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terça-feira, 30 de abril de 2019

Panquecas, sempre!



Tenham em conta que eu sou um fulano que passa imenso tempo em comboios, em trânsito daqui para lá e volta. Nem sempre me dá para trabalhar, nem sempre me dá para dormir. E o tempo tem que se desfiar, certo?

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Reunidos, fumando. É possível que haja uma ou outra cerveja, das médias, mas desta perspetiva não podemos ter a certeza e ainda faltam uns tempos para haver VAR.


- Vamos rebentar isto tudo pá. É o que vos digo, isto só lá vai à bomba pá.
- Tem calma Óscar, estamos só a organizar uma manif. Se os tipos dos camiões de gasoil podem, nós também podemos. E então pessoal, Terreiro do Paço ou Palhavã?
- A mim dava-me mais jeito Palhavã que ia de metro. Haviam de fazer metro até à Praça do Comércio.
- Sim, sim, pois claro, até Santa Apolónia, já agora. - Gargalhada geral.
- Ao Aeroporto! - Mais risada.
- No Porto! No Porto é que haviam de fazer metro! - Gente agarrada à barriga.
- Oh, tábem, estava só a dizer, chatos do caralho.
- Leva-se umas Berlier e cabe a malta toda, não?
- Eu cá levo os petardos pá.
- Os panados, Óscar, os panados! Ainda nos vai arranjar problemas com a bófia, este.
- Está bem pá, majentão vamobora que já me está a dar o nervoso miudinho pá.
- É só amanhã, Óscar. Sossega o facho. Não te esqueças que é uma cena pacífica, contra a guerra e a opressão e essas coisas beras todas, ouviste bem? - Desconfiado.
- Quem é facho pá? Detono-te essas trombas que nem a tua mãezinha te reconhece pá! - Depois, entre dentes. - Panascas pá.
- Hã?
- Panados pá. Vou buscar os panados, era isso.
- Ooooordeeer! 

(Eu sou um mero narrador de mim mesmo, não tenho como explicar o facto de o tipo das gravatas garridas do Parlamento Inglês estar metido no 25 de abril. Aliás, cá está um dado histórico que escapou, até hoje, a quase toda a gente. Menos ao Marques Mendes, está claro. Esse de certeza que sabia ou, pelo menos, desconfiava. Pá.)

- Ora foda-se pá, se vamos ficar aqui a fazer sala, ao menos liguem o rádio pá. - Fazem-lhe a vontade.
- Eish, outra vez o Paulo de Carvalho! Já não há pachorra para o Paulo de Carvalho.
- Havíamos de ir lá e rebentar a Emissora Nacional pá.
- Lá estás tu com isso de... quer dizer, ao menos já se calava o Paulo de Carvalho...
- Estou-te a dizer pá.
- Safoda, eu alinho com o Óscar nisto da Emissora!
- Epá, então e nós ficamos aqui a ganhar mofo? Se é pra isso, também vamos andando. - Levantam-se todos menos um.
- Eu cá não quero ir já. Há panquecas ao pequeno-almoço, arranjam sempre merdas para fazer no dia das panquecas. Gosto das putas das panquecas, carago. Depois chegamos muntacedo e ficamos lá na manif montes de tempo sem fazer nada. Ainda por cima, toca-me sempre aturar as catraias do Mortágua. Haja paciência!
- Alguém tem que tomar conta das crianças, não te parece?
- Podiam deixá-las em casa, sei lá...
- Tás paneleiro do raciocínio? É uma manif, oh atrasado. Como queres que as pessoas saibam que é uma manif se não aparecer nenhuma mana Mortágua? Pensa, estúpido.
- Então sigo com o Maia, é?
- Sim, ide lá. Não te esqueças das fraldas e dos Dodots.

(Esta menção anacrónica não teve o patrocínio da marca citada, o que é uma manifesta infelicidade para este que vos escreve. Atentamente.)

...

- Oh Maia, olha lá, juntou-se aqui mais gente que povo, chiça. Isto não é a mesma malta que esteve aqui há uns dias a aplaudir o Caetano em Alvalade?
- É capaz. Eu não ligo à bola.
- São pois. A propósito do que o Caetano é que dava jeito que aparecesse na manif. Era sucesso garantido. Já se sabe que onde está um Marcelo, está a CMTV e depois vêm os outros todos ao cheiro da Laranjo.
- Não é mal visto, não senhor. Liga aí ao gajo.
- Ai liga! No meio desta multidão, só chego à cabine telefónica de chaimite. Para além de que tenho que ir mudar a fralda à Mortágua. Arranja-te Maia, eu estou cá só de baby-sitter, bebé.
- Oh Coiso, vê lá se apanhas alguém que esteja ao pé do Carmo pelo rádio. Diz para chamarem cá o Caetano. - Acende um cigarro e contempla a fragata que desliza no Tejo. É uma bela embarcação, não haja dúvida. Haviam de fazer daquilo um cacilheiro. Todo ele envolto em crochet. Era coisa para ficar engraçada. Estilhaçam-lhe a criatividade com um berro.
- Oh Maia, ele manda dizer que não está lá. - Encolhe os ombros como um emoji.
- Opá, preguiçoso do caraças! Não levanta aquele cu nem por nada. Qualquer dia também se esbardalha do assento e depois quero ver. Vou lá buscá-lo a ver se isto anima. Puta de manif mais chata. Se sabia tinha deixado o Óscar trazer petardos.
- Por acaso já ia, oh meu Capitão.
- Hã?
- O panadinho. Será que alguém se lembrou de trazer médias?

...

- É como lhe digo, caro Maia, fartinhos de tocar à campainha e nada. Ninguém responde. 
- Estará avariado o video-porteiro, talvez. Oh Coiso, chega-me aí o megafone...

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- Não pode ser! São os piços das Caldas outra vez? Estou? Estou? - Bate no telefone negro, de disco. Sim, existiu disso. - Está lá?
- Problemas, senhor Presidente do Conselho?
- Sei lá. Pelo sim, pelo não, vamos para o Carmo.
- Eish, isso é que não me dá jeito nenhum. Tenho que estar de madrugada em Santa Apolónia, para apanhar o comboio correio para Santarém. Ir agora para o Carmo...
- Quer cá saber do comboio, homem. - A exasperar.
- Ainda se houvesse metro até Santa Apolónia, podia ser que... - O outro desata a rir.
- E até ao aeroporto? Não lhe dava jeito o metro, não? - Ri alto. - Ora deixe-se de lérias e chame um carro. Avançamos para o Carmo que parece que há movimentos estranhos na Praça do Comércio.
- Alguma manif que desceu da Avenida da Liberdade, talvez?
- Não pode ser. É a tropa.
- E a tropa não se pode manifestar, senhor Presidente do Conselho? Se calhar está a tropa farta da guerra.
- Pois claro, oh Coiso, e depois vem a Polícia e faz greve ou assim. Olha, invadem os degraus da Assembleia, por exemplo. Deixe-se de parvoíces e providencie o automóvel que lhe pedi! - Já muito vermelho.
- Já vai, senhor Presidente do Conselho, já vai. Por acaso, ainda outro dia estava a pensar. Isto bem esgalhado era a gente pegar no telefone, marcar um número e pumbas, os tipos no automóvel saberem logo a nossa morada e aparecerem-nos aí à porta. Não era catita, senhor Presidente do Conselho?
- Não, Coiso, não era catita. É estúpido, só isso. Havias de ter ido para Parodiante de Lisboa, tu.

