quarta-feira, 23 de março de 2016

Tabela de Unidades de Medida do Tempo

A maneira como se conta o tempo parece um detalhe, mas importa de caraças. Se contarmos segundos, qualquer coisa demora uma eternidade. Fazer uma tosta mística na Tasca, por exemplo, é coisa para demorar uns 420 segundos. Se fosse em anos, era um instante praticamente imperceptível. Uma tosta instantânea.

Do mesmo modo, não é negligenciável o momento em que começamos a contar o tempo. 


Imaginemos que o jovem púbere está a ponto de conhecer o interior das coxas da moça mais boa da escola. Da escola do irmão mais velho, para ser ainda melhor. Se começou a contar o tempo no momento em que a viu, de verdade, com ojolhos do coração, pela primeira vez - aquele fim de tarde em que ela lhe disse: és mesmo engraçado puto. E procedeu a despenteá-lo alegremente. - então estará praticamente morto e não lhe parecerá humanamente fazível esta coisa de lhe deslizar as calças de ganga pelas pernas perfeitas.

Se iniciou a contagem apenas a partir da cabeça leve da quinta cerveja, sétima dela, a coisa ter-se-á desenrolado à velocidade da luz. E ele, maduro e compenetrado, tentará ser tão perfeito quanto os seus parcos conhecimentos da matéria - quase todos teóricos - lhe permitirem. 

Burro. Devia apenas continuar a ser ingénuo e inocente e engraçado. Pronto a ser ensinado. Erra-se menos enquanto se aprende, do que quando se faz de conta que se sabe.

A que propósito vem isto? Nada, sou só eu a fazer tempo.

...

Mas se também não têm nada para fazer, indulge me. Fazconta que é 1437.

É um ano em que seguramente aconteceram muitas coisas. Tendo em conta que Portugal foi das primeiras nações a abolir a escravatura - ah ironia - e isso só aconteceu em 1761, podemos mesmo afirmar que foi um ano de muito trabalho. Pelo menos para alguns.

Do ano da Graça de 1437, registe-se a expedição liderada pelo Infante D. Henrique, com vista à conquista de Tânger. Fracassada. E que ainda nos custou um Príncipe, salvo erro.

Felizmente, já o Vasco ia a mais de meio caminho da Índia. E em menos de um fósforo, dependendo da unidade de medida do tempo, ganhámos pelo engenho mais do que o que não conquistáramos pelas armas - que as tínhamos, nada de confusões. Incha Tânger.

Em 1437 não havia Facebook, nem Twitter, nem Instagram, nem aquela coisa que apaga nudes logo que alguém as vê. E faz print screen.

Para terem uma ideia, se alguém desatasse à espadeirada no porto de - digamos - Antuérpia, só cá se saberia umas semanas depois. Não pensem que vinha o Rei para a rua dizer que pois claro e tal, solidários. Ainda menos enfiavam pelos casebres das pessoas o Nuno Rogeiro, a explicar o sucedido. Com aquele ar de quem sabia perfeitamente que ia acontecer. E não avisou ninguém. O porco!

Se calhava terem espadeirado algum dos nossos que Realmente - capital intended - importasse, pegávamos no Infante e íamos até Fez ou Ceuta - que sempre fica maijámão e dá para trazer umas peles - e espadeirávamos de volta e de raiva e de vingança. O que nos aliviaria e nos garantiria mais umas quantas espadeiradas de retaliação do lado infiel. Oxalá sejam em Antuérpia, que é longe e não prejudica o trânsito no Terreiro do Paço. 

Como era enorme o Mundo em 1437.

A que propósito há-de ser isto? Sou só eu que tenho tempo a sobrar. E conto-o de uma maneira aborrecida.

...

Há de facto alturas em que muito se aprende e se ganha com a superficialidade. Ou se calhar é só naturalidade.

A Katy botou uma bandeira da Bélgica na foto de perfil do FB. Twittou que se fartou, sempre com a ashtag #jesuisbatatafrita. Enquanto postava fotos do novo namorado em tronco nu, para inveja das amigas - e dois amigos insuspeitos - um pensamento do Dalai Lama sobre margaridas que crescem no sopé do Everest, quatro selfies - uma do decote com #mybodymycall e #kimprapresidente - e duas fotos e meia de gatos a interagirem com pepinos.

A Katy está pronta para a luta. A menos que os seus líderes a desmoralizem e a derrotem, eles próprios, ela será o soldado exemplar. A Katy não se deixou ficar, enfiou-lhes os gatinhos fofinhos pelas ventas acima, enrabou-os com o seu magnífico e fresco decote em V. De vitória! Retumbante. 

A bandeira foi há tantos minutos atrás. Porque raio haveria a Katy de ainda estar presa a esse passado distante? Porra, o namorado está meio despido no snapchat! Alô Mundo?! Dormimos?! Estamos em 1437?

Ela acaba de me explicar e deixa rebentar um balão de pastilha elástica de morango sobre os lábios de gloss. Amorangados na aparência. O namorado saberá do sabor. E dois amigos insuspeitos consolam-se na sua inveja. Mutuamente. 

Curvo-me perante a evidência. A uma distância segura de determinados amigos da Katy, sabe-se lá. 

Na reverência a ela, homenagem a todas e todos os e as Katys. Superficiais ou profundas, sem querer ou por força da vontade, conscientes ou só porque sim. Todos. Por me fazerem acreditar que não seremos derrotados. Porque não queremos. Nem deixamos.

