- Na.
E a legionella, hein? Era mesmo bem visto e super atual! Aliás, você não terá isto infestado de legionella? Vai-se a ver, havíamos de evacuar o estaminé. Parece-me até que já vi a bicha por aí.
- Sim, majé bom moço e a gente simpatiza com ele. Para além de que a patroa diz que dá um certo colorido à casa. Acho que é fúcsia.
Ainda perco a cabeça e alego uma gripe forte para escapar a isto, valha-me São João Batista, o decapitado. À conta de uma mulher, já se vê. Era uma mocada naquele focinho que deixava logo as cabeças do desgraçado em paz. Porque é que você não vai antes ver fotos de gatinhos? Olhe, sabe que apanharam um tubarão mais feio que o Herrera? Apanharam pois. É um sinal. As pragas foram lançadas.
- Deixe lá o Antigo Testamento da mão e vamojéspachar isto, sim? - Impaciento-me.
...
- Ora biba quem é um Juiz que mais parece um Inquisidor. Tá bonzinho?
- Vai-se andando. Olhe, como Deus quer.
- Só se fosse parvo é que queria.
- Hã?
- Nada. Conte-me lá, de onde lhe vem essa fixação por mocas?
- Ainda bem que toca nesse assunto, caro Silva. Essa é apenas uma das partes que os media sensacionalistas empolaram, no sentido de procederem ao meu linchamento público. No fundo, tive azar. Se calha ter começado o summit em antes, ninguém se chateava com a moca. Até aposto que as Capazes se entretinham mais com ajapps do que com isso. Mas pronto, foi assim que Deus quis. - Benze-se. - Era sobre o quê?
- Mocas.
- Ah pois, isso. A gente lê o que por aí se escreveu e fica a pensar: ui, havia de ser alguns 50 quilos de pau, salvo seja, crivado de cavilhas de trinta centímetros, salvo seja, a toda a volta. Tipo um híbrido de moca pré-histórica e pulseira dos Slayer nos 80’s. E não era! A verdade, e eu sei porque vi, é que se tratava de uma humilde moca de Rio Maior, com meia dúzia de rebites em doirado. Das mais pequenas até.
- E isso faz diferença? Não aleija, é?
- Quer dizer, há de aleijar menos qualquer coisa. Mas o mais importante é a dimensão cultural.
- Hã?
- Pois claro. Há ali uma promoção do património cultural Nacional implícita. Na figura da moca que é genuinamente nossa. As gentes de Rio Maior, tantas vezes ostracizadas, sentiriam um piquinho de orgulho ao ver o seu símbolo em tudo o que era jornal.
- Um piquinho...
- Um rebite, vá. Gostava de ter acesso à evolução das vendas daqueles artefactos, tivesse a media feito o seu trabalho com rigor. Espalhafato, estão lá todos. Dinamização da economia local, valorização do artesanato Português, é esta vergonha. - Abana a cabeça.
- A sério?
- Se não tem mais perguntas, eu ia andando.
- Kéto! Você farta-se de adjetivar a mulher adúltera. Qual é a sua opinião sobre o homem adúltero?
- Hã? Isso é o quê? Homem quantos? É aqueles que se vestem de gaja e metem mamas e assim? Nunca ouvi falar. Devem ser coisas do Novo Testamento. Ainda vou na primeira temporada, não cheguei a essa parte. A verdade é que o meu tempo de lazer, puf... - Estala os dedos.
- O gajo que, sendo casado, anda a mocar indiscriminadamente com serejumanos com os quais não contraiu matrimónio. Percebeu agora? A esses como os trata? - Enervado.
- Por gandamaluco, fodilhãodocaraças, filhadaputadesortudo e assim.
- Adúltero não? - Espantado.
- Naaa. O homem não comete o adultério, já se sabe. Deus Nosso Senhor criou o homem de maneira a que ele não pudesse fazê-lo.
- Hã? - Já a babar.
- Naturamente. Repare que o homem vem munido de uma única carga. Aquilo dispara-se uma vez e pronto, já está. Passa a coisa a servir exclusivamente para o seu fim mais importante.
- Que é... - A babar abundantemente.
- Excretar.
- Hã?
- Mijar, pronto.
- Não pode! - À beira do aneurisma.
- Claro que é assim Silva. Falo-lhe por experiência própria. Está cientificamente comprovado. Uma vez. Shuuáá. - Faz um movimento de fonte com os braços. - Agora, está claro que o macho é um bicho que gosta de se gabar. É por isso que andamos sempre a dizer que fizemos e acontecemos e tal. No fim do dia, nada. Só na noite de núpcias com a sua legítima. E chega bem, Deus me livre.
- ...
- Já a mulher não. É dissimulada e bastante lúbrica. Está sempre a pensar naquilo. Para ela, os sentimentos importam pouco. Está sempre disposta a humilhar e enganar o pobre do cônjuge, nomeadamente com o suíno do quinto direito. E o do segundo frente, segundo consta na rua toda. É evidente que, devêjenquando, lá há um que perde um bocado a compostura e lhejavia uma mocada ou outra. Repare, isso não está bem, nada de confusões, mas percebe-se. Então quando os rumores já passam da rua e vão no bairro todo, já envolvendo o senhor do talho e dois seguranças do hipermercado da zona, percebe-se ainda melhor. Puta do caralho.
