quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A Mesa do Canto: Em passo de corrida (com Mega)

www.gorunningtours.com

Tenho um problema com filtros. Desde puto que sou péssimo a fazê-los. E a enrolar também sou uma nód... Hã? Ah, pois, não, neurónio errado. 

Diz que tenho um problema com filtros que me faz ser basto inconveniente por vezes. Eu acho que estão muito enganados, visto que sou um doce de pessoa, com quem deve ser facílimo simpatizar. Não tanto pelo ar castiço e apalhaçado, mas sobretudo pela natural bonomia, fina inteligência, excelente trato, esmerada educação e uma dose de humildade natural que até espanta. Por manifesta modéstia, deixemos de parte os magníficos atributos físicos da minha pessoa, mormente os que não são imediatamente visíveis. Ainda que se adivinhem, receio bem. Não que seja muito complicado que os descubra, lá isso não. Quaisquer três garrafas de tinto carrascão e uma aposta estúpida depois, aí vai ele, com as pendurezas badalando por aí.

Parece que as pessoas não devem falar logo que as coisas lhes vêm à cabeça. Tipo, devem ponderar a formulação das questões que os atormentam, de modo a não ferirem susceptibilidades. Por exemplo, explicam-me que é de evitar chegar ao pé de alguém e perguntar "Atão, morreu o tê pai? Foi com quê?". Ainda que o progenitor da criatura tenha, de facto, passado desta para uma outra.

Felizmente, acabei numa tasca. Toda a gente sabe que isto é um pólo de saber muito superior a qualquer Campus Universitário. Quê? Qual Campus, caralho? Superior a qualquer praça de táxis. Não há pergunta que fique por responder numa tasca. Seja o que for que queiram saber, temos cá alguém que já fez. Ou está a pensar fazer. Ou não pode ser interrompido neste momento exatamente por isso. Ainda melhor, estão bem a danar-se para a maneira como lhes perguntam as coisas. Até porque não saberiam responder com meias tintas.

... 

Tenho andado a pensar que deve haver uma razão maior do que ser saudável para a malta andar toda taralhouca a correr de um lado para o outro. Será que eles sabem que vem aí o Apocalipse Zombie e estão a treinar? Óspois, correm mais do que nós, as pessoas normais que não desatam a correr só porque sim, e os mortos-vivos agarram-nos primeiro e comem-nos. Eu de ser comido não me importo assim muito, desde que não envolva pilas que não a minha. As dentadas é que não aprecio.

Olha, nem de propósito, aí está ele, o nosso especialista em correr porque sou tolinho. Chega-me a pingar suor, até mete nojo, mal consegue dizer Super Bock e moelas. Ah, o lanche de campeões depois de uma bela corridinha, hein? Pergunto-lhe:

- Oh morcão, porque é que tu corres se não vai alguém atrás de ti para te bater?  

...

Porque é que eu corro se não vêm atrás de mim para me bater? Olha, fodeu-me!’ e nem foi preciso chamar o Marega…

Há perguntas que são tão inteligentes que independentemente da resposta que um gajo tiver para dar já entra a perder, por isso mais vale responder e já estou a ganhar. Confuso? Habituem-se, vai piorar.

Se duvidam de quão inteligente é a pergunta, pensem se o Stephen Hawking era capaz de a responder. Não, pois não? Então pronto! Divago.

Milhões de anos de evolução humana e correr é-nos tão instintivo como respirar. Basta pensar que uma criança, quando finalmente domina o equilíbrio necessário para se manter na vertical, começa por correr, mesmo antes de saber caminhar. Corremos porque temos falta de tempo, somos apressados, e, com as ferramentas que a Natureza nos deu, continua a ser a forma mais rápida de chegar a algum lado.

Dizem os estudiosos que correr liberta endorfinas, aumenta a sensação de bem-estar e faz activar no cérebro a mesma zona de prazer que as drogas. Mas fica mais em conta. É capaz de ser verdade. 

Eu corro porque faço parte duma tribo, corro com a minha seita. É mais fácil de desincentivar se alguém quiser mesmo vir atrás de mim para me assapar o pelo.
Além disto tudo, tenho o privilégio de correr no Porto, com o Douro como companhia. No meio dos meus, com o cheiro a mar a invadir-me as narinas, o Sol a morrer no horizonte, intervalado pelas pontes e o “foda-se, oblá, já num te bia há colhões de tempo, caralho!!” como banda sonora ao passar pelas vielas. Não há nada que pague isto. E a marginal cheia de fêmeas em roupa de desporto justa também não.

