Diante dos olhos, as mãos, ocupando todo o campo de visão. Assim, perto, vazias. Fecho-as em punhos, para se revelarem, enfim, na sua essência: Impotentes. Deixo-as cair estrondosamente no tampo, uma, duas, as vezes necessárias até à dor. Para ter a certeza que Sou, que não me deixei evaporar, como desejei naquele breve e inesquecivel nano-segundo. Derrotado, vazio, impotente. Como estas mãos que agora enxugam discretamente uma água que me escorre pelos flancos do rosto. As alergias. Uma chatice, já se sabe.
A festa dos petizes explodiu. A cantoria da Ariana rebentou. A música é fogo-de -artificio, digam o que quiserem os heróis instantâneos, fogos fátuos eles próprios. É festa e alegria e isso também é feeling. E mata.
Eram os miúdos. Os nossos, os meus, os teus, os do assassino que os levou e das mães que serão obrigadas a celebrar a morte daqueles filhos que não pariram. Mas que lhes pertencem. Porque são do Mundo em Londres e em Alepo, nos cemitérios povoados do Cairo e nas escadinhas de Lisboa, nos escombros de Cabul e nos gloriosos entardeceres do Porto. São meus! E mataram-nos.
Procuro no escuro o lençol. Estico-o até lhe cobrir o ombro. Perco mais um segundo do que o necessário até lhe dar o beijo que ela nunca sente. Pouso a mão na sua companheira de ocasião, maior, mas igualmente bebé para estes olhos. Hoje. Respiram e estou grato.
A minha Alma chora o pedaço delas que morreu em Manchester. Sem encontrar planos de vingança ou de retaliação, incapaz de me convencer que a Vida continua. Por agora. Caída, a Alma como as mãos. Segura apenas pelo calor dos corpos adormecidos. Pelo Amor, talvez.
O cão abana a sua ausente cauda, cumprindo o ritual das nossas manhãs muito cedo. O gato virá. Eu despedi-me de todos. Porque é neste miserável Mundo de Adeuses que nos obrigam a viver. Até que pela força das nossas mãos os façamos explodir, a eles. Mas eles também somos nós, também são nossos, também os parimos. E as mãos...ai as mãos, estão trémulas, anestesiadas, inúteis.
O Planeta dos Homens chega-me pela TV. Um estúpido aponta um monstro, em visita ao Banco do Terrorismo. Descendentes de uma civilização milenar olham-no, estupefactos. Perguntando-se como - Oh Deus, como? - pode um camelo chegar a líder do "Mundo Livre". Na Ilha, talvez pensem que o melhor é murá-la. Não vá algum Mexicano fazer-se explodir. E a minha derrota agrava-se a cada minuto.
No balanço de um comboio atrasado, preparo-me para as condolências, para as manifestações de repudio globais, os Autos de Fé, as promessas securitárias e as razões apologéticas. Como que me afundo nesta desesperança de que algo seja diferente, simples, direto, do coração. De que algum Deus, quantos braços tenha não me importa, possa decretar que todos são Lázaro e, por essa circunstância, não merece a pena matá-los. Aprendam assim, à força. Devolvam-me os meus catraios, mortos no fogo-de-artíficio da sua alegria. Esses que eram a Esperança do Mundo. Do nosso. Os nossos.
Volto às mãos. Nada. No máximo, um pouco mais cansadas. Caem no tampo, uma, duas, trinta vezes até à dor. E não dói. É raiva! Apenas.
Incrível. Estamos num mundo terrível, mesmo. Matar crianças e adolescentes...
ResponderEliminarSem palavras.
Abraçom
É isso, sem palavras...
EliminarAbração
:'(
ResponderEliminarNão deixo de pensar que a culpa disto também nos pertence porque deixamos estes camelos chegarem a lideres dos bocados de mundo que podem mandar...
ResponderEliminarSim, de todos provavelmente. Mas em ínfimas partes.
Eliminarionline: "será desta que Ariana Grande vem a Portugal?"
ResponderEliminarTalvez não seja o terrorismo que está errado, apenas os seus alvos.
Está tudo errado! Completamente.
EliminarAh, e sim, vem. Ainda bem, porque não deixaremos de viver.
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ResponderEliminar[silêncio (pesaroso)]
abr@ço
Miguel | 92º minuto
É fácil insultar e criticar. Descrever sentimentos e estados de alma é que é dificil. Num momento destes, resta-nos o respeito pelas vítimas e o coração cheio pelo facto dos nossos estarem connosco.
ResponderEliminarSim Rui, gratos. Mas nunca temerosos!
EliminarJá sei que não estás de acordo (ultimamente tenho dado em desalinhado, não?), mas imagina um mundo sem religiões, sem deuses a quem adorar e santos a quem odiar, sem lideres espirituais a dizerem-te como te deves comportar!
ResponderEliminarEm suma apenas e só adorar o nosso próximo, e no meu caso a minha olhos azuis mãe do meu filho!
Espero que funcione, caramba!
https://www.youtube.com/watch?v=XLgYAHHkPFs
Ora seja muito bem aparecido, xôr Felisberto, nesta sua casa. O que aqui gramamos de malta pouco alinhada, só é batido pelo que se gosta de boa pinga. E de gajas boas também. :)
EliminarPelo contrário, meu caro, muito pelo contrario. Não tenho nada contra um Mundo sem Religião. E nada contra um Mundo de todas as Religiões. É que a Fé das pessoas e o que professam as Religiões não tem nada de mal. O que fazemos com isso é que é profundamente errado. Portanto, eu sou a quintessência do Lennon: professo a liberdade absoluta, sem nenhum dogma ou fanatismo, de cada um acreditar no que quiser e em nada. Sem que, por uma ou por outra, se julgue melhor que o seu semelhante. Só isso.
Não posso ver agora a forma, mas espero que seja o Imagine. Volto quando vir.
E não me desapareças oh morcão. Abraço.
Oh yeah! Era o Imagine pois.
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Eliminar@ Felisberto
#desalinhadosdoNES ;)
e esta aqui é só para bosselência :D
abr@ço
Miguel | 92º minuto
Ena, os avós dos Resistência! :)
EliminarHuummm, acho que seria mais #alinhadosdoNES, não? ;)
Alinhado ou desalinhado, temos um berbicacho do catano. Quem será a próxima vitima, quer dizer, o próximo treinador? Who's next?
Eliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=zYMD_W_r3Fg
No vaso do NES? És alinhado pois! Não sabes é porquê, mas tábem. Porque sim, provavelmente. :)
EliminarO próximo é o melhor do mundo, como sempre. Se depois azeda e apodrece, veremos...
Obrigado por outra grande gorja, morcão! :)
Quais vaso??? Era: caso!
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