segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
A ronda das mesas
(para o Armando Monteiro, na esperança que continue a passar por cá)
- Mula Velha?
- Sim, é para nós Silva. Olhe lá, então já temos o Eusébio a caminho do panteão hein? Vá lá, diga la que é por ser do glorioso. Aposto que está tudo comprado, não?
- Engano seu, lampiãozito. Eu acho que o Eusébio é, de facto, alguém que transcende o seu clube. Um símbolo nacional, se quiser. Olhe, como a Amália, que também por lá anda. Claro que estou tentado a fazer uma analogia com o Fado, Futebol e Família. Os dois primeiros já la estão. E o que vocês, nesse contraditório vermelho, gostavam do tempo dos três Fs, hein?
- Lá está você... - Interrompo:
- Aqui fica a garrafinha. Bom proveito. Ah, e já agora, um dia destes diga-me o que acha que devemos fazer com o Carlos Lopes e a Rosa Mota. Campeões olímpicos, unanimemente considerados lendas vivas nos seus desportos. Enfim, símbolos nacionais. Construímos um avançado ou uma marquise no Panteão? Que me dizem? Até já
- Ora cá está um traçado, um Três Marias e dois Submarinos. Era isto, certo?
- Nem mais amigo. E os gregos hein? Lá vão levando a água ao seu moinho. Surpreendido Silva?
- Porquê? Por terem conseguido mudar o nome da Troika para Instituições Internacionais? Por terem pedido mais seis meses de resgate e terem conseguido quatro? Por terem deixado cair o perdão da dívida? Por terem até hoje para apresentarem medidas de austeridade, chamem-lhes o que quiserem? Não amigo, nada surpreendido, não é como se tivessem remédio. Mas ainda não perdi a esperança que isto acabe por servir para alguma coisa. Qualquer coisinha é só gritarem ok?
- Você é tramado...
- Tosta mística à Tasca e uma Opinião a estalar. - Sorrio.
- Obrigadinho pa. Olha lá, já reparaste que anda tudo a ferver por não dizermos nada? Eu também já não percebo, porra. É demais o colinho, roubalheiras em todos os jogos e nós moita carrasco! Achas isto bem?
- Nem acho, que é para não discutir contigo.
- A sério pá, o que achas?
- Pelo que vejo nos tascos que vou visitando, acho que a culpa do colinho aos vermelhos é... - Pauso de propósito, fixo nos olhos expectantes do meu compincha. - A culpa, meu caro, é do Pinto da Costa. Tanto nos ensinaram isto, que parece que agora já acreditamos. Haja pachorra. - E viro-lhe as costas.
- Não te vás embora. Já engoliram o Lopetegui, agora parece que vão mesmo ter que engolir o Tello. Deves andar todo inchado, meu sacana.
Não consigo evitar arreganhar a taxa. Instintivamente olho em volta, à procura do Miguel. O tipo avisou-me para não me por com "eu sabias". Mas era mesmo de "eu sabia" aquele sorriso. Espero não ter sido apanhado.
- Meia de leite e meia torradinha, minha linda.
- Ai Silva, você é cá um maroto. - Adoro quando as rugas se distendem e os lábios desenham aquele sorriso e os olhos ficam 40 anos mais novos. - Oiça lá, parece que houve aí um jantarinho muito secreto, não foi?
- Foi? Não reparei. Se descobrir alguma coisa conte-me logo. Sabe que eu detesto perder essas histórias. - Ela sabe que minto com todos os dentes, incluindo os chumbados.
- Prometido. E fique descansado. - Semicerra os olhos numa linha. - Eu vou descobrir...
- Aqui está a sua tacinha de tinto, avôzinho.
- Obrigado. Ajude-me aqui nas palavras cruzadas: quatro letras, o que é o que pretende ser tudo? Não chego lá...
- Nada!
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ResponderEliminar@ Silva
t-o-p!
(como é o timbre desta casa)
e 'Obrigado!' pela referência
abr@ço
Miguel | Tomo II
Obrigado Miguel. E como vês, já fazes parte da mobília. :))
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