quarta-feira, 29 de abril de 2015

Aberto para balanço II - Fado, Futebol e Família


Eu não sou uma besta quadrada. Portanto, é evidente que as duas figuras retratadas acima são, por aqui, reconhecidas como vultos importantes do Lusitanismo e símbolos transversais do orgulho nacional (que não Nacionalista, credo!). Sendo que um era Moçambicano, o que nos levaria a discutir uma série de coisas. Fica para um dia destes, ok? Ponto prévio arrumado.

...

II

Há uma profusão de sítios onde podem consultar as estatísticas referentes a títulos conquistados antes e depois de abril de 1974. Não tenho o número de cor, só sei, como vocês, que antes o 5LB ganhava bastante e depois o FCP ganhou quase tudo. Todos os regimes ditatoriais têm o seu clube, nas nações onde o desporto, seja qual for, é importante. Não faço ideia se no Myanmar existe um clube oficial de luta de galos, ou assim, mas percebem a ideia. Se ele não existe, se não parte do pulsar da populaça oprimida, pois cria-se. Os exemplos são vários. Em Portugal não foi necessário fazê-lo, bastou tomar para o Estado Novo o clube que, de facto, congregava, no desporto mais representativo (vá lá, o único!), a paixão da maior parte da população. Isto não é uma história da carochinha, é politica bem feita. Veja-se a rábula da contratação do melhor jogador de futebol nascido em solo Português (Moçambique. Mas então...Ah, não é agora que tratamos isso, ok!). Supostamente destinado aos Calimeros (à época creio que menos...), acabaria encarnado. Note-se: o estandarte do orgulho lusitano, nascido no Ultramar, preto, a pedir meças pelo título de "Melhor do Mundo". O exemplar perfeito para a propaganda do regime. Ah, die Paradise! Pensaria Goebbels. Ah, já direitinho para Carnide, pensou alguém que percebia da poda.

As referências do parágrafo anterior não são inocentes, está claro. Nenhuma delas. Da estrutura centralizada e centralista, inevitável e bastante aconselhável numa ditadura, guardamos a fantástica máquina corporativa do Estado e a concentração dos centros de decisão, e de negócio, na capital do Império. São apenas factos, sem nenhum juízo de valor...para já. A estes, acrescem outros: há mais benfiquistas que malta em condições. É pois natural que a maior parte dos cargos, dos lugares, dos jornalistas, dos comentadores, enfim, de tudo!, seja...do 5LB.

Perante tudo isto, não posso, em boa verdade, considerar que o que se passou na comunicação social esta época, tenha sido substancialmente diferente do que aconteceu antes. Este ano tiveram o lastro de serem campeões e se abalançarem, de novo, a um bicampeonato fujão. E mais o magnifico motivo de termos um treinador aparentemente importante para a estrutura, ainda por cima espanhol, ainda por cima pouco dado à submissão. Por outro lado, estamos em ano de muitas e importantes eleições. Candidatos a perfilarem-se, algumas vitórias anunciadas, como o milhafre. E vimos de anos de crise profunda. Nada melhor que a paz proporcionada por um Marquês em festa. A todos? Não, mas à maior parte. Eleições ganham-se por maioria, não unanimidade. Se dura até outubro, isso são outros duzentos. Para já, mais taxa municipal perdoada, menos camisola oferecida na varanda camarária, a coisa vai bem. Mais ainda porque, a Norte, a conversa do regionalismo e da luta e do Povo Mais Forte se fica pelas bancadas do Dragão. Não vai mais longe que isso. O autarca da não promiscua relação entre futebol e poder vai, em pezinhos de lã, fazendo o seu caminho para Sul. O novo autarca, portista ferrenho antes, desapareceu da vista e deixou os seus ataques anti-centralismo acéfalo para outras núpcias. Nada de novo a Oeste. Os que forem cuspidos pela máquina ou a ela não se adaptarem, - é que se come bastante pior em Lisboa, garanto-vos - voltarão.

Vamos então falar dos árbitros? De todo! Eu vi, vocês viram, eles sabem. Isso muda alguma coisa? Muda tanto como o belo argumento do "aaaaah, mas quando aconteceu para vocês já gostaste". Para além de ser a assumpção perfeita de que a roubalheira lá esteve, não fui eu que vi mal, é uma afirmação que carece de um ponto de interrogação. Deveria ser "...já gostaste?". Ao que o tasqueiro responderia sem hesitar: "não faço ideia, porque nunca tive disto para o meu lado!". Mas não nos façamos de parvos. Já fomos beneficiados? É muitíssimo provável. Desta maneira? É pouquíssimo provável. É que nem eu, e se alguém poderia seria mesmo eu!, conseguiria ignorar uma coisa desta dimensão. Vale para quê? Nada! Quem ganhar, terá ganho. Ponto final. Isto é apenas fado! 

Muitos, quase todos, dos meus, clamam há muito por uma intervenção decidida da direção do FCP - da SAD? - contra este estado de coisas. Eu creio que há uma diferença entre decidida e decisiva que nem uns, adeptos clamantes, nem outros, direção silenciosa, perceberam ainda. Será outro tomo (ora viva Miguel :)).

Mas fado por fado, cantemo-lo até ao fim: Capela em Barcelos. E uma curiosidade: o Estado Novo durou 41 anos. Exatamente o aniversário que celebrámos no passado dia 25, em liberdade. Merecia uma festa hein? Fado.

