quarta-feira, 11 de maio de 2016

É uma Opinião, ohfaxabor!


Há muito quem diga que a opinião é uma coisa muito linda. Há também quem defenda que é uma coisa bastante democrática, porque livre. De uma maneira geral, toda a gente tem boa ideia da bicha. Da opinião, pois claro.

Pessoalmente, acho a Charlize mais boa que a opinião. E estou fartinho de ver gente a ter problemas graves à custa de opinar livremente. Outros são só mal educados. Sem esquecer os estúpidos. Um estúpido com direito à opinião é uma coisa grave. Como por exemplo, deixa lá ver, uma hemorróida. Mesmo que um gajo tente ignorar com muito afinco, diz que incomoda. Sobretudo ao sentar.

Considero que, mais que bonita ou livre, a opinião se assemelha muito à genitália: Cada um tem a sua e, mesmo que não lhe ache particular piada, defende-a com unhas e dentes. Estabeleça-se pois que, na verdade - porque é sabido que a Verdade passa bastante tempo na Tasca - a opinião é uma coisa do caralho. E da vagina também. Peço desculpa à Catarina Martins e a todas, e todos, as Bloquinhas, e Bloquinhos, por não ter escrito "A opinião é uma coisa da cona. E do pénis também". Tiques machistas. Shame on me.

No caso dos hermafroditas - ou serão as hermafroditas? Com esta gente um gajo fica sempre na dúvida - a coisa é capaz de se complicar. Será que têm sempre duas opiniões? E quem tem vinte opiniões sobre cada assunto, tipo eu e o Sousa Tavares, será um multifrodita da opinião? Raios, o que eu gramava de descobrir a minha vagina...

Isto era para quê? Ah, já me lembro! Para vos dizer que eu acho que, no fim do dia, a opinião de cada um se baseia num facto cientifico pouco investigado: O que me está a dar jeito. A gente põe-se perante o problema e a primeira coisa que pensa é: Ora deixa cá ver o que me está a dar jeito. 

E pronto, depois é só arranjar argumentos, com graus de parvoíce diferenciados, que sustentem a opinião. Ou seja, o que nos estiver a dar jeito. A espécie refinou isto a tal ponto que já o fazemos sem passar por estes estádios intermédios de consciência. É como o Aboubakar a falhar golos. O gajo já não pensa "Ah e tal, vou acertar antes num poste". Sai-lhe naturalmente. É o chamado automatismo.

O sucesso das opiniões de cada um tem tantas mais possibilidades de ocorrer, quanto mais o próprio acreditar que se trata mesmo de uma opinião. E não do que lhe está a dar jeito. Deixem-se de merdas, isso de ter opinião sobre coisas que não afetam o indivíduo opinante não existe. Porque tudo nos toca de alguma forma. É-nos inato tomar partido e associar, à velocidade da luz, qualquer facto com o nosso próprio interesse. Seja ele qual for. Parece um bocado cínico, eu sei. Mas hey, não fui eu que inventei a espécie.

- E eu que xempre penchei que uma Opinião era xervecha com grojelha...


...

Para não acharem que isto é um gajo amargo e zangado com a vida, com pouco para fazer e sem acesso aos seus sites favoritos - por força de uma trampa de uma firewall fascista e protopúdica - fui para a rua fazer investigação social a sério. Isto é, fui à concorrência tomar uns copos cujamigos.

- Estou fodido pá, agora vou ter que mudar o puto de escola. Merda maijómonhé, foda-se. Estava o catraio tão bem, habituado às professoras - e olha que há lá duas ou três que até eu me habituava - ao sitio, aos transportes, até da comida gosta, vê lá tu. Ele que é um pisquito a comer. Ainda por cima, aprende. Tem umas notas jeitositas e para a Maria é um descanso. Vêm estes palhaços cagar sentenças e pumbas, tenho que ir meter o miúdo no caralho mais velho de Escola pública a cair de podre. Lá se vai o acompanhamento, lá se vai o entusiasmo, lá se vai o sossego da Maria, lá se vão as quecas à hora de almoço. Se calhar até o futebol vai cucarago, deixa lá ver os aurários...

- Pois, que chato.

