quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

2017



Olá, sou eu. Como estamos hoje, meu Amor?

Nós cá vamos, já lançados neste ano todo novo. Como são todos os anos, pois claro. Mesmo que este nos pareça o primeiro que é mesmo, mesmo novo. De diferente. Mas é mentira. Os que lhe estão para trás e os que lhe sucederão, também eram - serão - completamente imaculados. Como folhas limpas de um caderno também ele novo. Digamos que este tem a infeliz especificidade de ser o nosso primeiro sem Ti, daquela maneira usual, corpórea, bilateral. Não é pouco, mas é só.

Sabes, os anos passam muito depressa, quase não dou por eles. Estou mesmo convencido de que deixam de passar por volta dos 16. Ou dos 26, com boa vontade. São lapsos de tempo minúsculos, acelerados por esta mania de marcar dias. Vê lá se não tenho razão:

Ainda agora é janeiro e frio, praticamente em cima do Carnaval. Não tarda, estou a acordar na garagem - filhadaputa de mania! - prontinho para preguiçar a Quarta de Cinzas inteira - a chuva tenha permitido o desfile - direto à Quaresma.

Quando se desvanecerem os vapores etílicos, o fígado for ao lugar e mais ninguém tiver fotografias para me mostrar, de coisas de que não me lembro - sobretudo abraços a estranhos e tentativas de sedução a roseiras nos jardins - há-de ser já Sexta Santa. 

Ah sim, é evidente que o cabrito de Domingo me sabe sempre a Verão. É assim desde a escola. Vai estar Sol e o Porto vai ser campeão em maio e vamos deslizar nestas alegrias de Alma e de estômago até agosto. Ou julho que seja. Às férias. 

Ao momento em que o Phineas me desce e, sem dizer a ninguém - fechado na casa de banho, provavelmente - faço contas a tudo o que vamos fazer nos longos dias de ócio. Quase nada, esperançosamente. Só gente que se Ama e gargalhadas e cerveja gelada. 

Já se sabe que nunca é tão perfeito, mas o facto de ainda o pensar renova-me a certeza dos Amores, da Alegria e da Vodka. Eu não gosto assim tanto de cerveja.

Viste? Acabaram as férias e a energia do regresso adianta o relógio estupidamente. Quase não dou pelos reencontros de setembro, baralhado pelos fusos horários e as recordações das latitudes, escarrapachadas numa rede social qualquer. Epá, mete-se o Natal! Já?

E outro ano que também será novo. Se me garantires a mesma companhia, não me importo de o inaugurar com as mesmas lágrimas. Rio-me no inicio de 2019, pronto.

...

Olha outra coisa, estou a pensar se por aí também tomam decisões de Ano Novo e isso tudo. Tipo, ah, este ano vou assombrar aquela casa; ou este ano vou ter mais cuidado com as larvas; deixar de fumar, ou assim. Naaaa, não sejas mentirosa.

Eu espero apenas conseguir desviar-me do caminho dos meus bocados de felicidade. Quero dizer, não os impedir. Não ser eu a atravancar as passagens estreitas por onde se movem. Para que possa colecionar tantos quanto possível, ao longo destes curtos dias de 2017. Ou pelo menos, para que não me censure por ter sido eu a evitar alguns. Como decisão de Ano Novo não está mal, hein?

De resto, Querida, desejo o mesmo de sempre: Que Eles, Todos, rebentem a escala da Felicidade Possível; que ganhem novos Sonhos, por terem cumprido os que agora lhes parecem inatingíveis; e que me contem aquilo a que não assistir. 

Como "para mim"? É isto! E não é nada pouco. É isto tudo que quero para mim. Garganeiro, pois sou? Mas olha que eu sei que Tu não imaginas maior Felicidade em Ti, do que a Nossa Felicidade. 

Same here, mas bem sabemos que às vezes me distraio. Don't we all?

...

Prometi que ia deslindar esta confusão do Amor em via única, uma vez que V.Exa continua a embirrar nesse silêncio.

Ainda não cheguei lá, mas vou avançando. Por agora, tenho uma certeza grande de que Vives na Saudade que me recuso a ter. Por isso Te falo e partilho algumas das nossa conversas. 

Porque, apesar da má educação de V. Senhoria, isso me ajuda a tornar-Te uma espécie de matéria. A Voz - credo, outra! - na minha cabeça ou no meu coração. Enfim, uma coisa que existe, que É, que não invento. Porque a sinto. É quase alegre, não achas? 

Sim, continuamos a rir muito, feitos parvos. Eu e Tu.

Ainda tenho que descobrir se este Amor desprendido, pois de Ti não espero nada e Tu de mim de nada precisas, não é a verdadeira essência do teu legado. Não sei bem se faz sentido. Olha, Amo-Te na mesma, essa é que é essa.

Não sei quantos Anos Novos passarão até que não consiga já reproduzir o som da Tua voz. Se calhar mais nenhum, se calhar nunca mais. Mas hey, nós vamos falando. Até já.

...

- Senhor... - Com determinada cachopa pela mão.

Ele vira-se e contempla-os. Reprime um sorriso e diz, a forçar os vincos da testa:

- Esta, outra vez? O que foi agora, Pedro?

- Apanhada a fumar na casa de banho, Senhor.

Ele dá uma palmada na Bendita testa.

- Lindo serviço, minha menina. Vamos ter que conversar com a tua Encarregada de Educação...

...

Soundtrack to 2017: The light you left remains...



8 comentários:

  1. https://youtu.be/14O_HOQXSEM

    «All the things we love, we love, we love, we lose
    It's our bodies that fall when they try to rise
    And I hear you been looking out for something to love»

    Abraço

    PS: venha esse maio!

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    1. Essa gorja e sempre segura. Obrigado.
      Maio é já a seguir, está quase, quase.
      Abraço.

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  2. CENTIQUATRO DIAS QUE FAZEM AS FÉRIAS EIAECOLACABACOMELAAAAAAAAAAAAS, MAS O GRANDEPROBLEMA QUETODOS VIVEMOS É SABER COMO APROVEITAAAAA-LAAAAAAAASSS

    Eu sei que é um post de Amor - sempre fenomenalmente escrito - mas não resisti. Disseste a palavra mágica... :)

    Abraçom

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    1. :) E quem disse que Phineas não é Amor? É pois!
      Abração.

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  3. Amor é sofrer. Portanto não devemos amar. Mas não amar é sofrer ainda mais. Vamos amar sofrendo sem sofrer as dores de não amar!

    Dia triste
    Triste dia
    Chove muito
    Água corre
    E o tempo chora
    A visão se afasta
    O nevoeiro se arrasta
    Em maldição nefasta.

    Dia triste
    Triste dia
    E tudo alumia
    E tudo existe
    E tráz solidão
    Tráz desespero
    Gosto amargo
    Acre tenebroso
    Relâmpagos de fogo
    Clarões de guerra
    Acabe-se a Terra!
    Homens perdidos
    Mulheres com a fera
    E tu?

    Triste…
    Tal como o dia!


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    1. Não, amar nunca é um sofrimento.
      Habemus poeta, hein Felisberto?
      Abraço

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