quinta-feira, 5 de maio de 2016

Resumo da semana: Estiva.

Acho que é gamada ao "Publico"

Os estivadores do Porto de Lisboa - é giro reparar na quantidade de cidades que têm em si um Porto! - estão em greve. Uma greve de estivadores é uma coisa que apela basto ao meu espírito preconceituoso: Imagino um bando de gajos cheios de cicatrizes e tatuagens, encostados a uma parede, a fumar tabaco de enrolar enquanto coçam os tomates e fazem a vida negra a tudo o que é gaja que calhe em passar. Espera, vai-se a ver isso é uma claque da bola. Oh well...

Confesso que prestei alguma atenção ao caso e devo desde já anunciar que estou solidário. Até costumo embirrar com Sindicatos, dada a sua propensão carreirista, mas o discurso da malta da estiva convenceu-me. 

Nem uma vez se puseram com tretas acerca da forma correta de carregar com um contentor, ou da perigosidade de descarregar um monte de caixas ou assim. Lixaram-se para a importância social do transporte da banana e dos componentes para a indústria automóvel. Não desancaram a falta de formação técnica de supostos substitutos e nem dissertaram sobre as inúmeras competências requeridas para enfiar dois bochechos nas trombas de um marinheiro armado ao pingarelho. Ou seja, não inventaram.

A que propósito estão os estivadores em greve? Simples: Os operadores arranjaram uma empresa que fornece braços musculosos a 500 mocas. E assim sendo, ninguém tem por que pagar 1000 mocas pelo mesmo tipo de músculo. Não estando - e muito bem - esta malta disposta a trabalhar o mesmo para receber metade, resta-lhes não trabalhar de todo. A ver se os misters percebem a falta que lhes fazem. Pimbas, bem feito! É que bem vistas as coisas, este pessoal está em clara desvantagem em relação a outras artes, no campo da paralisação. Vejamos:

Os suinicultores arranjaram um banzé do catano. Foram para a Gare do Oriente assar porcos e isso tudo. O que é bastante bom para granjear a simpatia do transeunte. A ver se não fico logo mais receptivo a perceber o ponto de vista do protestante, depois de me enfiar uma sande de porco no espeto nas mãos. À borla. Pois claro que fico.

Já o estivador não pode recorrer a este artificio. Vão fazer o quê? Levar contentores para o Terreiro do Paço e alugar aquilo à hora a casais desesperados? Podia funcionar, sim, mas era arriscado.

- Oh Leandro, olha aqui tu na capa do Lixo da Manhã. A entrar para um contentor de mãos dadas com a tua vizinha do quinto direito. Xinapá...

A Ana Avoila pode ameaçar a população inteira com a sua voz estridente e supremamente irritante: "Não paro de berrar até fazerem o que eu quero, é que não paro mesmo, querem apostar?" Epá, sou o primeiro a assinar o que ela quiser!

E um estivador pode fazer o quê? Ameaçar que não manda piropos a mais nenhum marinheiro efeminado? Que não enfia duas palmadas no rabo às nossas mulheres, mesmo que as apanhem a jeito? Não resulta.

Já se sabe que podiam organizar-se em pelotão e invadir o gabinete da tutela e arrebentar as trombas a uns quantos dirigentes. Isso podiam. E aposto que o fariam com grande competência. Mas se em força acredito que estariam à altura, que isto de carregar e descarregar contentores - em parecendo que não - dá um caparro do caraças; quando se chega à questão do material bélico disponível, o G.O.E. e o Corpo de Intervenção levam grande vantagem.

Vai daí, é assim mesmo. Quem quiser que descarregue as suas próprias bananas. Olha, quem é capaz de ficar feliz é o Orelhas. Que se não dá para transportar a coca nas caixas de banana Chiquita, pode ser que volte à mó de cima a utilização do belo do pneu. Está tudo controlado pelos lampiões, credo!


...

A nossa Bárbara Norton de Matos foi repreendida numa rede social por um autarca. Em resposta a uma queixa que a própria fez, em igual sede, acerca do comportamento de um Policia do dito município. Já se sabe que deveríamos gastar algum tempo a, mais uma vez, analisar as consequências de termos tornado isto das redes no espaço (in)formal de coabitação da espécie. Mas isso não tem interesse nenhum. É mau feitio meu. E alguma vergonha alheia também. Até porque, neste caso, há coisas muito mais importantes!