...

- Batem à porta, senhor Presidente do Conselho.
- Não abras, Coiso! - Pálido.
- Oh, tanto me faz, já não chego a horas a Santarém e não. Tenho o dia todo para fingir que não está cá ninguém. Gostava era de perceber porquê.
- Não sei Coiso, parece que foram rebentar a Emissora Nacional. Diz que foi o Paulo de Carvalho. É um ataque coordenado às rádios. O comuna do Zeca atacou a Renascença. - Benze-se.
- Ui, agora é que nem à hora de jantar lá estou. Olhe, parece que é o Maia que está lá fora a chamá-lo.
- É a revolução! - Procura esconderijo, feito barata tonta.
- Ora, que exagero senhor Presidente do Conselho. Vai-se a ver é para irem ao Martinho tomar um xiripiti. Olhe, lá está outra: metro no Terreiro do Paço. Hein? Diga lá que não dava jeito.
- Fartinho dessa história do metro, chiça, penico, cocó. - Aos pulos como uma criança mal educada.
- Não pragueje, senhor Presidente, olhe a sua tensão.
- Você tira-me de mim, Coiso! Sempre com a trampa dos transportes. Táxis por radiotelefonia, metro aqui e ali e no caralho mais velho. E depois essa fixação em apanhar o comboio para Santarém! Tenho os nervos num frangalho. - Deixa-se cair numa poltrona. Derrotado.
- Ofende-me,  senhor Presidente do Conselho. Procuro servi-lo da melhor forma, cumprindo com os meus deveres com todo o brio. Está claro que, de momento, deveria estar descansado em Santarém. Apesar disso, aqui estou, firme no meu posto, a ouvir estes disparates de uma suposta Revolução. - De beicinho a tremer.
- Mas afinal, porque é que você está tão interessado em Santarém? - Já sem esperança.
- Panquecas, senhor Presidente do Conselho. - Diz e bate as palmas. - Hoje é dia de panquecas. Todos os 25 há panquecas. Bem boas, as panquecas do quartel de Santarém. 
- Oh foda-se, desisto! Vá lá fora e informe o Maia que entrego o poder. Quero ir para a Carregueira imediatamente.

...

- Hã? Mas qual poder?
- Pois é como lhe conto, estimado Maia. O senhor Presidente do Conselho manda dizer que lhe entrega o poder e pede encarecidamente que o leve daqui. - Olha, outra vez o emoji dos ombros.
- Oh jovem, eu lá tenho tempo para essas brincadeiras? Tenho que voltar prá manif. Não tarda, está lá o Mortágua para levantar as petizas e se eu não estou desata logo a abusar e ainda gama alguma Berlier. Parecendo que não, as Berlier não crescem nas árvores.
- Pois, não sei que lhe faça.
- Só se pedir ao Spinola que passe cá e receba a encomenda.
- O poder.
- Ou isso, tanto se me dá. - Vira as costas, avança um passo. Detém-se, volta atrás. - Oh Coiso, eu não o conheço de algum lado?
- Sim, Capitão. Já nos cruzámos em Santarém. - Com um largo sorriso.
- Ah, costuma lá parar, é?
- Todos os 25, meu capitão.
- Panquecas hein? Seu lambareiro. - Sorriem cúmplices.

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Viva este pouco que ainda nos vai restando: Liberdade!
Peço imensa desculpa. Grato pelo vosso tempo. Eu saio sozinho, obrigado.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

A Declaração de Voto de Anastásio Silva



- Avancemos então para almoço... - O senhor Secretário sussurra ao ouvido do senhor Presidente, interrompendo-o. - Mesmo? Quem? Bom, parece que temos ainda uma inscrição. Falta a declaração de voto do senhor deputado Anastácio Silva. - Perscruta a câmara com o olhar entediado, sem fazer ideia de que de ala se levantará a voz que se interpõe entre o seu apetite e a chispalhada à transmontana das quintas-feiras.

- Anastásio, senhor Presidente. - Uma voz mais ou menos a medo. Os membros das bancadas da frente viram-se. Na verdade, todos se viram, exceto os integrantes da última fila. A esses basta-lhes entortar ligeiramente o pescoço.

- É mesmo Anastásio, com esse. - Encolhe os ombros no seu fato creme, nada slim, dos baratos, mas impecavelmente engomado e vincado. Desta narrativa distância, não se lhe vislumbra nenhuma nódoa na parte visível da camisa branca ou na gravata azul marinho. É um homem mais ou menos baixo, mais ou menos gordito, mais ou menos calvo, de grandes óculos com armação de massa que lhe filtram os olhos mais ou menos mortiços.

Não há naquela Casa da Democracia, do Povo, portanto, registo de que Anastásio Silva, deputado, tenha antes usado da palavra. Encontra-se uma inscrição, por alturas da primeira legislatura, mas infrutífera, dado o acaso de terem os dignos representantes da Nação se pegado à bofetada e a sessão sido interrompida com recurso às forças da ordem.
                                                                                 
                                                                                  (A propósito do que: ORDEM, oh Narrador! Voltemos à vaca fria, que se acaba a chispalhada antes de o senhor Presidente chegar e é o cabo dos trabalhos para aturar o homem de mau humor.)

- Como queira, deputado Silva. Pedia-lhe era que se despachasse que a nossa vida não é estar para aqui a ouvi-lo. Para além de que é de mau gosto fazer-nos isto a uma quinta-feira, mas você lá saberá de si. Adiante, faça lá a sua declaração de voto em relação ao decreto que entretanto já foi aprovado. Inclusivamente com o voto da sua bancada parlamentar. Entende a perda de tempo, senhor Silva? - O senhor Secretário cochicha ao senhor Presidente. - Sim, sim, bem sei. Acha que desconheço o regimento, senhor Secretário? - O outro encolhe-se. - Deputado Silva, estamos à sua espera.

...

- Em relação à recente votação do projeto de lei número... - Procura papeis, demora-se. 

- Todos nós conhecemos o número, ande lá para a frente. - Presidencial.

- Bom, trata-se da reintrodução da Pena de Morte, é isto. Tendo votado contra o sentido da minha bancada, e da maioria desta casa, por ser incapaz de contrariar o meu asco ao facto de poder alguém decretar a morte de outro alguém, sinto-me obrigado pela minha consciência a apresentar esta Declaração de Voto.

Senhor Presidente, senhores Deputados,

Votei contra por duas ordens de razão. A saber: Pessoal e Social. No âmbito da primeira, encontro motivações simples, como por exemplo, por indevido acidente da Vida, a hora errada, o local impróprio, a inveja parva, a ironia kafkiana, ver-me eu próprio confrontado com uma acusação e em vias de ser punido com pena máxima. Pior ainda, encontrar-se a prole em tal situação, justificada ou injustificadamente, creio que pouco me importará. Sabem vossas excelências que isto da Morte é tudo muito lindo, até que chegue aos nossos. Por amor à verdade, devo informar que, só por si, isto me levaria a votar contra, mesmo que não fique bem pensar o deputado tão nele mesmo, estando em representação do Povo.

Incomodado por tão profunda convicção me advir de motivos tão evidentemente egoístas, escavei mais fundo no meu âmago, salvo seja, Deus proíba, tentando perceber se outras razões fundamentavam a minha decisão. E sim, há todo um Universo de altruísmo e bem querer ao próximo que me leva a ser contra.

