terça-feira, 8 de julho de 2014

A inegável importância de Sonkaya.



- Cá está ele! É este! O grande Sonkaya! - aponto entusiasmado para a pequena foto no ecrã. O puto abandonou o avô na mesa dos velhos e ocupou o seu, por uso capião, banco ao balcão. Eu satisfeito por poder cumprir a promessa de lhe apresentar o turco, ele intrigado com a figura.

- Pois, não conheço, não. A camisola era gira...

- Claro que não conheces. O pior jogador de futebol da História, tenho quase a certeza. - Exagero. É uma hipérbole costumeira, da casa, sinto-a como se fosse uma cadeira, ou um aparador, enfim, mobília da minha mente. De tanto dizer isto, consigo já que uma parte de mim aceite o postulado como verdadeiro. 

- Se era assim tão mau, porque o fomos buscar? 

- Aprende miúdo, quando não temos um Sonkaya, corre mal.  Todos os grupos devem ter o seu Sonkaya. Ele é aquele que faz os outros acreditarem: se este tipo consegue jogar no FCP, eu consigo também. E então dão 200%, comem a relva mesmo. Repara puto, é como se fosse um rapaz muito, muito feio que namorasse com a miúda mais gira da escola. Se ele pode, porque é que tu não poderias namorar com quem quisesses? - Sorrio-lhe. E agora já não me importa que o meu interlocutor seja um rapazinho de 10 anos, já não tenho como parar:

- O Sonkaya faz bem à auto-estima do resto do grupo, em vários sentidos. É o patinho feio, de quem toda a gente quer tomar conta e apoiar. Por isso fortalece o espírito de corpo, a união. Mas não pode ficar por muito tempo. É preciso renovar amiúde os Sonkayas. Senão ele acaba por se acomodar à condescendência e deixa de se esforçar. E os outros entregam-se à complacência e acabam por se aborrecer dele. É por isso que não podemos ter o mesmo Sonkaya para sempre, infelizmente. - Noto o vazio nos olhos dele. Não percebeu patavina. É um puto de 10 anos, pela Santinha, tenho que controlar a verborreia, definitivamente. Desculpo-me:

- Pois, não é lá muito interessante. Mas ok, é este o Sonkaya, o verdadeiro. E ainda não descobri quem será o deste ano. Sem um, estamos tramados pa! E hoje tens cá o avô hein? Que bom... - Desviar o assunto, passar depressa ao trivial.

- É. Veio tomar conta de mim. Ele e a avó. Dormem cá hoje.

- Ah.

- A mãe vai sair. Parece que vai jantar com um Sonkaya... 

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