domingo, 20 de novembro de 2016

Rol de raros e estranhos fenómenos, por Q.Q. Silva



O senhor Quintino Queirós, nasceu Quevedo, como seu pai e, antes dele, o seu distinto avô. Do casual casamento do nome próprio que o padrinho lhe deu, em homenagem a um tio que não chegara a conhecer, e os apelidos das árvores familiares que em boa hora o fabricaram e trataram de parir, chegou-se ao estranho QQQ das suas iniciais.

Se os Queirós nunca sonharam com um elegante zê que lhes aristocratizasse o apelido, já os Quevedo transportavam, orgulhosos, a bandeira de Brasão, para onde quer que fossem. De mãe lavradeira - da terra e do corpo, que nunca a sua cama foi conhecida pela monotonia - e pai patrão, não viria ao Mundo um Quintíno com anagrama dúbio. Ficou Silva.

O senhor Quintino Queirós Silva carrega impante o brasão dos Quevedo e os olhos sonhadores dos Queirós. Segundo duas ou três balzaquianas aqui da terra, não envergonha a ascendência quando se trata de lhes abrasoar a pele. Acrescente-se o orgulho nas origens, manifestado em todos os cumprimentos e apresentações:

- Muito gosto, Quintino Queirós Silva, nado e criado no Entroncamento, aqui acabado por voltas da vida e do coração. Um seu criado. - Se se trata de público feminino, que os homens não merecem criadagem que lhes alivie os fardos. O Quintino é que sabe.

Fica evidente que pouco surpreende o senhor QQ Silva, de tão habituado ao fenomenal, inusitado e inesperado. Mormente ao nível do tubérculo, do legume ou do bicho amestrado. Da batata cuja metade trazia impressa uma figura do Santo Sudário, à abóbora que só à força de grua se conseguiu transportar, passando por um vitelo que era a cara chapada do seu tio Inácio. À época que andava a estudar para padre. O Inácio.

A isto dedicou a sua vida, com assinalável sucesso. Às costas da desnecessidade de ganhar sustento e do tempo livre que isso tende a deixar às pessoas. E respetivas mentes. QQ Silva é Caçador de Raros e Estranhos Fenómenos. Assinala-os, sem perder tempo a analisá-los. Afinal, quem nasce em terra com nome tão honesto - pois que de um entroncamento de facto se trata - não precisa de fingir que tudo se explica.  

Quando astros se alinham de determinada forma - não sou astrónomo e nem astrólogo, pelo que não faço ideia quais astros e, ainda menos, qual forma. A de um legume, se calhar. - desatam a acontecer coisas fenomenais de seguida. O senhor Q explica.


...


ROL DE RAROS E ESTRANHOS FENÓMENOS RECENTES, por Q.Q.Silva

1) O senhor Silva, o tasqueiro, pede desculpa em público.

Assisti há pouco a este estranho e raro acontecimento, capaz de relegar para os confins do esquecimento a descoberta da galinha que punha ovos de madeira. Daqueles de cozer as meias. 

O senhor Silva tasqueiro, posto defronte de um cliente, falou em tom suficiente para que todos ouvíssemos e pediu-lhe desculpa. Reproduzo para memória:

- Nuno, tu sabes que há coisas tuas com que simpatizo. Olha, por exemplos, o cabelo e a barba ralos e dessa cor sal e pimenta; os óculos para o quadrado; as origens Africanas. Pá, se fosses em bonito, eras até parecido com alguém que eu conheço. Já do lado da bola, tenho-te semidesancado amiúde e já te disse que não estou nada convencido. Mas sabes, desculpa pá. 

Eh lá, arreda. Nada de abraços e lágrimas e panascagens afins. Ainda não somos íntimos e contínuo pouco convencido. Mas devo-te este honesto pedido de perdão. Porque a verdade, meu caro, é que a sermos roubados no limite da escandaleira - e não no topo da pouca vergonha, como acontece - estarias em estado de graça. Serias o líder do Campeonato, estarias na 5ª eliminatória da Taça e já tinhas limpo lampiões e lagartos pelo caminho. Foda-se, erajomáior, rapaz. É assim que se criam - e que se impedem - ajondas. Olha, as verdes e encarnadas, por exemplo.

Assim, és só um burro que tão depressa acerta, como falha. Na! Só falha. És um manso, como o Presidente. Quando podias ser um tipo cheio de classe, que mesmo roubadinho não lhes liga nenhuma. O FCP é uma miséria e vamos a caminho do fim. A saque, ao abandono, sem rumo nem glória. A culpa é de quem manda. E tua. 