- Como??? Está a falar de quê, homem?
- Da natureza da nossa espécie, Silva. Acontece a todos. E a todas. Pumbas. - Fecha o punho numa moca imaginária e faz o gesto de bater.
- Ai não acontece não!
- Este caso era particularmente grave. - Prossegue, já sem rédea. - A adúltera, não contente em enganar hipocritamente o esposo, predispunha-se ainda a enganar o pobre coitado com o qual concretizara o nojento ato. Estaremos de acordo, por uma questão de humanidade, que isto não justifica um rapto e agressão. Mas atenua bastante a culpa dos coitados. Só se perderam as que caíram no chão. Vaca. Ainda por cima, comprova o espírito solidário e corporativo do nosso género. Inchem!
- Estou perdido. Parece haver aí uma questão pessoal subjacente... - Interrompe.
- Nem pensar, Silva. Aliás, não lhe admito, nem a ninguém, que insinue dessa forma soez que, dado o facto de eu ser manifestamente impotente, a minha esposa anda a papar tudo o que lhe aparece, icluindo o Paquistanês da loja de conveniência. E a mulher dele. E a filha adolescente. Maijoirmão. Vai pagá-las todas juntas, cumó Spacey.
- Eu cá não disse... - Interrompe.
- É demasiado baixo da sua parte. Fique sabendo que vou obrigá-lo a responder perante as instâncias adequadas. Quero dizer, eu próprio. Logo veremos se pode provar alguma dessas alegações. Isto não é assim senhor Silva. - Abana furiosamente o indicador. - Não se pode dizer o que se quer e lesar dessa forma a honra de um homem de bem. Qual adúltera dissimulada, você tem o desplante de me acusar de tomar decisões por influência das minhas profundas frustrações e recalques? Quem lhe atribuiu essa autoridade? Olhe, Deus não foi, certamente.
- Mas... - Ele levanta-se, muito hirto, como se tivesse engolido um garfo.
- Passar bem! - Sai disparado.
À porta, acerta-lhe uma moca de Rio Maior na moleirinha. O impacto fá-lo cair de bruços, já do lado de fora da Tasca, de focinho em cheio num cocó de cão. Fresco.
Olho para o balcão. Pergunto:
- Foste tu, pá? Onde tinhas a moca? - Tremo ao pensar.
- Não, docinho, não fui eu. Mas tenho pena.
- Já te disse para não me chamares essas coisas. Irra, és muito panasca.
- Pois sou, meu chou. - Pisca-me um olho. Dos da cara, foda-se!
...
- Achas que dá para ir lá buscá-la? - Sussura.
- Vai dar demasiado nas vistas, Senhor.
- Então vê lá se arranjas outra. É engraçado acertar com isto no cocuruto dos estúpidos. Havíamos de nos ter lembrado há mais tempo, Pedro. - Ri baixinho. Riem os dois.
A vitima, rameira de bom porte, para descanso psicológico, deveria ter o afecto do Prof. Marcelo, com oferta de deslocação à Web Summit e estadia gratuita na residência da Barbara Guimarães. Só para espairecer.
ResponderEliminar"Dantes", quando o Benfica não mandava nesta MT, seriam só filas clandestinas, para aviar a Senhora que gosta dumas baldas. Agora é bichas escancaradas apenas para foder o Juiz.
Isto está mesmo mudado.
:)
Eliminar:D
ResponderEliminarBrilhante, as ever!
É brilhante, é. O que tu queres sei eu! :)
EliminarEpá, gostei mesmo. Material de 1ª esta história de ficção. ´Tá mm à mestre Silva e qq semelhança com a realidade é mera coincidência.
ResponderEliminarContinuação.
Completamente. Isto lá cabia na cabeça de alguém? :)
EliminarAbraço
É o que faz ser portuga!!!
ResponderEliminarSe fosse americano, só daqui a 30 anos é que a mulher falava, o enfeitado na testa pedia desculpa por ter sido agressivo e o amante da dita cuja seria exonerado do raio de onde estivesse por assédio sexual!
Moral da história: tudo corre mal quando o corno é o primeiro a saber!
Ora, estás a deixar escapar a deliciosa ironia desta história (juiz mongolóide à parte): o amante é que botou a boca no trombone, pq se sentiu traído! Opá, não fica melhor do que isto :))))
EliminarUma vez conheci um colega de trabalho que andava sempre triste e amorfo. Até cum dia, não me contive e perguntei-lhe se tinha falta de dentes na frente ou então era um grande caloteiro. O fulano respondeu-me que nem uma coisa nem outra. A tristeza dele prendia-se com o facto da amante andar a pôr-lhe os palitos com o próprio marido!!!
EliminarHá gente que nasce com o cú virado para o dark side of the moon!
https://www.youtube.com/watch?v=6A57AImmu74
Tanto ano jogou o Adolfo no Benfica!
ResponderEliminarJá controlavam tudo, incluindo o Centro de Medicina. :)))
:)
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