Ui, já lá vem o camurso do Silva com as moelas e mais um fino e a pergunta continua sem uma resposta à altura. Cito o Rui Pinho, que em tempos citou outro gajo qualquer e digo que corro porque posso. 

Olho para a vitrina onde o Silva deixa a garrafa de Dimple a ganhar pó e aproveito o reflexo para fazer uma tabela, lanço um olhar ao Stephen que acena a cabeça, a concordar comigo. Ou então é um espasmo.


Com Mega | @magalhaes81

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Soundtrack to Mega: RUN!

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O Mega é um prezado freguês da Tasca. O primeiro a desafiar-me para me juntar à seita do pássaro azul. Faz o favor de me aturar por lá também. Não fiquem invejosos, vocês também podem frequentar em @tascadosilva

Agradeço-lhe a disponibilidade, pois está claro, para ocupar a Mesa do Canto e lançar alguma luz sobre um dos Grandes Mistérios da Humanidade. Se o virem a correr feito doido por ai, assapem-lhe! Não vá a criatura estar a atravessar um momento de menor motivação... 

11 comentários:

  1. Aqui o je, já foi um atleta pára-olimpico. Calma, eu explico!
    Tava eu nas Franças desta vida e, deveria eu ter uns 11/12 anos quando a escola lá do sitio decidiu fazer um cross entre a maralha toda do liceu. Ou seja dos 11 aos 15/16 toda a gente teve que correr excepto os felizardos que levaram uma declaração médica, veradeira ou falsificada não importa, a impedi-los de tal acto.
    Numa espécie de parque da cidade lá nessa vilazinha francesa, foi o palco desse cross. Como os franceses são (ou eram) sensiveis, poetas e românticos, puseram os mais novos á frente na linha de partida.
    Mal soou o tiro(neste caso uma voz de à vous places, partez!)) de partida, desatei a correr que nem um louco. Eu e mais um franciú mal parido com cara de argelino.
    Corremos, corremos, corremos. Ao fim de meia hora nada nem ninguém! Nem corredores á vista, nem meta á vista, enfim nem vista nenhuma que havia ali uma prova de corrida. Sem ser preciso inteligência sheldoniana, verificamos que nos enganamos no trilho!
    O tempo implacável, não querendo saber nada de nadinha de 2 putos morcões, escureceu! Um portuga e um argelino começaram a lacrimejar. Talvez do esfriar do tempo ou do cagaço que começava a ganhar forma. E de repente noite!
    Agarrados um ao outro numa aliança internacional contra o terrorismo nocturno dos mochos e corujas, sombras e zombies, começamos aos berros.
    Nisto aparece um adulto. Sem mais nem menos o meu professor! Num francês bastante pragmático e intraduzivel para não ferir susceptibilidades disse-nos mais ou menos isto:
    - Amanhã, castigo para vocês os dois! Não suporto mandriões nem rufias que á minima oportunidade se esgueiram para nada fazer!

    Juro que a partir daí, nem que estivesse atrasado, corri para um autocarro ou para qualquer outra coisa que fosse:(

    Desculpa lá por o comentário não ser corrido!

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    1. Lolol. Vai-se a ver, era o Madjer! E graças a ti, viveu para Viena. A Taça dos Campeões deve-se ao Felisberto!! :)

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  2. Mestre taberneiro, obrigado pelo convite. Espero que o teu estabelecimento comercial sobreviva! Abraço.

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    1. Eu é que agradeço teres-te sentado na mesa do canto. Eu cá gostei do resultado. É quanto basta. Kékásaber de vocês. ;)
      Abraço

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  3. Mestre Silva,
    Pura filigrana tasqueira. Quanto à 1ª parte, por acaso o meu amigo não tem "Máximo" no nome... ;))
    Luís Oliveira

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    1. Não, credo. É só a minha essência, não o meu nome. Sou o máximo, mas não sou o Máximo. :))
      Obrigado Luis. Abraço.

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    2. E obrigado em nome do comparsa da ocasião também. :)

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  4. Para mim, que também corro, continua a ser um grande mistério... Juro que não há maneira de descobrir o tal prazer... Correr para quê? Sim, porque ginásio é ainda pior. Agora, acrescente-se uma bolinha e voilá!, puro prazer...

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    1. Pois, majaí ATÉ eu percebo: vai-se a correr atrás de alguma coisa. Ou à frente do Marega...

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  5. Até dá vontade de começar a correr...
    Abraço

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    1. Tu não te metas nisso jovem! É um be-ne-no! Mete-te antes no cavalo ou na coca ou assim. Deustebalha! :))
      Abaço

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