E sei agora que quase me venceram. Porque gastei o tempo que desfiava, com isto. Em vez de bola, por exemplo. Ah não, not me!

...

Ora biba xôr Bitor. Deixe-me fazer-lhe um rápido e divertido quizz. Tudo respostas abertas. Nem poderia ser de outra forma para alguém tão eloquente.  Vamos lá:

A) O que acha do facto de os diretores dos jornais A Bola e Record terem sido convidados para a Gala dos Dragões de Ouro?

B) Na sua opinião, deveriam ter sido igualmente convidados os responsáveis do CM e CMTV?

C) Defina lá Portismo, se não for incómodo.

D) Onde foi o xôr Bitor feliz? E que lhe fizeram para tanto amargar?

Ora, claro que posso esperar que acabe o programa e saia das instalações. Não quero arranjar-lhe chatices com a entidade patronal. Deus me livre.

Já agora, sabe dizer-me de cor o nosso plantel da época 1437/38? Acho que era o Rodolfo capitão, como sempre. Desde sempre.

...

- Oh Pedro, vê aí nos calhamaços o que é que houve de especial em 1437, ohfaxabor.

- Já não usamos calhamaços, Senhor. Há umas décadas que tratámos da informatização...

- Kerkásaber disso, jovem! Despacha-te, anda.

- Qual é o ano, Senhor?

- 1437.

- De qual calendário?

- Aaaaahhh, 'tou a ver a ideia...

14 comentários:

  1. Ai ai, a Katy... gosto tanto... :)

    Abraçom

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  2. :)
    Sim, puseste-me com um sorriso genuíno nos lábios, esta manhã. E olha que não era tarefa fácil.
    Luv u.

    P.S. If I may, desculpa pela vida, amor.

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    1. É o que dá andares metida com um palhacito :)
      E não, you may not!!!
      PS. se bem que...assim de repente, estou a lembrar-me de uma série de maneiras de me compensares ;)

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  3. Acaba um gajo de sair da obra, calças tintadas e a escorregar pela cintura, a fumar um com a mão direita e a coçar tudo com a esquerda, entra na tasca para mamar o merecido favaíto e... é só amor. Está mal (not) :-)

    Quanto ao assunto principal, creio que é mais uma questão de lava-jato da consciência. É que no nosso 1437 só se sabia das tragédias lá do burgo. Não fosse uma peste ou uma invasão, e raramente marchavam mais de 10 ao mesmo tempo. Coisa digerível.

    Neste 1437 morre muitamais gente por segundo. Pelo menos que nós (todos) saibamos. E custa um bocadinho mais a digerir. A mim, a si, à Katy e a quem mais tiver meio dedo de testa. "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus".

    Sintra, 13 Jumada t-Tania 1437 (yawm al-'arb`a')

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    1. Ora, você é que chegou mesmo à hora da novela!
      De resto, de acordo. É a ironia do autocorrect (foi?) ter lá posto uma Tânia, é uma delícia :) E se quiséssemos ser preconceituosos, falaríamos de diferentes estados de desenvolvimento civilizacional? Ou seria puro etnocentrismo? Oh well...

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    2. Creio que não se trata de preconceito, é objectivo que existem diferentes estados de desenvolvimento entre as várias "civilizações" e até dentro de cada uma delas (veja nós e os dinamarqueses, por exemplo).

      E a Tania sem acento acho que é mesmo assim, faz parte da designação do "mês" deles. Tanto quanto uma busca rápida garante, anyway.

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    3. Pensei que era thani. Mas é mais bonito tania. É verdade o que diz. Mas não podemos esquecer que a maior parte das vítimas do terrorismo islamita são...muçulmanos.

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  4. Thani é outro (decorre entre jan e fev). Mais uma vez, baseado nos filhos do google...

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  5. "
    Time is never time at all
    You can never ever leave without leaving a piece of youth
    And our lives are forever changed
    We will never be the same
    The more you change the less you feel
    "
    disse a Katy para o jovem púbere, enquanto puxava os jeans para cima...

    "
    Ticking away the moments that make up a dull day
    Fritter and waste the hours in an off-hand way
    Kicking around on a piece of ground in your home town
    Waiting for someone or something to show you the way.
    "
    disse o Pedro ao xôr Bítor, quando este (in)tentava explicar o que poderá ser o Portismo - sentimento único que, como se sabe, não se explica por meras palavras, antes deve-se praticar diariamente. um pouco como fazer uma boa acção por dia está para o Escutismo...

    abr@ço forte e votos de uma Feliz Páscoa para ti e para os teus
    Miguel | Tomo III

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    1. Ah grande Miguel!
      Anda pelas ruas da amargura o escutismo...
      Boa Páscoa. Abraço.

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  6. Creio que neste momento há demasiados portistas que medem o tempo de 3 anos em 3 séculos e o ano de 1437 (MCDXXXVII, na numeração romana) foi um ano comum do século XV do Calendário Juliano, da Era de Cristo, e a sua letra dominical foi F (52 semanas), teve início a uma terça-feira e terminou também a uma terça-feira.
    Creio bem que foi o ano em que o Baía se transferiu para o Ceuta, perdão o Barcelona e depois começou a dar entrevistas pagas há CMTV...
    Mas o raio do tempo viaja á velocidade da luz que se fundir uma lâmpada, só o tempo de a repor estou velho e acabaod. Ou forever young, quem sabe?

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