terça-feira, 2 de maio de 2017

Da Saudade - Never walk alone

By Sedcas | www.sedcas.pt
Olá, sou eu. Como estamos hoje, meu Amor?

Compreendes que ter saudades Tuas é uma grande porra, certo? É o tipo de pulga que nem o Godinho conseguiria matar, pelo que não se alivia a gente. Já se sabe que, este tempo passado, nos vamos habituando a viver com a comichão. Que é diferente de termos aprendido a suportar, dóceis, as ferradelas.

Sobretudo porque esta dor não é estável e contínua. Se fosse sempre e só uma moínha no peito, havíamos de fazer pazes com ela. Talvez pudéssemos até acarinhá-la, como a um defeito de caráter que não se consegue corrigir. Mas oscila, vai de monte em planalto, auto-anunciando-se, vaidosa e súbita. Mesmo que já se saiba, que se prepare a pessoa, que esteja atenta aos mínimos sinais, não se evita a surpresa. É como a Morte de alguém que se Ama. 

De repente, está um a fazer a barba, outra a mudar uma fralda, aquele a acabar a primeira centena de quilómetros do dia, esta a acender um cigarro carregado de culpa, outro a atirar uma bola a um cão - como se fosse uma parede - e sobrevém a Saudade. Uma lâmina romba a rasgar linhas Barrocas num pedaço de carne ao calhas, em cada um de nós.

Só um momento de intensa dor a seguir é que pode chegar a resignação. Muito depois - se não usares as medidas aritméticas, mas as da perda - a eventual camada racional que permite continuar, praticamente indiferente, o dia: Um corte no rosto, um choro de birra, um resvalo na berma de uma estrada baça, uma beata de revolta, uma lágrima depois. 

Vivemos essas Eternidades como tributo às alegrias que nos vamos prometendo. Fazes-me o grande favor de não nos deixares falhar. Desculpa a maçada. Não que queira sobrecarregar-Te com esta responsabilidade, é só para que saibas que continuamos a contar contigo.

Talvez seja triste, isto de contar com os mortos para se fazer a Vida. Mas, se devo mesmo dizer-Te, acho que nos estamos bem a ralar para o que possa parecer. É que, no fim do dia, não conseguiremos explicar de que forma o que nos sobra de Ti é uma parte tão grande de nós. E é tanto e nos puxa tão para a frente: 

Para os lugares em que, por todos, por Ti, por cada um, do fundo dos gigantescos corações que nos ensinaste a ter, somos Alegres e seremos Felizes. Ainda que seja aos bocadinhos.

Gosto desse sorriso, embora nunca saiba se é ternura ou dúvida. Não me importa, ficas bonita com ele, ficaste sempre. E vá, deve ser ternura, porque é evidente para ambos que não te posso mentir. Nem quando preferias que não te dissesse a verdade. A minha, está claro. Hoje, é esta:

A Saudade que tenho de Ti é igual à de muitos outros, é seguro. Ainda que triste, traz-me o melhor de mim. Desejo muito ardentemente que a eles também.

Como vês, não tenho ferramentas para deixar de sentir a falta. Só esta certeza de que sabes que eu posso. O que for. Prometo-Te conseguir. Mas hey, nós vamos falando. Até já.

...


3 comentários:

  1. Tão tão difícil esta "porra"...
    Vão me valendo estas tuas palavras para me atenuar a dor. Obrigada <3

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    1. Nop, valem-te muitas coisas, a primeira das quais TU, e não estas - ou outras - palavras. Não vai passar, desculpa. Mas é uma parte de nós. E quanto vale isso? So, be happy. É uma missão :)
      <3

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