segunda-feira, 18 de maio de 2015

Melão DOC ou o bálsamo imanente




Dói-me a cabeça e tenho o estômago a desembrulhar-se num novelo de enchidos em vinha d'alhos que juro que não comi. Quer dizer, tanto quanto posso jurar. Fazemos assim, juro até às duas da manhã. Depois disso, só ligando para casa para perguntar. E agora não me apetece, nem é assim tão importante, certo?

Há uns 30 anos que não ressacava assim, pelo que me dizem aí pelo Mundo cibernético. Apesar de as contas da minha idade, e os pedaços de memória que começam a despontar por entre a bruma de etanol, me dizerem que é praticamente impossível que isso seja verdadeiro, percebo o alcance da graçola e confesso que me faz sorrir. Às vezes, é dos lugares mais inauditos que nos chega conforto. E que fina ironia proporcionarem-nos alívio e ânimo, enfim, forças renovadas para prosseguir, quando o que queriam, mas mesmo!, era juntar uma achinha à fogueira que nos assa. Talvez seja azia apenas. Tenho que ir conferir o inventário das farinheiras.

Embora tenha a perfeita noção de que a minha cabeça tem, hoje, Denominação de Origem Controlada de Almeirim, já a caminho de melancia, parece que me pesa muito menos. Uma parte disto deve-se ao que me fizeram rir a maioria dos lampiões que cá vieram molhar o bico até agora. Um virou-me um abraço e pegou-me ao colo. Outro apareceu muito cedo com um Nenuco, a dizer que o cachopo só estava bem era ao colo e tapadinho com uma mantinha protetora. Mais aquele que proclamou bem alto que ele, no máximo, é heterocampeão, que isso dos Bis só se for de maçã. Têm sido bastante civilizados, mesmo que cada olhar me diga "Incha Silva, embrulha porco". Oh well, é pouco mais ou menos o que lhes faço tantas vezes. Só que eu é em bonito.

A PDI também ajudará qualquer coisinha, é verdade. É diferente comparar uma derrota no futebol com fugir pela escada de incêndio enquanto se apertam as calças; ou com o rol de coisas más a sério que a Vida nos oferece enquanto se prolonga. Cada macaco ganha o seu galho, com calma e estupidez natural. 

Melhor que tudo, é que acabo de perceber que o verdadeiro bálsamo para esta minha dor - que dói, dói pois - vem de dentro. Como sempre, é nos meus que encontro a paz.

(- É a azia, Silva. Ou o refluxo. É assim a modos que um ardor, não é? Quer que vá buscar um balde?)

Mas é que é mesmo verdade. É o sorriso contrário ao meu, que vou notando em alguns azuis e brancos, que me faz estar a ter um dia melhorzinho. O facto de um punhado destes, ou menos que isso, estar genuinamente satisfeito, tanto como qualquer lampião ou - será possível? - até mais, relativiza-me por completo a frustração. Caraças, afinal podia estar bem pior. Podia estar contente! Quase - e neste quase leiam o respeito que teimo em guardar por quem, mesmo que muito de vez em quando, se crê portista. - feliz! Por não ter sido o Porto a ganhar... Raios, que triste fado o deles!


...

- Pegue lá um Gaviscon. E um copo de vinho, antes que fique seco.

- Que é feito dos bons velhos Rennie?

- Estes vêm em saquetas e tal. É para chupar como os outros, mas engolem-se melhor. - E ri-se, pois claro. Outro é menos paciente e menos subtil:

- Falas muito, e às vezes bem, mas dar o braço a torcer, tá quieto! Não tarda estás outra vez a gritar aqui d'el Rei que os estão a levar ao colinho... Calimeros tontos tripeirus melonis, hein? - E ri-se igualmente.

- O colinho está lá, não há como esconder, nem vale a pena tentar. E o manto também, é mais que evidente. E não é novo, nem pensar. Até já tem borbotos e tudo.

- Ah, que alivio. Estava a ver que tinhas, sei lá, crescido...

- Mas também te digo, seu lampião inchado, com andor incluído, perdeste este campeonato em dois jogos. Como o do Kelvin. Nós é que não estivemos lá para o ganhar...

- Oh sim, sim, o jogo na Catedral e a falta de sorte em casa e blabla. Tem juízo moço...

- Nop. Na Madeira e em Belém. Quatro pontos, Porto Campeão. E aconteceu, só que deixámos que desacontecesse.

- A diferença entre as boas e as grandes equipas...

- Brindo a isso.

- Obrigado, Silva. Não precisas de dizer, ficamos pelo brinde e poupo-te a palavra.

- Grazie. Mas olha que vamos a caminho...

4 comentários:

  1. Amigo Silva

    Junto-me a si aqui na tasca, não para carpir mágoas, mas para partilhar do seu optimismo, pareceu-me.
    O Vasco, como se diz aqui na terra da tasca, está a ser trucidado por todos os lados, de dentro e de fora, mas ao ver aquele puñetazo na cobertura, fiquei a acreditar ainda mais que ele é capaz de na próxima partir os dentes ao homem da manta.
    Sirva-me lá uma picheira do néctar dos deuses, acompanhado por um prato generoso de tripas, que eu não tenho estômago para azias.
    É hora de soltar as traças, que a manta há-de ser destruída.
    Com inteligência, calma e muita competência, serviremos o melão numa quinta relvada, à média luz, e com água de nascente fresquinha a brotar do solo, depois de um repasto de feno, apanhado no mar da palha.
    Check, please.
    https://www.youtube.com/watch?v=VL_QRyq_rVk

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    1. E é que é já a seguir! Obrigado pela visita, pelo belo naco de prosa e pela boa música ainda por cima.

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  2. @ Silva

    passei por aqui só para o cumprimento obrigatório.
    de resto, ando f**ido da cornadura, com um sorriso mais do pwd amarelo e pouca ou nenhuma vontade de conversa.
    desculpa. não é nada contigo. "o problema não está em ti, está em mim", estás a ver?

    (isto não significa ter que levantar a cabeça ou outros mimos do género, que ela só baixa para beijar o símbolo)

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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    1. Anda cá pa. Sobrou-me uma destas do almoço de Natal. Traz um copo...

      BREIJOEIRA

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