terça-feira, 22 de novembro de 2016

O dia em que Charlize salvou a Humanidade e Pacotes de Açúcar




Andava intrigado com isso do desafio do boneco. Achei que, sendo uma coisa que existe lá na ciberlândia, a minha especialista em redes sociais me poderia esclarecer. Bem boa que é. A especialista.

Mas foi-se a ver, a moça também não tinha um conhecimento aprofundado da questão. Fiquei logo a perceber que é uma cena que não sorteia viagens, não oferece bilhetes para espetáculos, nem dá desconto em lojas de sapatos. Recolho sempre alguma informação nesta fonte, mesmo quando não sabe patavina dojassuntos. E lavo a vista.

Como não sou de me ficar, arrisquei tentar estabelecer alguma forma de comunicação não digital com a centennial que mora lá em casa. Pumbas, o Gates devia ter desligado a internet, porque ela dispendeu uns dois minutos, à vontadinha, para me explicar o que raio é o mannequin challenge. Com o seu ar de sãocoisasmuintafixejequetunentendes, cota.

De posse da informação relevante sobre o tema, pude concluir pela minha cabeça: É estúpido! Bastante, até.

Epá, olha ali uma sessão de mindfullness no topo daquela elevação. Ou será o desafio do boneco? Ena, uma aula de ioga em pleno Parque da Cidade. Naaaa, é o coiso dos manequins. Será que aquilo é um gajo a cagar num descampado, ou estará alguém atrás de uma moita a filmá-lo? 

Com o disparate da água gelada pela cabeça, ainda a pessoa se divertia um pedacinho. Quando escolhiam uns recipientes grandalhões e depois não tinham unhas pójagarrar, por exemplo. Catrapimbas, lá levava o outro com um bidão cheio de água e gelo pelos cornos. Podia ser chato para a cervical do sujeito, majera uma barrigada de riso. É como ver gordos a estamparem-se. É basto estúpido, mas tem graça. O kékuma pessoa há-de fazer? Pois rir-se, já se sabe.

Agora isto? Caramba, trata-se de um mero apelo à lanzice. Fiquem práí, paraditos ohfaxabor, ninguém mexe uma palha. Parecem a equipa de funcionários de uma repartição pública. Em horário de expediente, está claro. Que najóras livres são pessoas bastante ativas. Diz que são. 

Olha, o Varela lançado em profundidade também dava um  belo desafio destes.

Como se não bastasse não ter sentido nenhum, ainda é pouco original. Quer dizer, há quantos séculos é que isto já foi inventado pelo Mestre Manoel de Oliveira? Há um, pelo menos. 

Desde o "Aniki Bóbó, na Residencial Cabinda" - aquele com a Lovelace, que era ligeiramente mais nova que o Mestre. E mais funda, também. Diz que era. - que o homem filmou mannequin challenges unjatrásdojôtros. Ele era pessoas paradas, bichos parados, mobílias paradas, até águas o tipo conseguiu parar. Foi o cabo dos trabalhos, à conta da mosquitagem. Esses, nem o Mestre pôde manter sossegados.

No entanto, como sempre e para ser muito irritante, existem aspetos positivos nesta modinha. Desde logo, aposto que há menos frases do Pedro Freitas, aquele que é uma Chaga no plural, nos murais de senhoras de idade. Devem andar todas a filmar challenges nos salões de chá, todas esborratadas de batom burmelho e assim.

Não é preconceito, que eu nem conheço as senhoras, é só que para ter paciência para tanta repetição e tanta frase feita, é pessoas à beira do Alzheimer. Diz que é. 

Para não ser um bota de elástico - sou um avôzinho bem cool, yeeey - proponho-me desde já a aderir a este movimento viral. Mas quero a vacina em antes, que na minha idade uma pontadita de ar qualquer, amaijóbirus, e pumbas, já foste! Portantos pá, a minha sugestão é:

Fazer um desafio do boneco com a Charlize Theron. É a moça a sair do banho e kétinha aí, babe. I challenge you! Fazconta que estás a limpar o soalho, Charlizinha. Majé como deve de ser, de joelhinhos, ahpoijé minha menina. Assiiiiiim mesmo, agora não mexe mais. Durante umas duajóras, vá.

- Ai sim?! Muito lindo isso. Pareces um velho babado. Olha mas que bem, babe. - Com aquele olhar de sabeskevaispagálas. E é todajuntas! Não é que tenha medo, mas inspira-me um certo receio, pronto.

- Hein?! Não, não, meu docinho. É eu a rénar cusrapazes. Já se sabe, juntam-se os moços e sai disparate. Eheheh. - Só espero que não se note que me treme a voz. Nota-se, pois nota? Bolas.