É certo que os assassinos psicopatas são uma praga, assim como os violadores e todos os que abusam das crianças, das muitas e todas horríveis formas pelas quais uma criança pode ser abusada. Não estando disposta, bem sei, esta câmara a debater sem hipocrisia o facto de termos uns que abusam mas pronto está bem, veja lá não se meta nisso outra vez e dê-me uma hóstia, vá com Deus o senhor importante e Nossa Senhora o guarde, veja lá não viole a Virgem, passo só deste raspão pelo assunto. 

Mas sim, há que punir grave e definitivamente os parricidas e os fratricidas e os icidas de toda a espécie, que a nenhum homem cabe tirar o sopro a outro. Quer dizer, menos se for na Guerra. Na Guerra é matar ou ser morto, mais bala menos míssil, a indústria prospera, o cirurgião cose, o político, que não vós, que não vós, rebola no esterco, o soldado apanha o balázio com a testa, não se vai agora condenar quem lho atirou. Pela Graça de Deus. É muito provável que tenha sido. Sou assim estúpido desde pequenino e isto de matar a mim soa-me sempre ao mesmo. Mas têm Vossas Excelências tido o cuidado de me ir ensinando alguma coisinha, como fica provado.

Sou compelido a não esquecer os tolinhos sem consciência, os traficantes... talvez não os de armas, que acharão vossas excelências? Os tarados de tipo diverso e diversas religiões, os drogados com instinto assassino, os extremistas aproveitadores e o que se aproveitam à grande dos extremos, as pessoas que dizem "prontos" e "fostes", os alérgicos a água e sabão, gente que come com a boca aberta e palita os dentes com a língua, os sem escrúpulos e sem moral, os corruptos e mafiosos, os violentos de modo geral, os que batem nos cônjuges, nos namorados, nos amantes, nos colegas de escola, os que não têm coração. - Um gole de água. 

- Também os que guardam lugar nas praças de alimentação, os que passam à frente nas filas, os homofóbicos, os fóbicos todos, os maricas intolerantes, as vítimas de carreira, os que não se enternecem com uma criança, os que não sentem o peito rasgar-se perante um velhinho sozinho, os que têm prazer em torturar um bicho, os que preferem cães a gatos, os que não querem que sejas do clube que és, os que embirram com narizes grandes, os avaros que não se compadecem da miséria alheia, os falsos pudicos, os que matam por ordem de outros e os que os mandam matar. Cá estamos de volta à Guerra, não é, caros co-deputados? Ai não, desculpem, a Guerra não, foi apenas uma recaída de parvoíce da minha parte. - Um gole de água.

- Sendo quinta-feira, deixemos em paz os gulosos, mas não nos olvidemos dos que deixam outros morrer de fome, de sede, de abandono, os que ouvem música nos transportes públicos sem auscultadores, os incapazes de sorrir, os de mau fundo e péssimos fígados. Enfim, todos estes que, digo eu para comigo, não merecem o ar que respiram. 

Assim, declaro que votei contra a Pena de Morte por uma questão de povoamento do planeta e manutenção da espécie. Bom almoço. - E sai no seu passo curto, abotoando os três botões do blazer fora de moda que lhe escondem a mais ou menos proeminente pancinha.

...


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Alguns, poucos e selecionados, de vós, sabereis porque é que o disparate acima se deu por via desta notícia. Raisparta!


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

The Twilight Zone: Afterlife (por Maria Alves)



Foto: Victor Vaz


Esta madrugada choveu. Bastante.

Saiu de casa e a primeira coisa que lhe veio à cabeça foi que os condutores iam andar todos como baratas tontas, a asneirar a torto e a direito e a bulir-lhe com os nervos.

É sempre assim quando chove, mesmo que sejam só meia dúzia de pingos. Até nesta Vila pequenina - às vezes (tantas!) espectral - classificada de Cidade, na qual os atrasos matinais se resumem a uma dezena de viaturas encalacradas no acesso à Rotunda das Pedras

(…)

(assim designada carinhosamente pela população, por força das cinco… coisas ao alto… com que orgulhosamente presenteia os seus visitantes. Calhau de considerável envergadura sobre calhau de considerável envergadura, resultando em conjuntos escultórios representativos de oito freguesias - como é que isso dá cinco conjuntos de esculturas, nunca percebeu. Mas a Matemática também nunca foi o seu forte. Agora que se fala nisso e pensando melhor, isto foi muitos anos antes da Reforma Administrativa do Território ter reduzido oito a cinco Freguesias… querem ver que afinal eram todos grandes visionários?! Vem-lhe à cabeça a mais nova, assim pequenina, no assento de trás do carro, a dizer que as pedras estavam sujas e que a mãe tinha de as lavar. Esse era o tempo em que o pai era o Master of the Light, responsável por ligar e desligar todas as luzes do Mundo. Já foi tão pequenina, a mais nova.)

(…)

O outro motivo que pode gerar atrasos inconvenientes, é o semáforo do centro calhar estar vermelho. Feitas as contas, num dia mau, pode atrasar-se 5 minutos todos inteiros numa manhã. Incómodos de se viver nesta Vila disfarçada de Cidade, pois então.

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Este tom azul do céu sempre foi assim? Não o reconhece.

Se lhe retirar as nuvens, as de algodão e as que prenunciam tempestades, ele está ali, num azul completamente novo. Nem mais bonito, nem mais feio. Diferente. E é nesse instante que se apercebe que todas as cores do Mundo apresentam também tons que não lhes conheceu antes.
Raisparta, Oftalmologista outra vez? Shit!

Afinal não são 10 carros encalacrados na Rotunda. São 8. Dá-lhe algum tempo para absorver e dissecar toda esta nova paleta. Coisa de gaja - dizem! As mulheres não veem somente as cores primárias e as compostas, na sua simplicidade; veem o seu leque infinito de tons. E dão-lhes nomes. Tornam-nos concretos!

O céu tem um inédito tom de azul, sólido, sem qualquer transparência. O verde das árvores é áspero, arranha os olhos e deixa um gosto estranho na boca. Pela estrada demoram os restos das folhas que o temporal roubou aos pinhais, num ocre cortante. O piso cinzento brilha, ofuscando o tracejado branco esbatido das marcas rodoviárias. Os carros passam. Todos iguais nas suas cores, indiferentes aos nomes e às diferenças convencionadas.

Sente o sangue a correr nas veias. Não o vê, mas sabe que o seu vermelho é mais intenso. Chegou aqui fruto de tantas experiências, tantos sentimentos e emoções, tantas gargalhadas e tantas lágrimas. O suor parece mais frio, mais espesso, demora nos poros. As lágrimas têm um gosto diferente de sal, como se o tempo se tivesse encarregado de o ir refinando. A pele está mais densa e as marcas que a vida lhe imprimiu são um mapa que apetece percorrer. Um daqueles mapas dos Parques de Atrações: “Esta mete-me medo. Aquela parece divertida e a que se lhe segue é bonita. A esta vim ao engano e não regresso. Aqui poderia permanecer… ”

Vem-lhe à cabeça que, à saída de casa, talvez tenha entrado numa outra dimensão. Uma Twillight Zone contemporânea, a fugir para Black Mirror, a que não reconhece assim tanto mérito. Aqui tudo é igual à Vida, mas de uma forma diferente. Concreta também, confusa pela novidade. Requer habituação.

