quinta-feira, 30 de março de 2017

O busto de Napoleão



Biba,

Grande festarola na Madeira. Até pensei que era outra vez o Europeu, dada a presença do Marcelo e do Tonito. Fiquei muito admirado de não ter saído de lá ninguém Comendador. A propósito do que, aproveito para lembrar Suasselência o Xôr Presidente que ainda não entregou a Comenda à Érica. Já é tempo de se fazer esta justiça.

Muita gente me disse: Oh Silva, fuoda-se, nome de jogador a um aeroporto. Que país...

Vê-se logo que é malta que não anda pela estranja e, por isso, ainda não percebeu que a maior parte do globo sabe onde fica a Madeira, depois de saber quem é o Cristiano. É certo que o mesmo se pode dizer do pastel de nata e de Portugal. E nem por isso vamos agora mudar o nome da nação para Natalândia ou Pastelugal. Se bem que...

Seja como for, gosto de homenagens em vida e antes Cristiano que Alberto. João. Garden. Até porque à bifa média, lhe vai agradar mais aterrar nos penticeps do Ronaldo, do que nos refegos do Alberto. Digo eu. 

Pronto, ok, a uns quantos bifes também, majé uma gente menos exigente. Em aterrando, já ficam todos contentinhos. 

Qual busto de Napoleão?

...

Ainda para mais, não é como se fossemos lá muito bons a mudar os nomes às coisas. Não percebo a admiração.

Olha, a ponte 25 de abril, por exemplo. Havia um gajo que mandava nisto tudo, que era o António. Acho que ainda era familiar do Toy ou assim. 

Para as gerações mai'novas entenderem, digamos que era o Orelhas daquele tempo: O moço dizia e vinha logo uma série de gente e fazia.

Ora, o tipo meteu na cabeça que ia fazer uma ponte, por modos de facilitar a ida a banhos do povo da capital. Muitas vezes o ouviram dizer: É fazerem uma ponte até ao Brasil para o povo ir à praia, antes que alguém se lembre de se atirar ao Tejo. Ainda acaba a Presidente. 

Em não havendo fundos para chegar a ponte ao Brasil, ficaram-se pela Caparica. Que é pouco maijómenos a mesma coisa, mas com um Cristo Rei mai'canina.

E botaram o nome dele à coisa: Ponte do António.

Entretanto, diz que havia bastas pessoas que não iam muito à bola com o Orelhas facho e desataram a conspirar. Foram e fizeram-lhe aquela brincadeira parva de puxar a cadeira quando o indivíduo se vai a sentar. O velho esbardalhou-se ao comprido e fodeu a bacia toda. Pumbas, deu-se o 25 de abril. 

Portanto, agarraram e puseram à ponte o nome da data que lixou o tipo que a mandou construir. Pode não fazer grande sentido, mas sempre é melhor que lhe terem chamado Eusébio. Por acaso, se fosse agora...

Enfim, sou todo a favor destas renomeações. Aliás, deixo aqui o repto: Para quando a transformação da Feira de Espinho, em Marketplace Ricardo Quaresma? E do Estabelecimento Prisional do Linhó, em Centro Educativo Luís Vieira? 

...

Outra que não se entende, é a polémica acerca do busto. Desde o de Napoleão que não se ouvia falar tanto de um busto. Ao contrário da ralé, que só fazéfalarmal, acho que não apenas ficou uma obra bem catita, como ainda cumpre um propósito social importante: Alertar contra o flagelo do Acidente Vascular Cerebral. Ah poijé, babes.

Retratar o demigod do esférico acabadinho de sobreviver a um fanico que lhe deixou a boca à banda, lança um importante aviso à nossa soberba: Somos de caráter finito e frágil. Todos, até o CR7. 

Ainda por cima, não posso deixar de simpatizar com o tom sarcástico do busto. Como quem diz: Ri-te, ri-te, não tarda, tenjaboca pareces o Paulo Macedo e o corte de cabelo do Pedro Henriques. Ao mesmo tempo. Aí é que te quero ver a rir.

E isto em 15 dias que o chavalo demorou a esculpir aquilo. Menos tempo do que o Conselho de Arbitragem demorou a cozinhar o árbitro para sábado. Opá, deixem o homem amaijóbusto em paz. Inbejuosos.

...

Assim como sopraram a um palhacito que se ia dar a Xistralhada, a mim sopraram-me o resultado de sábado. Não vos posso anunciar qual será, por causa daquilo da confidencialidade das fontes e essas coisinhas todas. Não vale a pena insistirem. Nem que façam a Érica Comendadora. E dois bustos da catraia. 

Quanto muito, posso dizer-vos que soa assim um bocado para o repetitivo e faz lembrar os iceps do Cristiano e o único Campeonato Nacional ganho pelo xôringinheiro. 

Também não cometerei uma grande inconfidência, fazendo saber que não vou a Carnide, a ver a bola, por ter um certo receio do escuro e ainda faltarem umas semanas para o meu banho da Páscoa.

Vá, vão para dentro, não se incomodem.

...

Busto de Napoleão? Qual busto de Napoleão?

domingo, 26 de março de 2017

Resumo da semana: In memoriam

Joaquim Ferreira dos Santos. Ninguém se lembra do gajo...

Passado tempo, é difícil que as memórias sejam espelhos da realidade. Provavelmente, serão meras construções do cérebro. Não que sejam mentira, mas são edifícios de lego, compostos de blocos que são, cada um, memórias também. Ou seja, aquela grande imagem que guardamos, é talvez o composto de vários fragmentos que, tendo acontecido cada um, não ocorreram ao mesmo tempo e nem no local em que hoje os recordamos. Será porventura o nosso modo de poupar espaço de armazenamento, condensando num único acontecimento os momentos relevantes de vários. Não sei.

Sei é que muito dificilmente terá acontecido ele estar sentado à cabeceira da mesa grande da sala, muito bem penteado, nas costas a janela - ou seria a porta para a varanda? - à frente, aberto sobre o tampo, o jornal. E eu sentado à esquerda, a cadeira entalada entre a mesa e a cristaleira, acabado de chegar.

É evidente que não podia ser na cozinha, pois que somos homens e a cozinha é o espaço das mulheres. Pode-se por lá passar, se está Sol e vamos para o terraço; ou se deu uma vontade de fatia de queijo e se demoram a trazê-la; no limite, se há uma confusão de cachopas e é preciso pôr ordem na casa.

Com um sorriso cúmplice, ele dirá suficientemente alto, para que se oiça lá dentro:

- Quer tomar alguma coisa?

E eu responderei ainda mais alto, para que dúvidas não restem:

- Pois claro que não, bem sabe que não bebo sozinho. Já se o meu amigo me acompanhasse...

Depois, ouvimos complacentes o ralhete costumeiro. Umas vezes zangado, outras mais divertido que aperreado, sempre consciente do desfecho do caso: Dois copos e uma garrafa sobre a mesa. Não sei porquê, mas estou capaz de apostar que é água-ardente. E pronto, estamos preparados para saber do Mundo.

Anos mais tarde, olhando a família abraçada, de olhos postos na cova, noto claramente a falta de um. Estão incompletos e assim permanecerão. Acabarão por aprender a viver à volta de, apesar do, com esse espaço vazio. Que, desgraçadamente, não se preencherá.

Espero que a Morte que lhe habitou alguma parede do quarto, tenha tido a decência de lhe declamar um poema. E de lhe dizer, piscando o olho enquanto lhe estendia a mão fria:

- Vamos nus?

Vamos nus, ´vô Xico, ver o que andam as pessoas a fazer.

...

