quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
NÃO!, Presidente. - Rascunho para sonhos não conspurcados.
- Hey mano. Chegaste cedo ao caixote hã?!
- É, estava difícil dormir no musseque e assim guardei os primeiros lugares para nós.
- Obrigado mano.
- Deixa isso. Apanhei aqui um jornal. O Presidente do teu clube esteve cá. Parece que gostou muito. Fala aqui das gruas que viu, dos belos automóveis, de como foi bem recebido e bem tratado pelo Zé Eduardo e os outros no Palácio Presidencial. Não sabias?
- Não mano. Quem sabe o que acontece ali? Não podemos aproximar-nos, esqueceste?
- Pois. Diz também que aqui é que é bom, que lá na terra dos pulas são todos corruptos e prendem pessoas, aqui há respeito.
- Gruas mano? As gruas das companhias dos brancos, que pagam aos ricos de cá. Os mesmo que passeiam nos seus grandes carros. Não podem é esquecer os seguranças, senão acabam mortos num esgoto a céu aberto no centro da cidade. E ninguém vai dizer nada, porque fome temos quase todos. Fiquei a pensar nessas gruas...
- Ui, lá vem o pula do 32. Costuma ter pão duro e fruta podre no lixo dele. Sorte que hoje somos os primeiros da fila dos sentados no caixote do lixo, né mano?
- É mesmo! Xi, desculpa-me, esqueci de perguntar. Já nasceu o teu irmãozinho? Foi na semana passada né?
- Foi. Nasceu e já morreu também. É UMA TERRA FODIDA, MANO...
Acordei com dores no pescoço. Que é a consequência inevitável de adormecer em cima do balcão. E pensei que talvez a hipocrisia tivesse sido apenas o rascunho de um sonho meu. Mas a REVISTA continuava aberta ao meu lado...
(Sim, a ideia é que cliquem nas palavras em maiúsculas. Ainda tenho que explicar isto?!...)
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