A reunião é, seguramente, uma das mais importantes, e decisivas, instituições Portuguesas. Serve para tudo e mais dois vinténs.
Quando não se faz ideia de como resolver um problema, pois marca-se uma reunião. Alguma coisa se há-de arranjar. Para que não se note que se andou a coçar o tomatal em vez de trabalhar, nada como arranjar uma reuniãozinha de progresso. Levam-se uns gráficos muito catitas, sacados da internet, e elenca-se um rol de motivos pelos quais seria impossível ter feito alguma coisa que se visse. Epá, mas há gráficos, está tudo bem.
Temos sempre a fantástica reunião à mesa. À mesa é que se fazem bons negócios. E comem-se umas tripas bem boas. Melhor que comê-las no chão. A quantidade de coisas que se podem fazer à mesa. Eu era moço para não recusar comer umas tipas à mesa. Tripas, digo. Porra.
Basicamente, a reunião tuga serve para tratar de assuntos que ou não estão tratados de todo - e não vão estar, porque ninguém faz puto de ideia de quais sejam - ou podiam ter sido resolvidos por e-mail. Ou então, tendo feito qualquer coisa para os resolver. Cruz, credo, isso ainda ia dar algum trabalho. É melhor nomear uma Comissão para estudar os procedimentos.
O facto é que olho para o País e fico mesmo com a sensação que tudo se decide em reuniões que não era preciso ter. Quero dizer, vai-se decidindo. Um bocadinho à sorte...
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Reunião da Assembleia Municipal
- Tem a palavra o Exmo. Senhor Presidente do Executivo.
- Obrigadinho, Pascoal. Olha, já que aqui estamos, não te esqueças que a tua madrinha fajanos prá semana. Sabes que ela leva essas coisas a peito.
- Não esqueço não, padrinho. Fique descansado.
- Opá, digam lá que não é uma jóia de moço, raisparta. Ora bem, cambada, vamoláver, o anterior Executivo portou-se lindamente e isto está melhorzinho. O que quer dizer que temos guita para torrar. - Ecoam palmas no Salão Nobre. O Senhor Presidente acena que sim e aguarda que se faça silêncio. Prossegue. - Assim sendo, temos que decidir como é que vamos gastar isto, antes que venha alguém pedir emprestado. As opções propostas pelo Executivo são:
a) Melhoramentos nas Escolas do Concelho.
b) Arranjar as buraqueiras dos arruamentos.
c) Tostar tudo em lâmpadajáscores.
- Tem a palavra o senhor líder da oposição.
- Somos contra!
- Hã? Contra o quê?
- Tudo. Uma vez que este Executivo é composto por uma cambada de asnos embriagados, seja o que for que proponham, é conversa de burro bêbado.
- Temos um empate. Tem a palavra o senhor vereador independente. A ver se se despacha, que são quase horas de jantar.
- Bem, eu tenho um cunhado que é sócio numa companhia de iluminação... - Levanta-se o Presidente, de um salto. Diz, enquanto bate as palmas:
- Ora, ora, está decidido, caro senhor vereador independente. Vai ser o Natal mais colorido de sempre.
Um munícipe grita lá do fundo:
- É estúpido! - E bate com a mão na testa enquanto abana a cabeça.
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Reunião para admissão em Belas Artes
- Pois bem, falta apenas analisarmos o portefólio do petiz. Em termos de discurso, a coisa parece um pedacinho empinada de uns manuais de auto-ajuda, mas isso é o menos. Afinal, isto é Belas Artes, não é Arte Dramática. - Dá um risinho. - Os antecedentes são bons. Nota-se logo que não se trata de um estranho à casa. Pois não, rapaz? - Agarra-lhe o ombro. - Deixa lá ver esses trabalhos.
- Aqui tem, Senhor Diretor. - A mãe, tensa, pousa o calhamaço na secretária de mogno. O Diretor desfolha, com ojóculos na ponta do nariz e rugas na testa. Concluí rapidamente e fecha o dossier com cuidado. Tira ojóculos e fita a família ansiosa.
- Ora, como dizer? - Segura a camurça entre o médio e o polegar e vai limpando as lentes, distraído. - Deixa lá ver...errr...é maijómenos...maijómenos fraco, pronto...errr...é fraco, é. Bem, a verdade é que é mau. Digamos que, em termos técnicos, o moço não tem jeitinho nenhum para o desenho. Aliás, ao pé dos gatafunhos do meu mai'novo, isto mete dó. - Tira a carteira do bolso de dentro do casaco. Mostra à sua plateia. - Oh ele aqui. Não é uma fofura? E é grandalhão para trêjanos, não acham?
