terça-feira, 3 de março de 2015

Lapsu conscientia


- Cumcaneco! Partiste a cabeça?!

"...Ela rebolou ágil do meu peito e esticou a mão para a mesinha de cabeceira. Enquanto abria a gaveta, senti-lhe a pele das coxas entrelaçadas na minha perna. Fez um estalo desiludido com a boca e acrescentou:

- Bolas, não estão aqui. 

De um salto estava de pé, nua, fora da cama, de frente para mim. Devo ter salivado com os olhos, pelo sorriso dela e pela forma como pôs o pé no colchão, a torturar. Correu em pulinhos, o rabo a marcar o ritmo do meu olhar, até à cómoda e anunciou:

- Não tenho cigarros! E preciso de um. Este é daqueles que não se deixam. - Deve ter olhado para mim, fixo nos seios, porque elevou ligeiramente a voz. - Hey, alô?! Posso roubar-te um?

Deslizei mamilos acima, pescoço, até poder articular palavras nos seus olhos.

- Sim, claro. No casaco... - No segundo seguinte ela já tinha desaparecido e a minha mente fez "catrapum"! One fucking second too late!

Regressou na segunda perna para dentro dos boxers, pálida, com a aliança entre o polegar e o indicador da mão direita. Nenhum cigarro.

- Tu és casado? - E exibiu o anel, um braço esticado à frente do nariz. Repetiu, enquanto se lhe incendiavam as ventas. - Tu és casado e não me disseste?!

- Quê? - Ganhar segundos inúteis, por mero instinto. 

(Não te rias, tasqueiro dum cabrão. Não te rias...)

- Foda-se pa, tu és casado, meu grande filho da... - Tomar rapidamente o controlo da conversa, impunha-se.

- Hey, calma. Sou casado sim. Nunca tinhas perguntado, não tive consciência que fosse importante, necessário, uma coisa determinante pelos vistos. - Upa, segunda manga da camisa, os olhos à procura das calças.

- A sério??!! - Era um grito cheio de pontos de exclamação, não estou a exagerar. - Não tinhas consciência? Não te lembraste, vá. Enfiaste-te na minha cama e nas minhas cuecas, mas não te passou por essa cabeça de atrasado mental que devesses referir, en passant, que és casado! Já pela outra cabeça pensas tu lindamente, cabrão de merda! - O tom ia variando entre a ironia irada e a fúria irónica, mas o volume parecia sempre aumentar.

- Estou-te a dizer que não tive noção, porra! Não estou a inventar nenhuma história, pois não? Estou a dizer-te que sim, sem tretas.

- Agora!! Um bocado tarde, não te parece? - Devia ter reparado como a mão dela se fechava em volta do cinzeiro, mas o cinto era a minha prioridade.

- Sim, ok, tarde. Mas está pago, não é como se estas coisas prescrevessem...
- Acho que foi por alturas da última sílaba que me acertou.

(Tem cá uma piada! És um santinho tu, foda-se!) "

- Pronto, coitadinho, fez dói dói. Deixa lá ver a marca. - Sei que estou prestes a explodir numa gargalhada plena de recriminação e de um transatlântico de bem-feitos.

- Vai à merda pa! Quais marca, quais carapuça. - Inspirou, repousou o orgulho macho, semi sorriu até. - Vista Alegre. Devia ser Vista Alegre...

3 comentários:


  1. @ Silva

    t-o-p
    (se bem que eu sou mais Crystal D'Arques :D)

    abr@ço
    Miguel | Tomo III

    ResponderEliminar
  2. Obrigado Miguel.
    Cuidado pa! Crystal D'Arques é mai'rijo! :D

    ResponderEliminar
    Respostas

    1. dizem que sou cabeça dura (a começar e a acabar na esposa)... :D

      abr@ço
      Miguel | Tomo III

      Eliminar