Há uma espécie de conforto espiritual nesta textura metálica. Como que um prenuncio de segurança. Afinal sei, anos passados, que quando enfiar este peitoral pela cabeçorra, será preciso mais que um murro bem assente para me magoar. Arre, não gosto nada de me magoar.
Se me pudesse ver agora, estou certo que notaria o carinho com que o pano passa pelo elmo. Penso: Manhãs de oiro e de cetim. Florbela, sua maluca. A viseira brilha. Aí está um esforço desnecessário, pois que não tenciono baixá-la. Encurta-me bastante o campo de visão. E eu gosto de os ver bem, a todos. Os que espumam de raiva, os que abanam a cabeça incrédulos e, mais que todos, aqueles que ficam com ar de "baissaber...".
Olho para as manoplas, namoro as coxas metálicas. Mas gosto de ter as mãos livres, afinal há sempre um Anónimo a reclamar finos e caracóis, e tenho o balcão à frente, ninguém ia reparar como estão polidas as coxas. Nop, desnecessário. Fico de boxers mesmo.
Na minha mente, soam trombetas. Call to arms! Vislumbro o primeiro batedor inimigo. Mantém uma distância prudente. Dos buracos no chão - go figure - muitos outros se lhe juntam. Nos olhos, a fome de semanas de espera debaixo da terra húmida. Olhares raiados de sangue, da fúria ou da luz, não vamos perguntar para saber.
Olho para trás. Somos um punhado, ainda assim. E há uma calma que nos perpassa. Uma certeza, uma convicção, a tranquilidade de que, se errarmos, foi para construir. Estou à frente de um batalhão de sapadores, do outro lado está a equipa de demolição.
Ready, set, GO:
Gostei do FCP ontem. Gostei sim senhor. Bastante melhor do que na terça, contra os Israelitas. E era bem preciso. Afinal, jogámos contra a quarta equipa do nosso campeonato. Quer dizer, jogámos nós, que os moços foram abafados sem apelo nem agravo. Diz que fizeram um jogaço contra os Imbulas na quinta. Deve ter sido por isso que ontem não apareceram. Cansaditos, já se vê. Ou então, foi o FCP que não os deixou cheirar. Eu acho que foi.
Fartamo-nos de atacar de maneiras variadas, alargando mais um pouquinho a paleta de soluções de que dispomos neste particular. Usámos mais vezes o jogo interior e até alguns passes mais diretos, embora poucos, naturalmente.
Quem quiser perder tempo a descabelar-se, por mim está à vontade, mas começamos sempre por anular a equipa que está do outro lado. Contra ataque? Nop. Explorar as costas do pobre do Cissokho? Nop, que o rapaz já está deprimido que chegue. Impedir o Layun de ser mais um atacante? Nop, que o moço faz falta lá à frente.
Depois, partimos para o resto. Em cavalgada deslumbrante? Nop, not, niet, non, no, NÃO! Gostava de ser mais poliglota, mas não me apetece googlar "não" em línguas estranhas. Apoiado, em posse - passes estupidamente fáceis falhados incluídos - mas sempre, queiram ou não queiram, sempre com a baliza no ponto de mira. E chegámos lá. Oh, mas tantas vezes. As mais que suficientes para ganhar tranquilamente.
Sim, eu gostei do jogo de ontem. Fomos infinitamente superiores ao adversário e eu gosto disso. Then again, somos quase sempre infinitamente superiores ao adversário, qualquer que seja. E eu gosto sempre disso! Percebem agora? Na, du-vi-de-o!
Nem uma palavra sobre se este jogou mais que aquele e como seria se tivesse jogado aqueloutro. É a equipa e o modelo que importam. E este ano, funciona a um nível acima de médio seja com quem for. Braga inexistente: check; Oportunidades para ganhar à vontade: check; Um golinho para amostra: invalid proposition!
Já sei, já sei, se o Espanhol tivesse metido o Osvaldo no lugar do Indi e passado o Ruben para a outra ponta do banco, ao mesmo tempo que fazia avançar o Herrera pelo balneário e juntava o Casillas ao Marcano nos cantos ofensivos, ou qualquer outra coisa igualmente lógica, o Tello tinha marcado na cara do redes, o Brahimi também, e saíamos de lá de saco cheio. E estava-se mesmo a ver que era só fazer isso. Burro pá!
Eu cá gostei. Do resultado é que não gramei nem um pintelho! E preocupa-me ter atirado seis pontos borda fora à oitava jornada. Disso não gosto nada. E isto de usar uma armadura porque não se está a favor da correnteza de flechas, não quer dizer que se seja parvo. Não baixei a viseira.
Empatámos em casa com o Braga. Isso não pode ser. Quero 24 pontos nas próximas 8 jornadas, para equilibrar as contas. E não, não sei contra quem são. Mas sei que serão contra malta que vai jogar menos do que nós. Aposto!
Posto isto, empate não é vitória, pelo que...dá-lhe assobiativo!
...
- Ai pois dou! Com todo o gosto! Anda cá espanholito. Não sei se é da cunbibência, mas até começo a simpatizar um cadito contigo.
- Qué?
- Qué, é a tua tia torta. Anda lá, a palavra é:
F_ _ _ _ _ A
- Qué??
- De quá-quá? Népias! Incha!
- Qué no, no hubiera...
- No hubiera é o caralhoketafoda. Já desenhei um bracinho!
- Oh moço, olha que foi contra o Fonseca!
- Tens razão, Silva. Conta a dobrar! Dois bracinhos. Olha que lindinho que tájaficar...
- Pintxo!
- Já vai Julen, já vai...
...
À revelia da minha sócia capitalista aqui da Tasca, apostei 3 contra 1 em como o FCP é Campeão este ano. Isto ontem, depois do jogo, só para ficar claro.
Tive, logo na altura, a noção de que um dos 3 podia bem ter emparelhado comigo e passaria a ser uma aposta de 2 contra 2. No fundo, se quisermos ser verdadeiros, eu sei que todos os 4 vamos estar a torcer para que eu ganhe a aposta. Perderão felizes e muito contentes, eles. Já eu, ganharei feliz, muito contente e com uma francesinha à borliu no bucho.
...
Interlúdio para Private Messaging:
Oh Lima, pensa lá: 3 contra 1 dá muito mais pinta, não dá?
Hey, Vassalo, viste o Basco a apostar jantares na conferência de imprensa? SMS, meu caro...
Estas linhas para dizer que teria gostado deste jogo de qualquer maneira. Porque reencontrei gente com quem gosto de estar e até gostei de estar com gente que nunca tinha conhecido. É o que dá carregar mais mel que fel nas veias, de sangue azul. E branco.
- Buuu, Buu, meninas...
...
- Oh Xilva, olhe que xapadores também fajem demolichões.
- E uma xapada nax fuchas, vai?