sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Outra palestra da Cremilde e uma sugestão ao Zé (em noite de San Iker)



Um dia a Cremilde acordou bonita. Não se ouviram sininhos de fadas, nem ninguém notou luzinhas de perlim na barraca de zinco. Dormiram todos ferrados, num sono de fome e de cinzentos. Como sempre. 

Ainda por cima, tinha chegado aquela altura do mês em que é Inverno por mais que brilhe o Sol. Frio de quarenta graus sob a torreira das chapas do casebre. Uma chuva permanente nos olhos e trovões nos estômagos mirrados. Os dias em que olhar para os cachopos era ainda mais difícil, de mãos vazias. Sem promessa que se pudesse fazer de côdea para amanhã. Assim adormecera.

Quando se viu no pedaço de espelho em frente da tina de plástico, ansiou por um trago de Blimundo pão duro que lhe tirasse das vistas a miragem. Mas o pão, duro que fosse, era demasiado precioso para ser gasto em literárias artes mágicas. Para além de que não fazia ideia de onde lhe vinha aquele nome Blimunda. Ela, toda a vida feia, sabia só que acordara bonita. Nem tempo havia para duvidar disso, que a hora era de se levantar o Sol para o Mundo e de esfregar o chão do talho para ela.

Com a cabeça cheia de o que será que se comerá à noite e os calos a ferirem-se no cabo da esfregona, nem notou que o patrão entrou cedo. Fresco da cara barbeada e ranço de tudo o resto. Menos da alma, que era podre. Ele sim, pôde espantar-se do estranho acontecido. Bonita que acordou a Cremilde. Jeitosa, mesmo por baixo dos andrajos e do sebo. Imagina-se que haja sebo. Apressou-se:

- Mas que diacho, mulher. Acordaste assim, como que de repente? - Ficou sem resposta, mas não sem um pedaço de nalga que já apertava na mão sapuda. Ela saltou da estranheza de alguém a querer agarrar e encarou-lhe os olhos mortiços.

- Que me quer o senhor? Deixe-me acabar o trabalho e ir-me à minha vida.

- Deixo, deixo. Pois claro que deixo. Mas antes vens ali comigo à geleira. - E sorria lúbrico. - Contar as carcaças. Levas um naco de figadeira se te portares em condições. Se não quiseres, não precisas nem de terminar a limpeza. Pões-te a andar assim esfomeada. E esfomeado fico eu também.

O que não tem solução, está remediado à partida. Com os seus novos lindos olhos no chão, inspecionando o primor do soalho já limpo - que caminhar para o cadafalso não é motivo para se perder o brio - ela seguiu os passos do asco. Entrada na câmara frigorifica, encarou-o:

- Ande, despache-se com a roupa. Tenho o chão para esfregar.

- Podes começar a esfregá-lo já aqui, querida Cremilde. Com os joelhos. - E já quase arfava pelo meio das palavras, enquanto, livre do cinto, baixava as calças de bombazine. Logo seguidas das trusses de algodão. A puxar pelo prepúcio da famélica pila, acenou-lhe com a cabeça.

Talvez ela o tivesse visto logo que entrou. Ou soubesse antes que lá estava. As coisas que as mulheres conhecem são mistérios insondáveis até para alguns Deuses. Pode ser de ter ido de olhos no chão ou apenas porque tinha acordado assim, bonita. Ou Blimunda.

Ao mesmo tempo que se ajoelhava, estendeu o braço direito o mais que pôde. E quando, inevitavelmente, os seus lábios hoje nada gretados afloraram a pele logo acima do pénis do seu algoz, a mão fechou-se num gancho de pendurar os cadáveres bovinos. Perdido no chão.

Ele fechou os olhos a antecipar o prazer. A sentir o seu ego macho a inchar, como as veias do seu falo cobridor. Mais devagar, se de todo, as últimas. Mas o poder - ah o poder - é orgasmo que chegue.

Ela olhou para cima por um segundo. Viu-o de olhos cerrados e sorriso colado. Guardou o vómito e cortou-lhos rentes.   

Depois do grito de dor, a tapar o jorro de sangue que lhe tomava o lugar da pila com as mãos, ele pensou em insultá-la e ameaçá-la. Cedo percebeu que era tarde. A última vez que o talhante viu a Cremilde, ia ela com um vitelo às costas. Ligeira. Bonita.


...

Zé, nenhum medo. És Dragão. Sois todos. Mesmo os que não souberem. De Dragão para Dragão, sem promessas de sucesso nem ressentimentos se não cumprires, aqui te deixo a minha sugestão:

Iker; Maxi, Chidozie, Indi, Layun; Danilo, Hector, André, Brahimi; Marega, Suk

Tu sabes do que é que eu estou a falar...


...

E depois do Carnaval, comemoramos a noite chuvosa de San Iker. Haters gonna hate, but we're back bitches!

13 comentários:

  1. Simpatizo com a Cremilde. E um vitelo, convenhamos, dá sempre jeito... Oxalá ela tenha uma arca frigorífica na barraca. Se não tiver, que partilhe com os vizinhos. Dá-lhe, Cremilde!
    Já o Zé, é-me tinto. Tinto mesmo, que nem na sangria o aprecio.
    BURMELHO!!!!!!!

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    1. O vitelo está lá à laia de borrego. Mas bem, não ias perceber a metáfora anyway...
      Se correr como eu espero, ainda falamos hoje. De outro modo, até amanhã! :)

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  2. A crueza da verdade no "terrorismo" quotidiano que todos nós fingimos que não vemos! Choramos por 2 horas os Charlies deste mundo, e, condenamos, julgamos e executamos veementemente as Cremildes que ranhosamente nem sequer nos dignamos a crer que existem!

    O Zé sou eu, tu e ele. Nós, vós e PORTO!

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  3. Um copo à Nossa caro Silva.
    As notícias da nossa morte eram mesmo francamente exageradas.

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    1. Cheers! E ajudava deixarmos de nos fazer de mortos em alguns jogos. Estes já estão, venham os nazis.

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    2. Ia jurar que vi o grande JNLPC vivinho da silva, mas se afirmam que está morto e enterrado é porque deve estar mesmo.
      Andam aí muitos festeiros que vieram directamente do velório.

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    3. Vivo e aos pontapés. Mas pronto, é futebol. Fica já novinho em folha aos olhos de meio Mundo se continuarmos a ganhar.

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  4. @ Silva

    o Felisberto já disse tudo...

    ps:
    que acordar tão tranquilo. e está um solinho espectacular, mesmo a convidar a umas compritas numa galeria comercial qualquer. acho que vou até ao Colombo. dizem que há por lá uma promoção: dê um leve dois, ou coisa que o valha...

    #obcecados

    abr@ço forte
    Miguel | Tomo III

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    1. É provavel, infelizmente, que a Cremilde exista. Neste caso era uma metáfora, felizmente tornada perfeita pelo resultado do FCP. Também a nós nos criam de joelhos, prontos a ser abusados. Pois fizemos-lhes os tomates em ketchup.
      Abraço.

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  5. kkkkkkkkkk muitos que se dizem nossos estão a dar vivas com ketchup nos cantos da boca.

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