A morte é uma tipa eternamente inconveniente. Nunca chega no tempo certo. Não há noticia de alguém, alguma vez, ter dito, ou pensado: Ena pá, olha a Morte. Mesmo na horinha, sua marota. Ainda bem que apareceste.
Mesmo quando se trata do falecimento de outros, que não do próprio, dificilmente se imagina o advento no momento oportuno. Ou gostamos do proximamente desaparecido - e a sua morte é sempre prematura; ou detestamos o coirão prestes a bater a bota - e, mais educação menos religião, em algum minuto pensamos com os nossos botões: Já vais tarde, seu coirão. Precisamente.
Digamos que, de um ponto de vista logístico, valorizando o conceito de entrega "just in time", a Morte é uma vergonha. Buuu, buu.
Está claro que é inevitável morrer, quanto a isso - batatas - nada a fazer. Um gajo já nasce a berrar e, a mim, ninguém me convence que à primeira palmada sentimos uma dor que nos põe a chorar.
O que dizemos, a plenos pulmões, é: Fuooooda-seeee, eu não quero morrer! Buuuuuááááááá. Quem não chora, é porque está tão deprimido que já nem protesta. Ou já nasceu morto, naturalmente.
Apesar de tudo, de um ponto de vista prático, a utilidade de pessoas falecerem é inquestionável. Majé pessoas, não é eu. Nem pessoas que não me dá jeito nenhum que sigam desta para outra qualquer. Sinceramente, não vejo porque motivo não poderiam abrir uma excepção para mim e mais uma listinha seleta de indivíduos da minha preferência. É mais indivíduas, até.
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O tema permite uma multiplicidade de abordagens tal, que dificilmente sairíamos daqui a horas de trabalhar o meio dia da tarde. Por isso, e com grande perda, deixem que me foque exclusivamente no motivo de vos vir secar a paciência hoje: A Morte não é indiferente ao banzé que dela se faz. E o alarido em seu torno, diz dos Povos.
Vejamos, morreu Mário Wilson.
A maioria de vós, terá deste homem a mesma imagem que eu: Um senhor simpático, que treinou alguns clubes. Grande e reconhecido lampião, uma figura da agremiação de Carnide. Que tenha marcado o desporto em Portugal, pode ser mais discutível. Que seja um marco incontornável da nossa História e da nossa Cultura, ainda menos pacífico será.
Não se escamoteie a importância da bola na Vida, nada disso. Nem sequer a relevância de Mário Wilson para o Clube pelo qual se apaixonou. Tudo isso está muito certo e sou ninguém para tecer considerandos a esse propósito.
A mim, comum não apaniguado do dito grupo desportivo, em condições normais, a notícia devia deixar-me aquele travo típico: Oh, coitado, morreu. Paz à sua Alma e esperança que a família e amigos se confortem neste hora de dor.
A chatice é que desenvolvi um pensamento analítico que me torna num idiota chapado. Quero dizer, as coisas fazem-me ter ideias e pensamentos e assim. Na maior parte das vezes, é coisas basto estúpidas. Deve ser esse o caso.
E então, estranho que tenha ficado hoje a saber muitas e muitas e muitas coisas sobre o falecido Mário Wilson. Todas desembocando numa grande certeza primordial: Mário amava o 5LB.
E assim se explica o banzé. Todos os media transformaram o seu espaço noticioso num grande Obituário. Morreu Mário Wilson, o homem que jogou pelos calimeros, mas era dos de Carnide; o homem que se fez homem em Coimbra, mas era dos de Carnide; o homem que, enquanto treinador, ganhou um Campeonato Nacional e duas Taças de Portugal, pelo Carnide.
Fiquei ainda a saber o que dele pensam - e quanto o consideraram sempre e o muito que com ele aprenderam - inúmeras figuras do nacional fintabolismo. A começar por gente de Carnide.
E pronto, como era suposto, lá fiquei repreendendo-me por ter, até hoje, ignorado tanto e tantos. Em dado minuto, por breves instantes dele, cheguei até a decidir-me a estudar com afinco a História da Freguesia de Carnide.
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Se vos disser que morreu Herberto Helder, não espero que todos abanem pesarosamente a cabeça, com ojolhos baixos. Porque sois ignorantes? Não.
O espaço que o HH ocupou nos nossos quotidianos mediatizados, é bem menor do que o que lhe dedicaram pela sua morte. Mesmo sem saber se pugnava pela Freguesia certa, avisaram-nos da sua partida. Brevemente.
