quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Nomes - 19.08 D.D. ou o Infindável Fim da Eternidade




O Verão transpira das paredes. Gosto de imaginá-las caiadas. Como sempre, sobramos poucos. Entretenho-me a fazer molhos de folhas soltas na mesa do velho.

- Também tem números. Pensei que eram sempre letras.

- É raro. Deixe lá ver. Sim, essa tem. Ponha neste monte.

" Nomes - 19.08 D.D.

No som de fundo da tarde - é provável que esteja calor - a TV anuncia a estreia do supostamente Último Dia de Verão de Phineas e Ferb. Tremo. Como se uma gigantesca marreta se arremessasse contra as fundações de mim. Este é o Verão Eterno, as Férias Intermináveis. O que perdura. Como a tua memória?

De novo obrigado a parar perante este eu, desenlaço os pedaços de Ti que me restam: A foto na carteira, porque não me quero esquecer daquele teu rosto; as palavras, distribuídas pelas famílias, que já ganharam outras vozes e se deixaram, por vezes, apropriar por outras pessoas; alguns traços de carater que teimo em acarinhar, porque gosto de os ver como uma linha direta a ti. Mesmo que não concorde assim tanto com os rumos de ação que indicam. Oh, está bem, é verdade: Alguns traços de carater que teimo em fingir que são meus, mesmo que depois a prática demonstre que não. Só porque te trazem de rompante ao topo da memoria; o cheiro de um perfume do qual não guardo já o nome, mas que se cruza comigo na rua de tempos a tempos; o comprimento das tuas unhas, as mãos inteiras, embora não consiga mais reproduzir a sensação do teu toque; a voz escapa-me. Em momentos muito fugidios oiço-te distintamente em frases curtas ou farrapos de uma canção de ninar. Ô nha mãe. Ninániná.

O que eu me prometi, e a Ti, se bem te recordas, é que permanecerias intacta. Que através de mim seria possível reviver-Te. E creio que falhei. Estaria condenado ao fracasso de qualquer maneira, a menos que me morresse muito depressa. O tempo passa inexorável e destrói-nos nos outros. Esforço-me - agora mesmo - por recordar as coisas de Ti de que não gostava. Porque é certo que as haveria. E não consigo. A que és hoje é toda ternura e perfeição. Isso não és Tu inteira, pelo que te devo uma desculpa: Perdoa, já não te posso viver completa.

Agora apertam as saudades de tudo o que não recordo. Dos negrumes que preencheriam os espaços vazios. Pudesse eu não ter tornado todos os momentos de Ti numa festa, numa lição, num rumorejo de sabedoria intemporal. Quisera eu escapar aos dias marcados, às Aleluias da invocação das Tuas datas. Se te garantir que em todos os instantes me és presente, minto-te. E se te jurar que nem sempre Te lembro, minto-te de novo. Só não sei se aquela de ti que me habita és ainda Tu ou já uma construção com marca de autor. Este teu criado.

Como o Verão do Phineas, também Tu és parte das coisas Eternas. Que se acabam reconstruindo-se. Tornando Interminável o momento do seu Fim.

Detenho-me assim naquele Agosto que não experimentaste, mas que será para sempre teu. Porque Agosto é nosso, Eternamente."


10 comentários:

  1. 104 diaas que fazemasFérias
    E a escola acaba com elaaaas
    Mas o grandeproblema que todos vivemos
    É saber como aproveitaaaa-laaas
    (Nós va mos:)
    Andar peloespaço
    Lutar cuma múmia
    A torre Eiffel vais escalaaaar
    Achar umacoisa que não existaaa
    Ou pôr um macaco a brilhaar (4acordesdeguitarraoultimorepetidonotempodamúsica)
    Surfar numarremoto
    Criaraerobots
    O Frankansteindissecaaar
    Encontrar umGodot
    Pintar umcontinente
    Ou pôr a irmã agritar (Phineaaaaas)
    Tá bomdever hátantafazer
    A escola está a começaaar
    Fiquem aí porque o Phineas e o Ferb tudo vão experimentaaaar
    Fiquem aí porque o Phineas e o Ferb tudo vão experimentar (slide de guitarra)
    (Mãe o Phineas e o Ferb cantaram a canção de abertura) (outro slide de guitarra)

    Desafio qualquer pai com filhas nesta idade a dizer que não sabe esta letra de cor e a ser sincero e assumir que já viu muitos episódios disto com um sorriso.

    MaldiçãoPerryoornitorrincaaaaaa!

    Abraço Azul e Branco,

    Jorge Vassalo | Porto Universal

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    1. Sozinho! Vejo episódios soziinho, quando a pre-adolescência ataca a mais nova. E repetidos. :) O austríaco é o melhor vilão de todos os tempos, de longe!
      Abraco

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  2. Agora a sério, que belo pensamento. Quisera eu ter assim memórias. Guarda esse tesouro sempre. A melhor marca do Amor é aquele que dedicas aos teus e do qual já tive o prazer de ser testemunha.

    Forte Abraço

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  3. diria RIP, mas podias interpretar como Rest in Phineas. not yet.

    abraço,
    Jorge

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    1. Not yet, not ever?! :) quer dizer, não tenho planos...
      Abraço

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  4. ainda estou na fase "faísca mcqueen" ;)
    (e puseste o quizomba "ó Mari-a, ó Mari-a, nina-ná" na minha carola :D)

    abr@ço forte
    Miguel | Tomo III

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    1. Vai dando já no Phineas, para adiantares serviço.
      E aquilo num é kizomba, é funanaaaa :)
      Abraço.

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  5. Um forte e sentido abraço de um desconhecido

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    1. Obrigado meu caro. O que têm de bom os duas marcados é mesmo isso: os abraços. E um ou outro cachaço, vá. :)

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