- Que chato, mas tem que ser mesmo assim. Olha lá, gosto muito do teu puto, mas a que propósito havia de andar a pagar para ele ter aulas com profs boazonas e isso tudo, enquanto o meu grama com umas velhas jarretas que as mais das vezes nem aparecem? Hein? Achas isso bem? É que é dos meus impostos que sai a guita. Dos de nós todos. Um gajo vai virar um fino à espelunca aqui do Silva, sem ofensa oh Silva - Toca-me no braço. - E uma cagalhésimo de por cento do que paga é para bancar as aulas de Sua Excelência o Príncipe. É muito bonito isso, é...

- Mas pagas o quê, oh palhaço? Pagas tanto como vais pagar quando ele estiver no mesmo pardieiro que o insurreto do teu deliquente, olha que merda.

- Sim, sim, agora vais-me convencer que as mordomias são à borla. É pelos lindojólhos do menino. Deve ser. 

- Não, estúpido. A diferença pago eu do meu bolso, estás a entender? Tu pagas a ponta de um corno, eu pago para o puto andar no Colégio. E acho muito bem que não pagues, era dinheiro mal empregue. Um gajo quando nasce burro e feio não há nada a fazer. Fazes muito bem em poupar a guita.


...

Ora, enquanto estes maduros se pegam à pancada, olhemos para a cunbersa à luz do nosso tema:

É provável que ambos tenham razão. Na verdade, neste assunto a opinião não conta para nada. É uma mera questão de ideologia. Acontece que, hoje em dia, dizer ideologia parece que aleija. Ai foda-se, disseste-me "ideologia" em cheio numórelha, queres apanhar? O problema é que temos uma classe de políticos que se move pela opinião, ou seja, pelo interesse. Ah poijé!

Havia de vir um senhor e dizer-nos: Pá, acabou-se a mama do ensino privado à conta do Estado. Há por aí muito boa escola onde meter os pirralhos, vão-s'amazéfoder. Querem Colégios, paguem do vosso bolso na íntegra. Quero cá saber se são melhores ou dão mais jeito ou assim. Azar. Pode ser que com a guita que pouparmos se consiga fazer uma Escola Pública em condições. A gente depois logo vos diz para onde é que têm que mandar os putos. 

Isto era bonito. Só que não pode ser dito, não é? Mas esta é a verdade. É uma questão ideológica. O que convencionámos chamar de "Esquerda", considera que o Ensino deve ser público, universal e gratuito. E todo igual. Nivelado por onde houver dinheiro para o nivelar. Mas como dizer isto? Pondo de parte a hipótese de abolir todos os partidos e tomar de assalto a Assembleia da República com um pelotão comandado pelos Capitães de Abril que sobrarem?

É que... como bandeira da Igualdade de Oportunidades - aaaaaaahhhhhhh - é muito pífio. Majentão só a malta com muita guita é que pode ter acesso ao melhor ensino, certo? Ando eu aqui a pagar para os meus cachopos terem o mesmo ensino que os moços do RSI, poijé? Eu até posso pagar um pouquinho mais, porque é que não posso ter melhor? Mesmo que não seja melhor, é o que eu quero. Cortam as pernas aos meus miúdos em nome de uma Ideologia? Porra pá, não digas "ideologia" que me ficam a doer os gémeos, chiça. Cá para mim estão a eternizar a desigualdade de oportunidades e a cristalizar no poder - económico, político, social - uma classe de privilegiados. Que é precisamente o que vocês querem, comunistas da treta, socialistas de fachada, assim-assins invertebrados. 

Ouch, resolvam lá isto. Complicado hã, xôr Costa? Mas a si kelhimporta, você faz um sorriso meio imbecil e recebe o Campeão nos Paços do Concelho e... Ai, espera, já não pode fazer isso. Caraças pá!

Era igualmente interessante que a oposição escolhesse alguém que pudesse dizer: Era o que faltava, então majandámos nós a arranjar maneira de financiar o Colégio da Tia Constança e agora vinham estes bardamerdas e estragavam tudo? E quem paga a muda da água da pi'cina olímpica? Para mais, já se percebeu que tudo em o que o Estado mete o bedelho dá buraco. Ou então dá merda. Ou então dá o Mário Nogueira, que é a mesma coisa. Pá, botamos o dinheiro nas mãos de quem sabe da poda, cada um escolhe o que quiser - ou o que puder pagar - e tá a andar. Mantemos aí umas capoeiras para quem precisar mesmo. De qualquer maneira, não é como se fossem dar grande coisa, né?