Provavelmente, o que se passa é que é mais fácil contar quantos milhões, de todos os milhões que gostam de bola, são de Carnide. Muito mais fácil do que descobrir as dezenas, de entre os milhares que gostam de ler textos em forma de lista, que sentiram um certo vazio pelo desaparecimento do Herberto.
Simplifiquemos. Como unidade de medida, por grande respeito à propriedade privada, utilizemos a estação publica de TV.
A RTP dedicou à noticia do infeliz desaparecimento de Mário Wilson uma série de, pelo menos, 5 testemunhos, totalizando o tempo de antena de 3'50'' minutos. Estamos a ignorar, por não ter visto, o tradicional "A vida e obra" e, mesmo tendo um grau de certeza elevado, não estamos a considerar que a RTP passou, ou passará, o excerto de determinada gala do 5LB em que Mário Wilson interveio.
Herberto Helder será, segundo doutas opiniões, considerado, em tempo, uma figura à altura de Fernando Pessoa. Goste-se ou não da sua obra, o que esta asserção encerra para a Cultura de Portugal, para a sua História e, acima de tudo, para a parte mais importante do seu Património - que é a Língua - é de tal modo grandioso, que se sente o silêncio que nos invade a Alma. Caramba, Pessoa!
O Herberto morreu há mais de um ano, sabíeis? Se a resposta é não, é porque não estivestes atento ao nosso canal público. De facto, por época do seu desaparecimento, a RTP dedicou-lhe nos seus noticiários este excerto. Totalizando 1'25''.
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Debato-me desde esta manhã com três insistentes desconfortos.
O primeiro, é uma questão: O que quer isto dizer de Nós?
O segundo, é um esforço - que será bem sucedido! - de vencer preconceitos e estereótipos. Enfim, deixar-me de merdas. A bola é mais abrangente do que a Poesia - e então? Mas quanto disto tem a ver com a importância que nos ensinam a dar a cada uma?
O terceiro, é uma certeza absoluta: Nenhuma freguesia é um País inteiro.
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Para cabal esclarecimento das Almas, diga-se:
Nada contra Mário Wilson. Pelo contrário, repito que me parecia um senhor muito cordial e equilibrado. E simpático, outra vez.
Herberto Helder não está entre os meus autores favoritos. Também não posso dizer que não gosto, porque não conheço o suficiente da sua obra para ter opinião. Sim, é deste tamanho a minha ignorância quanto ao assunto.
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A poem for obituary: Se o Sul é para trás e o Norte é para o lado, é para sempre a Morte.
Morrer é chato, realmente.
ResponderEliminarMas se fosse o Pedro Henriques, até que era uma notícia agradável.
Para que conste, foi este senhor, Anónimo, que disse isto. Não fui eu! Credo :)
EliminarMorrer um mouro por dia dá saúde e alegria.
ResponderEliminarFoi dito e está dito.
Em sentido figurado! Este senhor diz isto em sentido figurado, seguramente. Somos demasiado poucos para nos dispensarmos com tanta ligeireza. Digo eu...
EliminarA Morte, mais não é que a grande digestão da Vida. Sem Morte não viveríamos.
ResponderEliminarPelo menos aqui neste planeta violento, onde tudo o que existe por cima e por baixo da terra tem que dar ao pedal pra não ser comido.
É de reparar que em certas culturas, a Morte é representada por um ceifeiro ora vestido de negro ora vestido de branco, e noutras, por uma gaja bem boa por sinal!
De qualquer modo para esticar o pernil, tanto faz que seja o gajo da gadanha como a branquissima senhora. Batemos a bota e pronto. Não há volta a dar nem ressuscitações ao 3º dia.
Finish, kaput, fini... ou a isqueiro ou a sobretudo de madeira mais não seremos que uma vaga recordação.
De qualquer modo, não tenho medo da Morte. Talvez venha a ter medo de morrer que é ligeiramente diferente...
Confesso a minha ignorância pelo Herberto Helder! Juro que foi a primeira vez que ouvi falar do homem, mas o Mário Wilson, esse sim, já ouvi falar dele, como já o vi, enquanto treinador de certos clubes.
O seu benfiquismo nem se discute; basta ir ao baú das lembranças e ver um fulano de fato de treino vermelho e sapatos de bico envernizados. Querem melhor simbolo do que este pra ilustrar o Wilson?