Então mas porque é que a Bárbara não havia de poder estacionar o seu carrito onde lhe estava a dar jeito? Porque é proibido? Nananana, não me venham com essa! Até pode ser, mas ela está grávida de alguns 15 meses. Não acredito que continue a ser proibido para pessoas na sua condição. É que nem os doentes respeitam! 

- Oh amigo, gravidez lá é doença?

Ok, não será. Mas a rapariga tem pouca mobilidade. Se não querem saber dos doentes, ao menos tenham dó dos paralíticos. É assim que querem contribuir para o aumento da natalidade, é? Felizmente a moça não estava só. Em seu auxilio saiu o próprio progenitor. Da Bárbara, que da criança to be diz que é outro. 

- E enfiou dois bochechos nas fuças do policia, certo?

Que disparate! Então mas o Luis é algum estivador ohquê? Sacou do Iphone, clicou furiosamente e arrumou a questão com um definitivo "Incha porco, vai já para o Facebook". Oh well, sou eu que estou errado e sou um embirrante de primeira. Trata-se apenas da evolução da espécie, pois claro. De outra forma, como se explicaria que esse fosse o espaço preferido do Bruninho para arrotar a sua patanisca? 


...


INTERLÚDIO: Gandhi todo nu

Eu não sei quem é a Mafalda Matos, porque sou velho, certamente. Caso contrário, poderia bem ter andado a puxar lustro ao golfinho à pala da moça, salvo seja e desculpem a porcaria. Que digo? Porra pá, desculpem. Mesmo. Cachalote. Quais golfinho, quais carapuça.

Se não conhecem, eu apresento

(Claro que era a Mafalda. Que pensaram? Credo!)

Exatamente, a Mafaldinha é essa cachopa desnuda da fotografia que ela própria fez questão de partilhar com o Universo. Porque é que alguém o faria? PelamordaSanta, para passar uma mensagem de paz espiritual e desapego material, está claro! Havia de ser para chamar a atenção, uma vez que de outra maneira ninguém lhe liga nenhuma, kéjber?

Se vocês fossem mesmo meujamigos, seriam visita regular da minha hiperativa página no FB. E poderiam ver a foto que vou postar hoje: Silva esplendorosamente descascado. Quer dizer, as partes que cabem numa foto sem grande angular. Qual nariz? Ai o caralho! 

Mas reproduzo o texto desse meu post: 

"Nu pela Paz e pela Natureza e pelo fim da fome no Mundo e por tudo de bom para as criancinhas e para os gatinhos fofinhos e cãezinhos simpáticos e todos os bichos de maneira geral e plantas também e haja saúdinha kéuképreciso."

Incha Mafalda! Olha, um conselho, 'miga: E dedicares-te à estiva?


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Tudo corre bem ao Trump. Não bastava ser candidato a Presidente da maior potência Mundial, sobretudo no que toca ao nível de iliteracia social - ao ponto de fazer corar de vergonha um adolescente - ainda por cima começa a ver as suas hipóteses de ganhar mesmo as eleições a aumentarem significativamente.

- Naaa! Há mais gente a apoiá-lo?

Pelo Contrário. Há gente desta a declarar-se contra. Um gajo pensa logo duas vezes. Era metê-los a todos os três num contentor e enfiá-lo numa balsa deslargada ao largo da Líbia. Não deve ser complicado de carregar. E nem de naufragar. 

Fura-se a balsa, pelo sim, pelo não.


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Eu sei que vocês todos acham que eu tenho qualquer coisa contra as redes sociais. E não tenho. Ok, tenho umas coisinhas. De mau.

Mas, por exemplo, considero fantástico que, hoje, possamos tornar uma imagem num ícone de forma tão rápida e tão marcante. Sobretudo quando usamos esse poder para o bem.

O que me custa é que se fique pela espuma. Dói-me que os media a sério sejam um mero reflexo, em vez de serem a fonte do que circula, sem rédea, pela ciberlândia. Pelo menos, devia ser-lhes assacada a responsabilidade de irem mais fundo, para lá do que é imediato. Pessoas, é para isso que servem! E enquanto não o entenderem, continuarão condenados à morte. Na verdade, acho que já morreram e sabem-no. Cambada de incompetentes preguiçosos.