Será que é ela? Foram as cores que mudaram ou a sua íris que as capta de outra forma? Ou o cérebro que as processa de forma distinta?

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Ocorre-lhe: e se isto é um sonho? Se não acordei ainda?

Talvez ainda esteja perdida no calor dos lençóis e no conforto da pele familiar e desejada que repousa encostada a si e que busca constantemente. Com a mão. Com o pé, se não a sente, se não sabe se já dali saiu a horas a que ninguém merece sair.

Hoje os sonos são diferentes. Quentes. Difíceis. Curtos. Entrecortados. Muitas das vezes superficiais. E por isso os sonhos são mais palpáveis, mais vívidos.

Pode ser isso, deve estar a dormir. Quando acordar as cores voltaram aos seus tons familiares. Aqueles que partiram estarão ainda entre nós e as saudades não terão mais sentido. Passarão as mãos pelo seu cabelo, sentirá na pele o calor dos seus hálitos quentes nos beijos trocados. Ouvirá as suas gargalhadas interrompidas pela tosse dos vícios. Haverão saudades, mas matam-se à distância de uma qualquer tecnologia imediata. «Dallas» all ove again! e ri-se das referências que a atraiçoam quando quer acreditar que os anos não foram estes todos.

Será ainda o tempo dos poemas. Tantos. Guiões para a sua Vida.

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Ou será o Afterlife? A Fénix renascida. O recomeço depois do fim. A última chance, depois de todas se terem esgotado. A resiliência do ser. A dimensão dos sentimentos. A etapa que antecede o vazio, o vácuo, o nada.

Afterlife. A palavra ecoa na sua cabeça, porque alguém lha sussurrou ao ouvido, recentemente. Tem a certeza. Afterlife.

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Fugiu ao semáforo do centro (espertinha, cheia de truques!). Olha para o relógio do carro no momento em que desliga a ignição: 1 minuto de atraso em relação ao que tinha definido. Está satisfeita, mas ainda assim preferia que fosse 1 minuto antes do deadline. Sai do carro, estacionado o mais perto que consegue do emprego. Mesmo ao lado, hoje. Outro motivo de satisfação.

Pega na mala e em 2 sacos. Não chove. «Porque raio ando sempre cheia de sacos? Porque raio carrego e acumulo tralha que provavelmente nunca mais me servirá para nada? Porque é que tenho tanta dificuldade em me libertar? Em pôr fora, em deixar para trás?»

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Não repara, mas as cores já voltaram todas aos seus tons habituais.

Percorre os poucos metros até à entrada do edifício. Já com a mente em tudo o que há para fazer, sem se aperceber, compartimenta os medos, a esperança, os sentimentos, as saudades e tudo o resto que lhe faz valer a Vida.

Logo, logo, voltará ali.

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terça-feira, 11 de setembro de 2018

A TascaTV entrevista o senhor Presidente da Câmara



Opá, oh Silva, isto era suposto vir cá só para uns canecos. Bebíamos uma garrafinha de 3 Marias fresquinha e tal e pronto, eu ia à minha vidinha e você ficava praí a discutir a bola com ujôtros bêbados. Ficava toda a gente feliz e já escusava eu de ter de botar este pó-de arroz. Isto é para quê, Silva? É só prágente ficar envergonhado na televisão, poijé?

- Na. É por causa do brilho da penca e assim.

Tem mesmo de ser, não é? Eu havia de aprender a ficar caladinho, a mãezinha sempre me disse.

- Isso é que era serviço!

Desculpe, como disse?

- Olhe, já está a dar.

...

- Viva, muito boa noite a quem sabe as moradas fiscais dos munícipes todos. E então, on fire?

- Está tudo bem, obrigadinho. Sempre ao serviço da população de Pedrogão.

- É capaz. Olhe lá, oh Valdemar, então diz que essa história dos fundos de reconstrução foi cá uma cóboiada e pêras. 

- Completamente falso. Não foi reconstruída nenhuma casa que não tivesse sido afetada pelo fogo.

- Nem a do cunhado do presidente de uma junta, o Manel Jaquim? Segundo consta, o único fogo que por lá se viu foi no fogareiro, até pegarem as brasas para uma sardinhada. Sardinha de Peniche, contam-nos.

- E kéjbêr que isso não é fogo. Você aqui deve assar tiras da barriga com um isqueiro. Ou então mete-as no congelador. Isso é que hão de ficar tostadinhas, com o couro todo ele em torresmo, sim senhor. E depois, eu até fui contra o casamento da irmã do senhor presidente de junta com esse trolha. Logo por aí se vê que sou inocente. A sério, Silva, estava um dótôr enrabichadinho por ela e vai a besta e pumbas, com o Manel Jaquim, Deus me valha. Agora, se o fogo impiedoso lhes deu cabo da morada fiscal, não há outro remédio senão libertar o respetivo dólar. Parece-me evidente.

- É tudo inventado, certo?

- Naturalmente. Pode haver um ou outro caso de dúvida, se quisermos ser muito picuinhas. Mas para não me sarnarem mais a moleirinha, já mandei tudo para averiguações. Um assunto que não interessa para nada, arre. 

- Porque só o fez depois de a comunicação social ter levantado a lebre?

- Oh Silva, essa pergunta é tão parva que tinha mesmo que vir de si. Então se não aparece nos jornais e nas televisões, ajassério, não é esta vergonha, como é que a pessoa há de saber? Irra que é burro. Mas para sua informação, até já assinei uma petição e tudo.

- Verdade. Uma petição contra as alegadas fraudes.

- Ai ele é isso? Então não era para acabar com as touradas em Barrancos? Ora foda-se, agora é que você me está a dar uma bela novidade. Eu a pensar que era para proteger os bois e vai-se a ver... Bem, mas o que importa é que está assinada e é de certeza uma bela causa, porque é promovida pelos dissidentes da oposição. Tudo gente de gabarito.

- Oposição atual que o senhor liderou no mandato passado. É curioso que concorra sempre pelo partido que está no poder em Lisboa, não?

- Epá, mas isso tem algum interesse para o caso? Foque-se mazé em coisas importantes, deixe-se de ninharias.

- Por exemplo?

- O apito dourado! - Bate as palmas. - Disso ninguém fala, tudo abafadinho. Frutinha, hein? Cafézinho com leite, hein? Isso não analisam vocês. Agora fogos, ui, vamos já perguntar coisas ao Valdemar. Tragam cá o Valdemar que a gente saca-lhe tudo. E o Pinto da Costa? Esse nunca tem a culpa de nada, poi'não?

- Hã?

- Agora desconverse.

- ... - A babar.

Entra o genérico.

...

- Que tal, Silva? Eu acho que correu muito bem, não lhe parece?

- Estou sem palavras. - Afundado na cadeira.

- Pois claro, sou muitíssimo eloquente. Estou aqui a reparar, você havia era de fazer uma marquise. Uma coisa assim estilo avançado, toda ela em caixilharia de alumínio, com um vidrinho martelado aí até um metro. Olhe que ficava bem catita e tinha esplanada o ano todo. Por acaso, e sorte sua, conheço o sobrinho de um presidente de junta que tem uma serralharia. Posso dar-lhe uma palavrinha.

- Pois, não sei, acho que não. E depois há o dinheiro para a obra, as licenças e essa trapalhada... - Interrompe:

- Estou a ver, seu malandreco. Sempre me saiu cá um vivaço maijómenos, você. - Dá-me uma cotovelada cúmplice.

