sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Da necessidade de uma atitude zen



É precisamente quando a confusão e a incerteza alastram que devemos optar por uma atitude mais calma, ponderada, zen. Como que uma elevação do espírito, permitindo à mente ver a paisagem do alto. De forma a que entenda a floresta, mais do que a árvore. Ao jeito de uma arquibancada sobre o labirinto. Cá de cima, parece mais claro qual o caminho pelo meio da baralhada.

Imaginemos, por hipótese meramente académica, que se vive um tempo em que os aliados de circunstância de um partido menos votado - mas que por via desse apoio é Governo - puxam o tapete da Concertação Social. Aquela coisa por que bradam desde o inicio dos tempos, contanto que não haja. Porque em havendo, lá se vão uns noventa por cento da sua retórica politica. Entalado entre o compromisso assumido e a impossibilidade de o concretizar, o dito Governo deposita fichas na sua altíssima elasticidade - quase à beira do invertebrado - e espera calmamente que a Oposição faça o serviço da maioria parlamentar. Que decidiu meter baixa.

A bem da nossa tese, vamos convencionar que a dita Oposição andara a defender a medida em causa ao longo de quase todo o tempo em que fora Poder. Só que a vingança se serve fria e, por isso, agora mudara de ideias, num "eles que se amanhem como puderem". Equiparando, pois, o seu grau de elasticidade vertebral ao do Governo, ele próprio. Se fosse um circo, tínhamos aqui uma trupe de acrobatas e contorcionistas bem catita.

Mas isto é quase ao nível do relvado. Subindo um pouco, já se deteta o Luso padrão de irresponsabilidade geral e pequenos mesquinhos pouco preocupados com o Bem comum:

Eu perco, mas meto-me na cama com estes vermelhos e, afinal, já ganho.
Tu ganhas a defender branco. Como afinal perdeste, já é tudo preto.
Eles levantam-me em ombros enquanto te desanco. Mas deixam-me cair todo inteiro no chão de paralelos, assim que lhes convém. Ou não convém.
Vós, trabalhai! Continuai a correr nas vossas rodas, pequenas cobaias amestradas. A olhar sem ver. A ver, sem reparar.

Entretanto, o Mundo assiste à posse do Homem Mais Importante. E ele ameaça espirrar e constipar o Universo. E as cobaias correm, correm. Ele ri com ar boçal e exige que todos se dobrem, confiando na desmedida flexibilidade que alguns tão bem demonstram. E as cobaias correm, correm. A roda gira, gira.

Pode ser que não seja nada, já passa, uma constipaçãozita talvez. Corre, corre, gira, gira. Perde-te no labirinto, não avances escada acima, não olhes do alto. É só uma brincadeira de meninos ricos. Já passa, pequeno soldadinho de chumbo.


  

  

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Tranquila :) É uma espécie de válvula da panela de pressão ;)

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    2. Estes comentários referem-se, naturalmente, ao segundo post do dia. Está já a seguir e mete um gajo a matar gente com uma caçadeira de canos serrados. E gajas nuas. Errr, naaa, gajas nuas não mete...

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  2. Estranharão os que já por cá passaram hoje, a existência de dois novos posts, que mais não são do a divisão do anterior "Apontamentos práticos para uma atitude zen". Acontece que, desta vez, ao ler o texto (estas horas passadas), fiquei com a sensação de que vos estava a maçar por nada. Isto é, havia uma clara divisão de temas e até de abordagem. Deste modo, não me fazia muito sentido ter um post único. Ainda assim, dado o fio condutor, diria que são dois ramos da mesma árvore, pelo que fazem sentido seguidos. Mas talvez não juntos. Se alguém tiver alguma coisa contra, reclame. Eu kékásaber..

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