De quem vê doze penalties, em onze jogos, serem esquecidos e, mesmo assim, defende que com um Presidente a sério e um treinador em condições ganhávamos cincazero, é que não é! Achas? Não, pá, apontar baterias para os nossos lindos pés é que nos fará caminhar melhor. Tens dúvidas disso? Pois. Eu também.

Por mim, peço-te, para já, desculpa. Desculpa por ter demorado a perceber que, repito, devias estar à frente do Campeonato, em frente na Taça e a preparar, em ombros, a qualificação para a próxima fase da Champions. Onde estamos porque nos apuraste. É isto.

2) A Frente Fria do Campo Grande

Há noticias perturbadores acerca da existência de uma Frente Fria permanente, o que é raro e estranho, na zona do Campo Grande, em Lisboa. O fenómeno começa a ser basto documentado.

Ao que se sabe, a Frente Fria do Campo Grande baixa quando lhe dá na gana, provocando a súbita mudança de estado dos gases que resultam da evaporação. Digamos que estamos, por disparate, num balneário, a fumar um cigarro eletrónico. Chupa-se a coisa com força, salvo seja, para matar o vicio. Se, por bidisparate, quisermos expelir o vapor que restar, após o percurso pulmonar, nas trombas de alguém, pode bem acontecer que a Frente Fria acabe por liquefazer o fumo. Parecendo que não, pode ser desagradável.

3) A Burrice Humana

Não sendo um fenómeno raro, torna-se cada vez mais estranha a capacidade do Homem ser completamente tapado. 

Há algumas décadas apenas, um tipo pequenito e algo enfezado, moreno, crê-se que de linhagem judaica, escreveu um livro. Os iluminados fartaram-se de rir com aquilo. Tanto, que lhe entregaram o poder numa bandeja, pouco depois. Confiantes.

Afinal, era evidente que tudo aquilo eram exageros próprios de campanha. Para além de que eles próprios seriam, sempre!, o garante da normalidade.

Pelo Mundo fora, a populaça fez piadas ao longo dos anos. Com o bigode, o cabelo, o tom de voz irritante, o discurso estupidamente radical. Enfim, com o anúncio de viva voz de tudo o que estava por vir. E memes. Ai, espera, memes ainda não havia.

Hoje há protestos em Nova Iorque, e memes, em outras cidades também, e memes, porque outro moço com o cabelo esquisito se apresta a fazer aquilo que...disse que ia fazer. E elegeram-no. Numa bandeja de prata.

Credo.
  
4) Um Crescente, uma Estrela, um Estúpido perigoso (outro)

O Presidente da Turquia saiu por cima de uma recente tentativa de golpe de estado. Que por terem estado, alegadamente, envolvidos nela, tenham sido detidos milhares de militares, juízes, professores e etécéteras, é capaz de ser revelador do grau de confiança que a dita sociedade civil tem no seu Presidente. Da militar nem se fala.

A Liberdade de Expressão parece que também ficou com termo de identidade e residência. Bem como algumas outras liberdades fundamentais, ocidentalizantes. 

O raro e estranho fenómeno, no entanto, é que este senhor, cavalgando a sua importância estratégica, ainda manda postas de pescada. É mais arrotos

Ou seja, a Turquia quer ser Europa, Unida, mas deixem lá isso da Liberdade e assim, que chatice. Que mal tem uma pena de morte por outra? Mas se vão ser picuinhas, então óspois não se admirem que bazem mais uns quantos. Olha, com um bocado de sorte, criam uma Companhia concorrente. E aceitam a Turquia do Erdogan a partner.

Se fosse cavalgar um ananás panado em gravilha e cavilhas enferrujadas é que ele estava bem. Embora fosse igualmente estranho. Mas não propriamente raro, já se sabe.

5) A Fé

Eu quero muito, muito, muito acreditar. Eu quero, eu posso, eu vou acreditar. Que estranho. 

Mas não se esqueçam, geringôncios, que nós sabemos que a CGD é pública. Por isso, os gestores da CGD são administradores de uma entidade pública. O que os obriga a cumprir os mesmos requisitos de todos os outros. E estamo-nos a cagar de bastante alto para os compromissos, mesmo que escritos, que V.Exas. assumam. 


...

Somos comuns e temos senso. Nada podeis contra nós. Mas queremos acreditar. E vamos. Vou?


... 

Soundtrack to rebellion: Vivam o Povo e rebeldia!

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- Pedro, tens algum anticiclone, ou outro fenómeno climatérico do género, estacionado no Campo Grande?