- Hã?

- Quer que lhe chegue fogo a uma mesinha das de lá de fora, poijé?

...

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Resumo da semana: #justsaying

E pronto, cá estamos chegados ao deprimente quase a acabar. As férias. Fico num estado esquisito, tão depressa asténico, derrotado, praticamente falecido, velado e enterrado; como, logo a seguir, me dá a travadinha e sou um puto hiperativo, cheio de coisas por fazer antes que se me acabe o tempo e tento mergulhar numa onda, ao mesmo tempo que fumo um charro e bebo yet another mojito, sem perder o controlo da bola que a malta da praia está a contar que resolva o jogo.

Isto das férias divididas em fatias aborrece-me porque estão sempre a acabar. Ainda agora me sentia a recuperar da depressão pós Ras Al Khaimah e pumbas, all over again. Parece a pessoa que está continuamente a acordar, precisamente na parte do sonho em que a mais que tudo se vai engalfinhar com a Scarlett. Não se faz a um gajo, caraças.

Enfim, mantenhamos o pensamento positivo. Ficam para trás belos dias de Sol, sem sal. E belas descobertas, como a Aldeia do Mato e, sobretudo, o Carvoeiro. Ainda melhor, o senhor Artur e a dona Filomena e as suas Casas do Lagar, de onde a gente não lhe apetece ir embora, tão em casa que se está. Depois, por estranho alinhamento cósmico, fui dar a sítios que já não fazia ideia onde ficavam, nos quais amigos me deram guarida e festa, faz mais de 30 anos. Surpreendentemente, reconheci o terreiro dela, da festa, o sitio onde tocava o conjunto, a zona onde se vendia cerveja, a rampa pela qual correu esbaforido o Zé Vasco, perdido de bêbado desde dois dias antes, atrás de alguém que, por qualquer motivo, ele achava que devia apanhar nas trombas. Está alcatroada, Zé, a rampa da festa da tua terra.



Reencontrei as lambretas e os copos de três. E os míticos Ferro & Fogo, a tocar numa aldeia cheia de rock.


Não sei bem a quem, ou a que, agradecer, mas obrigado. #justsaying.




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Entretanto, foi havendo bola. Sobre o nosso FCP, está tudo em A Culpa é do Cavani. Há tanto para dizer mais, que até o "O Jogo" tem que se pôr a fazer artigos da treta sobre o facto de o Oliveira ser o melhor tipo a tirar a bola aos outros, ao fim de...dois jogos. Já depois de terem descoberto que este é o melhor inicio de época da carreira do Otávio. Olha que era difícil, hein? Se nos poupassem a isto, a gente agradecia. Vá que temos olhinhos nas trombas e não comemos gelados com a testa. Estou fartinho de vos dizer que nós não somos lampiões!

Porto à parte, diga-se que é hora de um grande shout out  para o Nuno Manta e seu Feirense. Nem tanto pelas duas vitórias e seis pontos - tantos como os matulões - mas sobretudo pelo que vem fazendo há duas épocas, com planteis que não tenho a certeza se seriam suficientes para ser favorito à subida na segundona. Quando nos apetecer choramingar acerca da tal profundidade das nossas azuis e brancas opções, é botarmos ujólhos em Santa Maria da Feira. Se esta malta consegue, a Champions não é miragem nenhuma para o FCP. Justiça seja feita, ao contrário do senhor Azul e Branco, que aqui há atrasado me referiu estar de olho no Manta, eu desconfi(o)ei um pedacinho da capacidade deste jovem para amassar esta fogaça. Bem, aqui está, xôr Nuno, a contrição. Agora esquece-te de desceres este ano, só para me contrariares...

Do outro lado, o xôr Castro que, como bem podeis comprovar em muitos e variados posts desta reputada casa de pasto, não é moço da minha preferência. Parece-me sempre que se as coisas desatam a correr mal, ele não tem como lhes dar a volta. Não que se possa dizer que lhe esteja propriamente a descarrilar a vida, ainda é cedo e quatro derrotas nos quatro primeiros jogos oficiais não é o fim do Mundo. Sim, quatro, porquê? No entanto, faz-me confusão que um tipo que tem que alterar profundamente o modelo de jogo da equipa - o Pedro Martins é de outra escola, se de alguma... - ache boa ideia trocar meia equipa da primeira para a segunda jornada, depois de ter feito tremer um dos candidatos ao titulo. Quando vem justificar que aquela foi uma derrota muito traumática e que ainda não conseguiu resolver isso com os jogadores, aí disparam os alarmes, digo eu. Well, pode ser que tenha sido apenas excesso de copos de três. Infelizmente para o Vitória, o Folha está em Portimão. Também leva na corneta como gente grande, mas basta olhar para a diferença no discurso para me perceberem. mas mantenho grandes expetativas na época do Guimarães, mesmo com o Castro. Pode ser que faça clique. Ou não. Olha, o Capucho está mesmo no fim da auto-estrada Guimarães - Litoral. #justsaying.

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La Geringonce vai reverter o molho de bróculos que o PAF tinha arranjado com a Lei de Reorganização do Território das Freguesias que, como se sabe, foi feita seguindo o método legislativo de atiréssamerdóarilogocevê. Portanto, mais uma prova de visão a longo prazo dos políticos portugueses. Chegue a altura da alternância e lá teremos outra vez que reordenar o que estava mal ordenado e depois foi reorganizado desordenando. Hã?

Não percebo lá muito bem porque é que a Catarina e os seus Bloquinhos haveriam de achar isto boa ideia, tirando o facto de porque sim. É que, ao contrário do tio Jerónimo, o seu poder autárquico é absolutamente bola. Zero. Nicles. Talvez esteja de olho em algumas freguesias dos centros urbanos, onde ainda é cool ser BE desde que não conheças alguém chamado Robles - ai credo, arreda que tem gosma, mata com fogo antes que se reproduza. Desconfio que vai dar com as Mortáguas na água e o velho tio é que se fica a rir.

Para mim é absolutamente tinto. Mas tinto da Tasca, daquele que o nosso mister gosta. A única coisa que me aborrece é se vamos ter novos candidatos à presidência das novas freguesias que, a bem dizer, são as velhas freguesias. É que desconfio que foi preciso meter a martelo muito Presidente da Junta que se viu privado da junta para presidir, nos quadros do Estado e nas Autarquias e assim. Se agora vêm novos, é uma porra para os meus impostos. Sofrem muito das cruzes, os meus impostos. Quando aumentam o peso que carregam, queixam-se logo.

Vai daí, cagari-cagaró para as reformas territoriais desta maralha. Façamos de conta que teremos Trotskistas e Marxistas-Leninistas a influenciar a governação do Estado durante uns 20 anos e que, portanto, o novo ordenamento se manterá por umas décadas valentes. Seja. Mas havia de ser obrigatório que todos os ex-autarcas, entretanto passados a funcionários públicos, sejam candidatos aos cargos que ocupavam nas extintas freguesias. Novas freguesias. Ex-extintas freguesias. Coiso. #justsaying.

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Olha-o com manifesta surpresa. Dir-se-ia com uma fagulha de recriminação, até. Mas disfarçada, dissimulada no joelho no chão e na reverência das mãos postas.

- Que foi? Tem alguma coisa a dizer, o senhor Pedro, tem?

