quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Nomes - AR (ensaio) e uma efeméride.



- Esse monte não parece diminuir, avôzinho. Mas tem ar de estar mais arrumado... - Ele levanta os óculos da pilha de papel e fita-me com ar um tanto desolado.

- Está mais organizado, mas... Tem tantos twists, Silva. Fica difícil dar ordem. E mudam os géneros... - Interrompo:

- Quê? Tipo Zubaida?

- Não, sua besta! Os literários.

Pego num papel qualquer. Pergunto:

- Posso? - E leio antes de ter resposta.

" Nomes - AR (ensaio)

Aprecio-te. Moderamente, por vezes. Outras, de forma intensa. Nunca te detestei verdadeiramente. Creio que passo uma parte significativa da minha existência a justificar-te. Porque erras, oh se erras. Mesmo sem querer, não passa a estar certo. Mas hey, isso são os amigos. E nós somos umbilicais, meu caro.

Aprecio a maneira como carregas esse interminável numero de pesos e pessoas e coisas e sítios. E culpas. Das tuas, das dos outros, algumas do Mundo, mas poucas destas. Pensas que não reparo, mas eu vejo o esforço com que caminhas direito alguns dias. Noto a gota de suor a formar-se sobre a veia. Pode muito bem ser que sejam apenas os meus olhos - e tu sabes que já me falham. -, mas hoje é um belo dia para saberes que aparentemente consegues. Andar hirto e com um semi-sorriso. Ainda mais importante, o teu andar não denúncia a carga. Antes torna-a invisível. Tenho a certeza que é mesmo esse o objetivo. O teu. Eu caminho à volta, pronto a apanhar o que eventualmente percas. Ou a dar-lhe um chuto para longe. Terás que confiar no meu critério.

Aprecio, vê lá bem isto, a maneira como te comoves com músicas. E com poemas. Anónimos às vezes (não querido amigo, não conjeturarei acerca disto). É quase como imaginar-te de negro e picos a passear um yorkshire. De colo. E aprecio igualmente o cuidado meticuloso com que constróis tantos tu. De tal maneira que não há como não se perder no meio da vasta multidão. Perder-te. Deixar de saber qual é aquele de que inicialmente gostámos. Procurá-lo e não voltar a encontrar. Ou perceber que nunca lá esteve. Ou que é todos. A grande alma desta turba. O Nirvana, porque não? É por isso que tendem a abanar a cabeça para si mesmos e a ignorar os teus olhos molhados. Por um som? Uma palavra? Entendes que não é diretamente claro para todos que isso seja possível. É dissonante do contexto e do cenário. E foste tu que os pintaste. Ao contexto, ao cenário e, em tantos dias meu caro, a eles.

Aprecio a tua desconstrução do sentimento. O modo como o desfias em pedaços cada vez mais simples e o amas nessa simplicidade. O de repente em que os amores se cristalizam em momentos que guardas tão intensamente para a vida. Como se Amor pudesse ser meio e fim, em si próprio, simplesmente. Não sei o que pense dessa capacidade de tornar pessoas e lugares em momentos a que se regressa. A possibilidade de reprodução diferida da felicidade é uma vantagem que nos tens. É uma vitória sobre a Morte, mas não sobre a memória. Que te escapa. E voltas. E levas-me, a mim, o teu mero Vigilante. Ou o teu Deus. O teu Amigo, atrevo-me? 

Aprecio saber que te vês. Que perante ti nunca tens a pretensão da falsa modéstia, nem da vaidade, nem da complacência, nem da exigência militar. Vives-te. Toca-me, acredita, a honestidade com que te conversas. Como se diz? Sem tretas. Com um sentido quase Oriental de resignação. E aprecio essa espécie de clarividência arrepiante, que sei que detestas por te roubar a surpresa à Vida. É ternurento o zelo com que ergues os muros e trancas as portas. E ninguém vê. Exceto eu. Mas já sabes, eu não sou os outros, nenhum deles. Somos umbilicais. E és apreciado. Parabéns!"


...

A 6 de agosto de 1945, pela manhã, a cidade Japonesa de Hiroshima foi varrida do mapa. O Japão reconstruiu-se e ocupa no Mundo o lugar que a sua História e Cultura merecem. Precisamente hoje, tive oportunidade de conhecer a primeira metal girlsband...Japonesa, está claro. Enquanto uma parte de mim já está a decorar a letra e...errr...a coreografia; outra pensa: humm, estão a pedi-las outra vez! Enfim, é um dia em que há tendência para acontecerem coisas. Umbilicais...

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Gulp! (Corado até àjorelhas) Obrigado Jorge. Assim não vale!
      Abraço.

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  2. T-O-P!
    (para quando uma compilação de prosas, dos teus melhores momentos criativos, mas em suporte papel, vulgo 'livro'?)

    abr@ço forte
    Miguel | Tomo III

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    1. Obrigado pelo supremo elogio, meu amigo. Mas o que acontece na Tasca, fica na Tasca. ;)
      Abraço

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