post sobre isso e tudo.

Se isto fosse na Tasca TV, ainda tinha a sua graça. Para já porque tinha um pre-show espetacular. Com luta na lama entre a Ana Malhoa e a Dolly. Uma delas (hey, Jorge). Embalsamada por embalsamada, não faz diferença qual seja. 

Depois, a entrevista era conduzida por um painel composto pelo senhor Serpa, V.; e o senhor Delgado, J.; e o senhor Ribeiro, O.; e moderada pelo senhor Pinto, P. Ou então pelo Batatinha. O que estivesse disponível. 

No fim, entrava o Soares, filho, disfarçado de Batman e ajustava contas com os perdedores. Logo de seguida, iniciava-se o post-show, preenchido com comentários acerca do conteúdo da entrevista. A cargo do senhor Baía, V.; do senhor Capitão, R.; do senhor Gomes da, R.; e do senhor Guerra, P.

Isto é que havia de ser recorde de audiência. A quantidade de bloggers afetos ao FCP que iam adorar, ui...

Depois embrulhava-se tudo num Porto de Honra, com tarjas à descrição e fogo de artificio e petardos e assim.

Mas desenganem-se, não se vai passar nada disto. Vai-se a ver, até é uma coisa com sumo, o que é péssimo para televisão. 

A única utilidade que vejo nisto, é se o Presidente vier esclarecer a pessegada das comissões; assumir que temos tido uma época desastrosa e errática; que isso vai mudar depressa e muito; desancar os colinhos, os jantares, os Octávios e os Bruninhos, os Pereiras e os Fontelas; relevar o que de bom vai acontecendo nas modalidades; e berrar bem alto que até maio ninguém abre a boca sobre o futuro do futebol.

Se quiser mesmo, mesmo, mesmo mostrar que os tem não apenas no sítio, mas que continuam feitos de ferro, então pode sempre acabar com a treta da "lista única". Argumento tão falaciosamente usado por uma caterfa de gente pouco honesta no seu intelecto. Basta anunciar que se a maioria dos votos for nula, ele renuncia. 

Pimbas! Assim mesmo. E pronto, peguem lá a vossa bela alternativa. Ficaria nas mãos dos sócios. E eu aposto que sei qual seria o resultado.

Isto era o que eu gostaria que acontecesse. Mas cheira-me que não se vai passar nada disto. Por isso, preciso da vossa ajuda:

O que acham que vai acontecer logo à noite? E o que gostariam que fosse mesmo dito? Será que serão uma e a mesma coisa?

A cena da luta na lama foi mais para chamar a vossa atenção, sorry.

...

Soundtrack to Mr. President: The only time you're gonna be easy is when... 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

25 de maio, sempre!



Ai abril em Portugal, ai, ai. Para cada pólen que me enche as manhãs de espirros, um cravo. Para cada compatriota que escarra no passeio, precedendo - ou logo após - uma vigorosa coçadela no respetivo tomatal, um baladeiro de intervenção. Brotam neste mês: Os cravos, os baladeiros, os bigodes à Acácio Barreiros - descanse em paz - os vídeos da Ana Malhoa. As Revoluções.

E por fim, parece o País estar a cumprir o desígnio de abril. Do verdadeiro e original, quando abril ainda era Abril; e expetativa tinha um cê; e a Islândia era um exemplo; e Lula da Silva a prova viva de que pela esquerda é que se circula. 

Pfff, querem um metalúrgico em condições? Ponham ojolhos no Jerónimo. Muito mais se for em abril. A Catarina não é dada a trabalhos braçais - embora se desconheçam as suas capacidades no campo dos trabalhos manuais - mas é muito mais bonita, ainda que feiosinha, que qualquer Jerónimo; e o António é um rapaz mais atreito ao intelecto, à reflexão, à negociação, à conspiração política e distribuição de cargos. E à chamuça. Digamos que cada um por si não chegam para ganhar umas eleições, mas juntos podiam governar um País. Pequenito. E governam. Em abril.

Papoilas saltitam em verdes prados, em acesa bulha com os seus felinos vizinhos. Eusébios e Peyroteos aos molhos, a populaça de ouvido colado ao transistor. O Estado na tribuna do Estádio, o Povo em tranquila contemplação, anuindo, estômago ainda colado às costas, mas orgulhoso. E pobre. E fadista. Anelante da promessa de festa nas rotundas do seu contentamento. Sente-se no ar a expetativa, já sem cê. Em abril. 

E a Norte reclamam-se novos Deuses, enterram-se - ainda vivos - os antigos e anunciam-se cantantes amanhãs. Olhando atento, parece que não passou tempo nenhum. E é mesmo aqui que a Tasca estaca e faz stop!

- Também, não estou a ver como é que estacava sem fazer stop. Olha que disparate. - E cofia o seu farto e bem cuidado bigode.

- E se metesses a estaca pelo... - Interrompe, de braços no ar:

- Stop!

...

O FCP de Fonseca ganhou a Supertaça do FCP de Vitor Pereira. O FCP de Lopetegui não ganhou a ponta de um corno. O FCP de Peseiro disputa no dia 22 de maio, em Oeiras - crê-se que ante um Presidente da República afeto ao adversário e, porventura, um Primeiro-Ministro afeto ao inimigo - a final da Taça de Portugal em futebol.

Naturalmente que, tendo em conta os clubes em causa, a grande festa do futebol Português será a final da Taça da Liga. Ainda assim, em maio joga-se o jogo em que o FCP ainda pode ganhar qualquer coisa. Insignificante que seja. Eu, por exemplo, sou dos que, gostando de a ganhar, não ligam grande coisa a isto da Taça.

Mas se vais voltar sozinho para casa e há seis meses que o que fazes a seguir a um orgasmo é desligar o computador e ir lavar as mãos, então é provável que aquilo não seja acne, nem obesidade mórbida, nem fundos de garrafa nojolhos. Mais dois absintos. É bastante possível que o cérebro dela seja absolutamente sexy. Só tens que arranjar maneira de lhe sacar ojóculos. Por segurança. Mais dois absintos. Em alternativa, o amigo dela, de determinado ângulo, - mais um absinto - até parece muito feminino. Tratemos de ganhar a Taça!

Pelo meio da tarde, a língua empastelada, as ramelas coladas às vistas, terás tempo para perceber que não foi assim nada de especial. Ela percebeu antes, pelo teu fraco e absintíniano desempenho. Despedem-se incomodados. Até nunca mais. Ou até voltarem a ser uma adição engraçada numa farra de contornos Romanos. Kinky. Seja como for, a Taça já aí cantará.

- Tudo errado, Xilva!

- Hã?

- Poij claro! Primeiro lavam-xe ajmãoj! Xenão é uma nocheira para dexligar o computador.

...

E assim se proclama o adiamento de qualquer Revolução para maio! Um mês. Não é como se fizesse grande diferença. O Convento do Carmo permanecerá em ruínas, o quartel continuará lá e as chaimites não se vão avariar. Fica para dia 25. De maio. Um dia para jogar, mais um para festejo, outro para cantar Grândola e Depois do Adeus e assim.

Até lá, na Tasca, o Zé é o melhor treinador do Mundo, os nossos são os melhores e mais garbosos e dedicados e bonitos jogadores do Universo. Incluindo o Hector. E o Presidente não diz ao que vem para os próximos quatro anos. 

Porque antes de maio, é cedo. Há uma Taça para ganhar. Com estes!

...

Brotam em abril: besitos! (Ou pensavam que era eu a inventar? Nanana, passam por isto comigo! Em solidariedade.)