Em Londres, atentou-se. Como sempre, o circo mediático parecia estar montado, escondido em algum banco de areia do Tamisa, tão pouco tempo demorou a ser instalado em Westminster. E os dias seguintes foram mais do mesmo, na busca incessante de dar aos voyeurs a pornografia que, na verdade, importa.

Igualmente arrepiante, é a velocidade a que os comentadores e analistas que o Mundo inteiro consagrou, debitam as suas opiniões finais e finalizantes. Assunto encerrado. Bem como os discursos normalizados dos políticos, que antes de abrirem a boca já todos sabemos o que dirão. E acenamos, combalidos pela dor de mais um ataque, solenemente as cabeças.

Por detrás de tudo isto, esconde-se o facto insofismável: Cinco vitimas mortais, provocadas por um tolinho que pegou num camião e numa faca de cozinha para matar pessoas. Já oiço vestes que se rasgam, na perspetiva de que o tolo do Silva esteja a desvalorizar o caso.

Pois não está, está só a recusar-se a embarcar, de olhos e ouvidos tapados, na lenga-lenga decorada pela maralha. Convenhamos que cinco são menos do que cinquenta e dois. O que eu vos digo, é que há muito quem vos tente - nos tente - vender o lado negro, apenas. Uns, porque sabem que é esse que querem comprar; outros, porque sabem que é só desse que podem viver. Eu proponho uma alternativa:

O discurso do Medo diz que o terrorismo pobre é a nova catastrófica moda. Uma chatice bestial, porque é difícil de detetar, porque mete medo à vizinhança, porque é fácil de implementar. E eu acho que isto é uma bela construção que permite manter uma série de malta a mamar nas tetas em que anda a mamar ao tempo. Sob o beneplácito dos políticos - dos atacados e dos atacantes - a quem dá um imenso jeito fazer declarações consternadas e apresentarem-se como os paizinhos que tomarão conta de nós. Ou que nos matarão, tomando conta dos deles.

Porque é que ainda não ouvi ninguém dar os parabéns ás forças que combatem o terrorismo, pelo excelente trabalho que, pelos vistos, têm feito? É que, aparentemente, está bem mais complicado os terroristas terem acesso aos materiais necessários para produzirem as bombas que matam aos milhares. Ou têm menos dinheiro para as comprar. Parabéns às autoridades que têm impedido que aviões sejam desviados contra edifícios. No meio de muito disparate securitário, há - certamente! - espetaculares resultados. Irrita-me que os transformem na nova ameaça, no mais recente fim do Mundo em cuecas. Aiai, agora é que é.

Pá, viver com tolinhos é uma coisa que fazemos desde sempre. Olha, em Barcelos houve um atentado. E o terrorista de Aguiar da Beira também ia a caminho de um número simpático. O que peço é apenas que pensem. A mim, parece-me que somos nós que deixamos os tolinhos cantarem vitória, quando estão, na verdade, mais perto das cordas.

Já estiveram mais longe de serem uma má recordação. Prefiro que estejam mais perto de serem internados no Conde Ferreira, do que de rebentarem uma estação de comboios.

...

Por falar em Conde Ferreira, a Holanda reparou a tempo num doente que se tinha escapado do Conde lá da terra.

Não deixa de ser engraçado ver a esquerda proletária a aplaudir vitórias da direita conservadora, mas o mais importante é manter estes trastes fora do poder. O problema é que há muito que não estavam tão perto e, um dia destes, arriscamo-nos a que a Democracia seja uma memória.

...

Agora, não valia era a pena revelarem-se os tolinhos Holandeses todos ao mesmo tempo, credo. Então, a malta do Sul é mais putas e vinho verde, hein? À conta do Norte trabalhador. Não sei o que isto me lembra, mas...

Pá, que dizer a isto, senão...sim?! Sim, oh doidinho de tamancas, sim! Produzimos um verde de estalo, que fazemos questão de provar basto, não vá passar algum lote de pior qualidade. Aliás, se o comprares ao preço certo, comprometemo-nos a produzir o melhor verde do Mundo. O único, a bem dizer. Para teu deleite. Mas nosso também, em antes de ti.

Quanto ao resto, no worries chefe. Manda as tuas protestantes frias cá para as terras do sangue quente. Prometemos que as devolvemos frescas, mas conscientes da sua sexualidade; intactas, mas libertas de puritanismos hipócritas; livres, mas exigentes ao nível do desempenho dos seus parceiros de cama. Ou de chão. Ou de banca da cozinha, atrás dos arbustos, na praia e no wc da disconight. O que pode ser um problema para ti, está claro. É por isso que achas que só em pagando é que lhes podes chegar. They know better, mate.

Se pagares o valor justo, mandamos-te um TIR de Zézés Camarinha para darem formação por essas bandas. 

Esta gente perdeu a memória da Flandres muito depressa. É capaz de estar na hora de os lembrar das bases do mercantilismo: Nós temos. Se tu queres, paga. Se não queres pagar, ao menos esconde a inveja.

...

Mas a beleza de tudo, é que os loucos ainda são uma minoria. Não devem ser desprezados, nem subestimados, como bem sabemos. No entanto, é refrescante perceber, na maior parte do tempo - que não no tempo todo! - que mesmo os estúpidos mantêm alguma memória dos benefícios da sanidade.

...

- Oh Pedro. - Olhos postos na parte rosada da grande janela.

- Sim, Senhor.

- Achas que eu sou um gajo? Sinceramente, parece-me que perdi a memória do género. Vai-se a ver, sou Holandês... - Preocupado.

- Creio que sim, Senhor. Se tivesse que arriscar, diria que É mesmo um gajo.- Seguro.

- Então, até logo. - De saída.

- Hã? Onde Vai, Senhor?

- Fazer uma visitinha à Rita...

...

Soundtrack to memory: I can smile at the old days.

terça-feira, 21 de março de 2017

Silva, Hulk e Moutinho, por NES, e uma Nação falhada





Do Silva


Parece que, foi-se a ver, o grande erro de NES não foi a tática. O problema foi ter jogado o Silva. Porque o Silva não presta, o Silva não marca, o Silva trabalha mas não está no sítio certo, o Silva cheira mal.

É um conjunto de balelas sem jeito nenhum que, pelo lampiónico método da repetição exaustiva, vai ficando no ouvido. Tipo, uma canção do Emanuel. Sim, pode ser essa que estais a cantarolar agora mesmo dentro das vossas cabeças. Ou essa.

O advento Soares, anunciado em plena Tasca, trouxe o melhor período do FCP neste campeonato. Coincidentemente, ao mesmo tempo do que uma modificação tática, através da introdução de um terceiro médio. Por consequência, o Silva, que passara meio campeonato a ter que correr por todo o lado, foi desviado para a direita. Mantendo, no entanto, a presença azul e branca na área, pois não é um extremo, mas sim um avançado centro.

Por curiosidade, no Domingo, o nosso Soares, que é quase tão fixe como o Silva, passou boa parte do jogo a descair para a esquerda. Pela primeira vez desde que chegou, não fez um golo em jogo de campeonato. Coincidências.

O que o Silva dá à equipa, não há Corona que dê. Naturalmente, o que Corona traz, o Silva não tem. É uma questão de avaliação do custo/benefício. Eu escolho começar com mais gente capaz de disputar lances aéreos na área dos outros, com maior capacidade de sacrifício e um coração que não dá uma bola por perdida. E tantas que se atiram lá de longe para a mata. Corre Silva, corre.

Colocaria, however, o moço no banco, se pudesse lá meter...o Hulk.

Por outro lado, não compreendo como é que se considera que o Silva é um flop, que não tem ainda estaleca, que fica a anos-luz do Soares - um fixe. 