Naturalmente que passaria a ser impossível usar a defesa do Estado Social em campanhas eleitorais e afins, o que, tendo em conta que isto é Portugal e nós Portugueses, não daria jeito nenhum. É por isso que só falam de contratos, do Estado enquanto "pessoa de bem" e tal. Como se não tivéssemos já todos, em alguma altura, sentido o quanto o Estado é uma "pessoa de bem" e cumpridora. Bem fundo. 

Sendo uma mera questão ideológica - ui, isso doeu! - a verdade é que por esta via se premeia mais o mérito, se alarga a possibilidade de escolha de uma base mais vasta da população, se nivela por uma média mais elevada a qualidade, provavelmente. Ao mesmo tempo que se condena à categoria de "Excepção Magnifica Com Direito a Medalha e Filme no Youtube e no Telejornal", qualquer puto saído das classes mais baixas que obtenha sucesso. Não se pode assumir isso, pois não? 

É que não dá jeito nenhum. Uma merda.


...

- Olha-me esta vergonha, agora jogamos ao meio dia menos um quarto! Sem dar cavaco a ninguém. Mas isto aceita-se?

- A mim dá-me um jeitaço. Acho espetacular.

- Espetacular? Como assim? Achas bem que ignorem os sócios, os adeptos, a população de uma maneira geral, desta maneira? Achas normal sermos tratados como clientes sem direito a opinião? Isto é uma vergonha. Este aurário é estúpido, cheira mal e é provocatório. Não pode ser. Só se eu fosse um ganda palhaço é que compactuaria com isto! Como é que a pessoa pode almoçar à meia hora, com jogos a começar ao quarto para as? Não dá jeito a pessoas como deve de ser, desculpa lá!

- Olhe, meu senhor, - que eu não andei consigo na escola, publica ou privada - os miúdos da B fartaram-se de jogar a essa hora. Não correu nada mal. Para além de que, não andava por aí uma nostalgia dos dias passados a ver jogar o FCP? A formação, as modalidades, depois o futebol. Ou é uma mera questão de ordem das coisas? Parece-me bastante estúpido isso.

- Está a chamar-me estúpido?

- Não, você não, o argumento sim.

- Kejber um banano nas ventas?

- Manda lá! Anda, manda lá que já levas a sobremesa para o almoço. Deve estar na hora não, oh anormalóide?

Caaaaaaaaaaaaaaaalmaaaaaa pessoal. Não é preciso bater em ninguém, nem falar mal de quem quer que seja, nem inventar motivos para desancar a SAD. A uns dará jeito, a outros não. É apenas isso, como sempre. Ou seja, opiniões...


...

- A reler os Mandamentos, Senhor?

- Só o OITAVO, Pedro. Apenas o impossível oitavo.

- Impossível, Senhor? - Espantado.

- É. Não dá jeitinho nenhum...

14 comentários:

  1. Isto de ser educado em público ou em privado, tem que se lhe diga!
    Não sou bloquista (cruzes, credo, canhoto, absinto) (absinto???), mas sempre achei o ensino publico como a tropa. Aparece-nos de tudo e só temos que nos desenrascar. Não é que ter pelos no peito, faça de um gajo um homem, senão o Freddy Mercury tinha sido cá um machão do caralho!
    Mas também andei num colégio que fez de escola publica, porque na altura havia mais estudantes que salas de aulas e não me dei mal com o sistema. Nem eu, nem o João Pinto (sim, o nosso eterno capitão), nem uma gaja chamada Aida, louraça natural que me fazia tremer dos pés à cabecinha!!! Malditos amores platónicos, carago!

    Quanto ao jogo às 11.45, aleluia, grande ideia, bem-haja!!!!
    Se jogasse pelo outro lado até dava um beijinho no Proença!!!!
    Acabou-se a feira da Senhora da Hora, o Continente, o Pingo Doce mais as lojas dos chineses!!!!
    Como um simples horário pode determinar a liberdade de um homem!!!!

    Silva, peço desculpa porque acho que hoje já falei demais...