Do futebol tratamos com bastante rapidez. O FCP jogou o melhor que por cá se viu este ano. É bastante possível que isso não seja suficiente para ser campeão. Como é bom de ver, segui, de alguma maneira, todos os jogos do FCP. Vi-nos ser piores que o adversário, e sublinho para os curtos de vistas que condensam noventa e cinco minutos num erro: P-I-O-R-E-S!, em duas partes de dois jogos distintos. A primeira no Dragão contra o Bayern - sacrilégio? no lo creo - e a primeira em Munique, naturalmente. De resto, nunca inferiores. E estou pronto, ah pois claro, para argumentar com o Manuel José, com o Jaime Pacheco, com o Vitinho, com quem for. Mas o que gostava mesmo era de o poder fazer com o Carlinhos, o Gordobern, o Anão Gomes da Silva e afins. Oh well, i wish... É futebol.

Uma palavra para a família. A mais chegada, as claques, nem sempre é a que gosta mais ou a que ajuda mais efetivamente. Mas este ano comportaram-se lindamente. Apesar de me fazer urticária celebrar derrotas, devo inclinar-me respeitosamente perante o que julgo ter sido o objetivo das despedidas e receções mais recentes: empurrar, segurar, empurrar de novo. Perfeito! E não, isso não é agradecer nenhuma derrota, nem ficar satisfeito com pouco. 

A mais alargada vai-se dividindo e todos tomam partido. Dos que estão contra, porque sim!, desde o inicio; aos que estão a favor, porque sim!, desde o inicio; passando pelos que eram céticos e se converteram; até aos que vão variando, conforme a coisa está mais para festas ou para enormes melões. É uma família, não podia ser diferente. Esperamos, creio honestamente que TODOS, voltar a encontrar-nos na festa, redimirmos as agruras das nossas vidas e das nossas distâncias em abraços fraternos, festivos. Em breve, na Alameda, combinado?

...

Porque não consigo escrever a palavra família sem derivar para a verdadeira, devo dizer que tenho a sorte - há coisas que não se percebem! - de dividir a Vida com uma benfiquista (cá em casa não há lampiões!!) da pior espécie. E a pior espécie é aquela que não deixa de assinalar, de sorrisinho condescendente, as suas vitórias e as nossas derrotas; e ao mesmo tempo, está-se perfeitamente a marimbar para as nossas vitórias e as suas derrotas. É de um gajo se atirar da ponte D. Luis! Se alguém souber de um grupo de apoio para pessoas que padecem desta condição, eu quero inscrever-me.

- Olha, sabes que mais, tu padece é que tens um gandamelão. Ou seis...
- Deixa estar, havemos de conversar. E é já para o ano. Se não for ainda neste...
- Oh, quero lá saber...

E não quer. Mesmo. Ca nervos! 
  

10 comentários:


  1. é mais uma super. obrigado.

    e sou eu que mando na 'jukebox', agora.
    para começar, 'los piedras rolantes', e "(i can't get no) satisfaction".
    para criar ambiente, enquanto se (des)espera pela próxima prosa.

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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    1. Cerveja, ok. Já a música... só se for nesta versão. Pode? ;)
      https://www.youtube.com/watch?v=yXPu8q2tXCo
      \m/
      abraço

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  2. Pode ser que a água benta da capela não chegue!
    É a fé que nos salva...

    Uma Super geladinha...
    Melhor duas, porque ainda não tirei da cabeça o "grito de revolta à Quaresma"!

    Abraço

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    1. Sai uma Girafa pa mesa do Carrela. Vai-se a ver, o Cerejeira era Dragão e ninguém sabia :)
      Abraço.

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  3. Acid Drinkers??? Não admira que depois o pessoal fique com azia, isso faz terrivelmente mal ao estômago. Toma um Gaviscon, ou então seis... ;)
    Bahahahahahah! I'm so funny, I kill me!

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    1. E pronto, é isto a minha vida! And i like it :p
      Só para avisar que vou oferecer YET ANOTHER vuvuzela à mais nova.
      Puuuuuuooooooooortoooo!

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  4. seis. sempre o seis. sempre a porra do seis [f*ckin' six].
    e como estamos numa onda de musicalidades, e de metal [\m/], lembrei-me deste clássico aqui.

    ps:
    como inserir linguagem html em comentários aqui.
    nota:
    1) nem todas as tag's são aplicáveis a comentários; regista sobretudo as das grelas "Text formatting tags" e "External link tags" - esta última é para colocares links/hiperligação.
    2) podes incluir mais do que uma tag; por exemplo: tag de negrito antes da hiperligação/link, para sobressair esta última
    3) experimenta as tags na tua caixa de comentários sem medo de errar, pois podes sempre anular os teus comentários :D
    4) depois de estar tudo certinho, cria um ficheiro de texto no teu ambiente de trabalho com exemplos de tags mais frequentes e/ou que queiras utilizar mais. sempre que comentares depois deste passo só tens que fazer 'copy/paste' alterando o que tiver que ser alterado

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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    1. AHA, já vens tarde, está no post "Os números da Besta" :) Mas o bom gosto prevalece. Up the Irons!
      Obrigado pela "aula", vou estudar isso e desatar a deixar links em todo o lado :)
      Abraço.

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  5. Vai um copinho de Barca Velha com o caro Silva por partilhares da mesma dor caseira que eu. Tem que ser um Porto caro como elas. Não sei como as benfas têm sempre de ser tão boas carago!

    Abraço

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    1. É uma questão de justiça Jorge: de alguma maneira teriam que compensar a cambada de camafeus que são OS benfas. Gentinha feia, credo! ;)
      Deixa lá ver se encontro o Barca Velha, está escondido por aí, algures...
      Abraço

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