A imagem acima é forte e é importante e faz uma declaração: You shall not prevail! Again! Mas é igualmente importante - e já não imediatamente visível - o que decorreu da imagem.

- Bateram na mulher? Os porcos nazis bateram na mulher? Esses paneleiros de um cabrão!

Não, fizeram muito pior: Deram-lhe um breve, mas eficaz, empurrão e prosseguiram. Como se faz a uma mosca ou a uma formiga. Siga. Hoje, é essa a relevância que tem quem não se consegue calar. A da formiga. 

É tempo de nos lembrarmos. De tudo. E mais ainda da quantidade de chatices que milhões de formigas conseguem causar. Somos milhões? Hey, formigas, alô?!

Lá está, há gente para a qual nenhum ato carregado de simbolismo terá significado. Mas se os levarmos para um beco escuro - SEM MEDIA - e lhes atiçarmos mil estivadores ociosos, pode ser que a coisa faça plim! Ou a cabeça pum! Tanto me faz. FIlhosdumagandaputa.


...  

É preciso pensar que em tempos de tanta incerteza, a constância ganha grande importância. Não somos animais talhados para a mudança, isso é cientifico. Mudar é assustador e ninguém gosta, por muito que proclamem que sim.

É pois com grande alegria que a Tasca verifica que há coisas que nunca mudam

Abençoada força progressista que resgataste o meu País das garras da austeridade. Ou vais resgatar em breve, dá no mesmo. Por força da tua política reformista de índole radicalmente socialista, em que as pessoas - o Povo! - vêm primeiro e são, por fim, mais que números em folhas de cálculo de tecnocratas de pila pequena. Frustrados que descarregam o seu complexo de inferioridade genital nos nossos parcos ordenados. Veja-se os estivadores.

Mas ao mesmo tempo nos tranquilizas, amansando a nossa ansiedade pelos amanhãs cantarolantes com esta certeza de um cheiro novo. Para a trampa do costume.


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Soundtrack to stowage: Obviously...

12 comentários:

  1. Ainda não li, mas parece que a semana começou mal e acabou melhor :)

    Abraço

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    1. :) é uma semana cheia de coisas. Com'ajôtras.
      Ah, e obrigado pelo "seguimento" :) já somos uns, deixa lá ver...3 LOL
      Abraço.

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  2. @ Silva

    «xinapá»
    a par de "piaçaba", é a primeira vez que leio esta expressão (tão, mas tão cota) na net (que tu não tens conta em redes sociais, qu'isso não é de estivador e que assim). parabéns pela recordação ;)

    ps:
    não há bilhetes, tal como estivadores de outros tempos.

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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    1. Andas desatento moço :) Não é uma expressão virgem por aqui. But then again, quem o é? :)
      Merda para os bilhetes, porra! Vou ficar apeado :(
      Abraço.

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    2. tens que falar com os moços das claques ;)
      (mas, para isso, aconselho-te a mudar a intro da tua posta, ali para o primeiro parágrafo, antes do 'oh, well' ;) )

      abr@ço
      Miguel | Tomo III

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    3. É o que dá andar a combinar cenas com malta do corte ;)
      Eu falo com toda a gente. Acontece que não conheço, tájaberohnão? E não sei, parece-me esquisito abordar desconhecidos na rua com essa conversa :) No problemo, amigo, vais ver que me safo ;)
      Abraço.

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  3. ah! esqueci de referir: a tua #maisquetudo já sabe da foto ali em cima (e não, não é a dos contentores)?
    'tás quilhado, pá! ;)

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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    1. Naturalmente. Ela sabe que eu gosto de mulheres bonitas e inteligentes. É por isso que anda sempre descansada. :)
      Abraço.

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  4. Caro Silva, nao é que a tasca nao costume ter conteudo interessante, mas a parte visual da discussao de hoje elevou e de que maneira o nivel da coisa. Da conversa, pois tá claro. Tá bom de ver.

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    1. E ainda dizem que passar muito tempo na tasca prejudica a elevação da coisa, pfff. Da conversa, pois claro ;)

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  5. Outra coisa que não muda, é a qualidade da tasca! Muito bom Silva.

    Abraço

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    1. Muito obrigado Carrela. Vou beber um penalty à nossa, em homenagem a mais um freguês satisfeito :)
      Abraço.

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