A maneira como se conta o tempo parece um detalhe, mas importa de caraças. Se contarmos segundos, qualquer coisa demora uma eternidade. Fazer uma tosta mística na Tasca, por exemplo, é coisa para demorar uns 420 segundos. Se fosse em anos, era um instante praticamente imperceptível. Uma tosta instantânea.
Do mesmo modo, não é negligenciável o momento em que começamos a contar o tempo.
Imaginemos que o jovem púbere está a ponto de conhecer o interior das coxas da moça mais boa da escola. Da escola do irmão mais velho, para ser ainda melhor. Se começou a contar o tempo no momento em que a viu, de verdade, com ojolhos do coração, pela primeira vez - aquele fim de tarde em que ela lhe disse: és mesmo engraçado puto. E procedeu a despenteá-lo alegremente. - então estará praticamente morto e não lhe parecerá humanamente fazível esta coisa de lhe deslizar as calças de ganga pelas pernas perfeitas.
Se iniciou a contagem apenas a partir da cabeça leve da quinta cerveja, sétima dela, a coisa ter-se-á desenrolado à velocidade da luz. E ele, maduro e compenetrado, tentará ser tão perfeito quanto os seus parcos conhecimentos da matéria - quase todos teóricos - lhe permitirem.
Burro. Devia apenas continuar a ser ingénuo e inocente e engraçado. Pronto a ser ensinado. Erra-se menos enquanto se aprende, do que quando se faz de conta que se sabe.
A que propósito vem isto? Nada, sou só eu a fazer tempo.
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Mas se também não têm nada para fazer, indulge me. Fazconta que é 1437.
É um ano em que seguramente aconteceram muitas coisas. Tendo em conta que Portugal foi das primeiras nações a abolir a escravatura - ah ironia - e isso só aconteceu em 1761, podemos mesmo afirmar que foi um ano de muito trabalho. Pelo menos para alguns.
Do ano da Graça de 1437, registe-se a expedição liderada pelo Infante D. Henrique, com vista à conquista de Tânger. Fracassada. E que ainda nos custou um Príncipe, salvo erro.
Felizmente, já o Vasco ia a mais de meio caminho da Índia. E em menos de um fósforo, dependendo da unidade de medida do tempo, ganhámos pelo engenho mais do que o que não conquistáramos pelas armas - que as tínhamos, nada de confusões. Incha Tânger.
Em 1437 não havia Facebook, nem Twitter, nem Instagram, nem aquela coisa que apaga nudes logo que alguém as vê. E faz print screen.
Para terem uma ideia, se alguém desatasse à espadeirada no porto de - digamos - Antuérpia, só cá se saberia umas semanas depois. Não pensem que vinha o Rei para a rua dizer que pois claro e tal, solidários. Ainda menos enfiavam pelos casebres das pessoas o Nuno Rogeiro, a explicar o sucedido. Com aquele ar de quem sabia perfeitamente que ia acontecer. E não avisou ninguém. O porco!
Se calhava terem espadeirado algum dos nossos que Realmente - capital intended - importasse, pegávamos no Infante e íamos até Fez ou Ceuta - que sempre fica maijámão e dá para trazer umas peles - e espadeirávamos de volta e de raiva e de vingança. O que nos aliviaria e nos garantiria mais umas quantas espadeiradas de retaliação do lado infiel. Oxalá sejam em Antuérpia, que é longe e não prejudica o trânsito no Terreiro do Paço.
Como era enorme o Mundo em 1437.
A que propósito há-de ser isto? Sou só eu que tenho tempo a sobrar. E conto-o de uma maneira aborrecida.
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Há de facto alturas em que muito se aprende e se ganha com a superficialidade. Ou se calhar é só naturalidade.
A Katy botou uma bandeira da Bélgica na foto de perfil do FB. Twittou que se fartou, sempre com a ashtag #jesuisbatatafrita. Enquanto postava fotos do novo namorado em tronco nu, para inveja das amigas - e dois amigos insuspeitos - um pensamento do Dalai Lama sobre margaridas que crescem no sopé do Everest, quatro selfies - uma do decote com #mybodymycall e #kimprapresidente - e duas fotos e meia de gatos a interagirem com pepinos.
A Katy está pronta para a luta. A menos que os seus líderes a desmoralizem e a derrotem, eles próprios, ela será o soldado exemplar. A Katy não se deixou ficar, enfiou-lhes os gatinhos fofinhos pelas ventas acima, enrabou-os com o seu magnífico e fresco decote em V. De vitória! Retumbante.
A bandeira foi há tantos minutos atrás. Porque raio haveria a Katy de ainda estar presa a esse passado distante? Porra, o namorado está meio despido no snapchat! Alô Mundo?! Dormimos?! Estamos em 1437?
Ela acaba de me explicar e deixa rebentar um balão de pastilha elástica de morango sobre os lábios de gloss. Amorangados na aparência. O namorado saberá do sabor. E dois amigos insuspeitos consolam-se na sua inveja. Mutuamente.
Curvo-me perante a evidência. A uma distância segura de determinados amigos da Katy, sabe-se lá.
Na reverência a ela, homenagem a todas e todos os e as Katys. Superficiais ou profundas, sem querer ou por força da vontade, conscientes ou só porque sim. Todos. Por me fazerem acreditar que não seremos derrotados. Porque não queremos. Nem deixamos.
E sei agora que quase me venceram. Porque gastei o tempo que desfiava, com isto. Em vez de bola, por exemplo. Ah não, not me!
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Ora biba xôr Bitor. Deixe-me fazer-lhe um rápido e divertido quizz. Tudo respostas abertas. Nem poderia ser de outra forma para alguém tão eloquente. Vamos lá:
A) O que acha do facto de os diretores dos jornais A Bola e Record terem sido convidados para a Gala dos Dragões de Ouro?
B) Na sua opinião, deveriam ter sido igualmente convidados os responsáveis do CM e CMTV?
C) Defina lá Portismo, se não for incómodo.
D) Onde foi o xôr Bitor feliz? E que lhe fizeram para tanto amargar?
Ora, claro que posso esperar que acabe o programa e saia das instalações. Não quero arranjar-lhe chatices com a entidade patronal. Deus me livre.
Já agora, sabe dizer-me de cor o nosso plantel da época 1437/38? Acho que era o Rodolfo capitão, como sempre. Desde sempre.
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- Oh Pedro, vê aí nos calhamaços o que é que houve de especial em 1437, ohfaxabor.
- Já não usamos calhamaços, Senhor. Há umas décadas que tratámos da informatização...
- Kerkásaber disso, jovem! Despacha-te, anda.
- Qual é o ano, Senhor?
- 1437.
- De qual calendário?
- Aaaaahhh, 'tou a ver a ideia...