sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Of course! But maybe... (com vénias a Louis CK) I



Mas é claro que a barbárie nos indigna e nos enoja! É evidente que temos que a combater e condenar e erradicar. Tem que ser cristalino que não nos amedrontamos e que os nossos valores resistem. Não nos vergarão, não nos calarão, não nos derrotarão. É claro, mas...

Mas assusta-me, é provável que parvamente, encontrarmos, e vincarmos aos gritos, traços de Nairobi e de Nova Iorque em Paris. Não é que o número de mortos faça uma contabilidade que me importe. Como se houvesse um contador que determinasse a partir de quantos cadáveres estamos perante o Terror. Nada disso.

Só que se, como sempre, o objetivo da manifestação do Terror é o medo, a propaganda do medo, a sua difusão, devemos ter a ponderação de não sermos os primeiros a cumpri-lo. Acho lindamente que a onda de solidariedade transforme alegres teenagers em Charlies, mesmo duvidando que saibam porque dizem "Moi aussi, je suis Charlie!". Acho bilindamente que os media cumpram a sua função e mostrem, analisem, discutam, investiguem. Até para darem o que fazer a quem vive só de comentar a tragédia, mormente a alheia. Mas...

Mas Paris foi um ataque de um comando. Eram 3 homens, nenhum carro armadilhado. Foram 3 fugitivos, nenhum mártir. Um gritou o nome do Profeta, nenhum se predispôs a cair pela sua convicção. Mataram a sangue frio como vulgares assassinos e fugiram como vulgares criminosos. Eu preciso absolutamente que alguém grite isto: CRIMINOSOS! BANDIDOS! RELES GANGSTERS! Gente que mesmo não procurando dinheiro, procurou APENAS aparecer, ou apaziguar os seus demónios interiores, como em Columbine. Na Tasca não serão nunca "legitimados" como agentes de uma causa. Não passarão de lunáticos perigosos, dos que se podem abater à vista.

Não é que faça uma diferença muito grande, mas há algo que me tranquiliza se imaginar imberbes magrebinos num quartier parisiense, colados à TV a pensarem "ena, assassinos cobardolas!", em vez de "ena, mártires, soldados do Profeta". 

Maomé não entrega armas de guerra para os seus crentes assassinarem jornalistas e caricaturistas. O padrinho da máfia é que faz essas coisas. O líder de um gangue talvez. Jovens jiahdistas wannabe, isto não foi a jihad, foi um crime de sangue. Não se acrescente nunca "apenas" à frase anterior, porque a dor da perda é sempre infinita. Mas não percamos a noção da distância entre duas coisas diferentes. Ensinemo-la!

Paris não foi Madrid, desinfelizmente.

Ou então é só mesmo vontade de ser do contra do tasqueiro. Acontece, frequentemente...

1 comentário:

  1. @ Silva

    se eu escrever que concordo com tudo o que ali em cima é evidenciado, estarei a repetir-me (e aos outros dois anteriores comentários).
    e eu não quero isso para nós, que ainda somos muito novos para conversas circulares - no sentido em que achamos que temos muito para contar e inevitavelmente acabámos por regressar ao início da dita.

    abr@ço
    Miguel | Tomo II

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