quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A medida das coisas

Gamado em www.biodic.net. 

" O Homem é a medida de todas as coisas"
Protágoras

O erro daquele sofisma é o agá maiúsculo. No âmbito da nossa precária existência, levamos, talvez por falta de tempo - a existência é tão precária quanto curta - a relatividade ao ponto do agá minúsculo. Não é o Homem que é a medida, é o homem. Eu. Tu. Ela - que também é Homem e portanto, para o caso em apreço, homem. Fêmea.

O conjunto de interesses, crenças e taras de cada um, são a bitola do seu julgamento. A medida das coisas. A perspetiva com que manipulamos o objeto, a coisa, de modo a enquadrá-la no nosso interesse, coaduná-la com o nosso conforto, depende - sempre! - do que somos, gostaríamos de ser ou queremos que pensem que seremos. Depois já nos sentimos à vontade para fingir que a medida das coisas são as coisas em si. Lérias.

Grita-me dos seus lábios vermelhos sanguinários, de uma das mesas de fumadores:

- Ah poijé, Silva! Isso de o tamanho não importar é uma acabada treta! A cada homem a sua medida. E conta, ai pois conta! Quem é que quer manipular coisas raquiticas e enfezadas? Eu não!


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Se a medida da qualidade do FCP de Lopetegui é a minha - uma belíssima equipa para a Europa e, por maioria de razão, a melhor de Portugal - então uma vitória tranquila seria o resultado expectável ontem. E confirmou-se.

Já se a medida for o que por Israel têm feito outros clubes Portugueses, então o FCP teve uma vitória estrondosa. Pelo que se lê nos jornais, não foi nada de especial, foi normal, quanto baste. Concluo que os jornais consideram, e muito bem, que o FCP é a melhor equipa de Portugal, a uma distância razoável dos outros. Pelo menos dos que ganham ao Astana e ao Skendercoiso e assim.


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A propósito do tão desancado - menos aqui! - Espanhol, se a medida da qualidade de um treinador é o desempenho das suas equipas na mais difícil das competições de clubes do Mundo, então 11 vitórias, 4 empates e 1 (UMA!) derrota nos primeiros dezasseis jogos que disputa, devem fazer dele, no mínimo, um tipo que promete. Muito. Bastante. À brava. Se nos deixarmos de meias tintas, a verdade é que estes resultados deviam ser merecedores de reconhecimento e vénias variadas. 

Que não em Portugal. Por motivos vários: Usa a cor errada, quer dizer, usa a única cor que não o deixa ser o maior da nossa rua; Não gosta de perder; Não é lorpa nenhum; Tem os adeptos mais "exigentes" do Universo conhecido. E de algumas partes do desconhecido também. Ou então são todos parvos menojeu. Pela minha medida, a última é verdadeira.

Já pela norma, o Jergo Juses é que é bom e ai que pena que não seja do FCP. Momento em que alguns regozijariam, eu regurgitaria e o dito Jergo deixaria de ser o maismilhórbom. Para os media. Capitais.


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Mas se a medida de uma massa de adeptos comprometida com a sua equipa for o que ontem se viu em Londres, podemos bem corar até ajorelhas. Não somos aquilo. Porque não sabemos ser? Não. Porque não queremos ser. Porque não encaixa no nosso quadro de interesse, provavelmente. E pode o caro Julen ficar descansado, daquilo nunca terá por cá. 

Claro que adeptos comprometidos com a sua equipa procuram sempre o melhor para ela. Essa é uma bela medida desta coisa. E isso pode implicar pressionar, para que se tomem as melhores decisões nos melhores momentos. Certo? Naaaaa, just joking

Giro é esperar que corra mal e dizer "AHA! Eu avisei, pois avisei?". Vá que se correr bem é só apertar o cachecol, colocar um grande sorriso azul e branco até à alma e descer a rua a festejar. Simples. 

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Este é um exercício de facto interessante. Estou entusiasmado. Azar vosso. 

Se a medida de uma boa Direção forem os decibéis com que grita várias vezes ao dia contra todo o lixo rídiculo que lhe atiram; ou a quantidade de colo que dispensa aos adeptos do seu clube que se sentem, justamente, ofendidos com as diarreias mentais de dezenas de comentadores televisivójornalísticócibernéticócafédaminharua; então a do FCP é fraquinha.

Não é fácil olhar para os resultados e aceitar aquela premissa, lá isso não é. A menos que, como medida da coisa, estreitemos a janela temporal até apanharmos apenas o período que nos der jeito. Ah, a imensa felicidade de o homem ser a medida de todas as coisas.


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- Oh Pedro, este gajo é mesmo parvo!

- Poijé, Senhor, poijé.

- Ai é? E porque é?

- Não sei, Senhor. Mas não me vou pôr a discutir as Suas afirmações. Nem os Seus mistérios...

- Acho bem. Mas é mesmo estúpido, coitado. Até dá pena. Nunca, mas nunquinha, deixei que dissessem qual homem é que é a medida de todas as coisas.

- Tem razão, naturalmente, Senhor. E qual é?

- É o Nelson Évora.

- Quem?

- Googla, Pedro.


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Soundtrack to inches: Laughing... 

9 comentários:


  1. tu és «parvo» (palavras tuas), eu sou «choné», há quem seja «zelota»...
    em suma: está reunida a pandilha toda :)

    ps:
    a ver se consigo ir ao jogo contra o Vitória, 'this Sunday')

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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    1. Paaaaaa, a quantidade de posts engraçados que eu conseguia com os 3 estarolas :))) Se não fossemos nós! Vais ver que ainda pega, vais, vais! :))
      Abraço.

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  2. Impecável!
    Um viva a todos os "parvos", "chonés" e "zelotas".
    Quantos mais melhor!

    Abraço

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    1. Eheh, somos uma multidão! E ainda temos que acrescentar os Carrelas :)
      Abraço.

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    2. Eu, entre outras coisas, tenho um pouco de "parvo", um pouco de "choné" e um pouco de "zelota"... É o equilíbrio que nos salva!
      Depois há aqueles desequilibrados, com demasiado de parvos e nada de "zelotas"... insuportáveis!

      Abraço

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    3. " O Equilíbrio é a medida de todas as coisas"

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  3. @ Silva

    aquilo na Albânia, contra o estrêscoiso foi pela medida grande. o gerbo tirou mal as medidas à rotatividade da rotação da equipa, e levou com tudo à força toda - pior que se fosse com o Évora.
    medindo os prós e os contras, será que será o Arouca a pagar a factura, em Aveiro?

    Abr@ço forte e 'até já!'
    Miguel | Tomo III

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    1. É capaz de pagar é. Afinal o Arouca é da liga do xportem...
      Hasta luego

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