- Não, Senhor, claro que não. Fiquei apenas surpreendido, só isso. Não esperava esse cuidado com...com...bem, com o parvo.

- Oh, deu-me prá fofura. Acontece-me às vezes, fico doce, doce, doce, já à beira da diabetes. Não posso?

- Ora, podeis tudo, Senhor.

- Eu sei, Pedro. Era retórico. - Revira os olhos. - E ires-te agarrar a uma nuvem? Isto não se faz chover sozinho, poi'não? Pá, #justsaying..

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quarta-feira, 13 de junho de 2018

To Russia, with faith e fatos bem catitas



Adoro Mundiais. E Europeus. E a Copa América. E o CAN. Quando aconteceu ter licença de paternidade, fiquei todo feliz por ter calhado num janeiro. Segui atentamente a competição Africana, torcendo pelo Mali - eu e o rebento - muito antes do advento Marega. Aliás, tão concentrados em ver os jogos estávamos que nem demos pela queda da pirralha do sofá abaixo. nem eu, nem ela, que ainda demorou uns segundos a berrar, para meu absoluto pânico. Pai do ano, naturalmente.

Já se vê que estou em véspera de me babar abundantemente com o Mundial da Rússia. Abre logo em grande estilo, com um anfitrião vs. malta das burcas. A Europásia contra o Médio Oriente, gás com fartura versus petróleo em barda. Na primeira fase é que há os jogos mais suculentos, como o fantástico Austrália / Islândia, o épico Panamá / Tunisia, ou o clássico Japão / Senegal.

E também há outros igualmente interessantes, embora menos coloridos, como o confronto Ibérico de quarta-feira.

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Por falar em nosotros y nuestros complicados hermanos, diga-se que chegamos a esta competição com um estatuto inédito: somos Campeões da Europa. Isto é, os maiores de entre boa parte dos muito grandes.

Eu cá acho indecente fazerem isto ao Passos Coelho e ao Portas e aos ministros deles. Então andaram os moços, e o país a reboque, a clamar aos quatro ventos que não senhor, nós não somos a Grécia, para agora estarmos para o Rússia 2018 como os Gregos para o Alemanha 2006. Ai, espera, esses nem chegaram a qualificar-se para o Mundial. Ufa, lá se safam Pedro e Paulo. Nós não somos a Grécia. Para grande tristeza da Catarina que já se estava a ver vizinha do Tsipras, mas do Alexis, o de esquerda, o à maneira, não o que ele depois se tornou, à conta da burguesia e assim, nem a Mariana, toda ela calores com o homem, já lhe pega.

Por acaso, é curiosa a comparação, sendo que a Grécia não é famosa pela sua expansão marítima, mas nem por isso deixou de ter os seus períodos áureos de escravatura. Ah poijé, bebé Catarina. e acrescente-se a exploração sexual desde idades bem tenras, em passeios pelos campos, mestres filósofos e seus tenros aprendizes. Justiça se faça, e por aí pode a Catarina descansar, era malta muito pouco chegada a heterossexualidades. Enfim, como diria Sócrates, só sei que o Carlos Santos Silva é que sabe. Ou assim.

Fica então estabelecido que não somos a Grécia e, pessoalmente, creio que vamos abrir a competição com uma vitória, só para contrariar o esperado empate. Se não estão a contar connosco, pois deviam. Os franceses é seguro que estão. Não há Eder, mas temos um Guedes com orelhas de abano prontinho para ajustar umas contas. Merci.

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Em A Culpa é do Cavani, escolhi apoiar a Nigéria, como segunda equipa. Os resultados, até ver, são espantosos. Ainda mal se sabia que eu era pela Nigéria e já estavam os millones a entrar. Sete ponto dois milhões, mais exatamente. Deve ser patrocínios à minha conta e isso. Ou então venderam o Etebo, uma delas. Vocês sabem que eu aprecio o moço, e torço para que faça um belo Mundial, mas quero mesmo, é ver quantos destes milhões serão investidos para o clube aqui das traseiras de casa fazer um campeonato tranquilo.

De resto, no que diz respeito às fatiotas, já ganhámos de goleada! Se pensam que ironizo, estão muito enganados. É confirmarem vocês mesmos. Só é pena ser em verde, mas nós bem sabemos que a escolha das cores das bandeiras é um mistério insondável. É olhar para a nossa. Também não tem muita graça que sejam conhecidos por Super Eagles, que parece nome de grupo organizado de adeptos. De qualquer forma, não consta que sejam perseguidos pela PJ, o que já marca uma enooooooorrrrrmeeeee diferença.

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Ora bem, então temos aqui o Tugão a correr por fora para Campeão e a Nigéria pronta para ser batida na final. Mas diz que há gente que não sei o quê os favoritos. Ora bem, se é para não perceberem nada de bola e dizerem o mesmo do que os outros todos, então a lista de favoritos, aqui na Tasca, fica ordenada assim:

1. Brasil
2. França
3. Alemanha

Eish, tudo malta que andou a dar forte na escravatura, credo.

E broxelências, quem é que acham que limpa o caneco?

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segunda-feira, 28 de maio de 2018

O Corpo de Deus

- Valha-me Eu Mesmo, que desperdício de
Livre Arbítrio, credo. - Abana a Grande Cabeça, um tanto incrédulo, um tanto desiludido. - Sinto uma ânsia cada dia maior de corrigir este pequeno erro. 

- Passou ainda muito pouco tempo, Senhor. Somos uma espécie muito jovem, é natural que sejamos parvos. - Tenta amenizar, o factor corporativo a falar mais alto.

- Talvez, talvez. Não deixo de sentir que correria melhor se tenho apostado nas centopeias. - Cofia as barbas. 

- Argh, Senhor, tão feias, cheias de patas. Olhe a experiência em Znodar... - Arrisca.

- Que tem? Já viste as gavetas das meias e cuecas dos Znodarianos? Im-pe-cá-beis, pá!

- Vai-se a ver é porque não há assim muitos Znodarianos... - Entre dentes.

- Kié? Outra vez isso de ficarem sem a cabeça à primeira queca? Um detalhe, Pedro, um detalhe. Para além de que Louva-a-Deus é um nome muito feliz para uma espécie. Eu acho. E olha, não sei, mas cá pra mim, os teus amiguinhos lá de baixo não andam longe de pensar que isso é boa ideia. Equidade a sério é ser a fêmea montada à canzana, para nem ter que ver o macho, e quando estiver assegurada a continuidade da espécie, zás, arranca-se-lhe a cabeça à dentada. Aposto que ainda aprovavam uns subsídios para isto. - Esboça um sorriso.

- É a juventude, Senhor, verá. E talvez pudéssemos usar outros termos. - Olha em volta, preocupado. - Não é lá muito boa altura para dizer macho e fêmea, é um bocado confuso. Coisas de jovens, já se vê.

- Mas foda-se, oh Pedro, em tão pouco milénio já fizeram merda de caraças, não? Não há paciência. E depois é esta soberba que não se entende. Consideram-se tanto e tão e tudo, que lhes parece sempre adequado perderem tempo com as merdas mais inimagináveis. Vou é acabar com as subtilezas. Ai agora um maluco no poder a ver se entendem, ai agora umas catástrofes naturais a ver se acordam, e nada. Nadica! Uma praga é que vai ser. Manda-se os de Znodar invadir aquela trampa e comer-lhes as cabeças a todos. A eles e a elas e aos entretantos, a ver se não acham logo estupendo serem os géneros diferentes.