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    1. Você volta a pedir desculpa por botar faladura e leva com a garrafa de absinto na tola! Aqui a malta só se cala quando lhe apetece.
      Concordo, encontramos bom e mau em todo o lado. Mas depois, as turmas com 40 alunos estão todas num deles. Dos lados.
      E tb gosto do horário. Dá-me jeito, lá está! Não este sábado, especificamente, mas outros de certeza.
      Espero que você tenha a certeza que a Aida não nutria o mesmo tempo de Platonice por si. Já viu o desperdício que seria ter ficado calado? ;)
      Abraço.

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  2. Resumindo:
    "A minha opinião é maior que a tua".
    Esta é a máxima que rege a vida de cada um de nós, e dos outros também...

    Abraço, P. Torres

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    1. Ou pelo menos mais trabalhadeira :)
      Mas bem, é capaz de ser uma generalização um bocado abusiva. Ou então não...
      Abraço

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  3. @ Silva

    o texto é um pouco para o grande. e estou a ficar com sono. leio-o amanhã, pode ser? obrigado. e fia lá o consumo de hoje, sff.

    abr@ço forte
    Miguel | Tomo III

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    1. Mais um freguês que adormece ao balcão. Sem álcool! Vou abrir uma Clínica de Terapia do Sono! :)
      Tá no livro. Vai descansado. Isso é o wc, Lima. A saída é para o outro lado. Acorda homem! :)
      Abraço.

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  4. Há sempre algo que fica.
    Incrível a facilidade com que traduzes ideias em escrita.
    Muito bom, independentemente da opinião sobre a coisa.

    O 8º tem alguma coisa a ver com certo "inho" que dizem ser "ão"?

    Abraço

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    1. Eheh, embrulhar o conteúdo na forma é uma bela maneira de dizer disparate sem se notar :) Mas por acaso, discordo pá. Acho sempre que me perco pelos meandros da idiotice congénita. Oh well, obrigado!
      O 8º, bem vistas as coisas, tem a ver com tudo. Incluindo Renatinhos e Renatões ;)
      Abraço.

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  5. @ Silva

    a minha opinião é a de que, hoje, Quinta-feira, 12 de Maio, estás armado ao cágado. e ao parvalhão, também. e é só.

    ps:
    fantabulasticamente brilhante, como sempre.
    #cincazeroSilva

    abr@ço forte
    Miguel | Tomo III

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    1. Ui, que biolência! E por acaso, tendo em conta a questao, que não a do horário, até gostava de saber o que pensa o xôr Lima. Uma espécie de inside view, vá...

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    2. subscrevo a decisão do Governo. bem sei quehhá casos em que os cortes não podem ser cegos, mas há outros que são absurdos e indicadores de despesismo. a verdade é que tem que se começar por algum lado...
      mas, esta medida é inócua enquanto não se encarar a Educação como veículo primordial para um Futuro melhor, antes como um negócio. assistir à debandada de jovens licenciados, promissores em muitas áreas, depois de tanto dinheiro neles investido, é o pior sinal que poderemos dar às gerações ainda mais novas. algo terá que ser feito, e não passa por incentivar a Emigração, como fez o outro palhaço...

      abr@ço
      Miguel | Tomo III

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    3. Mas também não pode passar por englobar no Estado toda a atividade. Estaríamos a condenar os putos à caixa de supermercado. Ou a manda-los emigrar. Sem dizer...

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    4. óbvio. é por isso que esta discussão é importante. há que redefinir as prioridades, por exemplo, em termos de oferta educativa - Secundária e Superior. há muitos cursos que, ou não fazem sentido, ou só servem para alimentar uma "mama" bastante choruda. o problema é: e quem é que está disposto a enfrentar o Sistema? pois...
      é que é triste, para não dizer pior, ter um Mestre em Geografia a servir de porteiro na Escola onde trabalho. e só com contrato de seis meses, o qual não será renovável. este é só um eexemplo do descalabro a que chegamos. o outro que sempre refiro é o do anúncio a pedir um arquitecto, com experiência de cinco anos, viatura própria, e conhecimentos de vários programas da aérea, com disponibilidade de horário aos finais-de-semana; vencimento ilíquido: 500 euros.

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    5. Certo. Mas se um tipo quer mesmo é ser Geógrafo, por vocação e paixão por exemplo, deve poder. Ou então partimos para uma sociedade fechada, em que a cúpula - lá está - cuida de todos os seus filhos como melhor lhe aprouver. Mas de acordo, atirar para o portão, em modo precário, o investimento no Mestre - e do Mestre - é uma estupidez. E uma aldrabice também.

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