Uma vez, não empatámos em casa e ficámos mesmo em primeiro. Não foi focados em ser primeiros, éramos mesmo os líderes. E o Dragão assobiou, porque o Silva não entrou. À época, o Silva era um fenómeno, o nosso menino, a última crica antes da impotência. Agora, pelos vistos, flopou. Etegui.

Vejamos, na altura, o Silva fez 41 jogos pela equipa B. E 9 golos. Hoje, leva 37 jogos pela A. E 20 (VINTE) golos. Ora, vão dar banho ao cão, mais os vossos disparates, sim?

Mais importante que tudo isto, há dois momentos mais inolvidáveis que todos os momentos inolvidáveis que passamos no nosso estádio:

1) Quando anunciam a equipa e dizem " com o numAro 10, Andrééé..."
2) Quando o miúdo faz golo e o speaker grita "Andrééé..."

É como se o Dragão, concluindo as frases, cumprisse - afinal - a sua essência.

Por isso, vamos lá ter tino, sim?

Do terrorismo de Estado

Marafonas há muitos, já se sabe. Aliás, quase todos trazem um Marafona dentro deles. Os de Setúbal exageraram? Sim!

Porque ficou claro que não se tratou de um subterfúgio, de uma manha. Mas antes de um plano de jogo. De anti-jogo. Trabalhado à semana, com funções específicas para cada um, lances de laboratório e substituições planificadas.

Ou seja, não foi uma célula terrorista que se alojou junto ao Sado. Foi o Estado que fez do terrorismo a sua política externa. 

Um aviso aos patrícios de Bocage: Todo o terrorismo de Estado provém de Nações falhadas. Exceto o económico. Mas os Estados com capacidade para exercerem alguma espécie de terrorismo económico, não vivem do abono de família. Pagam-no. A Nações falhadas.

Para este jogo, Couceiro tirou a farda de treinador e colocou o boné de encenador. E que bem ensaiadinhos que estavam os meninos.

O FCP não foi competente que bastasse para impedir que estes senhores tivessem a sorte que não mereceram. E o senhor Oliveira não quis deixar que lhes escapasse. Uma pena.

Do NES

Não teria uma palavra a dizer acerca do 442, ou 424, de NES, se ele se tivesse mantido sempre fiel. Aliás, sabe quem pode que estava perfeitamente resignado. Jogaríamos assim e eu esperava que conseguíssemos ser perfeitos no sistema e ganhar sempre.

Mas NES fez evoluir o desenho - e se desenha bem, o cachopo - para um 433 meio híbrido, à conta do Silva. E vimos melhor futebol. E vimos a mesma consistência defensiva. E vimos mais golos. E vimos a porta aberta para o primeiro lugar. Altura em que voltámos ao esquema que deixáramos de praticar. E correu mal, pois claro.

Porque o fez NES? Naturalmente, porque acreditou que seria o mais indicado e o melhor para a equipa. Oh Herlander, tenho notícias para ti, pá: Não foi!

Acho importante que o nosso treinador perceba que não tem nada a provar. Aquele 433 é todo teu, Nuno. De autor. Ninguém te vai roubar o mérito, não tens que demonstrar que tinhas razão. Só tens que escolher a melhor maneira de ganhar. Era um bom princípio veres os nossos jogos...

Talvez descobrisses que o Moutinho que te deixaria jogar como gostavas, não está cá. Nem o Yaya. Nem o Pogba. Se tens mesmo que criar um 8, tenta com o Rúben e deixa o Oli em paz. Por ti, rapaz, por ti.

segunda-feira, 20 de março de 2017

A TascaTV entrevista NES

Raisparta o Castro, dass...

Já percebi que todos os clubes têm blogues e redes sociais e comentadores residentes em sites desportivos e assim. Isto é, toda a gente usa a Ciberlândia para a catarse, a invectiva, o elogio bacoco, a dança de acordo com a música, a braçada a favor da corrente e o perfeito inverso disto tudo. E também como depósito de mera estupidez, na maior parte do tempo. O que é muito bom, porque, por uma mera aplicação da lei da probabilidade, deve libertar o Mundo de uma quantidade muito apreciável de energia estúpida. Os posts da Tasca, por exemplo.

Felizmente, e como não podia deixar de ser, o FCP é diferente. Não porque nos falte alguma das coisas referidas acima, que não falta, mas porque lhe acrescentamos. Na Ciberlândia Portista, para além de tudo o que ojôtros têm - mas de melhor qualidade, mais quantidade e em bonito - temos ainda a possibilidade de saber de tudo na primeira pessoa, pela voz dos protagonistas. Ah poijé bebé! E como? Através da TascaTV, está claro.

Ora, depois do desafio do balde de ontem, toda a gente tem um trator - não resisto! - de perguntas para fazer. Mas, na verdade, as únicas que me interessam são as minhas. So fuck it, convoca-se o NES para vir responder. Pois claro que vem, qual é a dúvida?

...

GRANDE ENTREVISTA

Por se querer manter equidistante de todos os media e não gostar de ser visto em locais de má fama, o Herlander insistiu em que isto se fizesse por telefone. A mim mimporta.

- Ora biba, companheiro Nuno. Daqui fala a muralha de aço. Não, não é o Jorge, dass. É prákela coisa da TV do Silva, tajabêrohnão?

- Ah, muito bem. Bom dia, boa tarde ou boa noite, consoante a hora local a que me estiverem a ouvir. A todas e a todos e aos entremeados também.

- Deixa-te de salamaleques que eu cá não tenho chamadas ilimitadas. Por isso, se não timportas, vou mazé despachar isto. Olha lá pá, então o que se passou ontem?

- Nada de extraordinário. Mantivemos o foco no jogo, na nossa ideia, e tivemos um bocadinho de azar.

- Lá isso tivemos. Majolha, qual ideia? É que depois de termos acertado as pontas, voltámos ao jogo do bacalhau: Bola prás coubes que pode ser que alguém acerte uma batata...

- É precisamente o nosso modelo para jogos em casa, contra o Rio Ave.

- Hã? Qual Rio Ave? Tásparvo?!

- Então, não foi contra uns de listas verdes e brancas que vieram de um vilarejo piscatório? É o Rio Ave.

- Aaaaah, pois, estou a ver... Já te tinha dito que isso não era para repetir, não tinha? Que acabava por correr mal?

- E então? Toda a gente sabe que o Silva não vê um boi de bola. É só fazer ao contrário do que tu dizes. Deve correr bem.

- Deve, deve. Portanto, andaste a rotinar a malta naquele 433 híbrido, que até já entusiasmava, com Oliver a assistir, Brahimi com apoio e o ataque a marcar aos sete de cada vez, majentretanto apertas tudo para trás, a ver o que dá. A que propósito?

- Isso não é importante. O importante é manter o foco, acreditar na ideia, o resto é acessório. Ainda para mais, havemos de convir que estava a tornar-se um pedacinho monótono. A maior parte dos jogadores a fazerem aquilo que sabem fazer, sem aprenderem coisas novas, sem testarem os seus limites. Pfff, muito aborrecido. Desde que esteja dentro da ideia e se mantenha o foco, até podemos jogar em 1-10, que dá igual.

- Pois dá, sim senhor. Um igual. Em casa, contra o Setúbal.

- Ai era o Setúbal? Opá, bem me quis parecer que o Castro estava mais anafadito. Caraças, haviam de me ter avisado, passei o tempo todo a chamar Luis ao Zé. Que maçada.

- À conta da distração, continuamos em segundo, com um melão do caraças, ao passo que os postes de iluminação respiram aliviados. Lindo serviço...