- Mas, senhor Diretor, não vê mesmo nenhuma possibilidade? Isto do desenho e dos quadros e assim, sempre foi o grande sonho do cachopo... - Limpa uma lágrima com o seu lencinho de renda.
- Pois, não estou a ver, não. - Pensativo. - Olha, e se fosse para treinador da bola? Diz que aquilo também mete muita arte.
Um labrego grita do pátio:
- Ah pois mete! O grande mestre sempre dissera que mete.
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Reunião do Conselho de Administração
- Era o que mais faltava! Majalguém tem que saber quantojiates tenho? A que propósito?
- Mas Senhor Presidente, se não entregarmos a declaração, parece que queremos esconder alguma coisa, não acha?
- E não queremos? Dass, tásmalókókê? Se desato a pagar ojimpostos todos, maijojatrasados, nunca mais compro uma ilha. Nananana, comigo não contam para este tipo de situação. Pá, liga aí ao Toino. Ele até ia alterar a lei e tudo, para não termos estas maçadas.
- Não atende, Senhor Presidente.
- Como não atende? Ligaste do meu número pessoal?
- Pois claro, Senhor Presidente. A senhora diz: "O numero para o qual ligou, só tem voicemail ativo para a Cata e o Jéjé. O resto, tente mais tarde". E depois ri-se de uma forma que eu acho que é sarcástica. Não sei, parece-me... - O outro interrompe, exasperado:
- Oh Domingues, quero lá saber disso. A única coisa que se aproveita em ti, rapaz, é o nome, Deus me valha.
- Sim, padrinho. - Com a cabeça baixa.
- Bem, assim sendo, eu cá vou indo. Maijalguém vem?
- Eu não. Que me faz jeito o vencimento, padrinho.
Uma Mariana grita do elevador:
- Já vais tarde, oh palhaço.
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Reunião do Governo
- Opá, oh Mário, para de te rir, foda-se. É que me enervas com esse riso aparvalhado. Oh Van Dunem, vai lá buscar uns cafézitos, se não te importas. Não querendo fazer de ti minha...ops...my bad, desculpa, não estava a pensar. Vai antes o Silva, que assim cumássim é nome de tasqueiro. - Riem-se. Menos o Silva, que se levanta e sai da sala.
- Poijé, meu Primeiro, o gajo diz que não está para aturar isto. Acho que não o conseguimos demover.
- Nem convém nada! 'Xá-lo ir. A Catarina e a Mariana já andam meio enroladas com o outro panasca à conta desta coisada. - A Van Dunem pergunta, do seu canto da mesa:
- Majelas não eram...errrr...bastante amigas umas dajôtras e assim?
- Epá, que preconceito! Acho mal esse tipo de postura perante as minorias. - O Ministro do Trabalho apoia:
- Pois claro, apoiado. Qualquer dia também desancam nos zarolhos. Acho mal, está claro que acho mal.
- Pfff, as minorias, blablabla, tretas. - Insiste a Van Dunem.
- Isso não te fica bem, Francisca. Bem, adiante. E agora, o que fazemos Mário? - O outro ri-se. O Primeiro explode. - Opá, fuuuooooda-se, já não aguento. Não sei quem me fazes lembrar. Bem, caguei, chamem um gajo qualquer. De preferência, de uma minoria. Acho que a Catarina ia ficar contente.
- Pode ser da minoria de malta que tem a boca numa bochecha?
- Pode. Em entregando a puta da declaração, pode ser um qualquer.
- Estou, Paulo?
Um Secretário de Estado grita do gabinete:
- Queriam bons tachos? Estudassem!
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Daqui a umas horas, conto reunir-me com os do costume, no Dragão. E quando sair de lá, espero ter no papo metade do trabalho de reabilitação do Presidente e o do treinador feito. A outra metade fica para dia sete.
Está percebido, menino Nuno? Ou queres que te faça um desenho?
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Soundtrack to meetings: It feels so empty without me
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Posfácio pela Pátria:
1. Não somos apenas nós, be happy. É geral!
2. Podemos não entender como - os políticos não devem ter culpa nenhuma - mas, pelos vistos, a geringonça anda. Podia ser por melhores motivos e de forma mais sustentável? Sim! Mas perguntem lá a um Portista, hoje, se desdenha de um golo em fora-de-jogo, para lá da hora, marcado com a mão? Eu não!
Fodassse Silva... Demais! Não deu para resistir, saiu uma gargalhada cá para fora. Aqui no trabalho devem estar a pensar que estou a ficar choné, por estar a rir sozinho! :)
ResponderEliminarAbraço
Não pá, estão a pensar que há malta que tem excelentes empregos, acredita! É sempre isso que pensam... ;)Depois marcam uma reunião.
EliminarAbraço.