E parafraseando alguém, a noticia da morte do MW foi manifestamente exagerada pela CS a sul do Antuã...
https://youtu.be/93AiHtAfbCs
Tá bem, mas ainda assim prefiro a gaja bem boa. Não sei pá, parece a pessoa que vai mais confortadinha. :)
EliminarLong live the Reaper. Ah, os clássicos...
Gostei dos sapatos bicudos envernizados num fato de treino vermelho:) e vêm aí os vestidos de noiva.
ResponderEliminarDe certeza que era o pai do Barbas.
Agora deram em consultores de moda, estes. Falam mal de toda a gente, nem os mortos descansam. Raio de feitiozinho hein? ;)
EliminarO MW fazia-me lembrar um prof de matemática que tive no 3º ano (agora 8º ano), que dizia: há legumes di voceis que sirom aliguem na vida! Os ótros sirom troilhas e pidreiros...
ResponderEliminarTradução livre: alguns de vocês serão alguém na vida. Os outros serão trolhas e pedreiros.
O mais curioso é que ees meu prof também tinha barbicha rala como o Wilson. Haveria "á legume" parentesco entre eles? Não sei...
:) há ligumes é muito bom!
EliminarCom a morte de Mário Wilson o país ficou mais pobre (conversa da treta).. eu por mim não dei por falta de nada. Menos um mouro benfa. Paciência, é o que eu sinto, e não vou ter revanche porque não sou importante como era o Mário Wilson e principalmente porque sou portista.
ResponderEliminarCumrimentos portistas
A.Martins
Ser Portista é um belo passo para o anonimato em Portugal. Ou para o estrelato, se for por mais motivos..,
EliminarEra: maus motivos.
EliminarSe ha algo que da a vida eterna em jeito de reforma prolongada, é ser-se presidente da republica. Ja viram que esses nao morrem? Porque sera? Algum pacto com o diabo?
ResponderEliminarShhhh, acho que não era para chamar a atenção! Se acontecer alguma coisa aos moços, foi o Matias! Não fui eu!
EliminarShiiiiiiii esses nem IMI pagam, como podem morrer?
EliminarNanana, isso não conta! Ou então o Soares dos Santos tinha que ir falecer à Holanda. E o Orelhas era imortal de todo. Credo!
EliminarSim, sim, tudo muito bonito e tal, mas a pergunta fundamental ninguém a faz: e agora quem é que vai para o Rossio vender chuchas e preservativos?
ResponderEliminarMais do que isto, só mesmo citando isso pior cineasta português de todos os tempos: eu quero é que o MW safuod@!
Diz que no caso do MW, isso já não será possível. Mas Hey, vai-se a ver, até é. Eu cá nunca lá estive...
EliminarPor falar em mortes. Agora já há tanatórios, mas antigamente não havia mortes sem enterros (ou enterros sem mortes? agora é que fiquei baralhado de todo), pelo que quando o dito falecido era descido á terra que o havia de comer, era tradição que os entes mais próximos deitassem um punhado de terra. E quando digo os entes mais próximos refiro-me aos mais próximos parentalmente, não aos mais próximos da cova! Apre, tenho que explicar tudo!
ResponderEliminarPois bem, um belo dia, fosga-se, um mau dia, foi a enterrar uma pessoa muito chegada á familia da minha cara metade, mais concretamente o velhote dela. Já no cemitério do Prado do Repouso (que poético e bem metido nome a um cemitério!!!), a urna do meu sogro foi descida sem pompa mas com circunstância. Um dos filhos do falecido, que por lei fez ser meu cunhado, ao deitar o seu respectivo punhado de terra para a cova, tamanha foi a emoção, que não conseguiu largar da mão aquilo que devia lançar, pelo que foi junto e de cabeça aterrar bem em cima da urna do defunto!!!
No meio do silêncio e da consternação geral, eis que se ouviu uma vozinha inocente e acriançada que disse: aproveitem agora todos e fechem a cova!!!
Apegado ao pai, ainda vá. Mas assim, é um pedacinho exagerado, não? :)
EliminarOutra coisa que nao compreendo é a forma mal amanhada em que se organizam os cemiterios em portugal. Bem sei que quem vai nao se chateia, mas esta tudo muito junto. Na america veem-se grandes prados para o descanso final, a larga. Por ca, é tudo muito à justa, ate no fim da linha.
ResponderEliminarEpá, tem que ser. Se desatamos a enterrar a malta à larga, temos que anexar a Galiza! Senão não temos espaço para meter as rotundas e viadutos e assim...
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