- É isso que o irrita, Senhor? A sério? - Indignado. - A fome, a guerra, as criancinhas, a Maria Leal a cantar, enfim, toda uma cornucópia de desgraças a pedirem a atenção Divina e é com isso que se preocupa? 

- Pois claro! Eu tenho um Universo para manter em equilíbrio. Lá tenho tempo para pormenores? Agora, o género é um factor crítico da Criação. E o Criador sou Eu!

- É um pedacinho culpa Sua, havemos de convir. - A muito medo. - Com essa coisa de “à imagem e semelhança” e da Santíssima Trindade, que é 3 em 1, melhor que o champô das estrelas de cinema. É sempre Ele, o Senhor? Se sim, como é que Ela é “à imagem e semelhança”? E a mulher do Zé? Pelos vistos a Mãe não era da Trindade. Não parece lá muito equitativo em termos de género, não...

- Muito engraçadinho, o senhor Pedro. É pena o cancro terminal que o manda da Vida Eterna para melhor, não é?

- Hã? Isso pode-se? - Em pânico.

- Pergunta parva, hein? Mas não tenhas medo, com a dificuldade em arranjar criadagem em condições nesta Eternidade, desculpo-te mais esta, oh pescador. Pá, à imagem e semelhança é uma metáfora. Também é sabido que Sou todas as coisas e não vês malta a defender o direito de se sentir uma bolota, apesar de ter sido batizado Maria, pois não? E não me apetece agora falar disso do Espírito Santo ser Pai de Si Próprio. Foram tempos complicados... - Pensativo. - Caramba, não me rala que se engalfinhem por qualquer disparate e que se ponham a discutir pintelhos até à exaustão, mas pilas são pilas e con... - Interrompido:

- Senhor!! - De olhos muito abertos.

- Ora Pedro, queres que lhe chame o quê? Senaita? Rata? Pipi? Isso é que são lindas palavras, é? Opá, fartinho até aos colh... - Interrompido:

- Senhor!!

- Enfim, como se fazer a luta pela igualdade fosse igual a abolir toda a diferença. Como se o primado da tolerância pudesse ter raiz na intolerância ao contraditório. Cansado, eu estou.

- Pois, está claro que eu sou um mero Santo, não posso compreender o Grande Plano Cósmico na sua infinita totalidade, mas ainda assim, que não sei, pensei que o preocupava mais a Eutanásia do que quem é que é contra rapar as sovaqueiras e outras pilosidades quejandas.

- Qual Tânia? Não conheço nenhuma Tânia, era concerteza alguém muito parecido comigo. Nunca lá estive. 

- Não, Senhor, não é Tânia nenhuma. É aquela coisa do suicídio assistido, da morte programada.

- Naturalmente, Pedro. É sempre programada. É nascer que já se fica logo com ela agendada, qual é a questão?

- Ora, Senhor, o direito sobre a Vida e a Morte é só Seu, não podem agora os vivos, ou os mortos, para o que importa, virem decidir se... - Detém-se perante a grande manápula levantada.

- Quero lá saber! Morrerão, assim tenham nascido. É esse o Meu Desígnio, nada mais.

- Mas...mas... a Doutrina... é sabido que é Pecado Mortal porem-se as pessoas...

- Poupa-me pá, não me metas nessas picuinhices. Aiai que isso é Eu que mando e ninguém mais mete a pata, vai já tudo para o Inferno, sem passar pelo Purgatório e receber dois contos, se não for Eu a mandar. Vais quinar anyway, mas só quando eu disser, pumbas bem feito. Soa um pedacinho a falta de confiança, não? Parece a Divindade que tem que ser um ditadorzeco no trabalho, para compensar a porrada que leva em casa e isso tudo. Eu Sou. Ponto. É quanto basta. E estou muito abatido de vos aturar, mais aos vossos disparates. - Deixa cair a cabeça entre as mãos.

- Pronto, pronto. - Passa-Lhe um braço pelas costas. - Também precisa de se distrair um bocado. Olhe, aproveitemos o feriado e vamos fazer qualquer coisa diferente. Sei lá, criar uma nova espécie ou assim.

- Feriado? É feriado de quê?

- Corpo de Deus, Senhor.

- Hã? Mas se Sou incorpóreo! Como assim o Meu Corpo? Era o que faltava! Ainda me meto numa série de chatices por ter as pernas depiladas à conta de andar de bicicleta ou assim. Nem pensar, quais Corpo de Mim quais carapuça!

- É o que diz aqui, Senhor, eu não tenho a culpa.

- Gafanhotos. São amorosos, os gafanhotos, mais aos seus saltinhos. Upa, upa, poing, poing. - Salta á roda do outro. - Não achas, Pedro?

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terça-feira, 1 de maio de 2018

O homem no Castelo Alto


Nunca lhe foi confortável a exposição. Habituou-se, é certo, como nos habituamos às coisas inevitáveis dos nossos dias. Ainda assim, o rumor da turba lá fora, os cânticos, o seu nome repetido vezes sem conta, continuam a deixar-lhe a barriga fria e as orelhas quentes. Em seu redor há um alvoroço de camareiros, de assessores, estrategas, peões de brega e outro povo miúdo que desconhece em absoluto. Não aumenta o ritmo nem diminui o passo, faz o corredor inteiro à mesma pouca velocidade, sem gritar uma ordem, sem dar uma palavra, limitando-se a receber papeis anotados, post-it amarelos rabiscados, muitas palmadas nas costas e um ou outro suspiro contido de alguma secretária invisível. De vez em quando, responde com o "hum-hum" que lhe é característico. Os poucos que o conhecem de facto, diriam de imediato que está nervoso.

Abrem-lhe uma porta, passa o limiar da confusão e está, por fim, só, na ante-câmara dos seus aposentos privados. Exceto pelo mordomo surdo e mudo e cego. Faz soar o seu sininho e, em menos de um fósforo, a divisão alberga o Estado Maior. É com eles que assomará ao varandim.

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Ocupando todas as faixas da imensa avenida, as varandas de todos os edifícios, os passeios, os tejadilhos dos automóveis, as copas das árvores, os terraços e os telhados, o Mar Vermelho saúda a uma voz o Líder Imortal. Logo abaixo do varandim, por dentro do cordão policial, os altos dignitários da Nação prestam, ainda outra vez, homenagem ao orgulho da Pátria. As forças de segurança, ainda um tanto confusas - ainda agora estavam convencidas de que seria uma detenção e logo se tratava apenas de policiamento da festa - pugnam para que a paz prevaleça. 

Na primeira fila do Povo, os intelectuais notáveis, os políticos anónimos, os autarcas comuns, os artistas de várias castas e diferenciadas qualidades. De cada lado da avenida, um palanque. O da esquerda mais engalanado, o da direita menos elegante. Neste, apinham-se os jornalistas, com e sem carteira, as câmaras de televisão, os microfones das rádios, circulam charros, bebem-se cervejas, canta-se, pula-se, abraça-se. Ah, a alegria no trabalho. No da esquerda, alinham-se marciais as medalhas dos diversos ramos das Forças Armadas, os juízes, os oficiais de justiça e duas ou três prostitutas, das mais finas.

