sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Análise de risco da lentidão irritante


Um SMS: "Tão igualzinha a seu pai. Já vai atrasada, mas lá vai ela nas suas calmas, no seu passo lento e certinho. Há-de lá chegar, ao cu de Judas, eventualmente. :@"

A minha convicção é que devemos olhar com atenção para estas pessoas. Talvez mesmo procurar entendê-las, primeiro, e aprender com elas, logo a seguir.

Observemos a questão numa perspetiva de análise de risco:

A) Pessoas que correm como baratas apanhadas em flagrante a meio de um passeio noturno ao wc, têm o quíntuplo, alguns estudos indicam mesmo o sêxtuplo, da probabilidade de tropeçar e cair que aqueles que caminham num passo lento e certo. Cair, magoar-se, levantar, sacudir a poeira, coxear até ao destino, implicam seguramente uma demora maior do que ir devagar.

B) Andar rapidamente, como se estivesse nos 20 km marcha dos Jogos Olímpicos, faz disparar as hipóteses de esbarrar de frente com outros transeuntes, provocando não apenas o atraso do marchador, mas ainda implicando um transtorno na vida do esbarrado. Duplo prejuízo para a economia portanto.

C) Caminhar lentamente proporciona uma observação mais cuidada do que o rodeia e dos outros. Assim, torna mais provável que repare em falhas nas coisas e nas pessoas, sugerindo melhorias e alertando para perigos. Revela-se então um contributo eficaz para a comunidade.

D) Pessoas que se preocupam menos com os seus atrasos, tendem a investir mais em beijos, abraços e apalpões. Embora aumente a possibilidade de incumprimento horário, estes indivíduos são tendencialmente mais sorridentes. Pessoas mais felizes produzem mais e melhor.

E) Os lentos fazem uma análise custo/benefício muito assertiva. Em 100 metros, por exemplo, quanto tempo se ganha estugando o passo? Segundos, no máximo. Pelo contrário, o gasto de energia cresce exponencialmente.

Conclusão: É mais aconselhável investir neste tipo de pessoas do que naquelas que, pressionadas pelo tempo que julgam não ter, correm apressadas, muitas vezes sem saberem exatamente para onde. É provável que, muitas vezes, as segundas cheguem antes das primeiras. Podem é chegar ao sítio errado, deixando pelo caminho um rasto de destruição e um nulo contributo social. Para além de que são menos produtivas.
Por fim, os fulanos lentinhos parecem possuir uma visão muito eficaz da gestão de recursos, o que os aconselha para cargos de direção.

- Ahahahahah, que monte de balelas. Perdeu o comboio, certo?

- Isso não retira mérito à análise, que diabo. Mas sim, por acaso hoje aconteceu. Um problema na bilheteira...

- Claaaaaro, naturalmente. Você pode ser um caso perdido e pode arranjar essas análises catitas para desviar a atenção, mas a petiza... Ainda vai a tempo, não?!

- Na verdade acho que não. Olho para ela e sei. Há outro Mundo a correr naquela cabeça. Outras vezes é mesmo o Mundo  real, mas com os tempos trocados. Pode estar a pensar no que dizer aos jornalistas depois de ser apresentada como novo membro dos R5; ou de que maneira se vestir para o jantar em que nos vai apresentar o seu estupendo namorado; ou em como descarregar aplicações à borla; ou se conseguirá ignorar a Rita-ita, embora tenha a certeza que não, porque, parva!, é mesmo amiga dela. Uma cabra essa Ita!

Enfim, tudo coisas bastante mais importantes do que chegar à sala antes do segundo toque...

- Ou no esquema tático para domingo; ou num negócio de piqueniques indoor; num poema; na letra de uma música; naquele rabo... - Sorrio condescendente.

- Ou isso... É uma espécie de lag...

2 comentários:

  1. BA - LE - LAS!!
    E é Ritatita, não Rita-Ita (aparentemente a lentidão não é assim tão amiga da observação apurada)! In your face, Sô Silva.
    É um Diesel, faxavor e de preferência anda HOJE! :D

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    1. Sai um Diesel, double Coke, para a rapariga bonita ao balcão. É coisa para demorar um pedacinho, que ainda tenho que abrir a correspondência antes. Afinal, está mesmo aqui e esta é uma altura tão boa como outra qualquer. Quanto ao nome da suposta cabra, eu acredito que conheça alguém com um nome diferente que encaixe no perfil. Mas isso é como as Marianas e as Marias Anas, parecem as mesmas e, no entanto, são outras, diferentes e muitas.
      Já agora, deixe-me dizer-lhe que você dá tão bom ar ao estabelecimento. Com todo o respeito.

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