- Nenhum problema. Acreditamos desde o primeiro dia, nada mudou, continuamos a depender de nós. Foco, Silva, foco.

- Sim, oh Est...Espírito, mas em vez de ganhares em Carnide para teres quatro de avanço, precisas de lá ganhar para passar para a frente. Há uma diferença, não?

- É maijómenos a mema'coisa. Ainda temos muito Rio Ave pela frente. Por outro lado, se uma das nossas principais armas é a alma, até e melhor assim. Vamos a Lisboa jogar a vida. Isso é que é de homem! É preciso é manter o foco, acreditar na ideia.

- Qual ideia?

- Depende do Rio Ave.

- Oh foda-se pá, já te disse que o Rio Ave é para esquecer. Não repete! Entendido?

- Vindo do Silva, é como se me chateasse ter sido eliminado da Champions. Já aprendi que tu não vês um boi de bola, pá.

- Portanto, o estúpido sou eu, certo? E a culpa de termos empatado ontem, por não ouvires o que te digo, também há-de ser minha, não?

- Não. Nesse caso, é do Lápis. Ele é que me está sempre a dizer que o Silva...

- Sim, sim, já sei, não vê um boi blablabla. E agora?

- Agora é manter o foco, já se sabe.

- E se meteres o foco no cu e puseres a equipa a jogar como já percebemos que consegues?

- Fico um pirilampo e somos Campeões.

Cai a ligação, entra o genérico.
... 

Eu penso: Podíamos ter ganho ontem. Bastava muito pouco mais e um árbitro sem medo. A segunda, seria pedir demais ao Oliveira, valham-nos 12 minutos de desconto; a primeira, seria pedir demais à sorte, depois dos quatro ao Rio Ave. 

Mas o murro no estômago dos adeptos, esta desesperança que nos perpassa depois de tão alta expetativa, não se reproduz nos jogadores e na equipa. Se há coisa que Nuno Est...Espírito Santo já provou, é que consegue manter o grupo... focado! E crente. Nenhum reparo à entrega e à alma, mesmo jogando a ponta de um corno, como ontem. Sim, na primeira parte também.

Portanto, parece-me evidente que para quem mais conta - eles! - não seriamos Campeões por ganhar ontem. Como não seremos só por ganhar em Carnide. De igual modo, não perdemos ontem o campeonato e não o perderemos - seja qual for o resultado - no dia 1 de abril. Acreditarão até ao fim, desconfiarão até à última. Isso é mérito - e não é pouco - de NES. Que, aliás, já lhe foi concedido por mais que uma vez, aqui na Tasca.

Assim como não é por ser uma besta que acredito que vamos mesmo ser Campeões. É porque desde o Bessa que vejo um FCP que é, de facto, melhor que os adversários. Muito melhor. E os melhores estão mais perto de vencer. Porque andamos ontem para trás? Não encontro nenhuma explicação, para além das que ficaram em cima: Porque sim, para não ser sempre o mesmo, porque deu a travadinha a alguém, para lixar o juízo ao Silva. Tem que ser uma destas. Ou então o Jesualdo ligou a pedir o sistema de volta.

Por faltar o André é que não foi! Estava o Herrera no banco, o Otávio também, e o Teixeira na bancada. Não foi por falta de médios, foi por acreditar na ideia. Não oiças o Lápis, oh Est...Espírito, ele dijaquilo majé a brincar. Vai por mim, a ideia é má. Até preferia que te esquecesses do belo jogo que fizemos contra os lampiões - foda-se, lá se vai a multa! - na primeira volta. Afasta-te da tentação, Santinho.

Se podíamos antes, podemos agora! A onda azul não vai esmorecer. Até porque não há Bascos na costa. Ops, sorry, sou um fraco...
    

domingo, 19 de março de 2017

Uma música, dois ps



Ta ta tarararara tarararara ta ta

É isto. Cinco vezes. Até já.

PS. Leitura higiénica: As crónica de José Manuel Ribeiro e Carlos Tê, em "O Jogo" de hoje.

PS2. Os anúncios da emissão online do Porto Canal, antes da dita, funcionam lindamente. A emissão em si...é que não. Well... é muito irritante...

quinta-feira, 16 de março de 2017

A fúria



Ora biba, sou eu, o único Portista que está fodido da vida por ter ido de vela na Champions. Foda-se pá, eliminados! Já faz 13 anos que não ganhamos esta porra. Vai-se a ver, dava azar ganhar este ano. Fica para o próximo, pronto.

Nada de confusões, eu estou solidário com os elogios da malta à equipa; acho muito bem que tenham sido incentivados à chegada; compreendo - graças às múltiplas lições de bola que V.Exas me têm dado - que a lógica indicava que seria este o desfecho; e estou orgulhoso do espetáculo dos nossos tiffosi lá por aquela Roma. E agradecido também.

Não deixo é de ouvir o Silva estúpido a arengar que tivemos 3 golos cantados para marcar, no somatório dos dois jogos. E que, marcando, teria chegado. Mesmo a jogar com 10 mais de 90 minutos, fuoda-se! Como não tenho nenhum facto para contrapor a isto, vejo-me obrigado a suportar-lhe o ar de "vês que era possível?"

Não consigo envolver-me na onda do numfoimau, tavásperadepior, caimosdepé. Isto vai de adeptos a jogadores e eu não gosto. 

Opá, acreditem no tio Silva, quando vos diz que o pior que podem fazer, se vão cair, é ir de butes para diante. É que se partem todinhos. Se é para se esbardalharem, convém chegar ao chão enrolado. Aleija menos e fica a pessoa pronta para se levantar, mal a malta tem tempo de se desatar a rir.

Prefiro o orgulho ferido do que a resignação. Eu quero mesmo é toda a gente furiosa! Furibundos, como um gajo que se meteu nas cuecas da Charlize e brochou. E não sabia lamber. E era maneta dos dois braços. Bibraceta, pronto. 

Um tipo que fará da próxima queca a sua razão de viver. O momento em que se provará - a si e ao Mundo, via uma hidden cam no guarda-fatos - que é ainda o arquétipo do martelo pneumático da trunfalhunguice. Pouco importa se a cachopa é um bom pedaço mal ajeitada.

É isso que eu quero...

(Pausa para private joke: abacaxi, está claro.)

...Que façam do choco frrito a moça que nos redime. E os devolvam ao Sado com um andar novo. Que digo? Um andar? Pá, todo um condomínio fechado, com piscina e zona de recreio e barbacoa e o camandro. Tudo no cuzinho da fofinha. A querida não chora, aguenta. Só não se vire que tem as trombas do Couceiro, credo! Capaz o moço de falhar outra vez.

Agora, este clima de festa de homenagem aos mártires de Turim, enerva-me. Parece que é véspera de apresentação: Entra a equipa de cabelo azul e cara às riscas; e foguetes e o Diabakatro; ainda aparecem os homenzinhos de chocolate do ano passado. Tipo, o menino teve negativa, mas foi alta e o teste era muuuuitooo difícil. Vamos fazer-lhe uma festinha e comprar-lhe uns ténis.

O caralhinho, tábem? Não trates de estudar e tirar 90 no próximo, se queres ver duas lambadas nesse focinho que te salta o sangue porajórelhas. Bem!

E é já no Domingo. Cincazero, oubisteis? Com 3 do André, ohfaxabor. Também não gosto de meninos amuados e pouco confiantes. Vamo'lá majé abrir a pestanola e dar ao pernil. Bora.

...

Só maijuma coisinha, se não se importam. Está a fazer-me confusão essa coisa do éganharatécarnidytáfeito. Pardonnez? 