- Hã? Quem é que desenterrou esse desassunto, Senhor? - Incomodado.

- Oh, o do costume...

- Raisparta! Vou ter que mudar o bicho de poiso, que maçada. Irra, fulaninho embirrante!

- Estou farto de te dizer...


11 comentários:

  1. Agradecido, senhor Azul e Branco. Para já, fica o Erdogan sem link, que neste dispositivo não posso alterar. Amanhã também é dia... :)
    Abraço

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    1. Link turco devidamente corrigido e reposto. Vai Silva!

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  2. Esse Erdogan é avançado de centro? Que venha rápido que agora qualquer merda serve.

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    1. É mais extremo. Só não tenho a certeza para que lado extrema :) Mas mais vale o Varela ao pé coxinho que o Erdogan, dass.

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    2. kkkkkkkkk O Varela ainda pode dar um bom presidente no Sudão.

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    3. O do Sul? Não sei, não sei... Aquilo é malta que já tem problemas que cheguem :))

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  3. um turco e um argelino (proscrito) a extremos, com um ponta-de-lança servo-croata um pouco radical (inclusive a marcar golos)... Ui! que trio explosivo 😎 nem havia Espírito Santo (de orelha) que lhes chegasse a roupa ao pêlo 😃

    abr@ço forte
    Miguel | Tomo III

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    1. Lol.
      No entanto, nós na AST (Associação dos Seguidistas do Tomo) estamos um bocado aperreados com a atual direção. Comissionistas pá, não querem fazer nenhum. :)
      Abraço

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  4. QQ... as duas letras da matricula do meu calhambeque!!!

    Quanto ao rol, ó Silva, desculpa mas:
    1 - 12, 24, 36 penalties. Falta saber se serão transformados ou se esses penalties se tornarão em grandes penalidades após prolongamentos e afins. O que me faz lembrar que em zona de ladroagem é estúpido deixar-se a porta aberta, não?

    2 - A Frente Fria do Campo Grande aqueceu tanto que agora já ninguém fala dela. Evaporou-se tal como a bisga do Bruninho!

    3 - Hitler foi eleito democráticamente! E porquê? Porque os democratas só fizeram merda atrás de merda que o populismo desesperado, em fome e sem futuro foi presa fácil.
    Nos EUA foi exactamente igual.Os democratas puseram uma vaca a candidata e depois queixaram-se de a ver pastar...
    Mais uma vez o LFV ganhou. Quer dizer o Trombas ganhou!

    4 - As ditaduras estão para a democracia, como a manteiga para o pão. Ou como deus para o diabo. Ou como as putas para os azeiteiros. Se um se vai embora, o outro desaparece!

    5 - Eu, Felisberto Costa, tipico gajo da classe média-baixa do Portugal secular, desde que nasci sempre ouvi a palavra crise. E desde que nasci sempre ouvi os politicos a dizerem que temos que apertar o cinto, as calças, as cuecas, e comprar suspensórios! E, eu tal como a grande prole do proletariado, que do pouco faz muito (é curioso ver que na minha faixa socila existe muito mais solidariedade do que algum dia a igreja católica poderia supor) já está habituado á crise.
    Não há bife? Vai umas cavalas (que agora estão na moda pela gente chique). Não há caviar? Vai uma "milhas de bacalhau" que sabem tão bem melhor, já que nunca provei o dito cujo.
    Crisis? What crisis?
    Socialismo, comunismo, social-democracia, fascismo ou terrorismo, se não fizermos pela nossa vida, aí sim, tamos feitos ao bife. Ou como disse o Kennedy naquela frase que virou postulado...

    P.S. É impressão minha, ou estou hoje muita rezinga?

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    1. Hoje? Estás sempre! Deus te conserve assim. Passo a provocaçãozita Divina :)
      1. Não sei se seriam golo. Mas também não é garantido que não dessem. Estamos pois no campo da probabilidade. É maior a de que fossem mesmo golos. Vai dai, é provável que eu tenha razão. Assim como é verdade que Andorra estar aberta não desculpa o ladrão. Nem a mini saia o violador.
      5. Fazer pela vida é sina de quem está vivo. Se não tiver que pagar os dislates de outros, ainda melhor. E quem faz por ela, merece bem comer cavalas só quando lhe apetece. Não porque tem que ser.

      PS. Já agora, o Adolfo não foi eleito democraticamente. Só depois de estar no poleiro ganhou eleições. Não sei o que isto me faz, fará, lembrar...

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    2. Era: a porta estar aberta! Quais Andorra? Raisparta!

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