O sorriso sai-lhe franco por debaixo do bigode. Ei-lo, o seu Povo. Há um arrepio, mais de alívio do que de emoção, que lhe percorre a espinha. Oh sim, ele sabe, hoje aclamado, bajulado, levado em ombros, se deixasse que o tocassem. Amanhã, arrastado, amarrado à traseira da primeira carrinha de caixa aberta, pelas ruas da amargura. 

Mas isso que importa agora? À sua frente derrama-se a fundação e o sentido de todo o seu Poder. Felizmente, não têm a mínima noção, os pobres ignorantes. Ou fazem por não a ter, o que dá igual, senão ainda melhor. Ao vê-los assim, eufóricos, apaixonados, embevecidos perante o Guia de todas as Vitórias, sabe que os próximos tempos serão tranquilos. 

Bem-vinda que será alguma calma, tão conturbado e periclitante foi o passado próximo. Ora, próximo que tenha sido, não deixa de ser isso mesmo: Passado. E acena à multidão que entra em delírio.

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As notícias que lhe chegam da Zona Livre são francamente animadoras. Como era inevitável, mais uma batalha perdida aprofundou as cisões, a contestação subiu de tom, aparentemente não há quem se entenda. Reconforta-se nestas novidades, por oposição ao que suou nos dias em que o vislumbre de uma derrota lhe anunciou o esboroar do Império, a implosão das fundações do edifício, enfim, o Fim. Pior que isso, o principio do Fim e não o derradeiro suspiro, a morte súbita. Antes os primeiros passos de um longo e tenebroso calvário que em vez de um mártir fulminado, o tornaria um pária indesejado. Lembra-se:

- Oh Domingos, hum, hum, e essa coisada dos filmes? Está resolvida? Hum hum?

- Nem por isso, meu caro, nem por isso. Apareceu mais um. Não entendo, parecem tirados de uma qualquer realidade paralela. Percebes alguma coisa disto, Luís?

- Hum...hum...

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Another one bites the dust!


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Com a devida vénia ao inigualável e eterno talento de Philip K. Dick

terça-feira, 17 de abril de 2018

hiperligação | 92º shooter : opus X - alive&kicking



ambiente próprio de um Clássico, quentinho qb e que se distingue de um ‘derby’ exactamente por isso mesmo.
no exterior estava tudo preparado ao milímetro e com atenção redobrada ao mais ínfimo pormenor, para que não houvesse violações dos perímetros de segurança, tão características por aquelas bandas e tão useiras e vezeiras pelos (in)suspeitos do costume. já no interior, tudo crepitava de calor humano, na ânsia de que o confronto tivesse início o mais rápido possível e os artistas surgissem para lhes satisfazer o seu ”glorioso” Ego. assim aconteceu e não foi preciso esperar muito para se perceber que seria um jogo disputado taco-a-taco.


a partida começou equilibrada, pese embora um maior ascendente dos da casa, apoiados pelo seu público, o qual rejubilava a cada vergastada infligida no adversário. é o que se diz de quem tem ”as costas quentes”…
já os forasteiros evidenciavam um manifesto incómodo por estarem a ser subjugados pelo arqui-rival e manietados na sua forma de jogar, tão característica ao longo deste campeonato (também) feito de E-toupeiras: pressão alta e jogo directo para os atacantes, poderosos no confronto físico com os defesas contrários. como tal não era possível, o pontapé para a frente foi o que mais se viu nos primeiros vinte minutos, para desespero do seu timoneiro, o qual não parou de se insurgir com os seus por não estarem a executar o plano de (pelo menos) uma semana intensa de preparos e de intenso trabalho.
apesar deste incómodo geral, o verdadeiro perigo tardava em surgir, até ao momento em que um deles surge isolado em frente ao último defensor e o obrigou a brilhar, parando um tiro que felizmente foi mal desferido e não causou mossa maior. foi esse o momento para que também houvesse retaliação por parte de quem não era bem-vindo naquela (espécie de) ”arena” e infligisse um pouco de ‘frisson’ na batalha.
chegados ao intervalo da contenda, o domínio da partida estava repartido e ninguém poderia afirmar-se superior ao outro – pese embora uns relatos enviesados de quem está acostumado a desvirtuar a Realidade e/ou a sonegar esta última a seu bel-prazer.


a pausa para retemperar energias foi benéfica para os que vinham de fora, os quais entraram com a ”pica toda”, resolutos em decidir a luta a seu favor. não se pouparam a esforços, impondo a sua lei e fazendo sofrer o adversário onde mais lhe doía: em sua própria casa. conseguiram causar dor, castigando-os com ataques fulminantes que tardavam em se materializar no que era tão desejado: a sua derrota. tal viria a acontecer mesmo no fim, pela parte de quem, em confrontos anteriores, fora alvo de chacota pelos adversários e inclusive de revolta pelos que também lutam pela mesma cor do estandarte. coisas complicadas de se perceber quando, na refrega de um combate, todos os que estão do nosso lado são válidos, para o tão necessário equilíbrio de forças…
em suma e para a História fica o resultado final: seis agentes feridos, sete detenções e o disparo de «tiros de aviso» por parte das forças de segurança.






aqueles números deveriam envergonhar, mais do que o mandante pelo apoio ilegal a esses «grupos organizados de sócios», que «nunca sube» da sua existência e que (literalmente) goza com o pagode – talvez porque usufrui de uma imunidade desportiva e de uma impunidade regulamentar como mais ninguém nesta República de bananas –, deveriam fazer corar de vergonha o responsável político pela gestão deste tipo de conflitos e que há dias afirmou «a Lei das Claques é ineficaz, não funciona. há poucos adeptos registados em relação ao número de clubes. queremos tornar a Lei eficaz». esse pamonha, se tivesse Brio, não só pelo cargo político que (ainda) detém, mas sobretudo pela sua pessoa, há muito que já teria resignado; pelos vistos e como o ”tacho” é apetecível, permanece em funções, num total desplante para com quem tem pedido Justiça neste ”faroeste” em que se tornou o comezinho futebolzinho tuga…


outra personagem menor do panorama político nacional e que se confunde com o desportivo, é o que, em tempos não muito idos, alarvemente disse «os grupos de adeptos organizados do 5lb deveriam registar-se para ficar como os outros [sic] mas, até agora, isso não tem sido um problema para o IPDJ nem para a polícia»…
alguém me pode informar se o sr Baganha já se demitiu ou se alguém já prestou esse favor ao País, no seguimento do que aconteceu nas imediações do antro de Carnide, e que envolveu os ilegais e assassiииos de Sempre? é para sossegar o espírito de alguns que invariavelmente alegam uma «invasão» ao Centro de treinos, na Maia e que, mais do que desconhecer a envolvente ao Estádio Vieira de Carvalho, ignoram a entrevista do actual Presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) ao DN, há um ano e que, entre outros considerandos, referiu que «não podemos dizer que eram elementos dos SuperDragões porque não se identificaram como tal ao Artur [Soares Dias]».



post scriptum pertinente:
para quem tem a paciência em ler os meus rudes considerandos e eventualmente estaria à espera de uma análise ao Clássico, peço desculpa pela desilusão mas há factores que não podem (devem?) ser sonegados porque se relacionam, de forma indelével, com o jogo que é praticado dentro das quatro linhas – e desde que o Caniggia se retirou do Futebol.



“disse!“

Miguel Lima | 92º minuto

(este espaço será sempre escrito de acordo com a antiga ortografia. limices.)