Então, é tudo muito complicado até esse jogo, mas ele próprio é um passeio no parque? E depois de enfiarmos mais 5 na pá dos postes de iluminação - não tenho guita para andar a pagar multas a chulos - acabou o campeonato? E se não enfiarmos, acabou? Perdendo, não há mais jogos?

Tu kéjbêr kesta malta anda kuma senhora gorda por uma trela? E a balofa canta quando a mandarem? Maganos.

...

Soundtrack to fury: No limit to what can be done!



terça-feira, 14 de março de 2017

Aqui não!

Ui, com tanto esteróide, deve ter aqueles tomates todos mirradinhos...


Discurso oficial do Portismo cibernético:

Ora, o rapaz tem alguns quatro metros d'alto por três de largo. Uma espécie de Colosso de Rodes. No mínimo, o guarda-vestidos da minha tia-bisavó Olinda, todo ele em mogno trabalhado. Por falar em tronco: Cinquenta centímetros, bem medidos, de fonte segura. Como se fosse a régua regulamentar para Educação Visual. Aiai...

Quando um tipo destes diz que te vai encostar a uma parede, num beco escuro, e por-te a falar muito fininho por dois meses, que fazes, senão manter o lubrificante sempre a postos? Sobretudo, quando já te passou a mão à saída da casa de banho. Porra, já vais avisado, amaciado, como um pequeno Bambi já meio lambido por um leão. Aiai...

Olha, pode ser que não seja tão mau assim, sei lá. Quem sabe a coisa se dá só com um trabalhinho de mãos. Menos mal. Ou o tipo é grande mas apressado e acaba por nem ter tempo para me magoar. Muito. Aiai...

Pra bem, descia DeujáTerra e acabava ele de joelhos a pedir misericórdia. Um gajo agarra-se ao que pode, não é? Mas nem vale a pena pensar nisso. É fechar ojolhos e morder a língua. Ao menos que não grite. Isso é que não é de homem. Aiai...

...

Provavelmente, nos cafés a conversa é a mesma. Felizmente, isto é uma Tasca. Por isso, poucos mas muito apreciados fregueses, aqui não!

Não apreciamos os Lobos que defendem que nem vale a pena conversar acerca da distância que nos separa do Mundo evoluído da bola. Ora, ora, isso é lá muito longe, já depois de Badajoz, vejam vosselências. Até porque dá imenso jeito, dados os katrazero dos amarelos. Claro que num jogo apenas, tudo pode acontecer, defende o Lobo cabotino. Mas a diferença daqui para ali, ui, insuperável. Para todos, mesmo os que ainda não jogaram!

E eu - que de bola não percebo nada, como bem se sabe - penso: Qual é o jogo que não é apenas um? Qual a partida que, jogada, foi-se a ver e eram vinte cinco? Ou trinta e quatro? Cada jogo é apenas ele próprio, pelo que tudo pode acontecer em todos. Ponto!

Também não temos medo que nos encham a caixa de comentários jocosos. Pumbas, incha Silva dum cabrao, que já fosteS; toma lá numseiquantos nessa peida, seu tripeiro panasca - esta dava multa. Pelo "tripeiro", que panasca não é asneira, diz o Conselho de Disciplina.

Por isso, aqui não achamos que já cumprimos a nossa obrigação, que isto já não é nada connosco e que ao Domingo é que é dia de se jogar a bola. Contra o Setúbal. 

Nem pensar! Nós não queremos o Jergo Juses a treinador, a levar os juniores a Turim, para poder levar seis e ter desculpa. E dizer que lançou o Dalot. À baliza, como o Bernardo a defesa esquerdo. O nosso jogo é hoje e é esse que queremos ganhar. Aliás, não temos outro remédio, porque perdemos o primeiro.

Por fim, na Tasca estamos perfeitamente a cagar na expectativa e respetivo grau de desilusão. Não sabemos gerir isso. Não preparamos de véspera a redução do melão do dia seguinte. Nem procuramos evitar que ojamigos encarnados e esverdeados tenham motivos para nos gozarem indecentemente. Aqui não valorizamos a palmadinha do "ya, tu bem dizias que isto não era do vosso campeonato"; muito menos o "pois claro, pá, com os nossos foi igual, é outro Mundo, até o Lobo diz".

Felizmente, é aqui que NES bebe abafados. Porque só ele e os jogadores disseram alguma coisinha de jeito nestes dias. Meujamigos, aqui, o FCP joga mai'logo em Turim, que é uma espécie de Roma, só que noutro sítio. E tem que ganhar aos moços lá da terra. Eles são bons, já sabemos, mas nós é que somos o Porto!

Portanto, estais proibidos de andar a passeio por Itália. Há uma batalha para ganhar. Nem o Alex, que é um catraio muito ajeitadinho, nem o Laurent, nem nenhum dos dois mil nas bancadas, estão dispensados. Ou descansados. É para sofrer e acreditar!

Deixemo-nos de merdas, tábem? Pode ser o Colosso de Rodes e a sua grande pila, mas não vamos resignados. Encaremos as coisas como elas são: Abaixo de trêzum para nós, é derrota. Para facilitar as continhas, fica cincazero, sim?

Sim!

PS. A Tasca já foi gozada à conta da Seleção e do Soares. Estejam pois à bontadinha (hey, xôr Lima) para achincalhar quanto à Juve. ANTES do jogo :)

...

- Alguma vez?! Eu?! Por acaso... Inventais pouco, inventais!

- Como, Senhor? - Distraído com os jornais do dia.

- Majeu lá aparecia num beco escuro? PelamordeMim, este badameco é majé parvo. - Um tanto irritado.

- Pois claro que não, Senhor. Até porque passaria logo a ser um beco bastante iluminado, já se vê. - Fecha o jornal.

- Se fosse para descer, era... deixa cá ver... no Dubai! Com o Burj num bolso, para esses minorcas saberem o que é um rapaz grandalhão. - Solta uma pequena gargalhada trocista. Regista-se um sismo de fraca escala ao largo dos Açores.

- Errr... se calhar não era boa ideia, Senhor. Assim, a meio do Oriente, é melhor não. Dá muita maçada. - Preocupado.

- É? E África? Boa ideia! - Bate uma palma. - Rodeado de bestas ferozes e selvagens. Para Mim, dóceis, fofinhas e inúteis, como chinchilas. A mostrar a essa gentinha quem manda Nisto Tudo. Ah, isso sim, Pedro, bem no coração de África. - Com ar sonhador.

- Errr... pois, Senhor... errr... desde que evitemos o Sudão do Sul, a Somália, o Boko... Outro Continente se calhar não era mal visto, hein? - A medo.

- Oh, foda-se Pedro, afinal ondékeu desço? - Basto irritado.

- Caxarias?...

sexta-feira, 10 de março de 2017

Anacrónico

In blancke, DeviantArt




Olá, sou eu. Como estamos hoje, meu Amor?

Já cheira a Primavera, o que significa que é bom que tenha poupado bastante durante o Inverno, para a renda de lenços de papel e Atarax. Para ser honesto, já desde fevereiro que me comicha o nariz - abençoada flexibilidade - à conta das mimosas. Está claro que vale bem os espirros, de feio que seria o Mundo sem essa praga amarela, incontrolável, omnipresente na beira de todos os caminhos.

Voltei por estes dias à Fundação. Estás certa, se pensas que passei por nós nos átrios imaculados, nos espaços arejados, nas vidraças rasgadas para o jardim interior, nos sorrisos de todas as receções. Lá estávamos, uma vez a tomar café e a falar de um tempo que podia ser sem Ti; outra a fumar contigo na curva da entrada; outra a fazer planos para roubar o telefone aos senhores. E só com muito esforço me lembrei do consultório e da ciência.