- Sim, sim, muito rénadios, os cachopos. Menos brincadeira e mais legumes em juliana, meu menino, que a sopa não se faz sozinha.

- E é já, minha flor. Ai ajóras que isto já são. Ainda bem que me avisaste, Sol da minha vida. - A trote para a cozinha.

- Vê lá não apanhes nenhum escaldão. A Charlize de gatinhas, pfff... - De raspão, apanho-lhe o olhar. Não era hmmkinteressante, poi'não? Naaaa! Na?

...

- Pedro! - Exasperado. - Kestamerda agora? Não se mexem? - A olhar pela grande janela.

- Pois, Senhor. Acho que é para depois colocarem naquilo da nuvem. - A consultar calhamaços à pressa.

- Hã? Mas as nuvens não são minhas, késbêr?

- Errrr, esta parece-me que não, Senhor. - Atemorizado. - É uma nuvem de informação, acho eu. 

- E é que não se mexem de todo, olha prákilo. - Surpreso. - Epá, é demasiado estúpido. Vou extingui-los, 'safoda, estou farto deles e dos seus disparates.

- É para já, Senhor. - Saca a maquineta da extinção. O outro apura o olhar na janela.

- Ui, kékilo? Ui, oh Pedro... É a Charlize a sair do banho, de quatro patas? É, não é? - Às voltas com a maquineta, ele olha também.

- Sim, Senhor, é. Olhe lá, isto para extinguir é verde-código-verde, ou só código-verde? - Profissional.

- Espera, Pedro, espera. Vamos dar-lhes mais um bocadinho, talvez... - De olhos muito abertos. E focados.

...

Pensava: Foda-se pá, se tenho de fazer mais um repolho em juliana, corto os pulsos, quando ele escancarou a porta da cozinha e avançou em passo decidido, quase marcial. Esfreguei ojolhos para ter a certeza que era mesmo ele. Aquele estilo não assentava no que até então lhe tinha visto. Ainda bem que não estava a picar cebolas.

Ele estacou diante de mim. Disse:

- Viva, Silva. 

- Olá, caro Fantasma Sagrado.

- Hã?

- Nada, nada, sou só eu a brincar com traduções literais... - Interrompeu-me com um gesto: Stop! Tão assertivo que me arrepiou. Que se teria passado?

Abriu-me a mão e colocou-me um papel amachucado nela. Virou as costas e saiu, no mesmo passo estugado, firme, um pouco arrogante até, com que tinha entrado.

Alisei o pacote de açúcar e li:

"Um dia, perdes o medo ao escuro e serás temido. Hoje é esse dia!"

...

Soundtrack to Mr. Holly Ghost: (No more) Fear of the dark.

9 comentários:

  1. Que rénadios que estamos! Acho ka crise da meiédade dá pra isso!
    Lanzeiros! Charlize? Eu dou-te a Charlize! Pfff...

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    1. Nananana, não se trata de uma cachopa saída dos teen, portanto não é crise da meia-idade. E eu cá continuo a achar que a patroa olhou para a Charlize de uma maneira..errr...estranha :))) Já estou a tratar das batatinhas, meu doce. Todas descascadinhas, as três toneladas... ;)

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  2. Isso não se faz, Silva!!!
    Pôr o pessoal a imaginar a Charlize de joelhos, nuinha, de costas viradas para nós, pernas ligeiramente abertas, depilação completa, a face virada para nós com aqueles olhinhos... vou á casa de banho e volto já.

    Maldita próstata! Mijo mais que uma vaca no pasto.

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    1. Eu cá não disse nada disso. Lá tenho culpa de teres uma imaginação fértil como um prado? Credo.

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  3. aham...
    a Charlize Theron a que te referes é esta aqui*, certo? certo... :D

    * não encontrei da forma como o Felisberto gostaria de a... 'challengar'... sorry ;)

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

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    1. Há coisas que estão reservadas apenas para os olhos do Divino, meu caro. É que bem que lhe ficaram os anos depois dessa foto. A diferença entre uma mulher bonita e uma miúda gira, hein?
      Abraço.

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    2. O pó limpa-se sozinho, limpa??!! Andor, desocupados! :@

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    3. Ops, acho que isto é convosco meninos. Eu cá é mais legumes... :)

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    4. pois já «eu é mais bolos» :D

      e o pó - se não for da #porta18 - é só amandar umas abufaradas e efectiva e comprovadamente limpa-se a ele próprio ;)

      abr@ço
      Miguel | Tomo III

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