O Tempo é uma questão muito dúbia quando És o assunto. O sítio está na mesma, o que não será de estranhar. Mas no primeiro passo lá dentro, os meus olhos procuraram referências. Como um velho habitante de Vilarinho, a mirar as ruínas afundadas na albufeira. Não passaram esses dias todos, segundo me explico no instante seguinte.

Tu sabes que vou de espírito mais leve, confiança elevada, um sorriso mais franco e ideias muito claras. Mas de armadura, em todo o caso. Conhecemos o Medo, eu e Tu. Agora não me tolhe, mas mantenho-lhe o respeito. 

Sei que está lá, espreitando pelas minhas manhãs escuras a comer quilómetros por instinto, a mente a perder-se pela letra de uma canção; sinto-o a tapar-me a boca e o nariz - que mão enorme tem o Medo - só para me mostrar o que seria viver sem respirar; e passeia sempre connosco nestes lugares, acomodado nas suas diferentes intensidades: Hoje de raspão, como ontem a rasgar a carne em facadas certeiras.

Reconheci os sinais: A cadeira de rodas da falta de força, os gorros da quimio, as bochechas da cortisona, as mãos nos olhos, do cansaço extremo da sobrevida. Tudo temperado com o ar confiante e a expressão de carinho alegre do pessoal residente. Circulante.

Mas o estalo não foi, nunca seria, rever-Te. A surpresa - sei lá eu porquê, perguntas cada coisa! - foi reconhecer-nos. Detetar os nossos sinais, perceber que, muito provavelmente, nós - os que te empurraram por corredores - sorriamos aquele sorriso tão triste; passávamos a mão na tua cara como cegos a decorá-la; dizíamos-te que sim a nada, enquanto procurávamos uma gargalhada parva. A diferença é que a encontrámos sempre. Porque nos ajudavas. Quase sempre.

A minha dor maior é o Medo. É por isso que sei que Amo quando a primeira opção é evitar que tenham Medo. Este de maiúscula, o que se tem do Nada desconhecido, da completa Solidão sem prazo. Não pelo Um, mas pela ausência do Outro, pela falta de notícia, por não saber se alguma coisa o amedronta tanto que sinta Medo.

Tu morreste-nos. Eu sei que isso significa que não tens mais Medo. E venho dar-te notícias da nossa Vida, para que saibas que cá estamos, enfrentando com risos parvos os nossos monstros. Para que possas ir descansando, sem tirares os olhos de nós e dos sítios por onde vamos.

Saí pela porta de sempre, não há outra. Repeti a sensação de que lhes é mais importante o procedimento do que o resultado - como eu a queixar-me de que o FCP jogou mal, depois de ter ganho - mas tranquilo em mãos dadas. A minha Eternidade, por escolha, nos dedos entrelaçados. 

Num dos passos a caminho do Mundo das pessoas comuns, fora da Fundação, em direção aos magníficos planos do resto daquele dia - curiosamente, tão parecidos com outros de um dia seguinte - deixei de saber se passou muito tempo e já lá vai o Inverno; ou se foi mesmo agora e ainda nem é Primavera. A primeira.

Acontece-me sempre isto nos Teus lugares. Tenho dificuldades de perceção temporal, sinto-me assim, estranho. Anacrónico. Não sei porquê. Mas hey, nós vamos falando. Até já.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Resumo da Semana: Emoji


Como sabem, sou um gajo que é maluco por redes sociais. Para mim, se não apareceu no Facebook, é como se não tivesse acontecido. Ai porque me faleceu um familiar e não pude vir trabalhar. Sim, sim, muito lindo isso tudo. E a foto de caixão aberto no Instagram? Um video do falecido com orelhas de coelhinho e bigodes de gato no Snapchat, há? Não? Então é treta! Desconta no ordenado e abre o respetivo processo disciplinar. A mim, ninguém mengana! Nem manda nudes. O que é uma porra! (emoji tristinho)

E assim cheguei a esta condição, em que acredito que o Universo é composto por:
  • Animais domésticos fofinhos, a fazerem coisas fofinhas.
  • Crias Humanas tão fofinhas como animais domésticos, a fazerem coisas ainda mais fofinhas.
  • Flores e Sóis e Luas e montanhas e regatos e florestas, com frases inspiradoras por cima. Muitas vezes com erros ortográficos e que terminam com: "partilha e descobre quem são os teujamigos". Quem não cumprir, para mim é um suíno javardo. 
  • Imagens de Santinhos com orações que eu desconhecia. E que se não partilhares na tua cronologia, estás a habilitar-te ao Inferno. Para além de não seres meu amigo. Suíno javardo.
  • Os Humanos espigadotes, eles próprios subdivididos em categorias:
  1. Hiperfeliz, hiperconfiante, hiperwahteverdafuckiuwantmi2.
  2. Triste, deprimido, abandonado, escorraçado, mutilado emocionalmente - e fisicamente no caso de pernetas, por exemplo - mas cheio de força para vos fazer engolir tudo e mostrar-vos quem sou no fundo. Que é um gajo hiperfeliz, hiperconfiante, hiperwahteverdafuckiuwantmi2.
  3. Bué intelectual, tájaver? Tipo, bué mesmo. Tipo, digo apparatchick e hipster e eslúvio e, tipo, essas coisas. Hiperintelectual, tipo hiperfeliz, hiperconfiante, hiperwahteverdafuckiuwantmi2.
  4. O Pedro Chagas Freitas, o Gustavo Santos e os filhos de um com o outro que povoarão todo o Universo, montados nos seus unicórnios. Que parte dos bichos montarão, é que estou por saber. Assfulness anyone?
  5. Gente que escreve posts a desancar as redes sociais. E depois vai e publica nas redes sociais. Tipo, que depressão fazer parte desta espécie que se aliena nestas emulações do Real, escapando, no fundo, da essência de si mesmos. Porque não conseguem estar à altura do que gostariam de facto de Ser: Gente com força para vencer as adversidades e ser hiperfeliz, hiperconfiante, hiperwahteverdafuckiuwantmi2. Isto é, eu! A propósito do que, vou é administrar um blogue. Inchem, suínos javardos. Hã?
Claro que também há defeitos nas redes sociais. Raros, mas lá se encontra um ou outro. Olha, os emojis do FB que permitem mostrar como a pessoa se sente quando está a postar. São bem catitas, mas insuficientes. Não há meio de haver um de "todo fodido", nem "a cagar-me péssamerdatoda", ou "idapanharnobujom", nem mesmo "cheio de tusa". Isto vindo de um gajo que já tem um espertófone com estes bonecos há prái...um mês. Adoro! 

Enfim, uma lacuna que urge suprir. No entanto, são emojis que dão bastante jeito. Para resumir a semana, por exemplo. 

...

Silva, a sentir-se indignado

Estou indignado - lá está - com o FCP. Epá, todágente sabe que o resultado que uma grande equipa procura é Cincazero. Óspois vem aí a malta toda dizer "ena Silva, cincazero!" e tal; e metem aqueles cêzinhos de marca registada que eu não sei botar e assim. Agora, setazero? Setazero não lembra a ninguém. Assim não, meus meninos. 

Para mim não restam dúvidas que a culpa disto é de NES. Também é um bocadinho do Brahimi e do Oliver e do Silva e do Soares e esses todos, mas sobretudo do NES. E do Presidente também, mas menos. 

Vejam bem, com o resultado certo e a jogar contra 10, o tongo do treinador vai tirar o trinco e botar maijum avançado. Como quem diz: Bora meter mais golos cambada! 

É por causa da moral? É por causa do respeito pelo público? É porque isso é que é o ADN Porto? Não meujamigos, nada disso. É só pra foder o Silva. Acho mal, claro que acho mal.

Por outro lado, nos dias que correm, toda a gente acha que trêzazero é uma goleada. Logo, Cincazero - como é que se bota o cêzinho, caralho? - é um goleada dajantigas. Uma cena à homem: Pimbas, gandarraial de porrada que demos! Somos bons ou não somos? Inchem, suínos javardos. Suáines javeirdes, se vierem de Loster, Laixer, Laister, Coiso. 

Mas setazero? Com setazero desata logo tudo a dizer que ojôtros é que são fraquinhos. Ah, era só gordos que haviam era de estar todojábaliza. Assim também eu. Que pracaso só lhes dei três majé porque mapeteceu.

Pá, setazero não é futebol. É as primeiras duajóras de um jogo de basquetebol entre anões paralíticos e formigas dementes. Pumbas, adversário esmagado! Ai se os tolinhos purojanimais vojapanham, anões de um cabrão. Aposto candam naquelas cadeirinhas a motor, cumákele moço Americano. Caté deu um filme que era ele e isso tudo.

... 

Silva, a sentir-se surpreendido

Estou basto surpreso. Então não é que - finalmente! - alguém encomendou um estudo sério, pago pelo contribuinte, está claro, acerca das Praxes Académicas?

Surpreendeu-me que este estupendo Estudo, feito pela Academia - o que é logo um belo principio - tivesse concluído, mais coisa menos coisa, que as praxes Académicas são uma alarvidade. 

A sério? Wow, quer então dizer que aquelas cenas alarves a que chamam Praxe Académica, no seu conjunto constituem uma alarvidade? Pá, ainda bem que se lembraram de encomendar este Estudo. De outro modo, permaneceríamos para sempre no obscurantismo da dúvida. Eslúvios portanto.

Quem também ficou muito chocado, foi o nosso Ministro da Educação. Fazia lá o homem ideia que se passavam estas coisas. Nem ele, nem ninguém. Muito menos a malta do Colégio Militar. Agora, defender que a humilhação nunca fez parte do espírito académico, é parvo. Faz pois, senhor Ministro, olá se faz. Tu kéjber que temojaki outro que nunca lá pôs os pés

Os autores do Estudo revelaram, em primeira mão, à TascaTV que já receberam, da ASAE, a encomenda do próximo trabalho. Trata-se de uma investigação acerca de qual o Clube da preferência do Silva. O da Tasca. Vai ser mais difícil, majosmoços estão empenhados. É como os contribuintes, também estão empenhadojatéótutano, para pagarem estas coisas importantes todas.

...

Silva, a sentir-se revoltado

Estou revoltado! Não há quem ponha mão nisto? É indecente, pá. Depois de andarem a pintar as paredes do tasco de um senhor que emprenhou uma mulher e, juntos, pariram um homem de bem; estes vândalos continuam a danificar o património alheio. Só que, desta vez, disfarçaram-se de meninos bem comportados, para passarem despercebidos e incriminarem onjanjinhos de Lisboa - coisinhas fofas! Finórios, estes tripeiros.

É por estas e por outras que acho que o milhafre Vitória tem razão. É preciso é armar os seis milhões e dar cabo do canastro a esta gentinha. Se não aprendem a bem, aprendem à porrada. Ai espera, à porrada também não vão lá. Tem que ser a tiro mesmo!

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Silva, a sentir-se irritado

Estou muito irritado. Vai por aí um estardalhaço do camandro porque o Nelson Évora não sei o que mais. Pra já, não me parece bem que uma melancia possa participar neste concurso. Quer dizer, andam ojôtros ca tempos a treinar, a treinar, para depois vir de lá um fruto e ganhar a medalha. Se isto é justo, vou ali bater com a cabeça numa parede e já venho. Toda a gente sabe que uma melancia é muito máleve que um marmanjo cheidamúsculos.

Devo, no entanto, reconhecer algum mérito ao Nelson. Para equilibrar a questão do peso, a frutinha salta com uns quatro pares de meias metidos nos calções. Digo, cinco. Menos mal, mas não deixa de ser basto irritante. Pode vir quem quiser - sim, podes vir quem quiseres toda lampeira ver as fotografias do moço naquelas fatiotas de luta grecóromana, a ver s'mimporto! - que para mim continua a ser uma palhaçada.

- Errr...Silva...aquilo não é meias. 

- Claro que é!

- Errr...não, não é...

Pronto, é mesmo como eu dizia: Batota! Haviam de extraditar o tipo para o Tarrafal, sem possibilidade de comutação da pena, nem imagens de video vigilância. Aliás, imagem nenhuma! Então majondékjássviu isto? O gajo faz salto com vara e ganha a medalha do triplo salto? Ora, assim também eu!

...

Silva, a sentir-se recuperado

Entretanto, passou-se o Carnaval. Dada a minha geografia específica, é um período do ano um tanto...errr...exigente, vá. Uma semana depois, já me vou sentido quase recuperado.

Este ano, resolveram erguer umas barreiras aqui na terra, para controlar o acesso da maralha aos sítios da festaronga. Diz que é por questões de segurança e tal, o que é de louvar. Majamim, pareceu-me que o propósito era mais não deixar os putos entrarem co'asbubidas que traziam de casa. Digamos que foi uma medida de estímulo à economia local, à conta de uma série de gente que vem sabe-se lá donde.

Claro que os locals não são parvos nenhuns e trataram de resolver antecipadamente qualquer problema que pudesse vir a ser-lhes criado. Foi só descobrir qual porta estava à guarda do Paulo Núncio e já está. Íamos todos fantasiados de dez mil milhões de euros. Uma limpeza, ninguém olhou sequer para a malta.

...

Silva, a sentir-se com saudades

Estou cheio de saudades. À conta desta pessegada dos milhões de euros, nunca mais soube do Domingues, nem ouvi uma palavra do Centeno, nada. Uma pessoa segue as séries, depois estranha quando acaba a temporada, pois claro que estranha. 

Pareceu-me um golpe muito catita da Direção de Programas, mas as personagens desta nova série - que é suposto fazer-nos esquecer a anterior - são muito menos coloridas. Enfim, é o que temos, pode ser que entretanto dê alguma reviravolta inesperada.

Ainda por cima, já ouvi dizer que afinal a outra série não vai ter mais temporada nenhuma. Que não tarda já ninguém se lembra e fica em águas de bacalhau. A bem de toda a Administração - atual e anteriores - e mais dos acionistas e do resto da pandilha. Porque será?

...

Soundtrack to emoji: Imitation of Life

quinta-feira, 2 de março de 2017

A Mesa do Canto: Némesis (com Jorge Bertocchini)

A Vingança, essa gaja com estupendas mamas...
Ele fica um bom bocado sem jeito à conta do tratamento VIP. E eu, mesmo a tentar com toda a força evitar, não consigo...evitar: É favor não fumarem para cima do rapaz; se não se importam, pomos a música um pouco mais baixo, que está aqui o homem mesmo colado à coluna, coitado; desculpem lá, mas o barril está mesmo no fim, só deve dar mais uns dois finos. De modo que vou guardá-los para o Bertocchini. Bebam água, cambada de bêbados empedernidos.

Depois, apercebo-me da panasquice deslocada que isto é, mas já vou tarde. Já toda a gente está a olhar para mim como se eu fosse uma noviça na primeira fila de um concerto dos 30 Seconds to Mars. Com as cuequinhas todas ensopadas, a tentar abafar os gritinhos, mas incapaz de esconder as lágrimas. Um nojo!

(Pausa para private messaging: Sim, foi premeditado, cara senhora...)

Então, encolho ojombros e penso de mim para comigo: Oh, 'safoda, não devo explicações - e nem desculpas! - a ninguém. E procedo a oferecer bebidas à freguesia toda, para alivio da minha consciência.

...

Majagora, quando sobejam apenas os escassos velhos que ficam para jantar, absortos no fumo do caldo quente e na sua solidão viscosa, ele é apenas um amigo à mão. Como se amigos, grandes ou pequenos, muito ou assim-assim, velhos ou novos, de "a" ou "A", pudessem alguma vez ser apenas.

Raisparta a honestidade, o que é certo - embora menos poético e infinitamente menos interessante de escrever - é que é ele a minha única hipótese de duas de treta a esta hora. Pelo menos, sem couves coladas ao bigode e cascas de feijão entrusdentes.

Deixo o balcão, em direção à Mesa do Canto. A dois passos, assobio e atiro-lhe a mini de abertura fácil:

- Agarra, Baía! - Ele não falha. - Diz-me a primeira coisa que te vier à cabeça, oh careca. Senão, és o Baroni. Nhanhnahanaha.

- Hã?

- Vamos ver para onde nos leva a conversa. A primeira coisa. 'Bora? - Ele semicerra ojolhos e sorri-me um "bute!".

...

né·me·sis 
(grego némesis-eosretribuiçãoira devido a injustiça)

substantivo feminino

1. Deusa da vingança. (Com inicial maiúscula.)

2. Acção de retaliação ou de vingança.

3. Pessoa que se vinga ou quer vingança.

4. Adversário ou obstáculo difícil de derrotar.


Sinónimo Geral: NÉMESE


"némesis", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt

...

Não tenho nenhuma némesis. Gostava imenso, mas já procurei e nunca consegui encontrar uma decente.


Como se fosse fácil encontrar Némesis. Para começar, é apenas uma para toda a gente. Ou achas que as Deusas se replicam, tipo ovelhas manipuladas geneticamente e tal?

Não, meu caro, o que temos ao pontapé são coisas que nos fazem desejar encontrar uma Némesis.  Isso sim, é fácil. Basta respirares, para teres uns quantos motivos legítimos para aspirar à vingança. Digo eu, que não sou nada vingativo. 

Por exemplo, topa lá a ironia, já reparaste que o oxigénio nos mata?

Não me mata a mim que eu só respiro saúde. Por fora, que por dentro estou todo rotinho e cheio de gases direitinhos do sétimo círculo do Dante. 

Mas voltando à coisa, as némesis não se descobrem nem se criam. Destroem-se. E se não tenho vida para criar, como hei-de descobrir um alvo para destruir? Não é fácil viver num mundo repleto de gente que é tão fácil de odiar e não tens as armas para o fazer em condições, como qualquer homem decente! Raios, foram anos após anos sem odiar, imaginas o que isso é? 

Grande parte da existência humana baseia-se nessa treta, desde que o Caim enfiou um fémur nas ventas do mano. O problema é que eu fico a pensar: "se calhar teve um bom motivo, que aquele Abel era um gajo meio parvo, daqueles que usa a água quente toda de manhã ou que te acaba com a manteiga sem comprar mais e depois deixa-te a untar a torradinha com as bordas de um pacote de queijo-creme meio rançoso". Vícios, é o que é. Maus hábitos, como uma freira sem queda para a costura.

Ah não, não me venhas com esse choradinho: Ai que eu não consigo odiar, todo eu sou uma bola de amor e algum pingue de rojão. 

Até parece que te vejo todo nu, montado num unicórnio cor de arco-íris, a cavalgar - salvo sejas! - em direção ao Sol posto. Credo rapaz, que me estragas a Lady Godiva e o Lucky Luke ao mesmo tempo. Sofro bastante com o refluxo.

Por outro lado, não estou nada convencido disso de os maus fígados serem estruturadores do Universo. O egoísmo sim, o interesse próprio e corporativo também, a inveja sempre. Agora, uma coisa tão profunda e tão pura - sim! - como o Ódio? Nem pensar. 

Eu cá, acho que tens a espécie em demasiada boa conta. Ou o inverso, porque creio piamente na nossa capacidade para Amar. Agora que me pões a pensar nisso, uma não implicará a outra? Heaven without Hell?

E sabes que mais? O oxigénio é mesmo um veneno. Oxida.

Que interessante. Pode haver prazer sem dor? Ou pelo menos sem teres o conceito gravado na tua mente e no lombo? Gosto de pensar que não, afinal há que obrigar o Homem a fazer alguma coisa de jeito para se deleitar com a maravilha. 

Imagina-te a beberes um copo de Lagavulin sem conhecer a Amarguinha. Até é jeitoso, mas que me desçam para um poço de pilas todo nu, se não se compara com aquele naco de Afrodite enrolado em algodão-doce. Cheia de oxigénio, como tu gostas, aquela venenosa! 


E a dor é isso mesmo. É o traçar de um caminho à custa da faca que levas presa à coxa, um tortuoso percurso de lama, fel, pus, golos do Jonas, tudo misturado num caldeirão Dantesco (com maiúscula, que o cabrão merece) sem fim à vista, a não ser o fugaz vislumbre de um qualquer sorriso.

Tudo para que o oxigénio, que nos obriga a viver sob o seu jugo, nos mate por fim.

Gotcha, Bertocchini! Conta-me lá, és incapaz de Odiar, dizias? Tu, que Amas tão conscientemente pessoas e entidades. As pessoas, imagino que Ames; as entidades, sei de uma que sim, definitivamente. É por contraponto a que Dor, esse Prazer?

Aí tens a tua Némesis, meu caro amigo com nome de defesa central Italiano: Sim, tu conheces o oposto do Amor. E oxida-te, como o oxigénio de que precisas para Amar. Deal with it.

Um velho grita-nos, do fundo da sua tigela de sopa quente: 

No Heaven without Hell!


É a dor de ter o prazer ausente ou pior, de pensar que estará sempre ausente. De esticar os braços com os músculos a estalar e não tocar na cortina. De colocares todo o teu esforço na busca de um objectivo que parece tão perto e que ficará sempre assim, perto, mas nunca alcançável. 

Perguntas-me que Dor é o contraponto do Prazer? É a tentativa de lá chegar sem conseguir. Uma espécie de coito interrompido mental, se preferires. 

Por isso não odeio, porque me ponho quase sempre nas chuteiras dos outros. E catolicamente (que sou tão pouco), sofro por arrasto para não o passar para terceiros. 

Lamúrias, lamúrias conscientes de um rapaz que só quer bem ao Mundo, por muito que se amedronte com ele. Talvez o futuro me mude. Talvez não. Cá o espero.

E como dizem estes queridos, "How can we have a day without a night?"


Com Jorge Bertocchini | PORTA 19

Este também opta por escrever na ortografia antiga. Maricas!
...

Vou resistir com todas as forças a desfazer-me em agradecimentos ao Jorge, majé dificil para mim. Porque este tipo, ou melhor, o blogue dele, é o responsável por haver uma Tasca onde - também! - se fala de bola. Por isso, vou deixar-me estar calado.

Aproveitei a "Mesa do Canto" para satisfazer um desejo antigo - there we go... - que era pôr o Bertocchini a escrever NÃO sobre bola. Acabou por fazer alguma batota, como se pode comprovar pelo post a mielas, mas qualquer Bertocchini é melhor que Bertocchini nenhum.

Sobretudo porque o gajo se comprometeu a acabar pelo menos mais dois "Mesa do Canto". Sem prazo, however. Ai, não era para dizer? Epá, desculpa lá, foi de propósito. Incha.

Como viste, não te agradeci. Já me podes dar a porra do autógrafo? Dass!